As Cores do Paraíso - Capítulo 16

Gabriela estava encostada no carro com Larissa a sua frente. A ruiva fazia carinhos em seu rosto, dava beijinhos no pescoço e nuca. Deixando a garota toda arrepiada.

-- A gente podia ir lá para o meu apartamento. Que tal?

-- Pelo que me lembro havíamos combinado outra coisa -- passou o braço em volta da cintura de Larissa e a puxou para perto -- Amanhã resolvo tudo com a Alice.

-- Promete? -- fez carinha de desiludida.

-- Prometo -- deu um selinho nela -- Te ligo assim que tudo estiver resolvido.

-- Te espero então -- deu um beijo na loira e entrou no carro com o coração apertado.

Desejava tanto aquela garota. Sabia que aquilo era errado, afinal ela ainda era a namorada de sua melhor amiga. Mas ficar assim tão perto sem poder avançar o sinal, era torturante demais. Tinha vontade de agarra-la arrancar a sua roupa...O jeito foi ligar o ar condicionado do carro para se refrescar.

Gabriela entrou em casa e encontrou Talita sentada no sofá com um prato de Miojo no colo.

-- Um médico chega a seu paciente, isso após vários exames, e diz:

-- Infelizmente, lamento informar que você só tem mais cinco minutos de vida.

-- E o que o senhor pode fazer por mim doutor! -- Diz o paciente desesperado.

-- Bem... posso te preparar um Miojo!!!!

-- Alguém já te disse que você é muito engraçadinha?

-- Já. A Larissa acabou de falar que eu sou engraçadinha, lindinha, gostosinha...

-- A Larissa não conta. Ela é ruiva.

-- O que isso tem haver?

-- As ruivas estão sempre de cabeça quente.

-- Agora você me deixou sem palavras. Preparou um para mim?

-- Claro que não. Porque não pediu para a sua mulher tocha? Será que ela sabe preparar Miojo?

-- Como você é maldosa. Vai morrer solteirona.

-- Pensei que ela fosse dormir aqui hoje -- falou de boca cheia.

-- Cara, como foi difícil deixar ela ir embora. Minha vontade era de levar ela para a minha cama e passar a noite inteirinha dando beijinhos naquele corpinho lindo.

-- Você está ficando bem saidinha, hein loira. Tem certeza que dá conta da ruiva? Qualquer coisa chama a tia Tali que ela te ensina.

Gabriela jogou uma almofada na cabeça dela.

-- Teu celular está tocando Afrodite de Pomerode -- Gabriela foi para a cozinha preparar o seu Miojo.

-- Alô.

-- Oi, Talita é a Paula.

-- Oi Paula. O que aconteceu? Parece ansiosa.

-- Estou mesmo, você não sabe o que aconteceu. Estou muito nervosa.

-- O que foi garota? Fala logo, que estou ficando angustiada!

-- Recebi uma proposta de emprego no exterior. Estou viajando amanhã para a Holanda.

-- Hula la. Holanda. Tinha que ser tão longe?

-- Foi o que pintou. A proposta foi ótima. Então, seja o que Deus quiser - deu um suspiro profundo - O meu voo sai as 9:00. Se quiser se despedir...

-- Estarei lá.

-- Ótimo. Beijo.

-- Beijo.

Talita ficou olhando para o celular.

-- Foi bom enquanto durou.

-- O que é isso Talita? Está terminando o namoro com o celular?

-- A Paula está indo embora para a Holanda.

-- Poxa. E você? Está triste? - Sentou no sofá.

-- Estou triste por não ter mais a companhia dela. Paula é uma pessoa maravilhosa. Por outro lado, estou feliz por ela ter conquistado o seu objetivo profissional.

-- É assim que se fala minha irmã. Grande prova de amor a sua - deu um tapa no ombro da amiga.

-- Amor é uma coisa que mexe por dentro e deixa marcas quando passa.

-- O nome disso não é diarreia, Tali?

No apartamento de Larissa.

-- Não estou te reconhecendo Larissa - Mauricio debochava da amiga - Depois de conhecer tantas mulheres experientes e vividas, foi se apaixonar por uma garotinha. Você está com a síndrome do colo vazio?

-- Não brinca Mauricio. É sério - foi até o seu bar particular - Hoje vou tomar champanhe e quero que você beba comigo.

-- Com todo o prazer, minha deusa.

-- Pois é Mauricio, de repente, todas as canções de amor falam sobre eu e a Gabi. O melhor lugar do mundo é ao lado dela. Engraçado como todas as coisas supérfluas são deixadas de lado quando colocamos o amor acima de tudo.

-- É porque o amor é um sentimento simples mona. Você pode até encontrá-lo e deixá-lo ir embora, por não perceber a sua simplicidade.

-- O que será que a Luísa vai dizer quando souber de nós duas?

-- NÃO!!! - Luísa andava pela sala e Gabriela atrás dela.

-- Mas, mãe...

-- Sem, mas, Gabi -- A arquiteta não conseguia acreditar em Larissa - Essa mulher só está interessada na sua propriedade, minha filha - Estava tão irritada que não queria nem ouvir os argumentos da filha - Será que você não percebe isso?

-- As opiniões, por mais divergentes que sejam, merecem respeito, mãe.

-- Eu respeito a sua opinião, mas não aceito - foi até a cozinha, pegou um copo de água e bebeu - Quero você longe dessa mulher. Entendeu?

-- Eu pensei que me apoiaria? - Falou triste.

Luísa respirou fundo e pegou nas mãos da filha.

-- Eu te apoiarei, tal como uma melhor amiga! Te apoiarei em qualquer decisão da sua vida. Desde que seja correta, por mais louca que possa parecer. Mas também devo alertar, cuidar e te proteger - puxou a filha para sentar no sofá - Vou estar sempre do teu lado, em qualquer circunstância da tua vida. Nos melhores momentos da tua vida e nos momentos pelos quais tu desejaras nunca o viveres. Vou te encorajar, te proteger

-- Então, mãe. Mesmo que ela tenha cometido erros gravíssimos no passado, é possível que ela se recupere e evolua de modo surpreendente. Pode ser que ela tenha encontrado o ambiente favorável e, tenha mudado. Se você não é capaz de dar uma segunda chance para alguém, dificilmente terá a oportunidade de receber uma.

Luísa ficou um momento em silêncio, pensando no assunto. Gabriela a olhou com firmeza, esperando que ela decidisse. Percebeu que a mãe estava quase amolecendo o coração. Mas foi aí que Samanta chegou, e com certeza as dificuldades que teve com a mãe Luísa, seriam bem maiores com a mãe Samanta.

-- Olá família - beijou a filha, depois a esposa - Senti um clima pesado no ambiente.

-- A Gabi tem algo para lhe contar - Luísa levantou.

-- Você não vai ficar mãe Luísa? - Gabi ficou decepcionada.

-- Não. Eu já tenho a minha opinião formada - pegou a chave do carro de cima da mesinha de centro -- Quando eu voltar passo na sua casa para conversarmos - beijou a cabeça da filha - Boa sorte - deu um sorriso e saiu.

-- Poxa, que seriedade. Deve ser um assunto do tipo que muda o destino do mundo - deu uma risada, mas logo ficou séria, percebendo que a filha a olhava com visível angustia - Fala filha - pegou uma garrafinha com água e sentou ao lado dela.

-- Eu e a Larissa vamos começar um namoro...

Samanta afogou-se com a água e começou a tossir freneticamente. Gabriela levantou e deu uns belos tapas nas suas costas tentando desafoga-la. A conversa não seria nada fácil.

Larissa e Mauricio conversavam sobre os preparativos da festa de aniversário que a empresária daria no mês seguinte.

-- Vai ser a melhor festa de aniversário que eu já realizei. Quero convidar o maio número de pessoas possíveis.  Reservar a melhor casa de festa de Recife -- encheu a taça de champanhe e com ela no alto rodopiou feliz pela sala.

Mauricio estava encantado. A amiga estava radiante de felicidade. Era tão bom vê-la assim, tão leve, sorridente e em paz.

-- Vamos contratar uma banda de reggae, mona...

-- Legal... muitas frutas decorativas, almofadas no chão, velas nas entradas...

O interfone tocou...os dois se olharam admirados.

-- Está esperando alguém? - Mauricio fez uma careta engraçada.

-- Não. Atende lá. Vai ver é só o porteiro querendo perguntar alguma coisa.

Mauricio saiu e quando voltou estava com a cara de assustado.

-- Tem uma mulher lá embaixo querendo subir para conversar com você. O nome dela é Luísa.

Larissa deu um sorrisinho nervoso.

-- Chegou o momento de encarar a mamãe. Já esperava por isso. Menos mal que será no meu reduto, não corro o risco de sair corrida com um cachorro atrás de mim - sentou no sofá e cruzou as pernas com a taça de champanhe na mão - Manda vir.... Estou preparada...

No Paraíso.

-- Você não deve estar falando sério Gabriela - a reação de Samanta foi pior que a de Luísa.

-- Estou... - falou cansada.

-- A pessoa que quer destruir o nosso paraíso, que quer transformar isso aqui em um grande condomínio fechado, que pensa que o dinheiro compra as pessoas. Não, você só pode estar brincando.

Gabriela pensou em usar os mesmos argumentos que havia usado com a mãe Luísa. Mas desistiu. Não havia funcionado com aquela que a loira considerava a mais acessível, mais ligada, imagina com essa cabeça dura que era a mãe Samanta.

-- Já deu para perceber que não conseguirei te convencer - olhou o mar pela janela - O vô sempre diz: não levante a sua voz, melhore os seus argumentos.

-- E vai ter que melhorar muito. Essa mulher está usando todo o seu poder te sedução para alcançar o seu objetivo - bufou - Que baixa! Enganando uma criança desse jeito, utilizando-se do próprio corpo... é uma imoral. Que absurdo, meu Deus...

Gabriela sacudiu a cabeça. A mãe Samanta ainda a via como um bebezinho. Com ela não adiantava nem conversar. Preferiu silenciar para não entrarem em discursão.

"O horizonte é sempre mais nobre e a estrada mais sublime, quando a oração permanece na alma em forma de confiança e de luz." (André Luiz)

"Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja." (Chico Xavier).

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Fim do capítulo