Isabella

 

 

 

                 Logo que chegamos a escada já dava para escutar todos conversando na mesa, descemos de mãos dadas, Nikki pulava degrau por degrau, enquanto Lupi ia em meu colo, ela ainda era muito pequenininha para descer sozinha. Quando chegamos a sala coloquei-a no chão e as duas seguiram para o imenso jardim.

 

- Bom dia, vejo que todos estão animados hoje. – Lari falou, olhando todos sorrindo a mesa.

 

- Claro que sim e pelo que vejo não somos os únicos. – Mile respondeu, nos olhando divertida.

 

                Suse estava sentada ao lado de Zé, seguido de Milena, Isac, Bianca e Ester que eu nem lembrava mais que haviam dormido aqui. Larissa puxou a cadeira para que eu me sentasse, todos suspiraram um “Ahh, que romântico” logo depois caindo na risada juntos. Senti meu rosto arder de vergonha, ainda era difícil me acostumar com esse jeito cuidadoso dela. Sussurrei um obrigado e ela ocupou a cadeira vazia ao meu lado.

 

- Então qual era o assunto?

 

- O desespero de Ingrid para fazer você não procurar defeito na candidata ao cargo da presidência.

 

- Eu bem sei disso, mal abri os olhos e ela já me ligou. Com um mal humor do cão, imagino o que ela deve estar sofrendo com a Giovana. – Milena e Suse riram, ambas sabiam muito bem como ela era brava.

 

- A verdade é que sempre fazemos de tudo para agradar quem amamos. – Zé falou.

 

- Verdade Zé, fazemos até mesmo o que consideramos impossível ou improvável. – concordei com o que ele disse.

 

              Os assuntos foram variando, Isac e Bianca falando de faculdade, Milena e Lari, sobre um carregamento de materiais que estava atrasado. Suse e Zé seguiram para a cozinha juntos. Pude então conversar com Ester.

 

- Eles são malucos mais são legais, não é? – perguntei puxando assunto.

 

- São sim, você e Larissa formam um lindo casal. – senti sinceridade em suas palavras.

 

- Obrigado, fiquei feliz quando soube que Bianca estava namorando.

 

- Feliz ou aliviada? – perguntou divertida. – Eu sei da história das duas.

 

- Ah, não pensei que soubesse. Não imaginei que ela fosse contar se quisesse continuar saindo conosco, nem toda mulher aceita uma amizade com passado envolvido. – resolvi ser sincera também.

 

- Eu sei, foi difícil. Ela só me contou ontem, nós discutimos, mas nos entendemos. Ela sabe que não teria chance nenhuma com a Larissa. Ninguém além de você tem Isabella. – sorriu com delicadeza.

 

           Logo em seguida foi envolvida na conversa sobre a tal festa do fim de semana, fiquei pensando no que ela havia me dito, será mesmo que ninguém além de mim seria capaz de conquistar Larissa? Que quando ela diz que não devo me preocupar por que tem olhos apenas para mim é verdade mesmo? Que eu estava sendo boba quando um dia duvidei que ela poderia mesmo me fazer feliz? Que é realmente perca de tempo não aceitar um envolvimento mais sério? Mil e uma perguntas se passavam em minha mente, senti sua mão tocando minha perna por baixo da mesa, aqueles olhos verdes me olhando, aquele sorriso lindo que me deixava completamente abobada, sempre que o via.

 

- Tudo bem? – perguntou preocupada.

 

- Tudo perfeito. – sorri de volta e trocamos um selinho.

 

          Depois que nos despedimos de todos seguimos rumos diferentes, Milena foi deixar Isac em casa. Bianca e Ester também foram embora. Fomos no meu carro para a empresa, eu precisava conversar com Siqueira. Logo que saímos da garagem avistei Montanha em seu carro a poucos metros de nós. Assim que Larissa ficou próximo ao homem disse divertida:

 

- Bom dia Montanha, que cara feia é essa?

 

- Bom dia Larissa, isso é cara de segurança.- respondeu quase sorrindo. – Como vai Dra.?

 

- Bem, obrigada. – respondi educadamente.

 

- Montanha preciso de alguém de prontidão a acompanhar Suse caso ela saia.

 

- Claro, colocarei alguém a disposição dela.

 

- Obrigada. – ela baixou o vidro subindo-o em seguida. – Ah! Caso você nos perca de vista estamos indo para empresa. – sorriu debochada para o homem.

 

          Ele apenas balançou a cabeça e fez um gesto com a mão. Era engraçado esse jeito que ela tinha de sempre fazer graça com todos, independentemente de quem fosse.

 

- Ah! Esqueci de dizer, Milena entrou em contato com o investigador, acho que ele já deve estar procurando a amada do Zé.

 

- Que bom, espero que ele consiga encontrá-la.

 

- Tomara. – ela dirigia calmamente. Minutos depois já estávamos parando no estacionamento, senti um calafrio correr meu corpo, foi impossível não me lembrar do pesadelo.

 

- Bella? Você está passando mal? – tocou minha mão preocupada.

 

- Não. – balancei a cabeça tentando espantar a imagem dela morrendo em meus braços. – Está tudo bem. Vamos?

 

- Ok! Vamos sim, mais primeiro...- se aproximou de mim, me beijando em seguida. – Vai ser uma tortura passar o dia inteiro longe dessa sua boca maravilhosa. – me beijava a cada palavra que dizia.

 

- Para mim também será. – batidas no vidro fizeram com que interrompêssemos o beijo.

 

- Qual é Ingrid, me liga cedo e me impede de trans*r, agora quer cortar até os beijos, desse jeito ao invés de te manter aqui como presidente, vou te dá uma carteirinha de presidente do Clube dos Empatas Fodas. – falou rindo.

 

- Olá Isabella, controle essa sua namorada adolescente que parece que nunca provou sex* antes na vida. Bom dia Larissa, espero você daqui a cinco minutos em minha sala. – sorriu saindo.

 

- Acho que ela esqueceu que além de não me assustar eu sou dona disso tudo. – falou rindo.

 

- Vamos minha adolescente, antes que a diretora má venha te levar a força.

 

- Ei, nada certo isso. – sorri da cara que ela fez.

 

           Peguei minhas coisas no banco de trás e adentramos a empresa de mãos dadas, ainda era estranho ver todos nós encarando. Por mais que todos soubessem que temos um relacionamento, acho que ainda não estavam acostumados a nos ver entrando de mãos dadas ali.

 

- Queria saber quando eles vão parar de nos encarar. – reclamei logo que chegamos no elevador.

 

- Acho que provavelmente quando você for a Senhora Rodrigues. – falou sem me olhar, mas podia jurar que ela sorria de forma divertida.

 

 - É provavelmente. – disse apenas. Chegamos no meu andar. – Até mais tarde.

 

- Até Dra. – me respondeu sorrindo, haviam alguns funcionários na porta do elevador. Podia sentir seu olhar em mim.

 

           Meu celular tocou, peguei o aparelho ela havia me mandado uma mensagem:

 

Você ficou sexy nessa saia justa, estou pensando seriamente em mudar o meu cardápio para o almoço hoje. Rsrs

 

            Impossível não rir de seu comentário, ela tinha um jeito leve que me deixava tão leve quanto ela. Lembrei do tal almoço. Chegando a minha sala respondi sua mensagem.

 

Você precisa ver o quão sexy estou sem ela. Ah! Por falar em almoço, comporte-se no de hoje. Amo você.

 

             Sorri depositando o celular em cima da mesa, liguei o computador e comecei a trabalhar. Ouvi batidas na porta, logo depois vi Siqueira entrar.

 

- Descobriram quem vazou a informação. – disse sentando-se na cadeira em frente a mim.

 

- Quem? – perguntei apoiando os braços na mesa.

 

- Aparentemente uma sobrinha dele trabalha no gabinete do Juiz. Foi difícil descobrir pois eles não têm o mesmo sobrenome.

 

- Ok! Como descobriram?

 

- Segundo o que me disseram ela não apareceu mais para trabalhar, logo todos começaram a suspeitar dela. Foi então que puxaram toda sua ficha e acabaram descobrindo que a mãe dela é irmã de Otávio.

 

- Então agora são dois foragidos? – o homem balançou a cabeça. – Que família! – exclamei, notei um leve mover de lábios que pareceu um sorriso.

 

- Bom, vou indo, tenho uma reunião agora. – falou levantando-se.

 

             Observei ele se retirando e me perdi em meio a documentos. Não foi fácil me concentrar, volta e meia me pegava pensando em toda essa confusão. Já era quase meio dia quando Larissa bateu em minha porta:

 

- Pode entrar. – senti seu perfume invadir o ambiente. Ergui meus olhos e sorri ao vê-la.

 

-Passei só para te dá um beijo rápido. Já estou atrasada. – sorriu beijando meu pescoço e sentando-se em meu colo em seguida.

 

- Hum, assim vou fazer você se atrasar ainda mais. – falei quando ela passou a língua em minha orelha.

 

- Não posso, tenho que encontrar, minha futura presidente. Ou Ingrid me arranca os olhos. – encostou seus lábios nos meus e em seguida levantou-se. – Vai almoçar por aqui?

 

- Vou ver se encontro Ben ou Maísa. Bom almoço linda.

 

- Tudo bem, obrigada e para você também. Nos vemos mais tarde?  

 

- Sim. – me beijou rapidamente e saiu em seguida.

 

           Suspirei rodando na cadeira, observei os carros lá em baixo e as pessoas caminhando com pressa. Meu celular tocou em cima da mesa. 

 

- Alô.

 

- Amiga, eu e você agora, almoço no seu restaurante preferido. – Maísa falou de um folego só.

 

- Oi para você também. Te encontro no estacionamento.

 

                   Encerrei a ligação antes que ela começasse a reclamar. Peguei minha bolsa e rumei para a saída do prédio. Encontrei minha amiga encostada no carro já me esperando.  Entramos no carro, dois quarteirões depois já estávamos no restaurante Santé.

 

- Faz tempo que não venho aqui.

 

- Eu sei, desde que você se separou.

 

- Verdade.

 

                    Escolhemos uma mesa na parte externa do restaurante, sentei de costas para a grande janela de vidro atrás de mim. Maísa ocupou uma cadeira a minha frente. O garçom trouxe os cardápios, em seguida se retirou.

 

- Vai beber alguma coisa? – Maísa questionou.

 

- Não.

 

- Ótimo, eu vou beber e você dirige na volta. – levantei uma sobrancelha e encarei-a. – Que foi? Estou uma pilha de nervos com essa coisa de casamento.

 

- Tudo bem, mais eu não disse nada. – sorri para ela. – Por falar em casamento, onde está seu futuro marido?

 

- Ajudando Milena na construção, já que Larissa não podia ir para lá hoje. – ela lançou um olhar por cima do meu ombro. – Por um acaso você sabe por que ela não pode ir? – perguntou ainda olhando para dentro do restaurante.

 

- Ela tinha um almoço com uma candidata a vaga de Ingrid. O que tanto você olha para dentro? – virei para olhar e me deparei com Larissa e outra mulher de cabeleira ruiva. As duas riam de algo, senti meu sangue ferver.

 

           As duas pareciam intimas, a mulher era muito bonita, devia ter mais ou menos a idade de Ingrid. Vi a fulana segurar a mão de minha namorada, e ela fugir do contato sem graça. Me virei tomando o copo de água de uma vez só.

 

- Isa, você está bem?

 

- Si-sim. – sorri sem jeito.

 

- Qual é Isa, sei muito bem que você está se roendo de ciúmes. Por que não vai lá?

 

- Não posso. Elas estão em uma entrevista de emprego.

 

- Bom, a ruiva me parece mais interessada em Larissa do que no cargo se é que me entende. – falou olhando as duas.

 

- Vamos pedir. – mudei de assunto, mais no fundo minha vontade era ir até lá e agarra-la na frente daquela mulherzinha.

 

- Ok!

 

          Ela chamou o garçom, que saiu com os nossos pedidos. Minha cabeça ainda estava a algumas mesas a frente, ver alguém tão perto de Lari, me deixava desconfortável. Era como se um buraco negro se abrisse em meu estômago. Acompanhava a boca de Maísa fazendo movimentos, porém não consegui prestar atenção em nada que ela disse.

 

- Isabella, você não está prestando atenção em nada do que eu estou falando.

 

- Desculpa. – sorri sem graça.

 

- Ai Deus! Deixa eu resolver isso. – chamou o garçom mais uma vez.

 

- O que você vai fazer?

 

- Eu nada, já você vai sentar aqui onde eu estou. – trocamos de lugar.

 

- Pois não? – o garçom disse educadamente.

 

- Está vendo aquela loira deslumbrante naquela mesa ali? – apontou para a direção, o homem balançou a cabeça. – Ótimo, você vai levar uma taça do que quer que ela esteja bebendo e vai dizer que ela mandou. – apontou para mim.

 

- Não, você está louca Maísa?

 

- Não, apenas cuidando do que é seu. Faça o que eu pedi.- disse para o rapaz que em seguida se retirou.

 

        Observei o rapaz pegar uma taça de vinho e se dirigir até a mesa que elas estavam. Ele depositou a taça em cima da mesa e apontou em nossa direção, ela me encarou sorrindo e ergueu a taça, me mandando um beijo. A ruiva me olhou com cara de poucos amigos, Larissa falou algo para o garçom e em seguida com a tal ruiva e segundos depois caminhavam em nossa direção. Meu coração começou a bater descompassado, sabia que a ideia de Maísa era péssima. 

 

                      

Fim do capítulo