Parei para pensar em tudo que ela me falava, na sua forma de ver um relacionamento e por mais que soubesse que estava certa era difícil ter que concordar.
Camila fora a prova viva das palavras de Antonela, ela se dedicará a mim como amante, como amiga e por mais que dissesse que ela era livre, não era, e meu sentimento permanecia o mesmo, não mudava, não crescia e com o tempo tornou-se mesquinho demais, eu dependia dela todo o tempo, nunca havia percebido o quanto exigia dela.
Puxei seu rosto para mim tomando seus lábios em um beijo quente e feroz, me levantando em seguida a procura de minhas roupas.

–Aonde você vai Karolina? -me pergunta confusa.

–Você me fez ver que antes de começar uma vida a seu lado eu ainda tenho coisas a resolver.

–Devo esperar você voltar?

–Sempre.

–Então não demora.

Nos beijamos uma última vez em despedida...

********** Há 2 anos 11 meses e alguns dias atrás **********

Eu olhava para o pequeno cartão em minhas mãos o girando entre meus dedos esperando talvez algum sinal divino sobre o que fazer, me parecia tão irreal o beijo trocado com Giordana e ao mesmo tempo era tão difícil não pensar nele, que até mesmo minha respiração parecia pesada, como se algo compresa-se meu peito me fazendo lembrar da garotinha calada e sonhadora que era há alguns anos atrás, mas eu não era mais aquela garotinha.
Camila se remexeu ao meu lado abrindo os olhos lentamente, sorri sem graça quando seus lábios tocaram minha face pouco antes dela se sentar fazendo com que a coberta escorrega-se deixando a mostra seu colo nu.

–Você devia ligar pra ela Karolina.

–Não Mila... É só que...

–É a quinta vez essa semana que te vejo segurando esse cartão...

–Desculpa Mila, eu...

–Liga pra ela Karolina.

–Talvez eu ligue...

Camila mantinha um olhar sofrido sobre mim, o que me deixava ainda pior, e fazia tudo mais complicado, como eu queria dizer que a amava, mas sempre que tentava pronunciar aquelas três palavras eu travava, ou então elas me soavam tão falsas que nem mesmo um estranho acreditaria, a loira passou a mão sobre meu rosto em um leve carinho, sorrindo triste em seguida.

–Eu preciso te contar uma coisa Karolina. -soltou em um fio de voz.

–Mila...

–Eu fui chamada para trabalhar em um dos postos do SAMU.

–Que ótimo Mila fico tão feliz por você eu... -ela pegou na minha mão, me interrompendo.

–Não é na nossa cidade Karol...

–Mas...

–Eu... Já aceitei, começo no próximo mês.

–Não Camila você não pode, você não... -não senti quando as lágrimas começaram a cair, mas de repente notei que elas estavam lá, deslizando por meu rosto e inundando minha face, eu tinha vontade de gritar pra ela não ir, de dizer que precisava dela que a amava mais não tive coragem.

–Eu volto em um ano ou até menos, só vou ficar até poder me transferir pra cá.

–Promete que volta? 

–Você sabe a resposta.

Horas depois Camila foi embora me deixando sozinha sufocada com meus pensamentos, precisava de um escape, sai do meu quarto em direção à cozinha, peguei a primeira garrafa com teor alcoólico que vi na frente e enchi o copo, soltei um longo suspiro o encarando em uma conversa muda que há muito tempo nós não tínhamos me sentia triste como se novamente perdesse minha felicidade, dei as costas ao copo e sai o deixando intocado suspirando aliviada por resistir a tentação.
Passei os dedos rápidos pelas teclas do celular clamando por socorro, e ele não demorou a chegar, a ruiva parou rente à calçada onde a esperava, vi seu sorriso pela janela aberta do carro antes de dar a volta para entrar, quieta entrei quieta fiquei até ela estacionar frente à casa que um dia dividiu com Antonela.
Giordana pegou-me pelos braços me arrastando porta adentro até chegarmos ao terraço, ela me encarava daquele seu jeito intimidante, e eu me desesperava a cada segundo imaginando que era mais um momento que se ia antes dela começar a me interrogar ou que algo pior acontecesse.

–Sabe por que a Antonela ficou comigo? -ela tinha o olhar preso às estrelas do céu, enquanto o meu estava preso a ela. -Por que eu insisti, por que por mais que ela me dissesse não, não aceitava a possibilidade de ela e eu não darmos certo.

–Mas vocês não deram. -soltei em um quase sussurro.

–Nós demos sim, dividimos sonhos, conquistamos coisas juntas mas acabou, tudo tem um fim não seria diferente conosco, veja bem Karolina eu podia ter ido atrás dela, ter perdoado a traição ter tapado meus olhos e fingido acreditar que ela me amava, mais eu sempre soube que era uma mentira. -ela deu um sorriso singelo e virou para me encarar. -Às vezes Karolina por mais que seja difícil nós precisamos seguir...

–Aonde quer chegar com isso Giordana?

–Você nunca lutou por ela Karolina.

–Você acha que não?

–Não! Eu tenho certeza, você desiste fácil demais de tudo que quer, diz que não é mais a mesma garotinha só que continua com medo, até mesmo para seguir as suas próprias vontades.

–Eu não...

–Quantas vezes pensou em me ligar antes de mandar aquela mensagem?

–Algumas. -admiti sentindo meu rosto corar.

–E por que me mandou. -ao contrário do que eu esperava sua face não era acusadora, era como se esperasse uma confirmação.

–Eu precisava...

–Se distrair não é? Quando criança você viajava para a terra do nada, há alguns anos atrás seu consolo era a bebida e agora? Por que precisa de um escape? Porque precisa de mim? Antonela volta e você torna a fugir. -diz ela, esperando que eu demostra-se alguma reação ao ouvir aquele nome, mas ela não veio, eu só pensava em Camila.

–Não é Antonela. -a rosto confiante se perdeu por um breve momento. -Camila vai embora.

–Entendi, mas saiba que não quero o lugar dela.

–Eu sei...

–Então o que espera de mim?

–Eu não sei...

–Oras Karolina, pare de ser covarde nunca vai ter quem ama se continuar assim, eu só desisto quando não tem mais jeito, mais você porque é fraca demais para lutar pelo que quer, pare de esperar que a enfermeirinha esteja sempre disposta a sofrer com você nas suas batalhas, sinta ao menos uma vez felicidade por ela, não sei por qual motivo ela vai, mas se for importante para ela a apoie, cresça e deixe de ser tão mesquinha.

–É fácil para você...

–É difícil pra todos Karolina, mas nós é quem precisamos lidar com nossos problemas e não esperar que alguém faça isso.

–Acho que eu quero ir pra casa Giordana.
A ruiva então se aproximou de mim tocando brevemente seus lábios em minha testa, aquele gesto fez com que eu realmente me sentisse uma criança, ela entrelaçou nossos dedos os afagando com carinho, aquela foi a primeira vez que me senti bem estando com outra mulher que não fosse Camila ou a perfeição.

Fim do capítulo