Apresentação
São Paulo, 02 de dezembro de 2015. 17h30min.
Eu não sei direito como tudo começou. Só sei que a ideia de um diário agradou bastante ao meu analista.
Me chamo Betina e tenho 25 anos.
Sofro de depressão desde os treze anos, mas há dois a vida se tornou por demais insuportável.
Eu vou te poupar dos detalhes. Você não precisa de tanta morbidez.
Juro que procurei outras saídas, eu avaliei todas as opções e nada me pareceu mais sedutor que o nada depois da vida.
Tentei me matar. Falhei.
Uma internação psiquiátrica marca os internos e o mundo ao seu redor. Nós, internos, aprendemos muito e desmistificamos a loucura. A loucura é tão normal que assusta... E é por isso que o mundo ao nosso redor se choca.
“Como assim, a Betina tá num hospício?”
Nós somos professoras, bancárias, a recepcionista do seu dentista. Somos o caixa do supermercado e o auxiliar de limpeza da sua faculdade.
Por favor, seja gentil!
Existem aqueles que mergulham na loucura e deixam que ela domine seu mundo.
Existem os outros, os como eu, que oscilam entre esse mundo e o da insanidade.
Eu tenho meus momentos de lucidez.
É quando olho para a minha vida e percebo o que fiz com ela... O que me tornei. Nessas horas, tenho força para mudar tudo, tenho coragem para resolver meus problemas e ajeitar minha vida.
Pouco tempo depois, louca, olho para tudo e rio. O que eu posso fazer?
O diagnóstico me prende. Não por mim, porque eu não me importo com ele.
Mas se fico emocionada, se fico alegre, se fico triste: louca, diz a família.
"Coitada da Betina!"
Agora estou louca. Agora estou lúcida. Agora estou louca. Agora estou lúcida. Louca. Lúcida. Louca. Lúcida. Louca. Lúcida. Louca. Louca. Louca. Louca.
Pode rir. Eu também rio!
A gente não pode se levar tão a sério.
A loucura me abriu muitas portas.
Deixei de ser a Betina, estudante daquela conceituada universidade, mas tenho toda a liberdade de ser a Betina que eu quiser.
Posso decidir pular de paraquedas, fazer artesanato, aprender a dançar valsa, fazer amizade com o porteiro do prédio da minha mãe.
Vão dizer: “louca!” e vida que segue.
Mas não se iluda. O mundo dos insanos é muito triste. Pesado. Escuro.
Pode ser ligeiramente engraçado. 10% engraçado.
Tente viver com os 90% restantes.
Eu tenho uma companheira e meu casamento está desmoronando.
Imagino que não deva ser fácil para ela chegar em casa sem nunca saber o que a espera. (Louca ou sã?)
Ela é uma boa companheira, cuida de mim, mas está cansada.
Você também estaria, acredite em mim.
É hora do meu remédio, preciso ir.
Fim do capítulo
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Carol The M
Em: 07/01/2016
Este é um romance que eu acompanho com muito interesse. Curiosa para saber como ela sairá desse ciclo depressivo e autodestrutivo. É inspirado em alguém?
Resposta do autor em 10/01/2016:
É sim. Conheço "Betina" já há algum tempo... Todas as personagens são inspiradas em pessoas reais. Algumas situações são inventadas por mim, mas grande parte são baseadas em histórias que ouvi da nossa personagem principal.
Espero que esteja gostando!
olivia
Em: 06/12/2015
Eu não ia ler essa história,por que achei a sinopse muito dolorosa,mas hoje resolve me aventurar e por incrivel que pareça entrar no mundo da Betina. Voce é ótima!parabéns!!!!!!!!!!!!!!Bjs
Resposta do autor em 06/12/2015:
Obrigada por ter-nos dado essa chance! Sei que a sinopse pareceu um pouco mórbida, até tive medo de postar por achar que não leriam. Obrigada pelo feedback! Grande abraço!
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Carol The M
Em: 04/12/2015
Ah, se as pessoas soubessem como é tão fácil ser taxada de louca... basta fazer o que os outros não querem. E isso não é um clichê revoltado, apenas a constatação de que, enquanto para a loucura de alguns se faz vista grossa porque, de alguma maneira, o "louco" atende vários interesses escusos, para a loucura "não lucrativa" de outros há sempre o estigma, a condenação. Por favor, vá em frente, não pare com esta história! ^^
Resposta do autor em 06/12/2015:
Querida, você não sabe como fico feliz com seu comentário. Obrigada pela acolhida, pretendo levar a história até o fim. Grande abraço!
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Mari
Em: 03/12/2015
Estão começando a aparecer histórias com enredos diferentes por aqui e isso é ótimo, embora cause um certo impacto saber que a obra é baseada em fatos reais. Ainda não conheço muito sobre Betina, mas uma amiga minha foi internada há algum tempo e de repente me vi nesse universo. Esse tipo de situação gera um sentimento de impotência e tristeza proporcional ao carinho que se sente por quem está nessa condição. Por mais atenção e amor que se tem, você percebe que não é suficiente, que a guerra travada com a loucura, infelizmente parece ser solitária.
Resposta do autor em 03/12/2015:
Fico feliz que tenha gostado! Tive um pouco de medo de que achassem a história muito mórbida.
Mas, ao mesmo tempo, senti que devia contá-la... Tive permissão das pessoas que estou citando e mudei apenas os nomes para segurança (mesmo que tenham dito que não precisava mudar nem isso).
Depois de conhecer o assunto mais de perto, a gente passa a pensar que a diferença entre os loucos e os sãos é que a loucura dos primeiros é declarada.
Gratidão pelo seu comentário. Sinta-se abraçada!
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Ana_Clara
Em: 02/12/2015
Betina louca, adorei! Essa é uma loucura que contagia e ao mesmo tempo traz uma melancolia grande. Vai entender!
Resposta do autor em 02/12/2015:
É exatamente assim que a Betina vive: transitando entre a loucura contagiante e a loucura melancólica! Sendo sincera, são poucas as vezes em que ela está lúcida. Por que, afinal, o que é a lucidez?
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