Oito meses se passaram desde a morte de Nicola. As crianças já estavam andando para tudo que era canto, afinal eles já estavam com dez meses e Celina era uma serelepe. Tanto ela como André, já balbuciavam algumas pequenas palavras e isso deixava as mamães muito orgulhosas. André havia se tornado a sombra da major e quando elas os levavam para o regimento, era uma festa só, isso porque os soldados faziam todos os gostos das crianças. O filho de Tornado estava parecido com o pai e a major sempre levava as crianças para verem Laredo e com isso eles se divertiam. Celina adorava ir no estábulo e quando Andressa ou Márcia iam buscá-la era uma choradeira só. Enquanto isso André adorava ficar na sala junto com a major e quando ela ia procurá-lo, ele estava embaixo da mesa sentado sempre brincando com alguma coisa.  As vezes até  dormia no sofá da sala da mãe de tanta bagunça que fazia. Todos no regimento o chamavam de pequeno major Mantovanni.

 

– Esse ainda um dia vai substituir a mãe, só não sei qual delas, falavam os rapazes.

 

– Espero que ele seja tão bom comandante, quanto a major. Que siga os exemplos dela e da capitã e não seja mal caráter igual ao avô, falou o tenente Félix. Isso iria matar a major de desgosto.

 

– Mas eu acho que tanto ele quanto a Celina se forem um dia militares, honrarão sempre o nome dos Mantovanni, falou o sargento Prado.

 

– É pelo menos em matéria de criação e padrinhos, eles estão muito bem estruturados, porque quem tem a major Monteiro, o coronel Tavares, o Tenente Pires Paiva e a capitã Laura como padrinhos, tem muito a ganhar, arrematou o capitão Teodoro.

 

As vezes a major Monteiro levava Celina com ela ao Canil e lá ficava brincando com os filhotes que nasciam. A menina adorava ficar no meio deles. As cachorras que ficavam juntamente com os filhotes, nem estranhavam mais a pequena que era muito carinhosa com eles. Em uma dessas vezes, a major deu falta da afilhada e saiu procurando por todos o quartel. Foi quando um dos soldados que estavam procurando, achou Celina e chamou a major.

 

– Major, eu achei a menina e vem aqui dar uma olhada nisso.

 

Quando a major chegou onde estava o soldado, viu que Celina dormia junto com uma das cachorras que haviam dado cria e em volta dela estavam os filhotes. A major tirou uma foto e depois disse que mostraria para as mães. Pegou a menina no colo e saiu rindo com a cena.

 

– Essa menina me lembra tanto a Celina, é tão carinhosa que as vezes penso que é a própria que está aqui no meu colo, falou para o major Alberto que havia conhecido a ex esposa da major Mantovanni.

 

– Sabe de uma coisa Cláudia, eu já pensei nisso algumas vezes. Ela se parece muito com a Andressa, mas se você reparar bem existem alguns traços da tenente.

 

Cláudia ficou observando a menina que agora dormia no sofá da sua sala e concluiu que o major tinha razão. Realmente a afilhada era muito parecida com a tenente.

 

Porém tempos antes no mundo espiritual, Nicola já se preparava para retornar aos Mantovanni. Os avós estavam se despedindo do neto e aguardavam com expectativa o seu retorno ao clã.

 

– Será que ele vai ser bem recebido Genaro?

 

– Claro Marieta, nós já conversamos com Márcia e Andressa e elas aceitaram o Nicola e vão ficar na expectativa da gravidez, tudo dará certo e um novo ciclo irá começar. E nós estaremos sempre com eles.

 

– Assim espero meu velho, assim espero.

 

Naquela mesma semana, aconteceria no Clube dos Oficiais o jantar anual dos policiais que foram os destaques do ano. Todas as unidades da polícia foram convidadas para a festa que também daria promoção de patentes a esses policiais que seriam homenageados. A major e a capitã assim como os outros, estariam nessa festa e claro os filhos desses policiais também. O traje oficial era o de gala, usado somente em ocasiões especiais.

 

– Amor com qual casaco eu devo ir no jantar com o azul ou o branco? Perguntava a major para a esposa.

 

– Meu amor, você sabe que fica linda com o branco, pois se você colocar a azul, juntamente com a saia que já é azul, vai ficar parecendo um oficial da força aérea. E eu com qual você acha que eu devo ir?

 

– O branco lhe cai excelentemente bem meu amor, mas como eu sei que você prefere o azul, vai com ele. Será a capitã PM mais linda que estará naquela festa.

 

– Então fica assim, você vai de casaco branco e eu com o azul.

