Da internação: Maria
São Paulo, 27 de dezembro de 2015. 13h50min
Maria é uma professora infantil que conheci durante a internação.
Ela tomou 50 comprimidos e ficou em coma dois dias antes de ser transferida para o hospital psiquiátrico.
Nos primeiros dias, ela chorava muito e falava pouco.
Como Priscila é mais falante, foi ela quem tirou aos poucos a história de Maria.
40 anos, mãe de duas adolescentes, dona de um senso de humor incrível...
Decidiu se matar porque a filha mais velha descobriu duas doenças graves e estava fraquejando.
(Aposto que você acha que somos egoístas.)
Maria foi a uma funerária e comprou um caixão. Pediu que colocassem um espelho cobrindo a parte que mostraria seu rosto. Encomendou uma pedra bonita para a lápide, contratou uma banda, encomendou para si mesma uma coroa de flores.
Deixou tudo organizado para que as filhas não tivessem gastos.
“Tenho certeza que a moça da floricultura achou que eu ia matar alguém... Acho que, de uma forma ou de outra, eu ia, né?”
Saiu do hospital de alta pedida num final de semana que eu passei na minha casa. Quando voltei na segunda-feira, me contaram que o namorado dela conseguiu tirá-la de lá.
Quando todas tivemos alta (eu, Priscila e Ana) tentamos contato com ela, mas não conseguimos.
Ela apareceu mais ou menos um mês depois, recém-saída de uma internação em outra instituição. Parece que dessa vez ela se cortou.
Mas agora estamos bem, eu acho... Construímos nossa pequena rede de apoio e estamos todas vivas até agora. Acho que tem funcionado, né?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Catarina
Em: 28/12/2015
Não a Maria não pode deixar as filhas sozinhas principalmente a que está doente quem vai ajudar ela depois se se matar? Quem vai cuidar das filhas depois?
Resposta do autor em 28/12/2015:
É muito difícil entender o que acontece na mente das pessoas suicidas.
Maria acreditou que se não estava conseguindo lidar com ela mesma, como conseguiria lidar com a filha e os medos dela? Ela pensou que estava fazendo um favor.
Mas não egoísmo apesar de parecer. Ela se culpa por isso todos os dias. É apenas a doença falando que ela é imprestável... Por isso eu peço, se conhecer alguém em situação parecida, apóie! O mundo já cobra demais, culpa demais!
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