Capítulo 26
As Cores do Paraíso - Capítulo 26
Gabriela abriu a porta do banheiro e encontrou Fernanda sentada na bacia Sanitária. Ela estava pálida, assustada, com os olhos arregalados.
-- Graças a Deus! - Falou num fio de voz.
-- O que você está fazendo dentro do meu banheiro? - Fingiu surpresa.
-- Estava procurando a Alice e a Talita e acabei presa aqui dentro - saiu do banheiro cambaleando e sentou no sofá.
Gabriela foi até a cozinha e voltou trazendo um copo de água para ela beber.
-- Toma, vai te fazer bem.
A garota bebeu o copo de água num só gole.
-- Quer mais água? Você ainda está pálida.
-- Muito obrigada. Mas já estou me sentindo bem melhor - soltou o ar e aspirou novamente - A Talita e a Alice?
-- Foram caminhar pela praia.
-- Hum, entendi - colocou o copo vazio sobre a mesa - Vou esperar por elas.
-- Sei não, acho que elas vão demorar para voltar.
-- Mesmo assim prefiro esperar - cruzou os braços e as pernas ao mesmo tempo.
-- Se você realmente quer esperar por elas Fê, por mim tudo bem - Gabriela olhou para cima assoviou, disfarçou - Enquanto isso vou te contar algumas coisas muito importantes. Você sabia que: As unhas da mão crescem aproximadamente quatro vezes mais rápido que as unhas do pé e que o olho do avestruz é maior do que seu cérebro? Não sabia? 40% dos telespectadores do Jornal Nacional dão boa-noite ao William Bonner no final.... Um terço de todo o sorvete vendido no mundo é de baunilha.
-- Não Gabriela, não sabia de nada disso - bufou.
Esse método de tortura psicológica que Gabriela usava, nunca falhava. Era à sua maneira de se livrar de pessoas inconvenientes. E o balão mágico, era uma dessas pessoas.
-- Qual o vinho que não tem álcool Fê?
-- Não sei.
-- Ovinho de Codorna.
-- Há tá...
-- O que é um pontinho amarelo na estrada?
Fernanda deu de ombro.
-- Um uno milho....
-- O que é um pontinho amarelo no ringue de luta?
Fernanda coçou a cabeça.
-- O Jean Claude Fandango....
A garota deu um pulo e ficou de pé.
-- Vou embora.... Você tem razão. Talvez elas demorem muito.
-- Hóóó.... Que pena...eu tinha tanta coisa legal para te contar.
-- Deixa para uma próxima, Gabi. Tenho algumas coisas para fazer ainda hoje.
-- Se você prefere assim, então, tudo bem - Abriu a porta para a garota sair - Desculpe de novo. Foi mal, hein. Vou mandar arrumar essa porta amanhã mesmo.
-- Faça isso... - esticou o pescoço e deu uma última olhada ao redor - Então tá, mais uma vez obrigada, Gabi.
Fernanda caminhou desolada até o carro, abriu a porta e entrou. Com as mãos apoiadas no volante ficou olhando para a casa.
-- Caramba, que garota chata. Como que a Larissa suporta -- ligou o carro e foi embora.
Talita e Alice sentaram na areia e ficaram vendo as ondas irem e voltarem. Conversaram sobre tudo um pouco. Família, trabalho, namoros e....Fernanda.
-- Eu já havia percebido que a Fê estava arrastando as asas para o meu lado. Fingi não ter percebido porque não queria magoa-la.
-- Entendo.
-- Eu a amo, mas como amiga -- pegou um punhado de areia e ficou brincando com os grãos nas mãos -- Estou pensando em um jeitinho de falar isso para ela. Não quero perder a sua amizade.
-- Vai ser difícil Alice...
-- Talvez ela entenda que o amor não escolhe. Somos pegos de surpresa, sem preferência a esse ou aquele.
-- Você não entendeu a Gabriela e a Larissa. Então... não espere que a Fernanda nos entenda.
Alice não concordou.
-- A situação é totalmente diferente. Eu e a Gabi estávamos namorando e a Larissa fez de tudo para tira-la de mim -- falou mostrando revolta -- Não é o nosso caso.
A última coisa que Talita queria naquele momento era discutir por qualquer motivo que fosse. Estava tão feliz que nem se importava com o que Fernanda pensasse ou deixasse de pensar. Queria mais era beijar na boca.
Talita a puxou para perto do seu corpo e a beijou como se nunca mais fosse fazer aquilo. Passou os lábios pelo pescoço até chegar ao ouvido, aonde deu um beijinho, deixando Alice toda arrepiada.
-- Que tal se a gente voltar lá para a tenda e aproveitar tudo o que você preparou para a gente?
-- Demorou! - Talita levantou e estendeu a mão para ajudar Alice - Vamos comer, beber e.... outras cositas mas.
Alice sorriu e então enroscou seus braços no pescoço da garota e beijou-a com ânsia. Talita correspondeu passando as mãos por suas costas.
-- É por isso que vocês chamam isso aqui de paraíso?
