Larissa

 

                Sorri vendo a resposta de Bella a minha pequena provocação, pior que ela devolveu a altura. Senti os olhares dos outros ocupantes sobre mim, encarei todos como se perguntasse “o que foi?”. O elevador chegou até o andar de Ingrid, caminhei para sua sala, a secretária disse que ela já me aguardava, meu celular tocou, não reconheci o número, como já estava na sala de Ingrid resolvi deixar para retornar depois.

 

- Bom dia bela dama. – me sentei a sua frente.

 

- Não adianta puxar saco. Hoje você está mais que obrigada a aceitar Samantha para me substituir. – falou sem me olhar.

 

- Às vezes acho que você esquece de que eu que deveria dar ordens por aqui. – sorri de seu suspiro.

 

- Larissa, você conhece minha amada esposa? – falou passando a mão sobre o pescoço;

 

- Conheço, e a julgar pela sua dor no pescoço acho que alguém está dormindo no sofá.

 

- Não, quer dizer, sim. Só ontem, nós discutimos porque fiquei até tarde aqui. E ela se trancou no quarto.

 

- Imaginei. Não se preocupe, não lhe prenderei mais aqui. Mesmo que não contrate essa sua amiga, eu ocuparei seu cargo enquanto encontro alguém. Não aguento ver essa sua cara de dor. – ela me sorriu.

 

- Agradeço que compreenda. Giovana quando quer sabe ser..

 

- Do mal? – sorrimos em cumplicidade.

 

- Isso mesmo. Ela é um ser muitas vezes impossível lhe dar.

 

- E mesmo assim, você cai de amores por ela.

 

- Não tenho como negar isso. Mas e você e a Dra. é sério?

 

- Sim, estou mesmo gostando dela.

 

- E ela de você.

 

- Acho que sim, mas chega de falarmos da vida pessoal, o que mais você quer comigo?

 

- Preciso que assine alguns documentos.

 

                Depois de um longo tempo analisando dados e assinando documentos, Ingrid teve que sair para uma reunião. Eu me encaminhei para minha sala, retornei algumas ligações de representantes. E recebi uma encomenda pelo correio, o endereço era o da sede em Ouro Preto, Tio Ruan havia me mandado. Desembrulhei o pacote e nele encontrei um esboço de uma casa, no canto havia a assinatura do meu pai, a planta estava inacabada. A data era de dois dias antes do acidente. No fundo da caixa havia um bilhete de Ruan.

 

“Encontrei em uma das gavetas do seu pai hoje, foi o último trabalho dele, pena que não pode ser finalizado, achei que você pudesse finalizar, ele pretendia construir essa casa ai. Quem sabe não pode ser sua casa com Isabella.

 

                     Com carinho, Tio Ruan”

 

                Sorri passando o dedo no papel, quem sabe não poderia realmente ser nossa casa. Olhei a planta e sorri, o desenho mesmo inacabado era lindo. Com certeza eu iria construir, em memória do meu pai. Tirei tudo de cima da minha mesa e comecei a desenhar. Perdi a hora, já era quase meio dia quando a secretária bateu na porta.

 

- Dona Larissa, a senhora já está atrasada para seu compromisso.

 

- Claro, já estou saindo. – falei pegando minha bolsa, agradeci a mulher e antes de sair fui a sala de Bella.

 

                Não me demorei pois já estava atrasada, logo que me despedi e sai de sua sala me lembrei que não sabia o lugar do almoço.

 

- Ingrid, você não me disse onde tenho que encontrar Samantha. – falei logo que ela atendeu o telefone.

 

- No Santé, a dois quarteirões daqui.

 

- Tudo bem, sei onde fica.

 

- Ótimo e por favor, pega leve com ela.

 

- Pode deixar, beijo.

 

               Entrei no carro e segui para o restaurante, já estava um pouco atrasada, não era do meu feitio me atrasar, mas perdi a noção do tempo fazendo os acabamentos no desenho do meu pai. Estacionei o carro e entrei, antes que eu pudesse perguntar se ela já havia chegado, avistei uma cabeleira vermelha, sentada tomando uma taça de vinho. Se Milena estivesse ali ela diria “que mundo pequeno” ou “bem que eu disse que era essa Sam”. Agradeci a moça e segui para a mesa.