 

– Combinado meu amor. Mas temos que colocar roupa de frio nas crianças, pois está muito frio e eu não quero nem pensar neles doentes, principalmente o André.

 

– Claro amor, já sei até qual roupa vou colocar neles.

 

Quando a major e a capitã chegaram no quarto, deram risada com os filhos. André havia  pego o bibico da major e tentava por na cabeça, enquanto Celina brincava com o quepe da capitã.

 

– Ah meus amores, o que vocês estão aprontando?

 

As crianças viram as mães e correram em direção a elas. André correu para Márcia e Celina foi em direção a Andressa, agarrou no pescoço da capitã e não largou mais. Enquanto isso, André beijava ou melhor babava no rosto da major que abraçou a esposa e os filhos dizendo:

 

– Meus filhos e minha esposa, eu amo vocês meus amores.

 

– Nós também te amamos muito meu amor, você é o pilar mestre dessa família e logo teremos mais um aqui em casa.

 

– Como assim amor, mais um?

 

Andressa pegou a mão da major e colocou em seu ventre dizendo:

 

– Eu estou grávida amor. Descobri hoje só não sei de quanto tempo. Fiz o aquele exame da farmácia e deu positivo, logo teremos mais um bebê nessa casa.

 

A major ficou com os olhos lacrimejados e abraçou ainda mais a esposa dizendo:

 

– Isso é maravilhoso amor, mais um bebê? Ah meu Deus, será que eu mereço toda essa felicidade? Obrigada meu amor, eu te amo muito e esse amor nunca vai acabar.

 

– Que bom amor, eu fiquei preocupada de você não querer o bebê.

 

– Porque você pensou isso Andressa?

 

– É que no dia do batizado das crianças você falou tão sério sobre a questão de filhos, que eu já estava me arrependendo de ter feito a inseminação por achar que eu tinha forçado mais uma gravidez.

 

– De jeito nenhum, nunca mais pense isso. Daremos amor para quantos filhos forem nos permitido por Deus. Portanto, ponha um sorriso nesse rosto lindo. Mas nós só contaremos para eles no dia da festa, certo?

 

– Está certo amor, agora me sinto mais feliz com tudo o que me falou.

 

– Andressa, entenda de uma vez por todas. Eu amo vocês e esse filho que você está esperando tem a minha participação, não se esqueça disso. É o nosso filho e não meu ou seu, é nosso. Agora vem aqui que eu quero muito deitar naquela cama, tomar um chocolate quente, assistir um filme agarradinha a você e depois fazer amor, muito amor. Ainda bem que as crianças já tomaram banho, mamaram e estão dormindo no quentinho, falou olhando para os filhos.

 

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A sexta-feira chegou e o dia do jantar no clube também. Andressa e Márcia como sempre, haviam reservado hora no cabeleireiro e na manicure, pois pelo menos três vezes por semana elas gostavam de cuidar da aparência. As crianças ficaram na casa do coronel com dona Carlota e dona Severina, que mimavam os netos de tudo quanto era maneira. Elas já haviam ido se arrumar, pois ambas também iriam ao jantar.

 

Na volta para casa, Márcia e Andressa passaram na casa do coronel e após conversarem rapidamente, pegaram as crianças e foram para casa, pois, precisavam cuidar das crianças.  A noite chegou e todos já estavam arrumados e prontos para sair. Márcia ainda estava  no quarto e logo desceu com a filha no colo enquanto Andressa a esperava na sala sentada no sofá com André que mamava. A major viu a cena e falou:

 

-- Mas está mamando de novo meu filho? Mamãe te ama, disse dando um beijo na testa do menino. Celina protestou e também ganhou um beijo da mãe.

 

-- Eu também te amo minha filha, disse abraçando a menina.

 

-- Bom anjo, eu já terminei com o André, vamos embora?

 

-- Sim minha querida, vamos que eu não perco esse jantar por nada. Além do mais, o coronel Raimundo vai estar lá e eu quero apresentá-lo para a sua mãe. Já está tudo combinado com os seus sogros.

 

-- Ai meu amor, se a minha mãe desconfiar que tem dedo seu nessa história, vai te xingar até dizer chega.

 

-- Não se preocupe que até o final do jantar, a sua mãe vai dançar até o cancan com o coronel. Isso se não acender uma coisa que está apagada há muito tempo.

 

-- Amor, você está se referindo ao que eu estou pensando? Quer dizer o fogo lá nos países baixos?

 

-- Isso amor, é desse fogo que eu estou falando, traduzindo, reativação do tesão acumulado. Ou seja, o coronel vai acabar colocando o sapo para namorar a perereca da sua mãe.

 

-- Credo amor, que linguajar é esse?

