Capítulo 10 – Família
Um fato curioso sobre nós duas: não contávamos as nossas famílias sobre nós. Izzy porque tentava fingir para os pais que era uma garota normal, apesar deles saberem que não era e eu.....bem eu porque não falava com ninguém da minha família. Os pais dela eram separados, então meio que apenas o pai dela aceitava bem o fato de Izzy ser homossexual. Pelo que ela me contava apenas ele e o irmão mais novo e o meio-irmão por parte de pai aceitavam ela de verdade, apesar de não gostarem muito dessa escolha. Eram eles que mais ligavam pra ela pedindo notícias e acho que foi para eles apenas que ela contou que tinha namorada.
Eu? Bem, eu era a filha mais velha que nunca conseguiu ser o que tinha que ser. Eu nunca fui a filha exemplar; nunca fui a melhor aluna apesar de sempre ser uma boa aluna; nunca fui o tipo presente e atenciosa. Eu nunca fui o que se pode chamar de filha preferida. Meus pais nunca entenderam minha forma de ser e pensar reclusa e fechada. O fato é que quando eu tentava ser eu mesma recebia críticas de estar sendo isolada demais e que a família tinha que conversar e ficar junta e essas coisas todas. Então, pelo tempo em que vivi com eles eu fingi ser o que eles queriam, eu fingi o mais perto possível disso. Só que esse fingimento todo me deixava cansada e infeliz.
Não é que eu quisesse me afastar dos meus pais, eu só queria que eles compreendessem a minha forma de ser, mas eles nunca sequer notaram o esforço que eu tinha que fazer para “conviver” com todos. Eles nunca notaram os olhares tristes e distantes; nem eles nem meu irmão mais novo; esse se notou fez pior: não fez nada. Ninguém nunca tentou conviver com o que eu sou. Por isso quando pude eu me afastei; um país inteiro de distancia talvez fizesse com que eles tentassem entender os motivos do meu afastamento.
Não tentaram. Meus pais vieram me visitar umas 5 ou 6 vezes depois de eu me mudar, mas sempre acabávamos na mesma discussão: “você tem que interagir mais, Charlote”. Não eu não tinha, nem tenho, mas eles não aceitavam isso. “Lidar com seu irmão é muito mais fácil”, eles diziam, “Ele nos atente, ele conversa conosco”, ele era o filho perfeito que eles queriam que eu fosse também. E um dia eu disse isso a eles; disse que eu não era Franklin; disse que não tinha mais que tentar fingir ser isso........e disse que se eles queriam alguém fácil de lidar que visitassem apenas à ele. Eles não voltaram depois disso, nem eu os procurei.
Franklin, meu irmão mais novo era o único bom filho para eles. Ele era o advogado bem sucedido com um escritório no centro de Nova York, ganhando 6 ou 7 vezes mais do que eu e trabalhando metade do tempo. Era ele que tinha dinheiro para viagens, carros novos, e manter um apartamento na cobertura de um prédio de 25 andares. Era ele que tinha a noiva perfeita e o futuro perfeito.
Eu era só uma pediatra que morava num prédio de 6 andares a menos de 10 minutos do hospital, que trabalhava demais e ganhava proporcionalmente menos, que tinha um carro popular usado apenas para sair e fazer as compras de casa e uma moto velha, coberta por uma lona grossa e parada na ultima e mais escondida vaga do estacionamento do prédio. Não que eu morasse num lugar ruim. O apartamento era meu, tinha uma suíte, um quarto com banheiro separado, uma cozinha e uma sala grandes e nunca faltava dinheiro para nada. Mas eu não tinha 1% dos amigos e conhecidos que meu irmão e menos ainda de contatos.
Quando o pai ou os irmãos ligavam para Izzy eu podia ver o olhar temeroso que ela lançava para mim. Eu costumava começar a fazer algo ou fingir que estava ocupada, mas sempre pude sentir o olhar dela em mim. Outras vezes eu apenas sorria, dava um beijo na testa dela e me afastava. Ela me encarava com certa tristeza. Deveria se perguntar se eu não estaria me sentindo mal por ninguém da minha família me procurar. Mas ela nunca me questionou sobre o assunto, era como se ela soubesse que eu preferia ignorar isso assim como era ignorada por eles.
Se eu me sentia triste por eles não me procurarem mais? Não, me sentia triste por eles nunca terem tentado me entender. Por isso Izzy era meu porto seguro; não que ela realmente me entendesse, acho que ela sequer chegou perto de conseguir mesmo me entender, mas ela insistia em ficar comigo mesmo não me entendendo. Ela queria me entender e isso me dava uma sensação tão boa de liberdade e confiança que eu não tinha como descrever. Por isso quando sentia ela sendo possessiva comigo eu me sentia bem porque pra mim isso era prova de que ela me queria e de que não me deixaria ir. Era por isso que os braços dela eram a única coisa que me fazia relaxar. Eu não precisava de mais nada dela, apenas um abraço e o cheiro dela que vinha junto pra ficar completamente calma e tranquila.
Se eu teria contado sobre ela aos meus pais e ao meu irmão? Sim eu teria, com o maior prazer do mundo. Mas eu não os procuraria pra isso. Se eles quisessem saber de mim eu diria a eles que tinha encontrado alguém que me aceita como eu sou sem que eu precisasse fingir ser como eles queriam. Diria que tinha do meu lado a pessoa que mais amo no mundo, alguém em quem posso confiar tudo porque ela é minha vida agora. Diria que tenho alguém que pode gritar comigo e brigar comigo, mas que mesmo assim não me quer longe. Diria que estou amando uma pessoa e que pretendo passar o resto da vida ao lado dela. Diria que tudo isso faz o fato dela ser do mesmo sex* que eu ser um fator indiferente. Diria que eu estou feliz pela primeira vez na vida e sendo o exato oposto do que eles sempre quiseram que eu fosse. Eu diria tudo isso se qualquer um deles aparecesse pra perguntar como eu estou ou qualquer outra coisa. Mas eu não iria atrás deles pra dizer nada.
Eu tinha Izzy pra me abraçar e fazer eu me sentir bem e feliz sem nenhum deles por perto. Eu tinha a pessoa que amo do meu lado pra segurar minha mão se eu ficasse triste e me animar. Eu tinha a minha pequena comigo pra me fazer conseguir ignorar o resto do mundo e ser eu mesma. E eu a tinha mesmo que discutíssemos e brigássemos; eu a tinha comigo porque as brigas não poderiam nos separar. Ao menos não as brigas. Eu tinha a minha alegria e felicidade dormindo do meu lado e sorrindo pra mim toda manhã quando eu saía para trabalhar com o cheiro mais delicioso do mundo ainda preso na minha roupa.
Mas nem tudo pode durar para sempre.
Coisas boas nunca duram pra sempre.....não pra mim......e eu deveria ter notado isso antes.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 17/03/2018
Não sei o que vai acontecer. ....mas já não gosto
Elas merecem muito mais.....merecem uma vida
Mas a narrativa nos indica que isso não será possível. ...
Rhina
Resposta do autor:
Sim, elas realmente merecem muito mais. mas haverão coisas a acontecer ainda para desestabilizar não só elas, como o mundo todo
;]
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flawer
Em: 25/12/2015
Aff!!! Se gostasse, estaria roendo todas as unhhas agorinha mesmo!!!!
Como assim? "Coisas boas nunca duram pra sempre.....não pra mim......e eu deveria ter notado isso antes...
Isto quer dizer o quê moça? oh a angústia da espera é triste. Só vou compreender este comentário no próximo capítulo; Socorrro anonimo, posta logo o novo capitulo... Pois se por conta disso adquirir o mau hábito com as unhas, mandarei para ti a conta da manicure viu? KKKKKKKKKKKKKKKK
Feliz Natal! Bjssssssssssssssssss
Resposta do autor em 27/12/2015:
Minha nossa kkkkkkkkk ainda bem q postei a continuação rápido. Não deu tempo de vc adquirir esse mal hábito de roer unhas né???(espero que não, pois não teria dinheiro para a manicure KKKKKKKKKKKKKKKKKKK)
Feliz Natal pra vc tbm (meio atrasado, masok)
E Feliz Ano Novo tbm (q ele venha cheio de novas histórias)
Bjs ;]
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