Santa Clara D’Oeste, 03 de janeiro de 2016.           17h15min

Eu falo muito da internação, mas não é como se eu realmente gostasse de ter estado lá.
Hospício é lugar triste demais.
Há solidão, há medo, há incompreensão.

Lembro de quando uma psicóloga perguntou para Maria o que ela levaria pra vida dela quando saísse do hospital.
“Ah, isso é fácil... Quando algum aluno meu der problema não é nem pra ouvir o que ele tem pra dizer. É só amarrar!”
É preciso muito boa vontade para lidar com os loucos e isso falta muito nos manicômios. No mundo, na verdade: ninguém tem paciência com a gente.

Perto das festas de final de ano os sanatórios ficam cheios. Fico triste quando penso neles fechados lá enquanto o sol brilha no céu azulzinho. Eles poderiam estar na praia ou curtindo uma piscina.
Com um pouquinho de compreensão, tudo seria mais fácil pra todo mundo.

Minha tia acabou de passar um café. Quente e doce.
Eu gostava de me comparar com café: forte, doce e quente. Ultimamente tenho querido quebrar os espelhos pra não ter que me encarar.

Interior é tudo de bom... Poderia morar aqui. Provavelmente irei embora se nada der certo na minha vida na cidade grande.

Fim do capítulo