Capítulo 10 - Marina -
- Marina –
-- Do que... – eu não a deixei terminar rocei meus lábios nos seus.
Suspirei. Estava tentando me controlar, e não fazer algo de que eu pudesse me arrepender depois. Não, eu não me arrependeria jamais daquilo, porém isso poderia ser algo que ela não quisesse da mesma maneira que eu, poderia ser forçado. Eu poderia se assustá-la. Minha cabeça, passavam-se mil coisas em minha mente em questão de apenas alguns milésimos de segundos.
Aquilo era torturante demais, eu não conseguia mais segurar toda aquela vontade e necessidade que eu estava sentindo da boca dela. Era quase um imã. Meu coração batia descompassado, minhas mãos pareciam segurar pedras de gelo, mas ao mesmo tempo pareciam queimar ao sentir a pele de Giulia sob elas. Meu corpo estremeceu e tentei focar no nos lábios dela e não sucumbir a toda aquela sensação e nervosismo ou desabaria ali mesmo. Minhas pernas estavam fracas.
Era demais. O beijo foi inevitável. Ela não resistir e nem se opôs, pelo contrário, ela se rendeu ao beijo e correspondeu da maneira esperada, não, melhor ainda. Quase desfaleci em seus braços. Seus lábios eram quentes, doces, a perfeição era tamanha que me senti pequena diante deles. Meu coração aqueceu, parou por alguns segundos, depois voltou a bater feito uma escola de samba. Sua boca era convidativa demais, e eu queria, queria que não findasse. Era suave, mas completamente arrebatador, fazendo meu mundo girar. Era demais pra que eu pudesse conter todos aqueles sentimentos e vontades que estavam me assolando. Uma de minhas mãos que antes que se encontravam em sua cintura como um ato de posse a mantendo perto de mim, bem perto de mim, instalou-se em sua nuca, enroscando nos cabelos finos e macios que exalavam um perfume extraordinário. Eu a puxava cada vez mais pra mim. Não conseguia desgrudar a minha boca da dela, eu sentia necessidade de prolongar aquele momento e toda a combustão que ocorreu dentro de mim – em meu coração e em minha cabeça – ao tocas os lábios dela com os meus tão desesperados. Infelizmente o fôlego foi nos faltando, e tivemos que nos separar. O beijo foi diminuindo o ritmo até parar, só que eu não poderia me permitir ficar sem sentir o gosto e a textura de sua boca. Passei a distribuir pequenos beijos em seus lábios. Tudo dentro de mim voltou a queimar, o desejo voltou a aflorar, e dessa vez ainda mais poderoso, sacudindo todo o meu corpo. Mordisquei seu lábio inferior e aquilo foi suficiente para que eu soltasse a fera de desejo que estava estava aprisionada desde o primeiro momento em que vi Giulia.
De repente, sem controle nenhum de minhas ações e de meu corpo, mostrei em um beijo todo o meu desejo por ela. O beijo foi muito mais audacioso, e minha língua queria a todo custo sentir e conhecer toda a sua boca. Ela entendeu perfeitamente aquela necessidade, e mais uma vez correspondeu a altura. Ela mesma começou a explorar minha boca, nossas línguas bailavam uma com a outra, suas mãos estavam firmes em meu pescoço, me puxando.
Joguei tudo para o alto, queria ver até onde o meu desejo e o dela iriam. Minha mesa seria perfeita nesse momento. Comecei a empurrar com meu corpo, a fazendo dar pequenos e incertos passos para trás. Quando seu corpo encostou-se em minha mesa, a fiz arquear por cima da mesa colando meu corpo no seu. Os tremores estavam cada vez mais violentos. Eu estava completamente excitada e dominada pelo desejo. Separei nossas bocas e agora trilhava um caminho quente e altamente prazeroso. Deixava um rastro com minha boca e língua por todo o seu pescoço. Não tinha palavras para descrever o que me aconteceu quando minha boca tocou a pele macia e cheirosa de Giulia. Era tarde, muito tarde, eu não poderia mais me segurar. Não queria saber de mais nada, que tudo se danasse, depois eu assumiria as consequências de meus atos, mas nesse momento tudo o que eu precisava era de Giulia. Precisava dar vazão a todo aquele desejo ou acabaria explodindo.
Eu podia sentir a respiração dela, estava tão descontrolada quanto a minha, era audível o descompasso. Podia ouvir pequenos gemidos e sussurros presos em sua garganta. A suspendi pela cintura e a fiz sentar em cima de minha mesa. Encaixei-me entre suas pernas e delirei, pude sentir a umidade de sua calcinha ao puxá-la mais pra perto de mim, fazendo suas pernas abrirem um pouco mais para que eu pudesse ficar no meio delas. Giulia estava de saia, e tudo o que eu imaginava era como seria poder sentir aquela umidade de uma outra maneira. Minha atenção novamente foi direcionada para seus lábios. Um beijo ardente e exigente. Cada vez mais. Queria sentir o seu corpo inteiro. Coloquei minhas mãos na parte externa de suas coxas. Não resisti, as arranhei e depois apertei firmemente. Eu estava alucinada. A sua pele era macia, cheirosa, suas coxas eram firmes, podia senti-las arrepiar. Seu corpo inteiro arrepiava, onde minha pele encostava, essa era a resposta automática de seu corpo. Quando apertei suas coxas Giulia gem*u em minha boca, e isso fez com que eu me sentisse ainda mais molhada. Era incrível o que apenas um gemido podia me causar. Giulia arranhou meu pescoço, e aí foi a minha vez de gem*r. Eu queria poder entrar me nela, me fundir, mesmo sem espaço algum entre nossos corpos eu a puxava cada vez mais contra meu corpo. Senti as mãos de Giulia percorrerem o caminho de minhas costas até meu bumbum e de forma firme o apartar. Não dava mais pra conter. Inconscientemente tremi e gemi em seus braços. Gemia e sussurrava seu nome de forma quase inaudível. Quase arranquei aquela roupa que me impedia de sentir o seu corpo por completo quando ela arranhou minhas costas por baixo do moletom. Quase desesperada passei a subir vagarosamente a saia da Giulia. Eu queria mais, ansiava por mais, e estava decidida a seguir em frente. Minhas mãos já seguiam o caminho, iam na direção dos botões de sua blusa social quando detive meu movimento. Passos no corredor. Cada vez mais próximos! Nos separamos ligeiramente. Giulia saltou de cima da mesa e eu fiquei paralisada no mesmo lugar onde eu estava. Senti ódio por ser interrompida, mas ao mesmo tempo agradecida por não ter agido de uma forma tão “cafageste” com ela.
-- D. Marina?
Por alguns segundos tive dificuldade de enxergar, um foco de luz, uma lanterna era apontada em minha direção. Com a mão sob os olhos na tentativa de enxergar. O reconheci, era Marcelo, chefe dos homens que faziam a segurança do prédio no período da noite.
-- Oi Marcelo, sou eu.
-- O que a senhora faz aqui uma hora dessas?
Diante da pergunta, busquei os olhos de Giulia, ela me olhou por rapidamente e logo desviou o olhar. Voltei minha atenção para o homem parado a porta com uma lanterna na mão e no rosto uma expressão de curiosidade.
-- Vim buscar uns documentos que esqueci aqui hoje cedo.
-- Desculpe D. Marina, eu não sabia que a senhora viria aqui, então como de costume eu desliguei a geral das luzes.
-- Tudo bem, assim que eu encontrar os documentos eu...eu – olhei para ela novamente e do nada comecei a gaguejar.
-- Só um instantinho que eu vou lá ligar as luzes pra ajudar a senhora. – ele saiu levando consigo a pouca iluminação da lanterna.
Marcelo saiu me deixando sozinha com Giulia novamente. Eu não sabia o que deveria pensar, o que deveria falar ou como deveria agir com Giulia. Nunca senti nada parecido com um beijo. Os lábios de Giulia eram os mais doces que eu já tinha provado. Nunca em minha vida tinha deixado o desejo aflorar dessa maneira, me dominando e me fazendo agir sedenta de luxúria. Eu estava fora de mim, aquilo não fazia parte de meus princípios. Eu não era mulher de apenas uma noite quente de sex*. Mas não dava mais pra controlar tudo aquele turbilhão. Precisava da boca, do cheiro, do gosto, da pele de Giulia. Só foi preciso as nossas bocas entrarem em contato para o meu corpo inteiro pegar fogo e me fazer perder a cabeça. Eu não pronunciei uma única palavra, Giulia também não, ficamos caladas e no mesmo lugar em que estávamos. As luzes ascenderam-se, instantaneamente olhei para Giulia, sua boca vermelha, levemente inchada, sua bochechas de um tom rosado, e eu ali olhando pra ela a espera de algum sinal, de algo que me dissesse que eu não havia cometido um terrível e remediável engano. Ela permanecia no mesmo lugar, como se estivesse assustada, acoada. Eu começava a me sentir péssima. Onde estava com a cabeça? Eu praticamente a ataquei. E se ela tivesse alguém em sua vida? Droga!
Eu precisava falar algo. Me aproximei dela, tirar não sei nem de onde. As mãos soavam e boca estava seca, o coração estava acelerado e em minha cabeça uma certeza: eu tinha que pedir desculpas. Comecei.
-- Giulia. …...é, eu queria te pedir desculpa por... - não conseguia parar de gaguejar, baixei a cabeça me dando um tempo para que pudesse dar continuidade.
–- Marina? - ouvi sua voz suave e doce me chamar.
Será que ela me diria coisas horríveis, ou apenas me diria que aquilo não poderia ter acontecido, que não passou de um erro?
-- Se você for pedir desculpa pelo que aconteceu aqui, não o faça. Eu também quis, eu também quero!
–- Mas... - não consegui formular uma frase.
Não pude deixar de me surpreender. Seria aquilo mesmo real? Internamente eu sorria, mas por fora eu sabia que minha expressão não era das melhores. Talvez de dúvida, susto.
-- Você se arrependeu?
Ela me perguntou e eu me apressei em responder...
–- Não! Claro que não! … que... - fui interrompida, Giulia calou-me pousando seu indicador em meus lábios.
–- Não fala nada. - disse se aproximando de mim e fazendo minhas pernas tremerem.
Giulia fez o contorno de meu rosto com o dorso de sua mão, foi impossível não fechar os olhos e aproveitar aquele carinho, aquele contato. Depois ela fez o mesmo caminho, mas dessa vez com o dedo, fazendo o contorno de meus olhos, minhas sobrancelhas, meu nariz, boca. E ainda de olhos fechados pude sentir seus lábios selando os meus novamente.
-- Você mexe comigo de uma maneira única Marina... - ela segurava minhas mãos entre as suas.
Eu tinha que ser sincera com ela também. Era a hora de falar.
-- Não é diferente comigo Giulia. Você também mexe comigo. - disse e logo após tomei sua boca em um beijo suave e calmo.
Percebi que com Giulia, eu não poderia ir com pressa, com a luxúria falando mais alto do que minha razão e todo o romantismo que sempre prezei. Ela merecia mais do que isso, não nego que eu queria ter terminado o que tinhamos começado antes de sermos interrompidas, mas não era dessa maneira que eu queria tê-la. Queria conhecê-la melhor, queria passar bons momentos com ela – de carinho, atenção, sorrisos bobos, de dedicação – queria calma e toda a suavidade que eu senti quando ela contornou meu rosto e depositou um beijo quase casto em meus lábios. Ela merecia muito mais do que isso. Tentei passar em um único beijo tudo o que ela me despertava, tentei beijá-la do mesmo jeito que ela me beijava e que me roubava o chão. A senti relaxar em meus braços, e nesse momento fui invadida por um sentimento de paz.
-- …...rumrum.
Um pigarro e novamente fomos interrompidas. Dessa vez sem nenhuma pressa de nos desvencilhar-mos e disfarçar o que acontecia ali. Nos separamos e nos mantivemos perto.
-- Desculpa Dona Marina, vim saber se precisava de algo mais.
-- Não Marcelo, já encontrei o que queria. – fiz uma busca rápida com os olhos em busca do que havia ido buscar – Obrigada, daqui a pouco estou de saída.
-- Tudo bem. Qualquer coisa é só me chamar. – ele disse se retirando.
Fui até onde a pasta estava, a recolhi e parando ao lado de Giulia, envolvia sua mão com a minha e entrelacei nossos dedos. O sorriso bailava em meu rosto.
–- Podemos ir?
–- Claro! - ela me respondeu sorrindo.
Fomos até o elevador caladas, mas ainda sim de mãos dadas e sorrisos marotos estampados nos rostos. Sim, Giulia assim como eu também sorria. Meu coração pulava de alegria em meu peito. Eu não sabia explicar, colocar tudo o que eu sentia em palavras, mas aquilo era uma das melhores sensações que já senti. Era algo incrível que fazia meu coração aquecer, meu peito inflar e não parar quieto nem por um instante.
Chegamos até o estacionamento, e como era comum naquela horário, parte das luzes estavam apagadas. Permaneciam acesas apenas as luzes onde alguns carros ainda se encontravam. Giulia foi até o seu carro, pegou algumas coisas, o trancou e voltou para meu lado. Eu não conseguia parar de sorrir, era natural, era imperceptível, quando via já estava sorrindo novamente. Abri a porta do passageiro para que ela entrasse. Ela sorriu e foi o bastante para que eu a beijasse de novo. Um beijo rápido, um encostar de lábios, mas que tinha todo significado. Nesse mesmo instante me assustei. Ouvi um carro ser ligado, fiz uma busca com os olhos, olhando ao redor mas não conseguia ver carro nenhum. Mas foi por pouco tempo, de repente um carro apontou as luzes do farol em nossa direção, me segando por instantes. O carro logo passou ao nosso lado, e senti um “baque”, um arrepio ao constatar que o carro era de Verônica. Ela havia visto o beijo, ela havia visto tudo. Eu não conseguia me mexer, estava estática, permanecia com as mãos na cintura de Giulia, e senti um gosto amargo em minha boca. Uma sensação ruim tomou conta de mim. Poderia quase prever o que Verônica poderia fazer ou falar. Minhas mãos gelaram.
Reuni todas as minhas ideias, tudo o que se passava em minha cabeça e me “obriguei” a reagir naquele momento. Olhei para ela e sorri, me esforcei para dar o meu melhor sorriso, um daqueles que eu tinha no rosto antes de ver Verônica naquele estacionamento. Tinha consciência de que havia falhado. O sorriso foi fraco. Ela entrou no carro e eu dei a volta, sentei ao volante e não conseguia parar de pensar em Verônica. O que eu deveria esperar? Um escândalo, alguma reação pior do que as que ela já teve? Silêncio? Meu Deus!
Giulia foi me guiando, me indicando o caminho e eu mal estava prestando atenção, eu estava apreensiva pensando no que esperar de Verônica. Ela era tão instável, tão...tão...eu não queria que nada afetasse aquilo que crescia em meu peito e que eu estava completamente disposta a mostrar pra Giulia. Queria poder beijá-la sempre, queria poder confessar o que ela me causava, e mais que tudo queria que ela correspondesse tudo aquilo que eu sentia. Que fosse recíproco, apenas isso. Mas não podia deixar de pensar nas atitudes de Verônica, como Giulia receberia aquilo, como aceitaria uma pessoa que já saiu de minha vida mas não percebe ou simplesmente não aceita. Eu não conseguia nem mesmo estabelecer algum diálogo com Giulia, vez ou outra eu lhe direcionava um sorriso. Tinha completa consciência de que ela já havia percebido que algo acontecia. Não sabia como disfarçar ou dispersar meus pensamento. Focar nela, em Giulia, a mulher que me fez tremer dos pés a cabeça e que estava ali do meu lado.
Giulia também pensava em algo, assim como eu ela estava quieta, calada como se pensasse em algo muito importante. Não consegui desviar meus pensamentos nem mesmo pra tentar descobrir o que era que se passava em sua cabeça. Mas eu tinha que tentar algo que desfizesse aquele silêncio que já incomodava.
-- Giulia como vai fazer para ir trabalhar amanhã, se está sem o seu carro?
Ela me pareceu pensar e respondeu como se eu conhecesse de verdade a pessoa da qual ela falava. E quase sempre falava esse nome Vick! Quem era essa mulher que era tão presente na vida dela?
-- Vou pedir uma carona à Vick.
Minhas mãos ardiam, doíam e só depois eu percebi o motivo, eu estava apertando fortemente o volante. Ouvir aquele nome, e aquela “intimidade” me incomodava. Eu não entendia que tipo de relação elas tinham. E eu na verdade tinha medo de derrubar o meu castelinho de areia perguntando quem era a tal Vick e descobrir que elas eram namoradas, e eu, era a mulher que estava me envolvendo em uma estória onde não me cabia.
–- Ok! - foi só o que eu consegui responder.
Jamais conseguirei explicar o tamanho do ciúmes, da irritação, do aperto em meu peito que senti. Minha mente me traia e mesmo sem querer eu imaginava outra mulher, a tal de Vick com as mãos em cima de Giulia. Eu não conseguia falar mais nada, estava apenas sendo consumida pelo ciúmes e todo aquele turbilhão de sentimentos confusos e controversos. Qual era a minha afinal, havia sido apenas beijos, certo que teve um amasso, mas foi por iniciativa minha – correspondido eu sei – não tínhamos nada mais do que aquele momento juntas, não tínhamos uma relação e nem o direito de fazer qualquer tipo de cobrança. Estava tão perdida em meus pensamentos que eu não havia prestado atenção em todo o percurso, apenas estacionei o carro quando ela disse que havíamos chegado. Meu corpo estava sem ação, estava praticamente paralisada. Estacionei o carro, desliguei-o e fiquei a olhar para frente como se tivesse algo muito mais interessante e atraente do outro lado do para-brisa.
-- Obrigada pela carona, eu não sei como teria feito para voltar pra casa se você não tivesse aparecido.
Ela quebrou o silêncio e eu precisei de alguns segundos para sair de minha catatonia e responder algo aproveitável.
-- Não precisa me agradecer, eu faria quantas vezes fosse preciso. - Acho que deveria ter pensando um pouco mais, não deveria ter dito isso. Burra, burra, burra! Agora já foi.
-- Desculpa a indelicadeza de não lhe chamar pra subir, mas acho que já abusei muito de você e você deve estar cansada.
A resposta foi muito mais do que eu poderia esperar. Dei um pequeno sorriso, foi inevitável. Gelei dos pés a cabeça só de me imaginar a acompanhando até o seu apartamento. Mas era verdade, eu estava cansada, porém eu não hesitaria nem mesmo um segundo se ela me convidasse para subir. Meu Deus! Eu não sou assim, eu não sou. Tinha que falar algo.
-- Não precisa se incomodar, não é indelicadeza de sua parte, está tudo bem. Confesso que estou um pouquinho cansada, mas é antecipadamente. Por amanhã, digamos assim.
Isso era o que saia de minha boca, o que a minha razão pedia que eu dissesse. Me pedia pra fingir que eu não me incomodava em não ser convidada pra subir, e ainda mais que esse não era o meu maior desejo naquele momento. Meu coração discordava plenamente de minha razão, tudo o que eu queria era subir, e me deixar levar por todo o que aquela garota me fazia sentir. Era melhor seguir a razão.
-- Então eu vou te deixar ir. Obrigada mais uma vez. – ela disse tirando o cinto de segurança e se preparando para sair do carro.
Pude perceber que ela hesitou por alguns instantes, fazia movimentos absurdamente lentos, como se esperasse algo acontecer. Como se ela esperasse que eu fizesse algo acontecer, falasse algo. Que droga! Eu tinha que fazer algo! Tinha que aproveitar pelo menos o resto daquela noite já que eu não sabia o que iria acontecer no outro dia. Eu queria aquela boca por mais alguns instantes. Que se dane! Minha razão que vá para o espaço!
-- Giulia? Espera! - ela parou e olhou em minha direção.
-- Oi.
A beijei como se não houvesse um amanhã para nós duas. Precisava marcar em minha mente o gosto de seus lábios e o perfume de sua pele. Queria guardar pra sempre em minha mente a sensação de beijar aquela mulher maravilhosa a minha frente. Todo o meu corpo reagiu aquele beijo, mãos trêmulas, coração acelerado, pernas fracas, frio na barriga. Como eram doces os lábios dela. Eu não queria me separar. Por mim ficaria a noite toda beijando-a, mas a realidade estava a nossa espera, e eu tinha que encará-la. Ali, acaba a noite mais maravilhosa que tive na minha vida.
-- Boa noite Giulia! - sussurrei segurando a sua nuca em uma tentativa de passar pelo menos um décimo do que eu estava sentindo naquele momento.
-- Bo...boa...boa noite Marina.
Ela gaguejou e não disse mais nada, não houve tempo, ela saiu de meu carro praticamente correndo. Errei! Agora ela estava arrependida. Fiquei no carro acompanhando seus passos incertos e ligeiros. Foi ai que senti um gosto amargo em minha boca, um aperto violento em meu peito. Meus olhos arderam, fiquei perdida somente assistindo. Uma mulher alta e loira correu na direção de Giulia a abraçando, de uma maneira íntima. Quase a tirando do chão. O abraço demorou, pareciam não querer separarem-se. Elas pareciam conversar, mas ainda sim abraçadas, os rostos muito próximos. Era ela, só podia ser! Essa era a Vick de quem ela tanto falava! Senti algo aquecer meu rosto, levei a mão até o local e senti que eram lágrimas. Meu coração estava apertado, sentia algo me corroer por dentro. As lágrimas desciam suaves mas nem por isso menos dolorosa. Foi um erro! Somente um erro. Fiz bem em querer guardar, gravar aquele momento em minha mente. Nunca mais voltaria a acontecer!
A vi separarem-se, Giulia olhou para trás, em minha direção, e a loira alta voltou a abraçá-la. Giulia parecia não querer sair daquele abraço, ela estava bem ali. Não queria mais ver aquilo, eu não podia mais. Limpei meu rosto e sai dali com o coração doido. Não podia ir pra casa naquele momento, queria dissipar tudo de minha mente, esvaziá-la. Pensei em ir para a casa de Nanda, mas já era tarde, provavelmente ela estaria dormindo. Não me atreveria ir até a casa de um dos meninos, eu não saberia nem o que falar pra eles, como justificar o meu estado.
Dirigi a esmo, andei por muito tempo sem nem mesmo saber onde estava, apenas dirigia e me sentia mal. Eu não conseguia esquecer, mas eu queria, queria muito dormir e acordar como se nada daquilo estivesse acontecido. Pode parecer exagero o que eu estava sentindo, até eu achava que era, mas era incontrolável, eu não sabia como deter. Quando dei por mim estava na rua de casa. Olhei o relógio e já era madrugada. Estava me sentindo um caco.
Estacionei o carro de qualquer maneira na garagem, seguia no piloto automático. Precisava de um banho e dormir. Quem sabe se eu dormisse quando acordasse no outro dia as coisas fossem bem diferentes. Eu precisava pensar, colocar a cabeça no lugar, precisava de tanta coisa naquele momento. Passei pela sala e vi algo que eu precisava verdadeiramente. Whisky! Me servi. Preparei um pra mim, com bastante gelo, quem sabe assim sanava aquele amargo em minha boca. Subi as escadas na direção de meu quarto com o copo na mão. Me livrei de minhas roupas as deixando largadas e espalhadas no quarto de qualquer maneira. Minha única companhia ainda era o copo. Entrei em minha banheira e relaxei o corpo, eu estava exausta, e por muitos motivos. Meu corpo, minha mente e minha alma estavam exaustos. Coloquei o copo ao lado da banheira, fechei os olhos e me deixei escorregar por ela ficando quase submersa. Tentei esvaziar a cabeça, não pensar em nada, mas eu não conseguia não pensar em Giulia. Então me deixei pensar nela, mas somente nela, e não em tudo o que nos envolvia.
Ela era perfeita! A sua boca tinha uma textura que a minha jamais provou. Mesmo envolvidas em uma bolha de desejo ela foi delicada o tempo todo. O cheiro da sua pele me inebriava, me deixava tonta. Seus olhos, o castanho de seus olhos eram misteriosos, transmitiam doçura. Será mesmo que toda essa revolta que eu sentia era apenas encantamento? Não! Não era! Eu estava me apaixonando por ela. Não tem outra explicação. Tinha um pouco de loucura nisso, quase não nos vimos, conversamos, mas algo mexeu comigo desde que via a sua foto. Não conseguia parar de pensar nela e muito menos controlar as reações de meu corpo. Loucura como isso aconteceu tão rápido. Agora sim eu começava a acreditar naquela pieguice de “Amor à primeira vista”.
Nunca havia sentido nada parecido. E nunca me entreguei de forma impensada a nenhuma sentimento. Sempre pesava todas as situações, analisava, entrava em um grande embate comigo mesma, mas nunca agi de forma impensada. Isso me parecia inconsequente! Não foi a toa que cheguei onde estou hoje, com muito esforço, com muita estratégia e sempre medindo minhas ações e suas consequências. Nunca desistia sem tentar, sem insistência. Mas além disso, eu sempre encarei as coisas de frente, nunca me escondi de nada. E era isso que eu precisava fazer, eu precisava encarar aquela loucura de frente. Não iria me lamuriar, sofrer escondida dentro de minha bolha novamente. Eu precisava de coragem, determinação e persistência. Se fosse pra sofrer, sofreria tendo a consciência de que eu havia tentado. Conversaria com Giulia, me abriria com ela, contaria tudo o que ela me fazia sentir e me causava. Se fosse necessário pediria desculpas e prometeria que jamais aconteceria novamente. Mas seria sincera com ela, sempre fui, e não seria agora que eu mudaria a característica da qual sempre me orgulhei.
Sai de minha banheira, enxuguei-me e escolhi uma roupa confortável. Fui até minha escrivaninha, peguei meu notebook e sentei-me em minha cama com ele no colo. Suspirava e sentia minhas mãos gelarem ao encarar a tela enquanto ele ligava. Eu precisava fazer isso, seria o primeiro passo. Olhei o relógio. Marcavam quase 4hs da madrugada. Tinha que fazer agora ou aconteceria algo que me faria dar um passo atrás e desistir, pelo menos momentaneamente. Tinha que ser agora! Abri meu e-mail e comecei a digitar.
Digitei, li, reli, apaguei. Suspirava a cada palavra. Coloquei toda a minha sinceridade em minhas palavras. Depois de digitar tudo pela 10ª vez cheguei a conclusão de que aquilo bastaria.
De: Marina Amorim
Para: Giulia Monteiro
Bom Dia, quer dizer, ainda é madrugada, mas provavelmente pra você que está lendo agora, já deve ser manhã. Espero que leia esse e-mail a tempo, antes de chegar a agência. Assim como espero não estar incomodando tão cedo. … que eu não consegui dormir, não parei de pensar em você um segundo sequer. O beijo ainda estava vivo, parece que foi há alguns segundos atrás que senti teus lábios, ainda sinto o gosto e a textura. Você pode estar achando tudo isso uma loucura, e me achando uma doida varrida, mas reconsidere tudo até me ouvir. Eu preciso ser sincera com você. Sendo assim eu te peço, assim que chegar a empresa vá até a minha sala, precisamos conversar. Chegarei cedo, então assim que chegar me procure.
Um beijo e até mais tarde.
Marina Amorim.
Olhei mais uma vez para o e-mail e dei “enter”. Agora era esperar pra ver o que aconteceria depois da conversa. Em meu interior eu rezava, orava, pra que nada pudesse nos impedir de viver algo. Eu a queria! Não importava todo o resto, mas eu iria tentar.
Coloquei o notebook de lado, programei o despertador pra tocar uma hora mais cedo, queria chegar bem cedo à agência. Estar preparada. Repousei minha cabeça sobre o travesseiro, cobri-me com o edredom e sorri lembrando do sorriso de Giulia. Relaxei, fechei os olhos, precisava descansar nem que fosse por menos de duas horas. Sei que com a ansiedade que eu sentia seria quase impossível. Mas era preciso.
Giulia foi meu “remédio”, bastou pensar nela durante um tempo que acabei cochilando, não foi o suficiente para descansar meu corpo, mas bastou para tranquilizar minha mente. Acordei com o despertador tocando. Eram 5:30 da manhã. Me dirigi ao banheiro e tomei um banho rápido, quase não me segurava tamanha a ansiedade. Ao parar no espelho parei por alguns minutos encarando meu reflexo e “ensaiei” o que dizer para Giulia. Sai do banheiro sorrindo comigo mesma. Nunca pareci uma adolescente apaixonada, nem mesmo quando eu era uma. Parei diante do guarda-roupa e me vi no meio de uma dúvida cruel. O que vestir? Queria estar bem, queria que ela me olhasse de uma maneira diferente. Vesti-me e desci em direção ao estacionamento. No meio do caminho notei que estava sem as chaves do carro. Fiz o caminho contrário dessa vez correndo pra pegar as chaves. O sorriso ainda permanecia lá, eu estava parecendo uma boba. Quem me visse assim me acharia ridícula. Não queria nem pensar o que Nanda diria ao me ver.
–- Bom dia menina! - era Mazé. Senhora de confiança que trabalhava em minha casa desde que a JUMP tinha se consolidado. A tinha como uma avó.
–- Oi D. Mazé. Bom dia!
–- Não vai tomar café? Você acordou cedo mas eu posso ver alguma coisa, pra não sair assim de barriga vazia. Saco vazio não para em pé. - ela disse sorrindo.
–- Não precisa D. Mazé, eu tô saindo agora, compro alguma coisa no caminho.
–- A senhora está com um sorriso contagiante.
–- Acho que coisas boas vão acontecer, ou não! Mas torço para que sim. - disse olhando para o chão tentando esconder o sorriso cada vez mais crescente – Bom, pois eu vou indo lá. - beijei sua cabeça.
–- Estarei rezando por você menina. - disse quando eu já passava da porta da sala
Apenas sorri. Entrei no carro, joguei minhas coisas no banco do carona, pus uma boa música e sai do condomínio. No meio do caminho parei em uma padaria, comprei algumas coisa pra mim, e pensei: “Do que será que ela gosta? Será que ela tomaria café comigo?”. Não precisei de respostas, comprei algumas coisa que imaginei que ela pudesse comer, e me atreveria a convidá-la para um café da manhã comigo, simples, mas sem sobra de dúvida eu amaria ter a companhia dela. Eu devia estar ridícula, sai da padaria praticamente saltitando de alegria.
Entrei no carro novamente, coloquei as coisas cuidadosamente no banco do passageiro, liguei o som do carro e sorri – mais uma vez naquele dia – ao ouvir a música que começou a tocar naquele momento. Ed Sheeran – Kiss me. A música dizia tudo o que eu queria dizer. Cantei junto com a música. Parei em um sinal, e vi uma pequena igreja. Fiz um breve pedido, uma breve oração para que tudo desse certo. Na calçada, na frente da igreja uma senhora vendia flores. Não pensei duas vezes, parei o carro apressada e desci ao seu encontro.
–- Bom dia! - eu disse.
–- Bom dia jovem. O que deseja? - ela perguntou limpando as mãos em um avental.
–- Eu não sei ainda. - disse na dúvida sobre qual levaria.
–- O que pretende dizer?
Olhei pra ela e disse com sinceridade.
–- Eu quero dizer que estou apaixonada! - sorri – Mas queria algo simples.
Ela sorriu e abaixou-se pegando um pequeno arranjo de flores na cor branca.
–- Esse aqui é perfeito. - ela disse me entregando o ramalhete – Esse é o cravo. Ele quer dizer: inocência, amor puro e ardente, encanto, doce e adorável. Leva boa sorte a quem se ama. … tão simples e significativo quanto o que você sente.
Era perfeito!
–- Esse mesmo! Vou levar.
Ela caprichou no ramalhete, ficou lindo. Paguei pelo arranjo.
–- Boa sorte moça! - ela me disse sorrindo.
–- Obrigada senhora.
Voltei para o meu carro e segui para agência, dessa vez sem direito a nenhuma parada ou chegaria atrasada.
Cheguei à agência e não havia quase ninguém, poucos carros estavam estacionados. Precisei dar duas “viagens” do meu carro até minha sala para conseguir levar tudo. Tentei arrumar uma mesa que havia em minha sala da melhor maneira possível. Queria surpreendê-la. Dispus todas as coisas, olhava e arruma tudo até ficarem simetricamente alinhados na mesa. Olhei para a mesa pronta “Será que eu exagerei?”. Deixei o ramalhete em cima de minha mesa, não sabia ainda como entregá-lo.
O nervosismo estava tomando conta de mim, quanto mais o ponteiro do relógio se movia, mais meu coração palpitava. Já havia esquecido de tudo o que havia ensaiado na frente do espelho para falar. Tudo arrumado, sentei em minha cadeira. Meu pés “dançavam” embaixo da mesa mostrando o tamanho de meu nervosismo e ansiedade.
