********** Há 2 Anos e 9 mês atrás **********

Corria desesperada pelas ruas em direção a casa dela, havia prometido a eu mesma que não faria isso, que não iria atrás dela, mas ao ouvir seu último recado simplesmente desabei, deixei de lado todos os muros que ergui com meu orgulho e fui ao seu encontro, corria como se minha vida dependesse disso, eu sabia que estava atrasada, que tinha demorado tempo demais para tomar aquela decisão, mais eu precisava encontrá-la, imploraria se fosse preciso, não podia perdê-la, estava sendo egoísta, mimada, infantil, mas quem cuidaria de mim? como eu seguiria sem meu maior alicerce? Então só me restou correr e pedir em pensamentos que desse tempo.

Já na esquina da sua casa vi o carro ligar, gritei desesperada para que ela me ouvisse, meus olhos cheios de lágrimas embaçavam minha visão me fazendo tropeçar diversas vezes e só se aliviaram quando a vi descer do carro, Camila também correu em minha direção me acolhendo em seus braços, me girando no ar com aquele sorriso tão conhecido que me trazia alegria, como eu poderia deixá-la ir? quem mais me daria aquele sorriso? quem mais me olharia como se eu fosse especial.

–Pensei que você não viria se despedir. -disse me apertando forte, derramando algumas lágrimas na curva do meu pescoço.

–Camila não vai, por favor, Mila eu... Eu preciso de você... O que vai ser de mim?...

–Karolina eu poderia ficar mais... Não dá...

–Você está sendo egoísta Camila, você não está pensando em mim...

–O tempo todo eu só pensei em você!

–Em mim? Em mim? Mentirosa, você disse que ia estar sempre comigo e agora vai me deixar...

–E o que você quer que eu faça Karol, eu vou estar com você mas... Eu preciso de um tempo longe... eu... eu preciso de um tempo só meu Karol.

–VOCÊ É IGUALZINHO A ANTONELA, DIZ QUE ME AMA MAIS TUDO O QUE FEZ FOI ME USAR. -gritei desesperada enquanto me afastava aos prantos.

–TALVEZ A ANTONELA ESTIVESSE CERTA, KAROLINA, VOCÊ É CRIANÇA DEMAIS, EGOÍSTA, MESQUINHA. -gritou de volta, ela respirou fundo me olhando com sofreguidão. -Me diz Karol, algum dia você me viu como sua namorada? como sua companheira? Ou o tempo inteiro eu fui só uma fuga dessa sua cismazinha patética com aquela imbecil.

–Quer saber, por mim você pode ir até pro inferno Camila, não precisa ficar, esquece tudo o que falei, pode ir pro inferno que eu não me importo com você. -limpei minhas lágrimas soltando sobre ela toda a amargura que estava sentindo.

–Eu te amo Karolina, mas eu suportei mais do que podia suportar, chega uma hora Karol que nós precisamos nos pôr em primeiro lugar e no momento eu preciso ficar longe de você. E acho que você deveria se pôr em primeiro lugar também.

–Ótimo.

E enquanto me virava e corria para longe dali, sentia seu olhar em minha pele me queimando, sentia a perda por não ser mais a luz daqueles olhos, naquele momento uma coisa ficou bem clara, Camila não ia mais voltar por mim, eu havia a perdido.

Horas e horas eu fiquei vagando por ruas desertas, me martirizando por ser tão idiota, já não sabia o que pensar, tudo parecia tão doloroso agora, ela não estaria mais lá quando eu precisasse desabafar, não afagaria meus cabelos e nem me abraçaria quando me sentisse sozinha e então novamente eu não tinha ninguém, e sentir falta dela doía e me irritava tanto, por que ela havia me conhecido como nenhuma outra, e mesmo assim mesmo sabendo que eu só me abria com ela teve a audácia de me deixar.

Um carro parou ao meu lado derrapando alguns centímetros ao frear, já sabia quem era antes mesmo dela falar.

–Entra Karolina.

–Eu quero ficar sozinha Giordana.

–Entra agora Karolina.

Respirei fundo decidindo que não brigaria com ela e entrei no carro sem dizer nada, ela acelerou, vez ou outra me olhava pelo canto do olho como se esperasse que eu fosse começar a falar, eu sabia que ela não perguntaria e ela sabia que eu precisava falar e essa era uma das coisas que mais passei a admirar em Giordana, ela não tinha pressa pra chegar aonde queria porque sabia que chegaria lá, talvez por isso ela um dia chegou a ter algo de Antonela, algo que mesmo eu cansada de saber e de tentar nunca teria.

–Camila foi embora.

–E foi por isso que você sumiu?

–Eu não sumi eu só... Não sei... Precisava de um tempo...

Ela encostou o carro soltando um longo suspiro, acariciou meu rosto com a costa da mão, deitei-me sobre seu colo e novamente comecei a chorar, mais uma vez ela nada disse apenas afagava meus cabelos carinhosamente como andara fazendo nos últimos dias, afastando de mim todas as frustrações por não ter Camila.

Giordana se tornara uma das poucas pessoas capazes de aguentar meus choramingos por Camila e agora mais uma vez me re-confortava em seus braços.

–Por que ela não quis ficar? -perguntei manhosa.

–Pela milésima vez, Camila precisa de um tempo pra ela, assim como você já precisou.

–Mais ela devia estar ao meu lado.

–Porque Karolina? Pra ela continuar te ouvindo dizer que ainda ama Antonela?

–Mais o que posso fazer se ainda a amo.

–Você só não percebeu que também ama Camila.

–Amo Camila?

–É Karolina, você a ama, mas eu e você sabemos que não vai admitir isso.

–Mas eu não...

–Um dia quem sabe você esteja pronta Karolina.

–Isso não faz sentido Giordana, eu sei que eu amo a Antonela.

–Eu sei que ama Karol, mais algumas vezes nós conseguimos amar mais de uma pessoa, isso não significa que esse amor seja duradouro, mas ainda é amor, e acredito que Camila esperou tempo demais pra você admitir isso...

Ela ligou novamente o carro tomando o rumo para minha casa, me distrai olhando os muros das casas e pensando em Camila e nos anos que ficamos juntas, cada momento, cada sorriso daquela loirinha, eu gostava dela isto não tinha como negar, mais dizer que um dia a amei... Me assustei quando o carro freou bruscamente.

–O que foi Giordana? -perguntei confusa esfregando a testa que bati contra o painel do carro.

–Antonela. -respondeu assustada.

–O que tem a Antonela?

–Ela está em frente à sua casa.

Giordana olhava de mim até a entrada da casa alguns metros à frente, ela ficou séria de repente como se pensasse no que fazer, dava pra ver no seu rosto que o que a ruiva mais queria era fugir dali.

–Giordana. -chamei.

–Eu to bem Karol, só que... É estranho.

–Eu vou falar com ela, a gente se vê amanhã. -eu vi nos olhos da ruiva que ela não estava bem, ela estava sendo uma boa amiga e eu devia ser também a poupando daquilo.

–É acho que é melhor, eu... Não sei... -ela me sorriu agradecendo quando desci do carro. -Me liga.

Fiz que sim com a cabeça e me virei em direção a minha casa, me sentia péssima, meu corpo estava exausto, eu não dormia bem há dias e meu coração estava aos pedaços e mesmo assim ainda era obrigada a caminhar em direção a ela, o estranho é que mesmo destruída eu não conseguia deixar de sorrir quando meu olhar encontrava com o dela.

Fim do capítulo