Do que eu posso oferecer
São Paulo, 28 de dezembro de 2015. 04h45min
Eu sei, você espera que eu escreva coisas bacanas.
Eu não posso narrar meu romance com Rebeca, porque ele é quase inexistente. Ela não tem mais um pingo de paciência comigo.
Eu não posso narrar nenhum outro romance, porque não tenho mais ninguém.
O que eu posso te oferecer é isso: quem sou eu. Crua desse jeito que eu estou me mostrando.
Pode ser doído, mas eu não tenho mais nada além desses pensamentos desconexos e as palavras.
Meus cabelos vermelhos estão desbotados e cheios de nós.
Minhas olheiras estão escuras e profundas e eu estou tremendo um pouco porque faz alguns dias que não tomo a medicação direito.
Como diria a Ana, “nível de loucura: até passo por uma pessoa normal se não olharem muito de perto”.
Eu não sou esquizofrênica.
Quando falamos de transtornos mentais, logo as pessoas pensam em esquizofrenia.
Bom, eu não sou esquizofrênica, mas não quer dizer que sou menos doente.
Eu consigo andar na rua sozinha sem causar problemas para mim ou para os outros.
Nicole era minha melhor amiga. Ou melhor dizendo, eu a considerava minha melhor amiga.
Quando eu saí do hospital, ela levou dez dias para me mandar uma mensagem perguntando como eu estava.
Dez dias. Dez! Dá pra acreditar?
Nunca me senti tão abandonada... É uma descoberta difícil essa, de que não temos ninguém.
Discuti com Nicole e expus toda a minha mágoa.
Ela ficou lá pedindo que eu não dissesse que sou louca.
É claro que não sou louca do tipo esquizofrênica, mas estou mal e preciso de ajuda. Preciso de ajuda e estou sozinha.
Às vezes tenho medo de voltar para o hospital. Estou tendo mais uma recaída e elas são tão cansativas e dolorosas...
Você quer ser minha amiga?
Algumas pessoas tem medo de mim, outras zombam.
Você me entende. Sabe tudo o que acontece na minha cabecinha ruiva perturbada.
Por favor, seja minha amiga!
Você não consegue ver, mas eu estou rindo.
Acho que estou com sono... Boa noite!
Boa noite, galo que canta do quintal vizinho! (Não é tão estranho que alguém tenha um galo no quintal em plena periferia de São Paulo?)
Fim do capítulo
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