–Por que sempre fugia de mim? -perguntei.

–Acho que você sabe a resposta.

–Sim, eu sei, mas gostaria que me explicasse.

–Karolina eu me descobri amando uma criança o que você acha que eu faria? E se fosse somente um capricho seu? Você era tão pequena, ainda uma criança, eu precisava ter certeza, me sentia na obrigação de te deixar crescer, de te deixar livre, não digo que não errei, somente eu sei como me doeu magoar você tantas vezes, ver no seu olhar que eu era a culpada por toda a dor, sempre soube que você me faria feliz, tive a certeza disso no momento que seus lábios tocaram os meus pela primeira vez, mas eu sempre fui covarde, eu nunca consegui lutar por nada que queria, eu tinha tanto medo...

–Eu também tinha medo...

–Eu desejei tanto, eu esperei tanto por você Karol, você se tornar mulher, você ser independente e me mostrar ser tudo aquilo que eu esperava quando me perdia no seu olhar, até agora é difícil me abrir com você. -seu olhar era triste e nele tive a certeza que ela falava a verdade. -Você percorreu um caminho tão longo até chegar a ser essa mulher que vejo hoje.

–Por que não foi você a ficar do meu lado nesse caminho?

–Por que o meu amor por você sempre falaria mais alto e eu nunca deixaria minha pequena Karolina crescer...

–Eu não entendo. -ela suspirou como se estivesse cansada, por um momento pensei que não me responderia mais soltando outro suspiro continuou.

–Sabe porque muitos relacionamentos fracassam?

–Por que as pessoas deixam de se amar?

–Não, isso muitas vezes é apenas uma consequência, um relacionamento fracassa por não evoluir, por que as pessoas estão em um grau diferente, muitas vezes precisamos crescer como pessoas para só então poder ter algo junto a outro alguém, se eu tivesse ficado ao seu lado, eu teria tomado todas as decisões, você viveria em função de mim, de me fazer feliz e nós não evoluiríamos como casal, um relacionamento é feito a dois, com as duas partes se doando e contribuindo para que os sentimentos cresçam, um amor onde um só cede está fadado ao fracasso, por mais que ele seja forte, ele deveria ser a união de duas almas, de corações e nosso amor não seria assim, porque você não saberia se impor como mulher e eu não conseguiria estipular limites, nossa relação giraria em torno de mim ou de você mais nunca das duas, e, mais cedo ou mais tarde se tornaria insuportável continuarmos juntas... Karol muitos foram os motivos pra eu fugir de você, eu sou fraca e admito, mais você era uma criança, eu poderia até ser presa, entenda.... Hoje você é uma mulher, uma linda mulher, e eu quero me completar com você, com suas qualidades e defeitos, respeitando sua opinião e me doando para você, assim como eu sei que se doará pra mim, antigamente eu não seria assim.

**************** 2 anos e 11 meses atrás ****************

Eu estava presa em meu mundo, sentada em uma mesa um pouco afastada naquele bar, me permitia vagar observando sem realmente observar as mesas que me cercavam, sinalizei pedindo mais uma limonada para o bartender, ele me sorriu se pondo a preparar meu suco, e eu voltei a flutuar pelas mesas, indo me refugiar em meu mundinho, tinha acabado de sair de uma reunião do AA (Alcoólicos Anônimos) depois de tudo meu pai me fez começar a frequentar essas reuniões e com o tempo acabei me acostumando.

Uma garçonete parou em minha frente depositando o copo, um segundo foi tudo o que precisei para que seu cheiro me atingisse, me vi atraída por ela, o cheiro era tão parecido, não era o mesmo, mais levemente me lembrava o da perfeição, sorri bobamente, fazia tempo que não me lembrava dela.

–Tanto tempo... -minha voz saiu em um sussurro tão baixo que seria impossível alguém ouvir, ainda mais dentro daquele bar, tomado por conversas e música ao vivo.

Parecia que tantos meses se passaram, tantos meses que eu só pertencia a Camila, eu era indiscutivelmente apaixonada por ela, mas era apenas isso, paixão, um dia ela acabaria e eu sabia que mesmo assim, quando eu olhasse para o lado a loira ainda estaria lá, sendo uma amante ou uma amiga.

Muitos não entendiam esse nosso relacionamento, nós nos pertencíamos, mais continuávamos livres, foi uma condição que exigi com o passar dos meses, que Camila não se visse presa a mim, que ela também buscasse o amor, por um momento me senti sozinha lembrando que minha loirinha estava longe de mim, fazendo plantão em algum hospital, suspirei preparando para me levantar e no mesmo instante minha cadeira foi empurrada por uma garota que passava, a segui com o olhar, ela parecia furiosa, procurei afastar aquilo não era de meu interesse, nesse mesmo instante um casal que tapava minha visão se moveu me mostrando a cena, a mesma garota estapeava o rosto de outra mulher, me espantei ao reconhecê-la, mais ainda pelo meu próximo pensamento.

