Capítulo 3
As Cores do Paraíso - Capítulo 3
Recife
Larissa estava com as amigas em um barzinho badalado da zona norte. O lugar era frequentado na sua maioria pela alta sociedade de Recife.
-- Você precisa arrumar alguém Larissa, namorar, curtir, sei lá, você é jovem, rica, poderia viajar e não ficar tão presa a negócios, negócios - Paula falava enquanto girava o canudinho dentro do copo.
-- Eu me divirto. Estou aqui com vocês, não estou? - Deu de ombros, não dando muita importância as palavras da amiga.
-- Isso aqui não é diversão, parece mais uma sessão do descarrego. Vamos dar as mãos?
-- A Paula tem razão - Fernanda empurrou o copo para longe - Esse bar já foi legal. Hoje já não faz mais a minha cabeça - olhou em volta - Olhem para essas pessoas, são as mesmas todos os dias, com os mesmos gestos, as mesmas atitudes, os mesmos drinques...
-- As mesmas cantadas - Paula completou - Eles vêm aqui somente para caçar.
-- E daí gente? Deixa eles. Que coisa mais chata - Larissa estava irritada - O que vocês querem? Começar a frequentar esses barzinhos de beira de praia, cheia de adolescentes bagunceiros, com os hormônios a mil, prontos para pularem em seu pescoço?
-- Com certeza é mais divertido que isso aqui - Fernanda encostou-se na poltrona desanimada.
-- Já que vocês estão com o grau de desanimo tão elevado, prometo pensar no assunto.
-- Legal. Não pense que eu vou esquecer dessa promessa - Paula falou animada.
Larissa por hora, conseguiu enrolar as amigas.
-- Por enquanto, já que estamos aqui, vamos pedir ostras?
Pomerode.
Gabriela e Talita empurravam o fusca para fora da garagem.
-- Coloca no ponto morto, sua lerda - Talita empurrava o carro e ele não saia do lugar.
-- Hô gloria -- Gabriela deu um tapa na própria testa -- Desculpa...agora vamos...1 2 3 - empurraram até a rua.
-- Entra logo Gabi, vamos apurar. Daqui a Blumenau leva uns 40 minutos.
-- Se o vô descobrir, vai me deixar de castigo por um ano.
-- Ele não vai descobrir, vai por mim - Talita ajeitou-se no banco do carona.
-- Eu sempre vou por você e, sempre me ferro - Gabriela ligou o fusca e partiram.
-- Não vejo a hora de chegar lá - a garota estava agitada, mexia-se inquieta no banco.
-- Vê se não bebe demais. Cana aqui em Pomerode dá pinga, pinga lá na cidade grande, dá cana.
-- Se beber fosse pecado, Jesus teria transformado água em refresco de uva ao invés de vinho!
-- Será que nesse casamento alguém ficou bêbada e tentou agarrar alguma garota da Galileia?
-- Pára de ficar me jogando isso na cara o tempo inteiro. Foi um pequeno deslize, nunca mais irá se repetir. - Talita olhou pela janela do carro -- Tem mulher que é tão gostosa...
-- A mulher foi feita de uma costela, imagine se fosse feita do filé?! - Gabriela olhou para Talita e sorriu - Aí mesmo que não dava para resistir.
Recife.
Uma garota aproximou-se, rodeou a mesa e parou em frente a Larissa. Tinha um sorriso malicioso nos lábios quando perguntou:
-- Eu e minhas amigas - apontou para a mesa aonde estavam as outras duas garotas -- Gostaríamos de saber se vocês estão a fim de juntarem-se a nós para beber e conversar.
-- Sim - Paula respondeu.
-- Não - Larissa falou no mesmo instante.
-- Acho que temos uma discrepância - a garota riu da situação.
-- Ultimamente só temos discrepâncias - Larissa olhou para cima - Com certeza serei voto vencido, então...
Aceitaram o convite e juntaram-se as garotas.
Blumenau.
Gabriela e Talita pararam na porta e ficaram olhando extasiadas. Era a primeira vez que entravam em uma boate GLS.
-- Cara, para quem está acostumada com a quitanda do seu Fritz isso aqui é o Ceasa - Talita olhava ao redor deslumbrada com tantas garotas - Será que eu posso provar um pedacinho de cada?