 

-- Linguajar do sex* safado e imoral. Eu disse que ainda casaria a sua mãe e eu vou cumprir.

 

– Ai, ai, ai você vai é arrumar confusão com a sua sogra.

 

Quando chegaram ao clube, muitos convidados já se encontravam no local. Ao vê-las chegando com as crianças, Laura já se dirigiu em direção a Andressa que estava com André no colo e já pegou o afilhado.

– Menino lindo da madrinha, como você está elegante? Boa noite meninas.

 

– Agora é que ela nos viu, falou Márcia rindo. Boa noite para você também Laura, e o padrinho desse gordinho onde está?

 

– Serve aquele sujeito que vem ali, acompanhado de um certo oficial da marinha que por acaso é seu irmão major?

 

– Boa noite senhoras. Nossa minha irmã, como você está linda com esse traje de gala, falou André.

 

– Eu disse a ela cunhado que a capitã mais linda entre as outras que aqui estivessem, seria essa gata com quem eu sou casada.

 

– E esse porquinho gordo do tio, tá bonito. E a minha princesinha, disse pegando Celina no colo, como está? Cada dia mais linda, parece que foi ontem que nasceram e já se passou quase um ano.

 

– É mesmo André e isso mostra que eu estou envelhecendo, logo a sua irmã vai ter me arrumar uma bengala, falou rindo para o cunhado. Mas vamos entrar que já deve ter muita gente lá e aqui está frio e eu não quero ninguém doente.

 

A major abraçou a esposa e entrou se dirigindo para a mesa onde estavam os pais, a sogra e o coronel Raimundo.

 

– Major Mantovanni, que bom revê-la depois de tanto tempo.

 

– O prazer é meu coronel,  como está o pessoal do policiamento de transito?

 

– Muito bem e a tenente coronel Marisa voltou ontem de Nova Iorque, agora ficou melhor com a volta dela.

 

– A marisa voltou, que bom. E o que ela achou de lá?

 

– Disse que tão cedo não quer ir para aquelas bandas, mas trouxe muita coisa nova que podemos implantar lá no batalhão.

 

– E ela virá  para a festa?

 

– Sim, ela e a esposa daqui há pouco estarão aqui

 

– Bom coronel, creio que já conheceu a minha sogra e essa é a minha esposa capitã Andressa.

 

– Olá moça bonita, tudo bem? É um prazer conhecê-la, assim como a sua mãe, falou o coronel lançando um olhar maroto para dona Severina que corou na hora e que não passou despercebido elos que estavam na mesa.

 

– O prazer é meu coronel, a major fala muito do senhor. Não é amor?

– É verdade e esses dois fofuchos são meus filhos André e Celina.

 

– Que lindos, vem aqui com o vovô Raimundo.

 

– As crianças não estranharam o coronel e ambos já faziam bagunça no colo do velho que não tirava os olhos da sogra da major.

 

– Amor,é impressão minha ou o coronel está comendo a  minha mãe com os olhos?

 

– Por enquanto é só com os olhos, mas até o fim da noite, quem sabe não será com outra coisa, falou para a esposa.

 

O jantar transcorreu normalmente e o coronel Raimundo, tirou dona Severina para dançar. No começo ela ficou um pouco relutante, mas a major a incentivou a aproveitar a noite e ela inocentemente aceitou a ideia da major. Andressa somente olhava e dava risada das armações da major e todos já haviam percebido que o coronel estava de olho na sogra da major e que ali, tinha o dedo dela e dos pais.

 

O coronel Gutierrez que estava acompanhado do comandante geral da polícia militar e do secretário da segurança pública, pediu ao conjunto que cessasse a música e comunicou a todos os presentes que seria anunciado os premiados do ano assim como os policiais que mudariam de patente.

 

– Senhoras e senhores, tenho aqui em mãos os policiais premiados nas seguintes categorias: melhor comandante, policial destaque da unidade militar, destaque da academia militar do Barro Branco e os que receberão sua promoções na mudança de patentes.

 

O coronel chamou o comandante geral e o secretário e esses após breve discurso, começaram a chamar os policiais que foram premiados.

 

– Policial destaque da unidade militar: 1º Tenente PM Paulo Guedes Ribeiro (2º Batalhão de Choque), cabo Adilson Tavares Motta, Sargento Alaor Vasconcelos Prado, soldado Carlos Antônio Macedo, capitã PM Deise Guedes do Prado e 1º tenente Félix Ferreira do Amaral (Regimento de Cavalaria Nove de Julho), soldados Emersom Tolentini, Marilda Gomes e Major Deocleciano (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Coronel PM Carlos Lisboa (Força Tática), Tenente Coronel Marisa dos Reis Assunção

(Policiamento de Trânsito), Major Atílio Herrera e 2º Tenente Paulo Braga (Corpo de Bombeiros).

