IX – O tempo não para e a vida continua

Estela passou o restante do sábado ao lado do seu pai, assistiram TV juntos, pediram pizzas e ela se sentia mais segura depois da conversa que tiveram. Antônia ficou fazendo companhia para os dois, queria ter participado do diálogo deles, mas ainda não sabia o que dizer, queria agir com a mesma naturalidade que seu companheiro, porém tinha dificuldade para compreender tudo que passava com sua filha.

Naquele sábado à noite quando o desespero chegou Estela pela primeira vez não ficou sozinha e abraçou o pai, ao lado dele ficou até tarde assistindo filmes e decidiu que dali por diante contaria tudo para ele, buscando assim o conforto que precisava.

No domingo Estela estava bem mais calma, ajudou sua mãe com o almoço. Lavou o seu carro e o do seu pai. A tarde foi passear com sua família no parque.

Alex acordou tarde naquele domingo, tinha tocado na noite anterior e logo que levantou decidiu que ficaria a próxima semana em Santos, precisava descansar e queria ficar ao lado da sua família. A loira arrumou suas coisas, ligou para o primo avisando que viajaria e fez surpresa para os avós que ficaram felizes com a visita da neta.

A semana das duas mulheres começou bem e elas contavam com o aconchego dos seus familiares, era tudo que ambas precisavam para continuar a vida e deixar que o tempo curasse as cicatrizes.

Na segunda-feira Estela foi para faculdade e conseguiu prestar atenção em todas as aulas. Até formou dupla com Théo para fazer um trabalho solicitado.

- Théo podemos fazer o trabalho juntos.

- Claro que podemos Estela.

Após o término e entrega da atividade, ela resolveu perguntar:

- Théo, gostaria de saber da Alex, ela esta bem?

- Não ficou nada bem, mas aos poucos tudo melhora. Na quinta ela voltou a tocar e ontem decidiu ir para Santos, vai ficar com nossos avós nesta semana. Vai ser bom para ela.

- Eu não queria magoar ela que foi sempre tão incrível e espero que você e o Luiz não fiquem bravos comigo, pois não fiz por mal.

- Estela nós não ficamos bravos com você, infelizmente não deu certo, mas nenhuma das duas teve culpa da confusão e agora é superar, seguir em frente e ser feliz.

- Será que um dia a Alex vai me perdoar?

- Ela gosta de ti e tem a esperança que um dia vocês possam ficar juntas.

- Eu não a mereço, não tenho nem metade da coragem que ela e você possuem.

- Estela amanhã conversamos mais, tenho que almoçar e correr para o estágio.

- Tudo bem, vai lá e até amanhã!

- E gata, por favor, pare de fugir de mim, sou sensível viu.

- Desculpa por isso, não vou mais fugir. Bom trabalho!

Os dois despediram-se e Estela foi para casa almoçar. Passou a tarde fazendo suas atividades da faculdade e sentia-se melhor por ter falado com o Théo.

Na baixada santista, Alex curtia seus avós, aproveitou para surfar e espairecer.

Com o decorrer da semana Estela sentia muitas saudades de Alex, queria estar com ela, pedir desculpas, mas não tinha coragem. Algumas vezes até escrevia mensagem para a outra, porém apagava antes de enviar. Na quarta-feira no intervalo do jogo que seu pai assistia resolveu falar novamente com ele.

- Pai sinto saudades dela (falou baixinho e entristecida).

- Estelinha e porque você não liga para ela?

- Não tenho coragem.

- Você prefere ficar toda saudosa e sem notícias dela ao invés de revê-la?

- Pai não fala assim.

- Eu falo para tentar abrir seus olhos. Minha filha a vida passa muito rápida para não ser aproveitada ao lado de quem gostamos.

- Eu sei.

- Tem certeza que você sabe mesmo?

- Mas e se ela não quiser mais falar comigo?

- Estela o problema não é com ela e sim contigo.

- Eu não tenho coragem, não sei viver como ela sem medo da opinião dos outros.

- A questão não é perder o medo, mas sim viver e ser feliz. Se esconder nunca é a melhor solução.

- Pai faz aquele cafuné gostoso?

- Claro que faço. Deita aqui no meu colo sua medrosa.

- Pai falei com o primo dela que estuda comigo. Ele e o namorado não ficaram bravos comigo.

- Que bom Estelinha.

- Ele me contou também que a Alex me perdoaria e tem a esperança que um dia possamos ficar juntas. Ela é tão incrível pai.

- E você não tem medo de deixar uma pessoa incrível solta por ai? (perguntou Roberto para provocar a filha).

- Credo pai, não fala isso, nem consigo imaginar. Ai meu Deus e se ela me esquecer.

- É uma possibilidade (falou com a intenção de deixar a filha intrigada).

Estela não disse mais nada, ficou deitada no sofá com a cabeça no colo do seu pai e ali adormeceu pensando em Alex.

- Estelinha, acorda! O jogo já acabou, vamos para a cama, amanhã você tem aula.

- Pai, boa noite e bom descanso!

- Para você também meu amor. Boa noite! (Roberto beijou a filha e foram dormir).

Na mesma noite Alex tocava num barzinho de Santos. Um amigo dela que é dono do bar cruzou com a loira na praia no dia anterior e implorou para que ela tocasse ao menos um dia. Então marcaram para quarta-feira aproveitando que tinha jogo. Ela gostou do trabalho, já tinha um bom tempo que não tocava por lá, até encontrou com alguns amigos e se divertiu bastante. Quando surgia alguma garota interessante fugia rapidamente, com a desculpa que estava comprometida com uma paulistana e ela até estranhava sua atitude, mas não conseguia agir diferente, pensava muito em Estela, mas como prometido a deixou em paz, não procurou a outra, não ligou e nem mesmo mandou mensagens.

Na quinta-feira Estela acordou antes do horário, teve um pesadelo envolvendo Alex. A conversa com o pai no dia anterior deixou a negra insegura e ela acabou imaginando que a loira estava com alguma outra mulher em alguma praia do litoral sul. Estela acordou ainda mais saudosa, com devaneios e desta vez com a sensação de perda, o que a deixou ainda mais angustiada. Durante a aula ficou mal humorada, no intervalo quando encontrou com Théo perguntou da morena e seu ciúme só aumentou.

- Estela, bom dia! Senta aqui comigo.

- Théo, bom dia! Tudo bem?

- Tudo sim lindinha e contigo?

- Também.

- Quer salada de fruta?

- Não. Obrigada! Tem notícias da Alex?

- Tenho sim, ela volta amanhã.

- Que bom.

- Flor, você está mal humorada hoje ou é impressão?

- Estou normal.

- Quer me falar algo então?

- É... será que você pode me avisar quando a Alex tocar por aqui, talvez eu vá.

- Amanhã ela toca na Fradique Coutinho por volta das onze da noite.

- Você vai?

- Ainda não sei. Queria ter ido o barzinho que ela tocou ontem em Santos, faz tempo que ela não tocava por lá e eu gosto porque sempre têm pessoas interessantes por aquelas bandas, muitos turistas.

- Théo, quando ela toca em barzinhos e baladas noturnas, as mulheres ficam dando em cima dela? (perguntou temendo a resposta).

- Sempre, ela é bonita e cheia de fãs. Mesmo com aquele jeito largado dela chama a atenção. Se ela me deixasse dar um banho de loja nela, o sucesso seria bem maior, só que ela é chata. (comentou displicente).

- Então ela tem muitas fãs é?!

- Sim, muitas.

- Mas e quando ela esta namorando, as namoradas dela não ficam bravas com o assédio que ela sofre?

- Eu nunca vi Alex com nenhuma namorada.

- Ah então ela deve estar muito bem na praia, com várias mulheres ao dispor dela, com pouca roupa se oferecendo para ela e até se esfregando ou sei lá, ai que ódio!

- Estela, você é ciumenta (falou surpreso).

- Eu aqui sofrendo e ela lá com as oferecidas, com um monte de folgada perto dela. Que droga!

- Sabia que Alex ficaria toda feliz em saber que você sente ciúmes dela?

- Nem ouse falar nada para ela (esbravejou).

- Estelinha deixa de ser boba e não sei por que você esta reagindo assim já que não quer nada com minha prima.

- Mas isso não da o direto dela sair por ai com qualquer uma, aonde já se viu? Isso não é certo Théo.

- Se você estivesse com ela não correria este risco né (comentou para provocar).

- Eu vou voltar para sala, já chega deste papo e nos vemos na aula.

- Tudo bem senhorita ciumenta até mais (falou rindo dela).

Estela voltou para a sala muito brava e cheia de ciúmes, queria a Alex só para ela.

Depois que as aulas acabaram Estela foi para casa tinha combinado de acompanhar a mãe no voluntariado naquela tarde.

Já Théo logo que saiu da faculdade ligou para Alex queria muito contar para ela sobre a inesperada atitude de Estela.

- Alô!

- Prima que saudades.

- Théo meu lindo também estou com saudades suas e do Lu.

- Alex tem uma negra que também esta com saudades suas, perguntou por você várias vezes nesta semana.

- Mentira. Théo que boa notícia! Estela perguntou por mim?

- Não na verdade foi outra nega ai.

- Poxa primo isso não é brincadeira que se faça, eu aqui cheia de esperanças.

- Ai amor desculpa brincar assim. Mas foi a Estela sim, queria saber se você estava bem, quando voltava e quer te ver tocar.

- Que alegria Théo, estou radiante aqui. Então ela quer me ver. Obrigada meu Deus!

- Alex para de rezar ai vai, eu preciso desligar tenho estágio ainda, ai que canseira.

- Nos falamos mais a noite então, combina com a Estela e leva ela amanhã, por favor!

- Sabia que um dia você iria gostar dos meus serviços como cúpido, sua ingrata! Beijos.

- Beijos e bom trabalho! Até mais tarde!

Théo desligou e foi almoçar. No final do dia combinaria com Luiz, estava muito empenhado em ajudar Alex e Estela.

Alex ficou muito animada o que não passou despercebido por seus avós.

- Minha neta ficou mais animada com a ligação do seu primo foi? (questionou dona Joana).

- Vó fiquei sim, Théo me deu uma boa notícia.

- Seus velhos aqui podem saber da novidade? (falou senhor Pedro todo curioso).

- Ele me ligou para contar que a Estela, uma moça que estou gostando quer me ver amanhã. Fiquei cheia de esperança, torçam por mim meus amores, tomara que desta vez ela me de uma chance.

- Alexandra só se ela fosse boba para não te dar bola (comentou o avô coruja).

- Nós vamos querer conhecer essa moça, sua primeira namorada precisa ser apresentada para nós, eu preciso aprovar ela antes minha neta. (falou a avó toda possessiva).

- Pode deixar (afirmou Alex risonha).

A tarde com os avós foi muito agradável para a loira, foi paparicada e adorava estar em família.

Para Estela o período vespertino foi gratificante, auxiliou Antônia no asilo, local que sua mãe faz trabalhos voluntários periodicamente.

Quando a noite chegou Alex esperançosa ligou para Théo.

- Alô!

- Théo, nossa eu não via a hora de te ligar.

- Calma sua desesperada. Não te liguei antes por que acabei de chegar em casa. Tudo bem com você e nossos avós?

- Tudo em paz e com vocês.

- Estamos bem, já falei com o Lu e ele topou ir amanhã.

- Eba! Conto com ajuda de vocês. Confirmou com a Estela?

- Ainda não. Amanhã na aula eu confirmo.

- Será que ela vai mesmo?

- Vai sim, ela esta com saudades e ciúmes de você. Tem medo de ser trocada por alguma assanhada.

- Eu jamais trocaria ela, só quero que ela se permita e só com ela serei feliz.

- Ai como você é gay Alex.

- Só eu né bicha (falou rindo muito).

- Amapoa fique tranquila que ela vai sim, nem que eu tenha que arrastar ela pelos cabelos.

- Não, por favor, não insista. Deixe ela decidir.

- Eu sei. Foi ela que me procurou, perguntou por você mais de uma vez nesta semana e hoje se convidou para te ver tocar.

- Ai parece um sonho.

- Um sonho que eu sou a diva da fada madrinha né baby. (falou entusiasmado).

- Théo eu disse sonho e não pesadelo.

- Ai que mulher chata!

- Amanhã cedo eu vou subir tá, pois à tarde tenho que escrever e mandar o texto para o jornal.

- A noite nós passamos te pegar, assim você não precisa usar sua moto, fico preocupado.

- Nossa nem me fale, vovó ficou brava porque desci de moto.

- Cuidado hein, se cuida! Te quero viva e linda.

- Pode deixar primo.

- Bom agora vou tomar uma ducha, depois jantar e namorar meu rei.

- Vai lá então e até amanhã. Te amo! Beijos.

- Amo você também e até amanhã.

Alex desligou, jantou com seus avós e depois adormeceu feliz, pois na próxima noite estaria ao lado da mulher da sua vida.

 

Fim do capítulo