-- Eu estou tão traumatizada que vejo Bias para todos os lados - Gabriela sacudiu a cabeça - Te controla Talita, pobre só come carne quando morde a língua.
-- Você parece uma matuta, Gabi - Talita empurrou a amiga para dentro da boate.
-- Quem fala, vai ver que não está com medo também?
-- Não tenho medo de mulher. Olhou para mim tá no papo - falou toda cheia de si.
-- Não tenho culpa de até hoje só ter ficado com a Bia - colocou as mãos nos bolsos e olhou ao redor.
A boate parecia pequena do lado de fora, mas as surpreendeu por dentro, estava lotado, pessoas se amontoavam no salão, a música forte fazia todos ficarem ouriçados.
Andaram um pouco no meio do povo que pulava e gritava. Gabriela achou aquilo muito engraçado, tem horas que a raça humana deixa um pouco a consciência de lado.
Continuaram caminhando e pararam no bar.
-- Tem grana? - Talita esparramou-se no balcão.
-- Tenho. Porque?
-- Me paga uma cerveja. Quando eu fizer uma tatuagem, te pago - levantou a mão e chamou o atendente.
-- Só se for no pastor Sebastião - falou irônica - Duas cervejas - pediu para o rapaz que a olhou desconfiado.
-- De menor? - Apontou para ela.
-- 25 - mostrou a carteira de motorista.
-- Poxa, te embalsamaram nos 15? - O rapaz saiu rindo dela.
-- Não liga amiga - deu um soquinho no ombro dela em sinal de apoio moral.
O atendente retornou com as cervejas e colocou sobre o balcão.
-- Não fica brava comigo. Estava só brincando - secou o balcão com um pano - Mas toma cuidado. Tem um monte de garotas que adoram comer criancinhas - saiu rindo novamente.
-- Que cara mais palhaço... - falou bicuda.
Gabriela ia tomar o primeiro gole de cerveja quando sentiu alguém passar o braço por cima de seu ombro e tirar o copo de sua mão. Era uma bela e sensual morena.
-- Estou com uma sede... -- Ela levou o copo até a boca e tomou um grande gole - Delicia... -- Ela passou a própria língua pelos lábios, em um movimento provocante.
Gabriela e Talita morderam os lábios hipnotizadas pela boca macia e molhadinha da morena. Aqueles lábios carnudos e brilhantes com gloss imploravam por um beijo.
-- Obrigada por saciar a minha sede, bebê -- falou e passou a unha levemente pelo rosto de Gabriela, deixando marquinhas vermelhas pela pele branca da garota.
-- Por nada, moça -- falou em um fio de voz.
-- Me chamo Mirna - sorriu mostrando os dentes brancos -- Vamos sentar lá com as meninas? -- apontou para uma mesa com várias garrafas de bebidas, aonde estavam três garotas que pareciam se divertir muito com a cena.
-- Vamos -- Talita não pensou duas vezes, virou o seu copo de bebida e caminhou em direção ao grupo.
-- Vem -- a morena estendeu a mão para Gabriela -- A noite é uma criança igual a você, anjinho -- deu um beijo na boca que deixou a garota sem folego.
Gabriela com os olhos fechados só conseguia se concentrar no gloss com sabor de cereja...gloss com sabor de cereja...gloss...
Praia dos Encantos.
Samanta tomava café na sala da casa de Munique. A arquiteta aproveitou a viagem da esposa para Pomerode e resolveu passar algumas horas com a amiga.
-- Confesso que não entendo muito de obras de arte, mas posso te dizer Munique, seus quadros são lindos!!! -- caminhava pela sala como se estivesse em uma galeria de arte.
-- Eu sei -- sorriu.
-- Porque nunca expôs? -- Samanta virou-se para a amiga e abriu os braços.
-- E quem disse que eu nunca expus?
-- Já? -- estava surpresa.
-- Já, e não foi apenas uma vez, foram várias -- segurou a caneca com café quente entre as mãos e ficou olhando a fumaça que se perdia no ar -- Eu não fui sempre sozinha, Samanta. Tinha uma família maravilhosa, uma esposa maravilhosa. Mas o destino ou o acaso, ou o complexo das circunstâncias da vida determina muitas vezes o contrário. Uma curva de estrada para mim foi o fim de tudo. Hoje estou aqui apenas cumprindo mais uma etapa nesse mundo. Não almejo mais nada - Munique levantou foi até o quarto e quando voltou, trazia dois recortes de jornal na mão - Veja essas reportagens.
Os papeis estavam amarelados pelo tempo, pareciam ser de muitos anos atrás.
No primeiro recorte uma reportagem que falava sobre a grande promessa Brasileira:
"Foi uma grande exposição de pintura moderna. Eram quadros grandes. Havia emprego de quilos de tintas, e de todas as cores. Um jogo formidável. Uma confusão, um arrebatamento, cada acidente de forma pintado com todas as cores"
Munique sem dúvida alguma será a grande pintora brasileira.
"Foi ela, foram os seus quadros, que nos deram uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras"
A arquiteta passou a olhar o segundo recorte.
Um grave acidente ocorrido na TO 164, próximo da cidade de Araguanã tirou a vida de três pessoas: Uma grávida de seis meses e um casal de idosos. Vários acidentes são registrados no trecho da rodovia que fica após o povoado de Jacilândia, que já ficou conhecido como curva da morte.
Samanta olhou para Munique com carinho.
-- Essa mulher...
-- Sim, ela era a minha esposa - Ela cerrou os olhos e reuniu todas as forças que lhe restavam para encarar Samanta e continuar - E meus pais também.
Blumenau.
Gabriela estava no maior dos amassos com a morenaça.
-- Vamos para o meu apartamento anjinho? - A mulher brincava com os cachinhos do cabelo da garota - Quero encerrar essa noite com chave de ouro - ela lambia seu pescoço, sua orelha, seu queixo, suas bochechas, até sua testa. Passava a língua como se fosse uma cachorrinha. Uma mão acariciava a nuca, a outra a cintura, a outra os seios, a outra a bunda...resumindo, as vinte mãos da mulher faziam uma varredura pelo corpo de Gabriela.
-- Não posso. Tenho hora para chegar em casa - tentou se desvencilhar dos braços da morena, mas não conseguiu.
Mirna deu uma gargalhada gostosa.
-- Que fofa! Só que você tem um problema: A sua amiga acabou de sair com uma de minhas amigas.
-- O QUE??? - Gabriela entrou em pânico.
Recife. Apartamento de Larissa.
A empresária acordou e ainda sonolenta olhou para o lado e quase caiu da cama de susto.
Sua cabeça doía, estava quase explodindo, não se lembrava de como havia chegado até ali. Sequer lembrava quem era a garota ao seu lado. Que situação. Pensou.
Levantou pé por pé e correu para o banheiro. Tomou o banho mais rápido de sua vida, vestiu-se e antes de sair ainda deu mais uma olhadinha na mulher nua em sua cama.
O que estranhava é que não se lembrava de nada.
-- Ou o sex* foi ruim demais ou o whisky era falsificado. Um dos dois -- fechou a porta do quarto e saiu silenciosamente.
Na cozinha Marcelo cantava e dançava preparando o café.
Bará bará bará, Berê berê berê
Bará bará bará, Berê berê berê berê
Bará bará bará, Berê berê berê
Marcelo gostosudo fazendo bará, berê
E quando eu te pegar, você vai ficar louco
Vai ficar doidinho, doidinho dentro da roupa
-- Marcelo.
-- Aiiiiiiiiii - deu um gritinho e pulou com as mãos sobre o peito - Quer me matar louca.
-- Desculpe atrapalhar a sua performance. Você deve ter passado dias tentando decorar a letra dessa música, mas, estou com pressa, praticamente fugindo.
-- Credo - encheu uma caneca com café e entregou a patroa - Bebe o juízo depois tem que fugir do próprio apartamento.
-- Não quero ficar e ter que dar explicações. Você sabe como é.... O amor é como a gasolina da vida. Custa caro, acaba rápido e pode ser substituída pelo álcool.
Pomerode.
Gabriela e Talita chegavam em casa já com o sol a pino.
-- Se o meu vô tiver enfartado eu te mato - comia um pão francês bem torradinho - Você é como abelha Tali, ou dá mel ou dá ferroada.
-- Não exagera Gabi. Pensa... Quem cedo madruga Deus ajuda.
-- No meu caso vou ficar com sono o dia inteiro - estacionou o fusca em frente ao portão. A janela da cozinha estava aberta.
-- Pronto. Vou ser mandada para o campo de concentração - abriu a porta do carro e viu os avós parados na entrada da garagem - Não sai daí - falou para a amiga.