 

A major estava tão concentrada na premiação que não percebeu quando uma mão segurou seu ombro e disse:

 

– Boa noite major, tudo bem? Lembra-se de mim?

 

Ao olhar viu que a moça estava sorridente e cordialmente respondeu:

 

– Boa noite, capitã Adriana Prado, tudo bem com a senhora?

 

– Sim major, e essa é a sua esposa e aqueles devem ser seus filhos. Prazer em conhecê-la capitã Pires Paiva.

 

– O prazer é todo meu capitã Prado.

 

– Sim, é um prazer revê-la.

 

– Bom se me derem licença, preciso cumprimentar meu primo, prazer em conhecê-la capitã e foi bom rever a todos, falou se afastando da mesa onde estava a major.

 

– Ela falou primo amor. Que primo é esse?

 

– O sargento Prado, ela é prima dele. Sempre está lá no regimento conversando com ele.

 

– Ah sei, tome muito cuidado major Mantovanni, falou a capitã.

 

– Porque você está me falando isso amor?

 

– Eu vi o jeito que ela te olhou. Eu já te disse uma vez e vou dizer novamente major Mantovanni, se eu sonhar que você anda ciscando por ai, eu largo de você e vou embora com as crianças.

 

– Ficou louca Andressa, ela só me cumprimentou e tem mais eu sou casada com você e esse assunto está encerrado, entendeu?

 

– E agora o prêmio dos policiais que se destacaram no comando de suas unidades policiais: Coronel Henrique Tavares (Gate), Major PM Cláudia Monteiro (Canil), Tenente Coronel  Marcos Souza Gonçalves (Corpo de Bombeiros), Coronel Raimundo Nonato de Assis (Policiamento de Trânsito) e Major PM Márcia Peres Mantovanni (Regimento de Cavalaria Nove de Julho).

 

A major ficou muito feliz, pois não esperava que fosse ser premiada naquela categoria e além do mais, a noite para ela havia acabado depois da cena de ciúme da capitã. A sua vontade era de ir embora e esquecer do jantar. Mas elas ainda não poderiam ir embora, pois faltava anunciar os policiais que mudariam de patente e a capitã estava na lista que a major mandara para o alto escalão.

 

– E agora para encerrar a premiação, os policiais que a partir de hoje mudam a sua graduação na policia militar, e ao falar os nomes de cada um de vocês, as novas patentes já estarão incluídas, são eles: 1º Tenente Alaor Vasconcelos Prado, Capitão PM Félix Ferreira do Amaral, Majores PM Teodoro de Souza e Deise Guedes do Prado, Coronel PM Cláudia Dantas Monteiro, Coronel PM Márcia Peres Mantovanni, Capitão PM André Pires Paiva Junior e Tenente Coronel PM Andressa Roberta Pires Paiva Mantovanni.

 

A felicidade foi geral e enquanto todos se cumprimentavam, as promoções de outros policiais continuaram sendo anunciadas. A agora coronel Mantovanni, disse que estava cansada e se despediu dos pais e dos demais e disse para a esposa:

 

– Vamos embora tenente coronel Pires Paiva? Disse com as crianças dormindo em seu colo.

 

– Sim amor, vamos que eu também estou cansada.

 

Enquanto Márcia colocava as crianças no banco de trás do carro no bebê conforto, a também agora coronel Monteiro perguntou:

 

– O que aconteceu coronel Mantovanni?

 

– A Andressa ficou com ciúme da prima do Prado e deu piti.

 

– Calma amiga, isso é normal. Quem mandou ser tão gostosa, falou  passando a mão na bunda de Márcia.

 

– Para com isso Monteiro, nem quando eu estava viúva, eu ficava ciscando, quantas vezes eu sai com vocês e nunca fiquei a procura de ninguém. E agora que eu casei, você acha que eu vou ficar pulando cerca? Ai fica com esse ciúme imbecil, olha as vezes eu fico pensando se fiz mesmo a coisa certa.

 

– Isso é só uma fase ou você acha que lá em casa a coisa é diferente.

 

– É mas você era a maior galinha que já existiu na polícia e eu, não. Esse ciúme dela não tem cabimento Cláudia.

 

– Vamos amor, já me despedi de todos. Até mais coronel Monteiro.

 

– Até tenente coronel Pires Paiva. E quanto a você coronel Mantovanni, pense no que eu te falei, é só uma fase.

– Vou pensar coronel, boa noite.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo