Capítulo 11 – O começo do fim
Eu estava estressada e admito isso. Era muita pressão com a nova diretoria do hospital assumindo com novas ordens e novas formas de se trabalhar. O hospital inteiro estava em caos e por mais que eu tentasse impedir isso também me afetava. Por mais que eu negasse.....no fundo eu já havia notado que ela começava a se afastar. Izzy não tentava entender meus problemas, eu mesma sabia que ela não conseguiria entende-los, eu não os entendia. Mas algo mudava de pouco em pouco. Os beijos eram menos intensos, os toques menos possessivos, as brincadeiras mais frequentes.....os momentos sérios de olho no olho cada vez mais raros.
Mas o meu sentimento permanecia; e eu o sustentava com cada bom dia e boa noite seguidos das três palavras mais verdadeiras que eu tinha pra dizer: “Te amo pequena”. Mas eu sentia que ela não mais sentia a falta da quarta palavra que sempre foi normal......ela não mais parecia sentir falta de eu chamando-a de minha. Talvez porque no fundo ela já não fosse mais......se é que um dia ela realmente chegou a ser.
Faríamos três meses quando tudo desabou. Depois de duas semanas seguidas de acontecimentos estranhos por todo o país algo que não deveria acontecer aconteceu. Um chamado de emergência no hospital: diversas pessoas com sintomas desconhecidos e não relacionados com coisa alguma conhecida. Era um sábado e eu deixei Izzy em casa com uma preocupação tremenda, mas eu precisava cumprir minha função e meu juramento de médica.
Eu vim a descobrir que aquilo não era uma doença nova apenas. Ataque terrorista, erro do governo, acidente biológico.....não importa realmente o que era aquilo. O que importa é que começou a matar as pessoas. Não se sabe ao certo até hoje o que realmente foi o agente; sabe-se apenas que era uma partícula menor do que uma proteína de baixo peso molecular que se espalhava pelo ar, água, contato físico, secreções, qualquer coisa na verdade. Aquilo se ligava ao DNA humano e reduzia genes, distorcia cromossomos, deletava sequencias genéticas inteiras, não se sabe ao certo. O fato é que as pessoas começavam a ter sintomas de desordens fisiológicas das mais diversas. Desde dores de cabeças até sintomas digestivos graves.
A morte acontecia em menos de 5h depois do aparecimento do primeiro sintoma inespecífico. Eu liguei para Izzy na mesma hora e mandei ela trancar todo o apartamento e fechar tudo e não chegar perto de ninguém que aparentasse estar doente e que se ela sentisse qualquer coisa deveria me ligar imediatamente. Expliquei o que estava acontecendo correlacionando com o que ela deveria estar vendo na TV. Eu queria voltar para casa e ficar abraçada à ela acalmando a nós duas e protegendo a nós duas, mas eu não podia mais, já tinha entrado em contato com pessoas infectadas.....se Izzy ainda estava saudável eu não a exporia ao risco de me aproximar.....eu já podia não estar mais bem; claro que isso eu não contei à ela, mas acho que ela já sabia.
Equipes do governo chegaram ao hospital 4 horas depois de mim, com trajes a prova de contaminação de todo o tipo de forma a estarem isolados do resto das pessoas....hipócritas é tudo o que eu digo deles. Não explicaram nada, apenas entraram e começaram a colher amostras de todos enquanto apenas alguns deles tentavam ajudar os médicos de plantão. A notícia que nos foi passada 10h depois do inicio do surto foi a seguinte:
A infecção se dava apenas em uma parcela da população que não possuía certo gene que, aparentemente, havia sido usado, acidentalmente, na codificação do agente que nem eles mesmos sabiam explicar o que era. Também não foi dito quem era o responsável por criar aquilo. O que disseram é que estavam tentando desenvolver um tipo de vacina que pudesse inserir na população um substituto sintético do dito gene que pudesse incapacitar o agente e impedir a infecção. A orientação era que quem ainda não havia tido contato com ninguém nas ultimas 30h deveria ficar completamente isolado em casa esperando notícias via rede de televisão ou rádio.
Quem já havia entrado em contato com o agente......bem, eram 2 as opções: ou esperava que a cura aparecesse antes dos seus sintomas......ou torcia para ser parte dos 15% aproximados da população mundial que possuía os genes deletérios do agente naturalmente. Eu consegui falar com Izzy por telefone por mais 15h depois do anuncio disso. Ela ainda estava completamente bem e se encaixava no grupo que não havia tido contato com pessoa alguma.
Eu?.....presenciei uma das cenas mais traumatizantes de toda a minha vida. Todos os médicos do hospital se reuniram tentando estabilizar quem chegasse.....mas depois de um tempo as pessoas pararam de chegar.....e o que podíamos fazer parou de funcionar.....aos poucos centenas de pessoas que deram entrada no hospital foram padecendo. Vi colegas meus começarem a apresentar os sintomas e ficarem desesperados....enquanto que outros sorriam e faziam por si mesmos o que era possível ser feito enquanto continuavam a cuidar dos que apresentavam os sintomas.
Os homens do governo então entraram em ação e isolaram os médicos que ainda não apresentavam sintomas; eu estava entre eles. Colocaram-nos em uma sala isolada do resto do hospital e nos mandaram esperar. Aos poucos começamos a apresentar os sintomas.....um de cada vez meus colegas começaram a adoecerem. Depois de doentes eles saiam da sala e voltavam a ajudar quem ainda respirava. Foi quando eu perdi contato com Izzy e fiquei completamente desesperada.
Depois de quase 20h dentro daquela sala sobrávamos 7 pessoas; eu, dois clínicos gerais e 4 enfermeiras. Foi quando um dos homens com seu traje de proteção tornou a entrar na sala. Minha vontade era avançar sobre ele e sair daquele lugar de uma vez por todas, mas o que ele disse me impediu de tentar isso.
- A vacina ainda não está nem perto de ficar pronta, mas descobriram coisas novas – disse o homem num tom sério e então ele retirou a máscara do traje nos encarando. Ficaram todos assustados, menos eu....eu já não tinha mais saco para me assustar.
- O que foi agora? – falei de forma cínica – Descobriram que seus trajes não os protege?
- Não Doutora Charlote Hamss – respondeu o homem sério e me encarando – Os trajes nos protegem de certa forma, apesar de não serem 100%. O que descobriram é uma forma de saber quem tem o gene deletério do agente – ele falou com um suspiro pegando uma pequena caixa com seringas e agulhas – Acabei de ser testado e descobri que eu o possuo, por isso posso me expor seguramente ao ambiente.
- E então? – eu mantive o tom sínico.
- Suspeitamos que os senhores aqui também possuem o gene deletério. O resto da minha equipe está sendo testado no momento. Eu vim aqui colher as amostras de vocês para testá-las.
Nós mesmos é que colhemos nossas amostras de sangue. Era necessário apenas uma pequena gota que seria colocada em um tubo teste onde havia uma substância que funcionaria como marcador do gene e reagiria com uma solução presente no tubo provocando uma alteração de cor. Era um teste simples. Eu era imune ao agente e isso me aliviou um pouco, mas minha grande preocupação era Izzy e não saber se ela possuía o gene também. Uma das enfermeiras foi negativa para o teste e concluiu-se que ela apenas ainda não havia começado a apresentar os sintomas.
Foi nos ordenado que voltássemos para casa; não porque não precisassem mais de nós, mas porque o hospital seria evacuado com os que possuíssem os genes e o resto das pessoas lá não tinham mais salvação. Eu quis discutir, mas eles nos expulsaram. Quem não possuía o gene, mas ainda estava saudável seria levado para uma instalação do governo para receber o antídoto assim que esse estivesse pronto.
- Preciso de um desses tubos testes – disse me recusando a sair da sala antes do homem.
- Doutora a senhora já foi testada e....
- Eu preciso de um dos tubos teste – repeti num tom sério e firme fazendo o homem me encarar.
Ele me olhou e eu vi a mudança no olhar dele; ele sabia porque eu precisava de um tubo teste.
- Toda a população estará sendo testada nas próximas 24h, equipes passaram de casa em casa, isso já está sendo noticiado e...
- Eu não posso esperar até isso – falei num tom quase desesperado.
Ele me encarou por algum tempo, então suspirou, tirou um tubo do bolso e me entregou.
- Fogo parece conseguir inativar o agente...incinere suas roupas e tome um banho com água quente antes de entrar em contato com essa pessoa, se ela estiver saudável – ele me disse saindo antes de mim – E não conte a ninguém que eu disponibilizei isso à você.
- Porque tinha um tubo no seu bolso? – eu perguntei sem me importar com descrição.
- Eu estava guardando-o para uma pessoa – ele falou parando de costas para mim – Faz alguns minutos que eu descobrir que ela já estava doente....
- Você não se testou não é? – eu indaguei passando por ele e saindo; ouvi um riso sem humor e uma voz baixa dizendo “não” antes de me afastar completamente.
Fim do capítulo
Presente de natal
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Lerika
Em: 06/01/2016
Que nervoso!!
Estou devorando os capítulos e adorando o enredo. Adoro quando o romance não é todo o protagonista das estórias.
Resposta do autor em 25/01/2016:
Romance definitivamente não é o foco da história kkkk
Desculpe a demora, mas td vai voltar ao normal essa semana
;]
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