Bateram à porta. Meu coração quase saiu pela boca. Pelo horário só podia ser ela. Eu queria que fosse ela. Levantei-me, fiquei ao lado da mesa, respirei fundo.
–- Pode entrar! - disse com a voz quase sumindo.
E ela entrou! Se eu não estivesse segurando, me apoiando na cadeira, sem sombra de dúvidas eu teria caído. Ela estava linda. A cada vez que eu a olhava ela me parecia ainda mais linda. Se é que isso é possível. Com um sorriso nervoso e passos incertos ela entrou em minha sala e fechou a porta atrás de si.
–- Bom dia Marina!
–- Bom dia Giulia. - tentei sorrir, notei que ela estava nervosa – Me acompanha no café da manhã?
–- …... - parou por alguns segundos – Claro!
Sorri. Puxei a cadeira para ela sentar.
–- Obrigada.
–- Por nada. - sentei-me – Eu sei que deve ser meio estranho, tanto o e-mail que lhe mandei ontem, quer dizer...que você leu hoje, como esse café da manhã dentro da minha sala. Mas eu quero e vou te explicar tudo, só que antes queria aproveitar de tudo isso aqui com você. Tudo bem?
–- Sim! Vou ficar ansiosa mas posso esperar. - ela me respondeu com um sorriso.
Tomamos café conversando sobre amenidades. Eu não consegui não acompanhar cada movimento dela. O modo como arrumava seu prato, como fechava levemente seus olhos a cada primeira mordida, o sorriso contido. Estava hipnotizada por aquela imagem.
–- Obrigada pelo café. Estava maravilhoso.
–- Não foi nada. Obriga você pela companhia, tornou o café melhor ainda.
Ela sorriu timidamente e suas bochechas adquirindo um leve tom rosado.
–- Estou lhe matando de ansiedade não é mesmo.
–- Confesso que sim!
–- Tudo bem. Podemos ir até o sofá? - a convidei.
–- Claro.
Sentei-me e ela sentou a minha frente. Fiquei em uma ponta do amplo sofá e ela na outra. Olhei em seus olhos, respirei fundo e comecei a falar.
–- Não queria que você tivesse uma impressão errônea de mim Giulia. Fiz isso pra te pedir desculpas.
–- Marina... - me interrompeu.
–- Não é o que está pensando, me deixa continuar – ela me dirigiu um olhar como se pedisse desculpas e eu continuei. - Quero te pedir desculpas pelo modo como agi com você. Não por ter lhe beijado, mas da maneira como o beijo aconteceu. Acho que atropelei as coisas. Ter te beijado não foi um erro e nem precipitado. Mas eu me deixei levar pelo momento, fui um tanto quanto fugaz. O que eu quero te dizer é que eu quero, quero muito te conhecer, dividir momentos com você por que eu não sei mais o que fazer com esse sentimento que tá surgindo aqui dentro – apontei para meu peito – não quero te assustar, mas eu acho que estou me apaixonando por você. Pode ser que ache isso uma tremenda loucura e diga até que isso é impossível, eu também pensei o mesmo, achei que fosse impossível. Mas não é! - baixei a cabeça - … verdadeiro, estou me apaixonando e...
Não consegui terminar de falar, fui impedida pelos lábios de Giulia. Ela me pegou de surpresa tomando meus lábios em um beijo.
–- Não fala mais nada agora. - ela sussurrou e beijou-me novamente.
Senti meu peito transbordar felicidade. Não sabia dizer se aquilo era um “Sim”, um sim que me dava liberdade de entrar em sua vida de uma maneira diferente.
–- Mas eu preciso. - sussurrei ofegante – Preciso saber que algo nos impede.
–- Nada nos impede Marina – ela disse olhando em meus olhos.
–- Mas a Vick, ela... - parei de falar diante de seu sorriso.
–- Vick é apenas uma amiga, quase uma irmã que divide apartamento comigo. Não somos nada mais que isso Marina. Ela cuida de mim e eu cuido dela, como irmãs.
–- Ainda não estou conseguindo acreditar nisso. - disse sorrindo. - Mas e você...
–- O que eu sinto por você? - apenas balancei a cabeça em afirmativa – Bom, eu não sei explicar ainda o que sinto. Mas eu perco a cabeça perto de você. Eu sinto um friozinho na barriga sabe? Sinto as pernas ficarem bambas, penso em você quase o dia todo, fico sem ar e sem voz. O seu beijo é incrível, e me faz querer muitos outros... - disse mordendo o cantinho do lábio o que me desconcertou.
Não me segurei e a beijei novamente. Estávamos no meio de um beijo que fazia meu mundo girar diga-se de passagem quando a porta de minha sala foi aberta bruscamente.
Fim do capítulo
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