-- Nem conseguiria mesmo, estou toda borrada. O Hitler está parado alí hó - apontou para Klaus Hoyer.
Gabriela saiu correndo de dentro do fusca e abriu a porta para Talita.
-- Consegue sair amiga? - Deu uma piscadinha - Se não conseguir eu te carrego no colo. Essa asma ainda vai te matar - olhou para os avós que continuavam no mesmo lugar.
-- Não consigo andar. Vou ter que aceitar o seu colo. Querida.
Gabriela olhou séria para a amiga.
-- Claro querida - colocou o braço de Talita ao redor do seu pescoço e a levantou.
-- O que aconteceu? - Klaus parou ao lado do carro.
-- Vô, a Talita passou mal de madrugada devido à asma, ela me chamou e eu, como sou a melhor, mais fofa e única amiga dela, não poderia deixar de atende-la - olhou para o vô receosa - Foi você quem me ensinou a ajudar o próximo...
Mais tarde na pracinha de Pomerode.
-- Me perdoa, me perdoa, me perdoa - Gabriela olhava para o céu de mãos juntas.
-- Chega Gabi. Daqui a pouco ele enche o saco e joga um raio na sua cabeça.
-- A culpa é sua que não pode ver uma mulher gostosa que já perde o juízo.
-- Vou te confessar uma coisa miguxa - abaixou-se para amarrar o cadarço do tênis -- ela nem era tão bonita assim -- fez uma cara de decepção e voltou a amarrar o tênis.
-- É amiga, mulher feia e morcego só saem à noite.
Um carrão preto estacionou do outro lado da praça.
-- Quem será? - Talita sentou no banco.
-- Não faço a mínima ideia - também sentou.
Luísa saiu do carro e olhou ao redor. A cidade era bonitinha, pequena, mais limpinha e aconchegante. Olhou para a praça e viu a pessoa que lhe fez amolecer as pernas.
Ela era linda. O seu anjinho de cabelos cacheados. Não era mais a criança que pegou no colo e entregou para os avós criarem. Agora era uma mulher feita.
Passou a mão pelo rosto, contendo a lagrima que começava a cair dos olhos, engoliu o choro e respirou fundo. Começou a caminhar em direção até aonde as garotas estavam sentadas.
-- Boa Tarde - fingiu certo desinteresse.
-- Boa tarde - as duas responderam em coro.
-- Meu nome é Luísa - encarou Gabriela, que demonstrando timidez, abaixou os olhos.
-- Eu sou a Talita e ela é a Gabriela.
-- Muito prazer. Estou fazendo turismo pela região e me informaram que aqui tem um dos mais bonitos zoológicos do país.
-- É verdade - Gabriela empolgou-se. Adorava falar do zoológico - Fica aqui perto, logo depois da igreja. Se quiser nós te mostramos - foi solicita e Luísa adorou a ideia.
-- Quero sim. Mas, poderia abusar um pouquinho mais da hospitalidade de vocês?
-- Claro. Pode falar - Talita levantou.
-- Tem algum lugar aqui na cidade em que eu poderia me hospedar?
Gabriela levantou e deu alguns passos em direção à rua.
-- Está vendo aquela casa verde lá na esquina? É a pousada da frau Berta. Você pode ficar lá se quiser. É o melhor lugar daqui para se hospedar.
-- E também o único, dona Luísa - Talita falou com desdém.
-- Vou aceitar a dica, Gabriela - sorriu - Nos encontramos daqui a uma hora? Se não for incomodo, é claro.
-- Não sei a Gabi, mas eu, tenho que olhar a minha agenda primeiro.
Luísa olhou para Talita, acreditando em suas palavras.
-- Brincadeirinha. Daqui a uma hora então.
Luísa virou-se para sair.
-- Dona Luísa - Gabriela a chamou - Não vá se perder tá.
Deu um sorriso lindo que fez o coração da arquiteta derreter de emoção.
.
Fim do capítulo
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Lea
Em: 06/07/2021
Já estou com as dúvidas aqui em mente! Será que a Gaby vai aceitar as mães quando descobrir a verdade?? Será que ela entenderá os motivos pela qual as mães não terem "ficado" com ela?? O doador ainda está vivo?? Larissa será a outra "metade" da Gaby?? Larissa terá algum parentesco com o doador fdp??
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