Da internação: Ana e Priscila
São Paulo, 03 de dezembro de 2015. 09h15min
Não tenho amigos.
Os que eu tinha se afastaram ou eu os afastei.
É muito triste caminhar assim. Às vezes, sinto falta de que perguntem como eu estou.
Durante a internação, recebi visitas apenas da família. Grande parte dos meus amigos nem sabia que eu estava internada e muitos não sabem que estou doente.
Priscila foi a primeira pessoa que eu conheci no Hospital Vila Celeste.
Fui colocada no leito ao lado do dela.
“Então... O que você fez pra parar aqui?”, foi a primeira pergunta dela e eu não sabia, mas logo seria a primeira pergunta que eu também faria para quem chegasse.
O que eu fiz pra parar ali?
“Eu misturei uns comprimidos de carbamazepina, sertraliza e clonazepam. Mas aí me apavorei, sabe, quando comecei a sentir os efeitos e fui logo pra um hospital perto da minha casa. Me mandaram pra cá.” Priscila continuou falando.
Me trouxeram medicação. Meus olhos estavam pesados das lágrimas.
De repente, me vi falando: “Não faço ideia de como cheguei aqui. Vim sozinha. Ia... Ia me matar, sabe.”
Eu não sabia, mas ficaria muitas outras madrugadas acordada ouvindo suas histórias. “Tina, amiga!!!” e começava alguma gracinha.
“Pri, você é louca!”, eu dizia. Ao que ela suspirava e respondia “Olha onde a gente tá... O que você esperava?”
Ela saiu do hospital e foi embora para Goiás. Às vezes, nas noites insones, sinto falta das palhaçadas da Priscila.
A outra moça que dividia o quarto com a gente se chamava Ana. Alta, linda, dona da voz mais suave do mundo.
Foi parar ali porque era muito sozinha. Preferiu morrer a viver assim.
Como nós, os suicídas, temos azar, o ônibus na frente do qual ela jogou o carro conseguiu desviar.
Ana continuou viva.
Todas nós continuamos.
Fim do capítulo
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Marianna P
Em: 24/02/2016
Sou psicóloga e vislumbro a depressão o tempo inteiro no meu trabalho. Ainda estou no começo, mas estou curtindo bastante. Consigo sentir o que a Betina sente, sua narrativa é muito boa.
Resposta do autor em 24/02/2016:
Resposta do autor em 24/02/2016:
Resposta do autor em 12/03/2016:
Pensei que minhas respostas tinham aparecido. rs
Lá vou eu de novo: caramba, uma psicóloga acompanhando meus escritos... Que medo de escrever qualquer coisa errada (já que não tenho nenhuma formação médica)!
Me dê um toque, por favor, se eu vacilar em algum momento!!
E obrigada pelo feedback! :D
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