Talvez fosse irracional, mas algo dentro de mim gritava por ajudá-la, e foi o que fiz, ao me aproximar os gritos da furiosa fizeram sentido entre um tapa e outro.

–VOU TE ENSINAR A ANDAR COM A MULHER DOS OUTROS.

Ela se preparava para um novo tapa quando intervi, segurei seu braço a empurrando para o lado e dois rapazes que estavam perto a seguraram.

–Chega! -gritei me pondo entre elas.

–EU VOU ACABAR COM ESSA BISCATE!!! -continuava a gritar.

–Você deveria estar resolvendo isso com tua mulher. -gritei para ela e de algum modo ela pareceu se controlar, mesmo me olhando com ódio, ajudei a outra a se levantar a abraçando pela cintura. -Você vem comigo.

Puxei-a em direção a saída sendo olhada por todos do bar, já longe daquele ambiente não pude deixar de rir, e me vi sendo acompanhada pela outra, gargalhávamos pela situação, era tão estranho estar ao lado dela daquele jeito, sem medo, sem me sentir acuada, aos poucos nosso riso foi morrendo meu olhar preso nos seus olhos verdes, uma avaliando a outra naquela conversa muda, ela foi vindo em minha direção selando seus lábios com os meus, eu não me senti desconfortável como pensei que sentiria, isso me assustou de início, mais o calor daquela pele, o gosto daquela boca o carinho proporcionado pelos braços da ruiva... Apenas me deixei conduzir por ela, e meu coração acelerou como só acontecia com Antonella, com Camila e me afastei ao lembrara da loira.

–Você não devia ter feito isso Giordana...

–Eu sei, mas me pareceu o certo. -deu de ombros segurando minha mão.

Me levou até seu carro abrindo a porta, entrei calada e assim fiquei boa parte do caminho, mas ao contrário de todas as outras vezes que me lembrava de estar na presença dela eu não me sentia intimidada, era agradável tê-la por perto e novamente senti medo por isso, Giordana pigarreou ganhando minha atenção.

–Obrigada.

–Pelo quê? -eu estava confusa.

–Por me socorrer da maluca.

–Pelo que entendi você deu em cima da mulher dela. -falei séria.

–Na verdade... foi ela quem me procurou...

–Sei...

Senti uma pontada incomoda ao saber disso, não pode ser ciúmes, ignorei me pondo a observá-la, continuava linda uma mulher feita, bem vestida e elegante, com um ar misterioso que me puxava para ele de um jeito assustador, tão diferente de mim uma completa adolescente de jeans e camiseta, mas esse ar de mulher séria me atraia.

–Como tem passado? -perguntei.

–Bem, segui minha vida depois de tudo... -a tristeza tomou seu olhar por um momento.

–Desculpe.

–Não se desculpe, eu sempre soube que aquela relação não teria futuro, mas preferi me enganar. -ela refletiu por algum tempo antes de continuar. -Em três anos com ela eu nunca tive o mesmo brilho do olhar dela como você teve naquela tarde.

–Desculpe. -pedi novamente.

–Vocês estão juntas?

–Não, Antonela foi embora dois dias depois. -suspiramos juntas. -podemos trocar de assunto?

–O que mais nos une além de ter amado a mesma mulher?

–O fato de eu ter sido sua heroína.

Giordana riu.

–Claro, com esse seu tamanho todo.

–Ei não abusa. -nova risada.

–Você vai para sua casa? -me perguntou trocando de assunto.

–Vou.

Sem dizer mais nada ela acelerou seguindo agora uma direção de verdade, e eu me vi em outra, uma direção que me levava direto a querer conhecer aquela mulher, atordoada, confusa, com medo, era como me sentia quando ela parou o carro em minha porta, ficamos a nos olhar, aqueles olhos me chamavam e eu fui para eles, fui para ela me perdendo em seus lábios e me alimentando com sua saliva, perdida era o que eu estava naquele momento, perdida e completamente encantada por Giordana, desci do carro sem dizer uma palavra e antes que chegasse ao portão a mão dela me impediu, não dissemos nada, me estendeu um cartão com seu número e me roubou um último beijo antes de partir, ainda zonza com tudo aquilo entrei em casa me atirando em seguida sobre o sofá, por que diabos eu fui ajudá-la? O que foi que aconteceu? Só pode ter sido a limonada...

Fim do capítulo