Capítulo 30
As Cores do Paraíso - Capítulo 30
Gabriela estacionou o carro em frente à casa e desceu. Enquanto caminhava em direção a varanda, pensava na manhã que teve junto aos avós. Depois de ter conhecido um pouquinho da personalidade do senador, uma parte dela sentiu pena do pai. Ele devia ter sido um grande bundão. Deixou-se dominar pelo coroa, foi um ser submisso e ridicularizado.
Abriu a porta e levou um susto. A casa era uma grande bagunça, tudo desarrumado. Larissa ajoelhada no chão olhando embaixo do sofá, Alice afastando a estante e Talita...de braços cruzados coordenando as atividades.
-- O que está acontecendo aqui?
As três olharam para a porta.
-- Gabi? .... Aonde você estava? -- Larissa levantou limpou os joelhos, foi ao seu encontro e a abraçou -- Estava tão preocupada amor.
Gabriela deu um selinho na ruiva e a olhou de alto a baixo. Ela estava simplesmente linda. Usava um vestido florido, na altura do joelho, de alças finas com um decote em v.
A loira acariciou o rosto da ruiva fazendo caminhos com a ponta dos dedos até chegar na ponta do nariz.
-- Você estava pegando um bronze? -- levantou a alcinha do vestido e mostrou a marquinha que ficou -- E seu rosto está vermelho.
-- Sério? - Levantou as sobrancelhas.
-- Sério. Hoje você está linda, mais linda do que sempre! Cada dia mais gostosa, queimadinha do sol, uma delícia!
Talita e Alice faziam caretas engraçadas por trás delas.
Larissa não estava com a cara muito boa. Uma coisa Gabriela havia aprendido com a ruiva: Se ela está falando e batendo o pezinho, corra que a coisa ficou séria!
-- O que foi Miau? - Gabriela afastou-se um pouco dela.
-- Sofro de um problema chamado: Não sei disfarçar cara de ódio quando algo está me incomodando.
-- O que eu fiz? - Perguntou assustada.
-- Me explica que perfume estranho é esse que está em você, Gabi?
Gabriela forçou a mente tentando lembrar-se de quem poderia ser o perfume.
Nota da autora.
Pessoas que quando abraçam, deixam seu perfume nas roupas dos outros: Como elas fazem isso? Com que propósito? E onde conseguem um perfume tão bom assim? Me expliquem, por favor!
Continuando...
-- Não sei, amor. Estive na casa do meu avô. Abracei tanta gente que nem sei de quem é esse perfume - cheirou a própria roupa.
-- Deixa eu refrescar a sua memória: Le Parfum, de Elie Saab. Feminino. Uma associação de flor de laranjeira, jasmim, cedro e mel. Provavelmente uma mulher entre os 20 e 30 anos. De bom gosto e sensual.
A loira ficou pasma. Como ela conseguia isso?
-- Repete o nome do perfume, Larissa que eu quero anotar - Talita brincou.
-- Minha prima. O nome dela é Laura.
-- Ela é bonita?
-- Não como você. "Se Deus fez algo mais lindo do que você, é por que ele guardou para si próprio. "
-- Olha que assim não resisto...-- Larissa riu baixinho e abraçou o pescoço da namorada, puxando-a para um beijo.
-- Garotas, não quero ser empata foda, mas será que poderíamos continuar o que estávamos fazendo, antes do meu docinho aí chegar? -- Talita balançou a cabeça em sinal de reprovação.
-- Posso saber o que vocês estavam fazendo, além lógico de estarem destruindo a minha casa? -- Gabriela tomou conta da cintura da ruiva, puxando-a para sentar-se em seu colo e gem*u em contentamento quando ela foi sem pestanejar.
Alice sentou no sofá de frente para elas. Ela sorriu com o rosto ruborizado, mordendo o canto da boca e desviando seu olhar, sem graça. Ainda era difícil para ela ver Gabriela beijando, abraçando, enchendo de carinhos outra pessoa que não fosse ela.
Larissa olhou para Talita e por um instante parecia entender a angústia que ela sentia. A garota percebia o mal-estar de Alice e sentia toda a dor que um amor não correspondido poderia causar.
É engraçado como alguém pode partir o seu coração... e você ainda amá-la com todos os pedaços partidos.
Larissa para tentar melhorar o clima que se instalou, saiu do colo da loira e ficou de pé a sua frente.
-- Deixei o meu celular em cima da mesinha aqui da sala e ele simplesmente desapareceu. Estranho né.
-- Esqueci de te falar, amor... O Tobias é o carinha mais meliante da praia do Encanto. Ele já roubou uns cinco controles remoto, dois pares de tênis, meu chinelo do Fluminense e uma quantidade infinita de calcinhas da Talita.
-- Cara -- Talita bateu com a mão nos joelhos duas ou três vezes, olhando para Larissa -- Havia esquecido desse detalhe. Só pode ter sido ele.
-- Que safado! O que ele faz com os objetos?
-- Troca por droga -- Gabriela falou fingindo seriedade e fixou os olhos nos olhos da ruiva.
-- Gabriela... -- falou brava.
-- Não sei, Miau.... Talvez ele enterre. Sei lá...
-- O cachorro é seu então...
-- Então?
-- Te vira - Larissa colocou as duas mãos na cintura e fuzilou Gabriela com o olhar.
Gabriela levantou e também colocou as duas mãos na cintura.
-- O cachorro é seu então...te vira - imitou a voz da ruiva e levou um tapa na nuca que a fez se desequilibrar.
-- Perdeu o medo Gabi?
-- Nunca tive... - teimou.
-- Hó...
Talita perdeu a paciência e se meteu no meio das duas, as separando.
-- Será que a Miau e a Guti-guti poderiam resolver as diferenças mais tarde? Não esqueçam que temos um assunto muito sério a discutir.
-- Temos? - Gabriela perguntou alarmada.
-- Temos -- Larissa falou puxando a sua mão - Talvez você não lembre Gabi, mas ontem... -- tocou o seu rosto delicadamente com a ponta dos dedos, fazendo Gabriela olhar para ela - Você me contou tudo sobre a Samanta.
Gabriela desesperou-se. Aquele era um assunto entre ela e as mães. Não queria mais ninguém envolvido.
-- Agora eu entendo aquele Provérbio judaico: O bêbado fala o que o sóbrio pensa - falou desanimada.
-- Agora é tarde Gabi, a Larissa já colocou no Facebook - Talita olhou para a amiga franzindo o cenho.
-- No Face não, mas...-- falou alisando os cabelos da loira - Já conversei com suas mães.
Larissa a abraçou brevemente, antes de sentar-se. Gabriela aconchegou-se no sofá ao lado dela. A garota olhou para Alice e depois para Larissa.
-- Então é isso aí -- a loira suspirou - Agora vocês já sabem de tudo.
Larissa riu, diante do drama da garota.
-- Não seja melodramática Gabi. Eu e a Alice não somos inimigas, pelo contrário, queremos muito ajudar Samanta - sorriu -- Sua felicidade é a minha, Guti-guti.
Gabriela sorriu e assentiu com a cabeça. Concluiu que Larissa tinha toda razão. As duas já haviam dado provas o suficiente que eram dignas de confiança.
-- O que faremos agora? - Talita perguntou, sentando em frente as duas.
-- Acho melhor a gente ir até a casa das suas mães, Gabi. Elas devem estar a sua espera -- Larissa falou séria e a loira a olhou atentamente.
-- A mãe Samanta deve estar em cólicas.
-- Com certeza, amor.
-- Vocês vão com a gente? - Gabriela pegou a chave do carro e perguntou para a amiga.
Talita olhou para Alice e soltou um suspiro. Queria conversar com ela a sós, então fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Enquanto vocês vão até lá, nós preparamos algo para comermos.
-- Legal! Eu quero uma lasanha. E você amor?
Larissa pensou por alguns segundos.
-- Eu quero Espaguete à carbonara.
Alice levantou o dedo.
-- Eu, peito de frango com molho de vinho e mostarda.
Talita cruzou os braços e disse com sorriso sardónico, dirigindo-se as três:
-- Vocês vão comer a melhor omelete de suas vidas. Me aguardem...
Mais tarde na casa das mães.
-- NÃO!!!
-- Mas, mãe... - Gabriela fez o típico bico que derretia sua mãe e ela bem sabia - Eu preciso fazer isso. Quando Jesus nos ensinou, conforme capítulo XXIII de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", que quem fosse a Ele e não aborrecesse sua mãe, seu pai, seu cônjuge, seus filhos e irmãos não poderia ser seu discípulo, ensinava que a prioridade de cada um é a vida espiritual.
Como espíritas, sabemos que estamos na Terra em processo de aperfeiçoamento e que o próximo, parente ou não, é um instrumento para atingirmos esse objetivo.
Como saber se somos pacientes sem que haja alguém testando a nossa paciência? Como saber se suportamos a ingratidão se não convivermos com o mal-agradecido?
Que argumentos Luísa usaria afim de convencer a filha? Ela sabia que qualquer coisa que falasse seria rebatida por Gabriela.
-- Não acho uma boa ideia minha filha...
-- Luísa, já está amolecendo? - Samanta reclamou, fechando os olhos.
-- Também não gostei nada, nada, disso - Larissa franziu o cenho - Como eu fico nessa história?
-- É por pouco tempo. Eu prometo, Miau -- explicou tranquilamente - O senador não vai me aturar por muito tempo. Pode ter certeza disso -- deu um beijo na cabeça dela, antes de sentar-se.
-- Namorar a distância é igual orelha de boi, longe do rabo e perto do chifre. Vai por mim - Samanta piscou o olho para Larissa.
-- Eita! - Luísa deu um pulo da cadeira - Pára de colocar lenha na fogueira. Vamos fazer assim, Gabi. Você fica com o seu avô até a gente terminar de preparar a defesa da Samanta. Combinado?
Não era bem assim que Gabriela queria. Mas se não concordasse com a mãe Luísa, perderia a sua única aliada.
-- Combinado, Gabriela? - A arquiteta insistiu.
-- Combinado, mãe - olhou para Larissa com os olhos meio fechados e reparou que ela estava brava -- Olha se não é a minha princesa com cara de bravinha.
-- Pareço legal, mas na minha mente já te matei várias vezes, Gabi -- resmungou, fazendo as três rirem.
-- Temos que contratar um excelente advogado - Luísa falou séria.
-- Que tal a Fernanda, Gabi?
-- Porque justo a Power Rangers?
-- Porque ela é ótima. E também porque ela é a nossa amiga de confiança.
-- Deus criou o namoro... veio o diabo e criou as amiguinhas.
-- O que é isso Gabi...
Talita e Alice estavam na cozinha preparando a comida para o jantar. A garota queria discutir a relação, mas não sabia como começar...
-- Aiiiiii... - Talita queimou a mão com óleo -- Ando tão azarada, que no fim do túnel deve ter uma conta de luz para eu pagar.
Alice sorriu amavelmente e pegou em sua mão.
-- Tadinha, tá doendo? -- assoprou suavemente, diretamente no local aonde estava queimado.
-- Não mais que o meu coração... -- disse olhando para ela com seus olhos tristes.
-- Não entendi, Tali - Alice afastou-se um pouco e encostou-se na geladeira - Sobre o que você está falando?
-- Sobre a maneira como você olha para a Gabi - desligou o fogão e virou-se para encarar a namorada - Eu vejo amor nos seus olhos...Alice...
A garota não sabia o que falar. Nem havia percebido isso.
-- Talita, eu vou amar a Gabi para sempre. Mesmo que seja como amiga. Ela foi muito importante para mim e sempre será. Ela é uma pessoa muito querida, especial, que sempre vai morar no meu coração.
-- Tem certeza disso?
-- Absoluta -- ela passou a mão no rosto de Talita, que sorriu aliviada - Vou te provar isso.
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
William Shakespeare
-- O amor não é uma guerra, mas vale a pena lutar por ele - puxou a cadeira para Alice sentar - Vamos jantar.
Gabriela entrou na cozinha arrastando Larissa pela mão.
-- Namore alguém que divida comida com você, isso sim é um ato de amor verdadeiro. Beijuuuuuuuuuu! -- mandou um estalo no ar e sentou - Delicia, estou morta de fome.
-- Modos né Gabi - Larissa sentiu um clima estranho no ar - Tudo bem?
-- Tudo - Talita respondeu sorrindo.
-- Como se faz omelete de chocolate, Tali?
-- Não sei.
-- Com ovos de páscoa.
-- Gracinha - a amiga ficou bicuda.
-- O casalzinho está no quarto no maior amasso, quando a mãe da menina bate na porta:
-- Meninos, venham pra sala comer uns bolinhos! Eles se ajeitam e vão pra sala comer os bolinhos. O rapaz morde o seu e dá aquela puxada de saco na futura sogrona.
-- Nossa, dona Maria, realmente estão deliciosos esses bolinhos de bacalhau...
-- A namorada interrompe:
-- João, vai lavar as mãos, que os bolinhos são de batata!
Risos.
-- O que disse a colherzinha à gelatina? Não tremas, covarde!!
-- Estou começando a ficar com pena do senador Davi. Que garota chata.
Jantara em clima de muita animação e amizade.
A omelete que Talita preparou, realmente estava uma delícia.
Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
"Quando alguém lhe magoar ou ofender não retruque, não responda da mesma forma. Apenas sinta compaixão daquele que precisa humilhar, ofender e magoar para sentir-se forte. "
Chico Xavier
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]