 

               Antes de me aproximar Samantha levantou a cabeça e sorriu ao me ver. Ela continuava uma mulher muito bonita e pelo visto ainda lembrava de mim. Quando já estava próxima ela se levantou me estendendo a mão.

 

- Larissa Rodrigues, prazer em revê-la. – sorriu apertando minha mão na sua.

 

- Samantha Borges, a quanto tempo.

 

- Muito, na verdade, sente-se. – me apontou a cadeira.

 

- Acho que uns três anos? – perguntei ao me sentar.

 

- Por aí. – sorriu de forma safada com certeza lembrando nosso encontro.

 

- Sinto muito por Ingrid não ter vindo. – resolvi mudar de assunto, pelo visto ela não havia mudado nada desde a última vez.

 

- Não tem problema, digamos que você é uma ótima substituta. – sorriu novamente.

 

- Você já pediu?

 

- Ainda não, apenas um vinho. – apontou a taça quase vazia.

 

- Irei lhe acompanhar no vinho enquanto falamos sobre sua contratação.

 

- Claro. – chamou o garçom e fez o pedido.

 

- Então o que houve para que saísse de seu antigo emprego? – perguntei.

 

- Cansaço, quase todo dia eu estava em uma cidade diferente, a cada semana em um pais. Não tenho mais disposição e nem idade para ficar viajando tanto.

 

- Entendo, mais você não está assim tão velha, não mudou quase nada depois de todos esses anos.

 

- Obrigada, você mudou, para melhor. Está ainda mais linda do que antes.- pressionou sua mão na minha levemente, ela estava dando em cima de mim na cara lisa. Retirei minha mão e voltamos a conversar sobre trabalho.

 

            O curriculum dela era impressionante, sem dúvida nenhuma ela era mais que qualificada para o cargo. Não quis enrolar mais, depois de acertarmos os valores e seu horário de trabalho. Eu disse:

 

- Agora você é oficialmente a presidente da empresa. E está salvando Ingrid de dormir mais vezes no sofá. – foi impossível não cair na risada.

 

- Giovana é um doce, mas as vezes causa pavor em qualquer um. Mais e você como anda a vida amorosa? Não me diga que uma mulher linda como você ainda continua solteira? – segurou minha mão passando o polegar em um leve carinho, retirei minha mão sentindo meu rosto corar.

 

- Na verdade eu estou namorando.- o time foi perfeito, o garçom se aproximou com uma taça de vinho.

 

- Com os comprimentos da moça de branco. – mostrou a moça a algumas mesas adiante, sentada na parte externa do restaurante.

 

          Sorri ao ver Bella e Maísa, ela me sorriu de volta eu ergui a taça agradecendo e lhe mandei um beijo.

 

- Hoje é o dia das coincidências. Primeiro você ser você. – ela sorriu confusa. – E agora a Bella aparecer justamente quando estamos falando nela.

 

- Ela é a felizarda então? - olhou para Bella de forma estranha. – Vamos nos juntar a ela? Afinal já fechamos o contrato.

 

- Claro. – sorri e chamei o garçom. – Pode levar os nossos pedidos para aquela mesa?

 

- Sem problemas.

 

          Caminhamos em direção à mesa delas e Bella mantinha seus olhos presos aos meus. Podia saber que ela estava com ciúmes.

 

- Oi meu amor. – beijei seu rosto. – Maísa, Bella, essa é Samantha. Samantha essas são Maísa e Isabella, minha namorada.

 

- Muito prazer. – cumprimentou as duas.

 

- O prazer é nosso. – Bella respondeu apertando a mão da ruiva. – Sentem-se.

 

- Claro. – Sam ocupou a cadeira vizinho a Maísa. Eu me sentei próximo a Bella.

 

- Então, você está contratada? – Maísa foi direta.

 

 - Sim, ela está mais que qualificada para o cargo. – falei. – Fora que ela está ajudando a amiga a não dormi mais no sofá. - Expliquei a história de Ingrid e as duas caíram na risada.

 

       Nosso almoço chegou, comemos em um clima descontraído, volta e meia via o desconforto em Bella com certos comentários de Samantha. Era fofo o ciúme que ela sentia, mesmo não tendo motivos para tal. Até aquele momento ela parecia não ter se tocado de que aquela Samantha era a mesma Sam que Milena havia falado.

 

- Bom a conversa está ótima mais preciso voltar para a empresa. Você vem comigo Isa? – Maísa perguntou, Bella me olhou e eu falei:

 

- Ela vai comigo.

 

- Tudo bem. – ia pegar a carteira quando eu a impedi.

 

- Eu pago. – sorri.

 

- Imagina.

 

- Larissa é igualzinha ao pai. – Samantha falou. – Nunca deixava ninguém pagar nada. – sorriu.

 

- Tudo bem, nós vemos mais tarde. Samantha seja bem-vinda.

 

       Saiu nos deixando sozinhas. Perguntei a Sam:

 

- Você quer ir conhecer a empresa?

 

- Claro. – concordou. – Você também trabalha na empresa Isabella?

 

- Sim, chefe do jurídico.

 

- Advogada. Muito bem.

 

- Não qualquer advogada, a melhor. – disse me derretendo para ela.

 

- Menos meu amor, menos.- Bella disse sem graça.

 

- Vamos? – falei assim que o garçom me devolveu o cartão.

 

- Claro, vou seguindo vocês.

 

            Fomos para o estacionamento, eu e Bella de mãos dadas, Samantha estava ao nosso lado, ela retirou a jaqueta deixando parte da tatuagem a mostra, Bella olhou e percebeu quem ela era.

 

- Meu carro. – Samantha sorriu, parada ao lado de uma BMW preta.

 

- Certo, é só me seguir. – encontramos meu carro e logo que entramos Bella disse:

 

- Pelo que percebi Milena tinha razão. – falou colocando o cinto de segurança.

 

- Sobre? – perguntei.

 

- Sério? Você acha que sou burra? Ela é a mesma mulher que Milena falou. – disse irritada.

 

- Ah! É sim, isso é problema para você? – perguntei ligando o carro.

 

- Não! Quer dizer não sei, confesso que fiquei incomodada com o jeito que vocês estavam conversando. – falou com a voz baixa.

 

– Alô. – seu celular tocou. -Tudo bem. Passo hoje à noite, prometo. Sim eu levo ela sim. – falava no celular.

 

- Sua mãe? – perguntei, já estávamos quase na empresa.

 

- Sim, podemos passar lá hoje à noite? – perguntou.

 

- Claro. – segurei sua mão. – Você sabe que não tem porque ficar com ciúmes. Não sei o que preciso fazer para te provar que só quero você. – falei beijando seus lábios, já estávamos no estacionamento da empresa.

 

- Eu sei, mais é que fico insegura. E ficou bem na cara que ela tem interesse em você.

 

- Bella, não importa quem tenha interesse em mim. Importa em quem eu tenho interesse e esse alguém é você. – acariciei seu rosto. - Amo você minha linda.

 

- Te amo. – nos beijamos mais uma vez e saímos do carro, afinal Samantha estava à minha espera.

 

         Segui mostrando cada setor para Samantha, por últimos fomos para a sala da presidência. A secretária nos pediu para esperar um instante, nos sentamos na sala de espera.

 

- O prédio é tão bonito quanto o da filial. – Samantha comentou.

 

- É sim, meu pai sempre foi caprichoso.- sorri.

 

- Foi triste o que aconteceu, na época eu estava em Amsterdam. Fiquei sem acreditar.

 

- Realmente uma tragédia. – ela pousou a mão em meu ombro me confortando.

 

- Ingrid já pode recebê-las. – a secretária falou olhando para a mão de Sam em meu ombro.

 

- Obrigada. – nos levantamos e fomos em direção a sala.

 

          Sabia que a secretária faria fofoca sobre o que viu. Isso me traria confusão com Bella. Ela já não gosta de Samantha e se o pessoal da empresa começassem a fazer fofoca sobre nós, ela não iria gostar nenhum pouco.

 

- Ingrid querida como vai? – a ruiva abraçou a mulher.

 

- Bem e melhor agora, afina sua ilustre presença nessa empresa só significa uma coisa...

 

- Sim, eu contratei ela Ingrid. – disse me sentando.

 

- Ótimo.

 

- Pode ficar despreocupada que você não vai mais dormir no sofá. – falei provocando-a, Sam caiu na risada.

 

- Isso pode dar risada, só não esqueça que você que vai aguentar isso agora. – as duas sentaram-se.

 

 - Não tenho problema, e muito menos mulher para me mandar dormir no sofá.- Sam retrucou.

 

- Bom, vou deixar vocês sozinhas, assim já podem começar a trabalhar. – disse me levantando.

 

- Claro. Obrigada Larissa. – Ingrid disse.

 

- Não me agradeça, me chame para um drink. – pisquei para ela. – Até mais Sra. Presidente. – sorri estendendo a mão para Samantha.

 

- Futura presidente e nada de senhora que isso me deixa ainda mais velha. Até mais tarde Larissa.

 

           Sai da sala deixando as duas, passei pela secretária que como eu imaginava já estava de fofoca com outra secretária. Peguei meu celular fingindo não perceber as duas ali. Foi então que lembrei da ligação de mais cedo, procurei o número e retornei à ligação. 

 

- Com quem eu falo? – já entrava em minha sala.

 

- Dona Larissa, aqui é o Rubens o investigador,  a dona Milena me pediu para entrar em contato com a senhora.

 

- Ah, claro. Ela explicou o que eu necessito?

 

- Sim, ela disse apenas para confirmar as informações com a senhora.

 

- Certo.

 

            A ligação durou alguns minutos, assim que desliguei Milena entrou em minha sala. Como sempre sem bater, sentou-se em minha frente e me encarou séria.

 

- Então, segundo o rádio corredor você contratou uma nova presidente. – falou olhando a planta da casa que estava em minha mesa.

 

- Sim, pelo visto as fofocas nesse lugar são sem fronteiras.

 

- Exatamente, essa casa é linda. Você que fez? – perguntou, apontei para a assinatura do meu pai. – Entendo, como você conseguiu isso?

 

- Ruan que me mandou.

 

- A cara dele. Enfim, vai me dizer que eu estava certa? – falou sorrindo.

 

- Sim Milena, você estava certa. A Sam é a mesma. Satisfeita?

 

- Na verdade não. Imagina ela dá de cara comigo, eu vou ter que explicar que não era sua namorada. – sorriu sem graça.

 

- Milena Ramos, com medo? Sério? – cai na risada. Ela deu de ombros.

 

- Na verdade segundo o rádio corredor ela mal foi contratada e já estava de carinhos para o seu lado. – falou calmamente.

 

- Não foi nada disso, estávamos falando da morte dos meus pais e ela colocou a mão no meu ombro tentando me consolar. – retruquei.

 

- Calma aí, eu sei muito bem que não é nada do que estão falando. As pessoas têm o dom de aumentarem as coisas, algumas vezes até inventarem.

 

- Eu sei, pior que a Bella já sabe quem a Samantha é.

 

- Como assim?

 

- Por coincidência acabamos indo almoçar no mesmo lugar. E Bella viu a tatuagem dela e juntou um mais um.

 

- Qual foi o restaurante?

 

- Santé. – respondi.

 

- O restaurante preferido dela, você sabia?

 

- Não. Não sabia, mais a questão é como você sabe disso?

 

- Hello!!! Eu namoro o irmão dela, nós já almoçamos lá algumas vezes e ele comentou que ela e a esposa sempre iam lá, mais depois da separação ela tinha deixado de ir.

 

- Hum, entendi.

 

- Veja pelo lado bom, se ela foi almoçar lá significa que já superou mesmo a ex canalha. – falou divertida.

 

-  Fato. – batidas na porta nos interromperam. Bella coloca a cabeça para dentro.

 

- Será que podemos conversar? – juro que senti até minha alma arrepiar. Milena me olhou como se dissesse “boa sorte”.

 

- Claro, pode entrar Isa, eu já estava de saída mesmo.

 

         Milena saiu e Bella ocupou a cadeira que antes ela estava sentada, engoli em seco já imaginando o que viria a seguir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo