O leão chefe está preso. E os comparsas também!
Capítulo 36. A hora chegou.
A major chegou a casa do soldado Tércio e lá mesmo já deu voz de prisão ao rapaz. O soldado tinha trinta e dois anos e já estava na polícia a pelo menos dezenove, sendo que há seis anos integrava o regimento de cavalaria. Era um dos responsáveis pelo armamento bélico da unidade e já havia respondido alguns processos em inquéritos policiais militares e também, já havia sido acusado de desviar armas anteriormente quando este ainda era do policiamento de trânsito.
– Então soldado, o que o senhor tem a dizer sobre isso? Perguntou a major.
– Não tenho nada a declarar major, somente perante a corte militar!
– Pois bem soldado, como queira seu moleque insolente. Podem levá-lo.
Outras prisões foram efetuadas e todos os detidos foram encaminhados ao presidio militar para aguardar o inquérito. Haviam policiais de várias unidades militares que estavam sendo acusados de participar de milícias nas regiões humildes da periferia, e isso, a major Mantovanni não podia admitir, ainda mais na cavalaria.
O coronel Tavares e a major Monteiro também haviam feito prisões em suas respectivas unidades. No canil por exemplo, até vendas de filhotes haviam sido feitas, principalmente de pastores alemães.
Com um saldo positivo de apreensões, faltava ainda a unidade que mais daria trabalho, pois a major poucas horas antes, havia descoberto que o tenente coronel Mauro Vaz Amorim Cardoso, estava ciente de todas as manobras que aconteciam na unidade e que estava de rabo preso com o major Pires Paiva. Quando estavam pensando no que poderiam fazer com as prisões na referida unidade, uma reunião no serviço reservado fora convocada de última hora pelos coronéis Gutierrez e Adamastor, o tenente coronel Graça e os majores Delgado e Chaffic, esses dois últimos colegas de academia da major Mantovanni e da tenente Celina.
Todos os oficiais chegaram praticamente ao mesmo tempo. A capitã não queria ir, mas a major disse que ela também era uma oficial comandante e seria muito bom, pois assim, ela estaria a par de como funcionava uma reunião de alta cúpula militar, onde a patente mínima era a de capitão. Foi o coronel Gutierrez que começou a reunião.
-- Muito bem senhores, todos nós sabemos o motivo de estarmos aqui reunidos neste momento certo?
-- Sim coronel, responderam todos.
O coronel então deu sequencia à reunião que decidiria não só a vida do major Pires Paiva, mas do tenente coronel Cardoso também.
-- Major Mantovanni, o que a senhora tem de concreto em relação ao major e ao tenente coronel? Perguntou o coronel Adamastor.
-- Coronel o que eu tenho é o mesmo que vossa senhoria tem em mãos. A única coisa a mais que eu tenho contra o major, é a acusação de tramar o meu assassinato lá no regimento, utilizando um jovem oficial que acabou sendo morto infelizmente por minhas mãos. Agora contra o tenente coronel Cardoso as provas que pesam são a conivência das atitudes não só do major como de policiais da unidade e o estupro da tenente Celina, sendo que, o próprio Cardoso que era primo da vítima, participou.
-- Pois bem major, mas saiba que a sua acusação é muito séria.
-- Não sou eu coronel, são as provas e as atitudes. O senhor pode analisar se quiser!
-- Senhores, que tal uma pausa para o café e enquanto isso nós analisaremos as provas que a major nos passou.
A major Monteiro e o coronel Tavares ao ouvirem as declarações da major Mantovanni ficaram perplexos. A major então comentou com o colega:
-- Tavares, em mil anos eu jamais vou esquecer o que ouvi nessa sala. O Cardoso teve acara de pau de abusar da Celina? A Márcia vai acabar com ele e o pior é o coronel Vaz Amorim, ajudou tanto o sobrinho para o traste aprontar essa.
-- Olha Cláudia, eu não tenho medo do que possa acontecer. Eu tenho medo do que está se passando na cabeça da major Mantovanni e eu,conheço aquele olhar e você já viu aqueles olhos acinzentados quando ficam escuros, o que pode acontecer.
-- Eu também penso a mesma coisa coronel e como sei quando eles mudam a cor. Precisamos ficar alerta em relação a major e ao tenente coronel.
-- Mantovanni há quanto tempo não nos vê-mos!
-- Delgado seu rato de academia, por onde anda?
-- Eu trabalho juntamente com o coronel Adamastor, agora sou secretário da alta cúpula. Mas e você como está Márcia?
-- Eu estou bem major, me casei com a capitã Andressa, filha do major Pires Paiva.
-- Quer dizer que aquela linda moça que está ali conversando com o Tavares e a Monteiro é a subcomandante da cavalaria?
-- Ela mesma vem vou apresentá-la a você, mas não olhe muito!
-- Você pediu e eu atendo, já chega àquela vez que você me bateu por causa da Celina, meu maxilar dói até hoje.
-- Andressa meu amor, esse é o major Delgado um velho amigo da academia.
-- Muito prazer major, muito bom conhecê-lo.
-- O prazer é todo meu capitã Pires Paiva.
Enquanto todos conversavam, os oficiais retornaram para as considerações finais.
-- Bom major, nós analisamos as provas que nos deu e chegamos a conclusão que tanto o major Pires Paiva quanto o tenente coronel Cardoso devem ser imediatamente detidos e enviados sob forte escolta para o presídio militar e que isso, esteja nos autos do processo contra esses senhores.
A major deu um sorriso de satisfação mas percebeu uma certa tristeza na capitã. Aproximou-se dela e falou:
-- Está tudo bem amor?
-- Sim está anjo, respondeu.
Mas a major no fundo sabia que a capitã estava chateada e pensando nisso chamou o coronel Gutierrez e perguntou:
-- Coronel existe alguma maneira de diminuir as acusações sobre meu sogro, o major Pires Paiva?
-- Major Mantovanni a senhora sabe muito bem que isso não é indicado, mas perante o que eu percebi da situação, você está fazendo isso por causa da sua esposa a capitã Andressa, certo?
-- Sim coronel, mas é que sei lá, o senhor conhece toda a minha história, foi meu instrutor na academia e depois foi meu comandante quando eu ainda era simplesmente uma segundo tenente recém saída da escola de oficiais e é claro, que o senhor se lembra da Celina.
-- Sim eu me lembro bem da Celina, que flor de moça era aquela menina. Sorridente, cativante e muito prestativa. Você deu sorte quando se casou com ela major e agora, deu sorte novamente, por que a capitã é uma moça formidável e também muito cumpridora da obrigações militares.
-- É verdade coronel, mas o que o senhor acha do meu pedido.
O coronel olhou para a major e rindo disse:
-- O amor faz tudo não é, filha?
-- Ainda bem que entende coronel.
-- Mas você já falou com a sua esposa sobre isso?
Nesse instante a capitã chegou próximo aos dois e perguntou:
-- Falou sobre o que coronel?
-- Sobre seu pai Andressa.
-- O que tem meu pai major?
-- É que eu pedi ao coronel para aliviar a situação do seu pai perante a Corte Militar!
-- O que? Major Mantovanni, você não fez isso?
-- Fiz amor, é que eu achei que você ficou chateada pelas acusações que fiz ao seu pai que resolvi ajudá-lo.
Olhando seriamente para os dois oficiais, a capitã respondeu:
-- Coronel Gutierrez, faça o que deve ser feito. Se meu pai fez, ele tem de responder por seus crimes, sejam eles militares ou não. E isso, já havia sido conversado com a major.
E olhando para a major disse:
-- E quanto a você, lembre-se de que dentro daquele portão de madeira, você é a major Mantovanni, a comandante do Regimento de Cavalaria Nove de Julho e eu a subcomandante, não a filha do major André Pires Paiva. E quando saímos daquele mesmo regimento, não somos mais capitã e nem major. Somos Márcia e Andressa, um casal que se ama muito e que logo terá lindos filhos, entendeu MAJOR.
O coronel que até então somente escutara falou:
-- É Márcia, dessa vez você dançou.
-- Bom coronel, já que é assim, então será como resolvido na reunião.
E batendo continência, ambas se retiraram, pois, a reunião estava encerrada e agora a próxima etapa era prender o major e o tenente coronel. Depois de saírem da reunião, foram diretamente para casa, pois, estavam muito cansadas e o dia havia sido puxado.
Fim do capítulo
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