-- Não. Na verdade, você ainda não conheceu o paraíso, mas se você estiver a fim, eu te mostro - falou com malícia na voz.
Ela se soltou e deu um tapa no ombro de Talita.
-- Sua sem vergonha!!! Vamos - saiu correndo na frente -- Quem chegar por último é mulher da sapa - berrou e continuou correndo pela areia.
O céu estava azul e o sol brilhava forte, era uma linda manhã de agosto. As ondas batiam nas pedras e jogavam espuma que brilhava ao sol.
A Claridade da manhã entrava pela janela da sala e chegava até Talita que dormia no sofá.
Gabriela levantou-se da cama e foi até a cozinha, precisava de um café bem quente e doce! Enquanto a cafeteira se encarregava de fazê-lo foi até o quarto escolher uma roupa adequada ao compromisso que tinha. Colocou uma camisa social branca, calça jeans e All Star. Ao menos a calça não é rasgada. Sorriu imaginando a cara da elegante Mademoiselle Diane quando visse o seu modelito.
Voltou para a sala pulando em um pé só, enquanto tentava amarrar o cadarço do tênis.
-- Será que dá para fazer menos barulho, ou tá difícil? - Talita resmungou cobrindo a cabeça com uma almofada.
-- Incrível como tem gente que gosta de ficar na cama. Em outra vida Tali, acho que você foi um lençol.
-- Preciso de pessoas para esvaziarem meu saco, e não para ficarem enchendo!
-- Vamos brincar de suicídio Tali? Você começa!
-- Tá nervosa? Não vá pescar, bata a cabeça na parede até acalmar.
-- Não estou nervosa, apenas apreensiva - foi até a cozinha e encheu uma caneca com café.
-- Vai aonde vestida desse jeito?
-- Fazer exame de fezes.
-- Fala sério.
-- A Mademoiselle Diane vai me apresentar a um investidor em artes. Hoje eu tô que nem o SAMU, vai morrer me ligando que eu não vou atender.
-- Então, boa sorte.
Parou em frente ao espelho e ajeitou os cachos loiros.
-- Tão chato ser linda e humilde - fez um biquinho e sorriu.
-- Já é feia e ainda fazendo biquinho. Fica parecendo filhote de dinossauro com fome.
Gabriela olhou de cara feia para ela e mostrou o dedo do meio.
-- Estou brincando loira - sorriu - Está linda.
-- Eu sei. Se cuida - jogou um beijo e saiu.
-- Essa é a mansão dos Simões, Gabi - Diane apertou o botão do interfone e aguardou resposta - É ele quem vai financiar a sua primeira exposição.
Gabriela sorriu animadamente. Na verdade, nunca sonhou com a fama ou com a riqueza. Queria apenas que o seu trabalho fosse reconhecido e que as pessoas sentissem que aquelas figuras miseráveis que costumava pintar, era nada mais, nada menos, que o retrato do nosso povo, dos nossos irmãos que viviam jogados pelas ruas, sem comida, sem abrigo e o pior sem perspectivas de um futuro melhor.
-- Vamos Gabriela - Diane trouxe a garota de volta a realidade - Além desses muros altos talvez esteja o caminho para uma nova vida, minha menina.
Nem Diane Blanche, muito menos Gabriela, imaginariam que aquela frase traduziria tão bem tudo o que aconteceria daquele momento em diante.
Laura Simões foi quem as recebeu na porta. Gabriela foi tão bem tratada pela moça que se sentiu uma celebridade. Ela era tão bonita e elegante. Nos poucos minutos que levaram da porta de entrada até a sala, Gabriela analisou todos os detalhes daquele belo corpo. Ela deveria ter no máximo vinte e três anos. Era alta, esbelta, de olhos azuis escuros, do tipo que chamava a atenção de qualquer um.
Gabriela observava enquanto ela caminhava na sua frente, rebol*ndo de uma maneira graciosa e perturbadora, com movimento ritmado para cima e para baixo.
De repente ela se virou, jogou os cabelos para trás e olhou para Gabriela.
-- Meu tio não vai demorar. Por favor, sentem - apontou para o enorme sofá - Eu estava muito ansiosa em lhe conhecer Gabriela.
-- Estava? -- sorriu -- Com certeza deve ter se decepcionado.
-- Muito pelo contrário. Superou todas as minhas expectativas.
-- Espero que quando me conhecer um pouco melhor não mude de opinião.
Laura sentou ao lado de Gabriela no sofá.
-- Tenho certeza que seremos grandes amigas -- Ela sussurrou no ouvido da garota e a abraçou.
-- Também acho -- Foi tudo o que falou e fugiu do abraço.
O homem entrou na sala caminhando em um imponente cortejo. Vinha a frente seguido por duas mulheres elegantérrimas e um homem careca vestido em um terno finíssimo.
Gabriela sentiu suas mãos suarem frio, sentiu vontade de voltar correndo para casa.
Era ele... O homem do quadro. O retrato que pintou e que era tão importante para Munique.
Davi abriu os braços para Gabriela.
-- Venha me dar um abraço, minha neta...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]