Capítulo 12
As Cores do Paraíso - Capítulo 12
No Apartamento de Larissa
-- Senta. Eu vou buscar a caixa de primeiros socorros - a empresária estava nervosa. Sempre foi uma mulher cheia de si, segura e poderosa. Nesse momento sentia-se totalmente ao contrário disso, chegava a estar tremula. Afinal, lá na sala estava a pessoa causadora de toda essa bagunça em que se tornou a sua cabeça.
Revirou o banheiro até que encontrou a caixa dentro de um armário, que nunca havia aberto, aliás, nem tinha percebido a sua existência até aquele momento.
Gabriela continuava sentadinha no mesmo lugar. O apartamento era tão luxuoso que tinha medo de quebrar alguma coisa.
A sala era perfeita. No centro havia um sofá branco enorme e aos lados, esquerdo e direito, um menor. Uma mesinha cheia de objetos decorativos. No canto um bar repleto de todos os tipos de bebidas. Um quadro da Raquel Taraborelli - pintora impressionista contemporânea brasileira, lhe chamou a atenção.
Você pode olhar suas telas e dizer que delas saem a luz e as cores; que o sol e as sombras nos transmitem alegria e a vontade de entrar nas cenas. Você pode até adivinhar a hora do dia que está ali, à sua frente, pululando de vida. Você pode ver o ar. É a percepção aguçada pelo gosto e pela paleta de Raquel Taraborelli.
-- Essa tela foi presente do meu pai - Larissa tirou Gabriela de sua viagem pelo mundo da arte.
-- Você gosta de obras de arte? - Perguntou sorrindo.
-- Sei o valor delas - sentou ao lado da garota no sofá, com a caixa no colo.
-- Já era de se imaginar - o sorriso morreu e o semblante era de decepção.
Larissa mais uma vez deixou o seu lado materialista falar mais alto. Puniu-se mentalmente por isso. Gabriela era uma artista, e, como todo o artista tinha a alma leve. Era uma pessoa sem fins lucrativos que deduzia amor no imposto de renda como dependente o coração.
-- Preciso ligar para as meninas, elas devem estar super preocupadas.
-- Claro - entregou o telefone para ela e foi até o bar preparar uma bebida.
De lá ficou observando ela conversar com as amigas. Uma por uma, explicava o ocorrido. Achou, engraçado quando uma das amigas comentou algo sobre ela, provavelmente Talita, e a garota respondeu baixinho: -- Ela não morde...
Sua fama realmente não era das melhores. Nunca se importou com isso, porque agora se importaria?
-- Pronto - Gabriela colocou o telefone sobre a mesinha.
-- Agora deixa eu cuidar desses machucados - voltou a sentar no sofá.
Larissa tentou concentrar-se no seu trabalho, mas era difícil ficar imune a aquela aproximação tão intima. Gabriela estava de olhos fechados e volta e meia fazia algumas caretas de dor.
Começou a limpar o corte da boca dela com a gaze. Passa com delicadeza, quase um carinho.
-- Foi um corte leve - Gabriela abriu os seus olhos azuis e encarou os verdes de Larissa.
-- Pode até ter sido leve, mas está sangrando.
-- Corro o risco de morrer de hemorragia, doutora? - Perguntou sorrindo.
-- Não chega a tanto, mas pode ficar sem poder beijar por algum tempo - provocou.
-- Isso é mal. É muito mal.
Gabriela voltou a fechar os olhos. Larissa pegou outra gaze e começou a limpar cuidadosamente o corte da testa, que levemente latej*v*.
Segurava o rosto dela com uma das mãos, mordia levemente os próprios lábios.
Simples toques de mãos e o olhar dentro dos olhos de cada uma. O coração batendo muito forte. Como será o amor? Era só poesia? Ou era carinho, amor e uma imensa vontade que o tempo parasse naquele instante?
Larissa procurou se controlar e, quem sabe, encontrar alguma explicação para o que ocorria. Afinal, sempre foi forte, e não seria desta vez que não procuraria entender e até lutar contra esse sentimento desconhecido.
-- Aiiiiii - Gabriela reclamou.
-- Desculpa, desculpa - Larissa assoprava o machucado.
-- O que você colocou para doer tanto assim? - Fazia caretas e sacudia as mãos.
-- Deixe-me ver....álcool. Porque? Não podia? - Olhou para o frasco que estava em suas mãos.
-- Não né... e para de assoprar. Você vai contaminar o ferimento.
-- O que você quis dizer com isso? Que a minha boca é cheia de bactérias?
-- A nossa boca é cheia de bactéria.
-- A minha não, só se a sua é - fez cara de nojo.
-- Claro, a sua boca tem veneno.
-- Você pode ser ruim, mas eu posso ser muito pior dona Gabriela! - Ficou bem perto da Garota. Tão perto que podia sentir a sua respiração quente.
-- Acredito dona Larissa...
Ela, então, encostou o dedo em sua boca como que pedindo silêncio. Gabriela a olhou intrigada.
Centímetro a centímetro suas bocas foram se aproximando. Larissa olhava para a boca semiaberta de Gabriela, desejava aquele beijo. Desejava aqueles lábios mais que tudo na vida.
Mas para surpresa e desespero de Larissa, Gabriela afastou-se para longe.
-- O que houve? Você também queria esse beijo tanto quanto eu.
-- O que toca minha alma. O meu coração, não esquece.
-- Não entendi - Larissa tentou se aproximar novamente, mas ela se esquivou.
-- Você está interessada tão somente em comprar a minha propriedade - falou chateada - O meu paraíso não está à venda Larissa. Muito menos os meus sentimentos. E o que há de mais bonito nesse mundo, minha cara, não se compra.
Deus fez as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas; mas por que amam as coisas e usam as pessoas?
Larissa correu até ela e segurou no seu braço.
-- Me dá uma chance para te provar que...
Nesse momento a porta foi aberta com violência e uma multidão entrou alvoroçada.
-- O que aconteceu? - Talita abraçou e apertou a amiga com exagero.
-- Você está bem, meu amor? - Alice examinava a namorada dos pés à cabeça.
Larissa afastou-se para um canto da sala. Sentia-se morta por dentro.
-- E você como está? - Mauricio passou a mão pelos cabelos da amiga - Então essa que é a Gabriela? Bom gosto hem, chefia.
A empresária apenas sacudiu a cabeça.
-- Por favor Mauricio, faz sala para elas - pegou a bolsa da mão do rapaz - Vou deitar, não estou me sentindo bem. Não esquece de devolver a chave reserva que eu peguei com o porteiro.
Larissa tomou um banho bem demorado, colocou uma camisola curtinha e deitou. O dia já estava quase amanhecendo. Sabia que não conseguiria dormir, então colocou um cd no aparelho para escutar.
Até que ponto devemos lutar para conquistar alguém e até onde isto se torna algo como "dar murro em ponta de faca" ou perder nosso precioso tempo de vida?
Será que é amor o que estou sentindo? E se for? Posso fazê-la feliz? Quais são os motivos que me fazem quere-la tanto assim?
Larissa travava um diálogo interno.
Queria tanto conversar com ela. Tentar convence-la. Entrar em acordos, levar em conta as necessidades dela e as suas. Será que amar alguém é uma escolha?
Praia do Encanto.
Gabriela estava sentada na areia fria e dourada da praia, assistindo o sol nascer. Era o espetáculo da natureza que ela tanto gostava. Tobias sentado ao seu lado estava mais interessado em lamber as patas que olhar o sol.
Lembrou das palavras de Munique:
"-- O primeiro passo para você começar a entrar em sintonia comigo é abrindo o canal de lá para cá. Crie uma disciplina. Todos os dias! Eu disse "diariamente". Tenha um momento de abertura. O que é isso? Dez minutos de respiração, de meditação, de exercício bioenergético, de oração, de relaxamento para que você, simplesmente, acalme os seus pensamentos, emoções e sentimentos e fique fértil para essas percepções que virão".
Olhou para o céu e depois para o mar.
Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.
Que eu não perca o OTIMISMO, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.
Que eu não perca a vontade de VIVER, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...
Que eu não perca a vontade de AJUDAR as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.
Que eu não perca a VONTADE de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...
Que eu não perca a GARRA, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.
Que eu não perca a RAZÃO, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.
Que eu não perca o meu forte ABRAÇO, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...
Que eu não perca a BELEZA e a ALEGRIA de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca a vontade de doar este enorme AMOR que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.
Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois.... A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor! Chico Xavier
Fechou os olhos e sentiu a presença de Munique. Mesmo com o sol tocando a sua pele sentia frio. Abraçou os joelhos e sorriu. Agora sentia a sua presença mais forte.
Munique lhe falava ao coração não somente através de sonhos, falava através do vento, da areia, do mar, de tudo...
Guias espirituais atuam de forma sutil, nos sugerindo boas intenções, pensamentos e atitudes, sempre voltados para o exercício da bondade e da virtude. Não ficam alheios a nossos sofrimentos e sempre escutam nossas preces em busca de soluções, trazendo inspiração e esperança para os momentos de aflição.
Uma sombra cobriu-lhe o sol e ela logo imaginou quem era.
-- Bom dia minha filha - Samanta sentou ao seu lado - Olá garotão - fez um carinho na cabeça do cachorro.
Ela sempre passava por alí naquela hora da manhã.
-- Bom dia mãe - deu um beijo carinhoso na arquiteta.
-- Pelo tamanho do curativo, você deve ter levado uns vinte pontos - olhou preocupada.
Gabriela não conseguiu segurar o riso.
-- A enfermeira era bem inexperiente. O importante é que era linda demais.
-- Safada - espalhou os cabelos loiros da filha - Quando a Luísa me contou, quase morri do coração. Você tem que se cuidar Gabi, Recife não é Pomerode.
-- Graças a Deus - juntou as mãos, como se rezasse.
-- Outra coisa... - ficou séria - Abra o olho com a tal da Larissa, ela não é flor que se cheire. Lembre-se que: Sempre há um pouco de perfume nas mãos de quem dá a rosa... de quem mexe na merd* também.
Samanta beijou a cabeça da filha e continuou a sua caminhada pela praia.
-- Que saco! Todo mundo fala mal dessa ruiva linda, maravilhosa, gostosa. Até a minha razão fala mal dela. Só você, meu coração otário, inocente e sonhador, que fica nessa loucura - bateu no peito e levantou em um pulo, espalhando areia por tudo - Vem Tobias me acompanha... my brother.
Subiu em uma pedra e cantou para a plateia de gaivotas.
Fogo e Paixão -- Wando
Você é luz. É raio estrela e luar
Manhã de sol. Meu iaiá, meu ioiô
Você é "sim" E nunca meu "não"
Quando tão louca. Me beija na boca. Me ama no chão.
Coreografia...
Me suja de carmim. Me põe na boca o mel
Louca de amor. Me chama de céu
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
E quando sai de mim. Leva meu coração
Você é fogo. Ou sou paixão.
Ouviu palmas e levou um susto.
-- Estou pensando se jogo ou não a minha calcinha...
Larissa estava parada em pé, alguns metros de onde ela estava cantando. Vestia short jeans um pouco acima do joelho e uma blusa caída no ombro, óculos escuros e uma sandália tipo havaianas. Linda!
Gabriela estava de boca aberta. Ela é fogo, eu sou paixão. Pensou.
Fim do capítulo
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