CapÃtulo 3 Ações e reações
Malvina continuou sentada na cama, apesar da pouca luz eu conseguia vê-la nitidamente, e o que via nos seus olhos, nas suas feições, me incomodaram, era como se ela tentasse...desvendar-me?
Fiquei ali, feito um animal acuado no canto da cama, com uma imensa vontade de chorar novamente, já que sua presença trouxera as lembranças das humilhações sofrida a pouco. Não conseguia falar, não conseguia me mover, apenas a observei, esperando sua reação, ou sua "explosão".
No entanto, o que veio em seguida surtiu efeito, não sei dizer se fora um bom ou um mal efeito, mas a forma como ela aproximou-se de mim, tocando levemente meu rosto com a ponta dos dedos, fez com que todos os músculos do meu corpo retesassem, e um arrepio vigoroso se apoderasse de mim, não passando despercebido por minha senhora.
--Eu...eu não queria dizer aquilo...
Fechei os olhos, não consegui sustentar o olhar, já que o seu era intenso, me constrangia, me desnudava a alma. Involuntariamente, algumas lágrimas desceram pelo meu rosto, lembrei de meu senhor, lembrei dela, lembrei de minha mãe...estava confusa, e definitivamente frágil.
Percebi que ela levantou-se da cama, acreditei que deixaria o quarto mas estava enganada, ela deu a volta na cama, para poder ficar mais próxima de mim, senti seu corpo colando no meu, no instante que ela sentou-se as minhas costas, puxando meu corpo para que me deitasse no seu peito. Mais uma vez estremeci, temia aquele contato, se o senhor Leôncio havia tido aquela reação pelo simples fato de ter me sentado em sua cama, imagina o que ele faria se soubesse que me deitei no colo de sua esposa.
Aquela constatação inquietou-me, tentei desvencilhar-me de seus braços, que naquele momento rodeavam meu corpo, prendendo-me a ela.
--Shiii...não vou te fazer mal...
Aquela voz rouca e ao mesmo tempo doce me acalmou, por instantes me deixei esquecer tudo que havia fora daqueles aposentos, e me permiti aquele contato, aquele carinho tão...tão...diferente.
Um de seus braços permanecia ao redor do meu corpo, enquanto sua mão livre acariciava meus cabelos, aquela situação parecia surreal, mas não quis pensar naquilo, não naquele momento.
--Me desculpe...eu fui...eu fui desagradável, preconceituosa, não é do meu feitio. Não penso daquela forma, falei aquelas coisas no calor do momento.
Mantive-me em silêncio, apenas ouvindo.
--Meu marido...é um homem de personalidade forte, pulso firme, um tanto...retrógado. Tem visão limitada...temperamento forte, definitivamente é um homem difícil.
É um monstro, racista, preconceituoso, ignorante, sem educação, aquilo não poderia ter saído da minha antiga senhora, ela era uma mulher e tanto.
--Não permitirei que ele te trate daquela forma novamente...aliás, ninguém vai te maltratar outra vez. Eu prometo!
Senti um beijo terno ser depositado sobre meus cabelos, para em seguida ela se levantar deixando com uma sensação de...vazio?
--Boa noite Isaura!
A porta se fechou, a luz se foi, e eu senti frio. Mais uma vez deitei cobrindo-me, me encolhi em um quanto qualquer da cama, com medo do que estaria por vir com a chegada dos novos senhores a fazenda.
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Levantei cedo no dia seguinte, precisava ajudar Ana em qualquer tarefa que ela precisasse, e ainda tinha que ficar apostos caso minha senhora requisitasse minha presença, afinal eu era sua dama.
O café da manhã fora rápido, pois deveríamos estar todos trabalhado quando os senhores despertassem, era assim à muitas gerações.
--Bom dia Isaura!
--Bom dia Belchior!
Sorri ao ver o jardineiro entrando na cozinha, onde naquele momento ajudava Jurema a preparar o café da manhã dos novos senhores. Belchior também sorrindo, aproximou-se de mim calmamente.
--O cisco nos olhos não mais incomodaram querida?
Sorri, interrompendo o contato de nossos olhos, Belchior era um homem sensível, sempre adivinhava quando algo não ia bem, mas naquele momento não queria falar com ninguém sobre o ocorrido.
--Não! Não mais incomodaram...
--Isaura? Temos que ir, sua senhora pode precisar de você.
--Sim! Estou indo Ana...até mais Belchior.
Agradeci mentalmente a Ana, por ter tirado -me daquela situação, no mínimo desconfortável, com Belchior.
Jurema e eu pusemos a mesa para o café da manhã dos senhores, ambas continuamos apostas próximas a mesa, assim como Ana. Leôncio fora o primeiro a chegar até a mesa, ignorando completamente o "bom dia", dado em uníssono. Minhas mãos suavam, alguns arrepios esporádicos balançavam meu corpo, não sabia se era nervosismo pela presença de meu senhor extremamente desagradável, ou a chegada iminente de minha senhora.
Portanto, minhas dúvidas, inseguranças e nervosismo, foram esclarecidas no exato momento em que minha senhora Malvina, adentrou na sala de jantar, esbanjando elegância, beleza, e sensualidade...sensualidade?
Balancei a cabeça tentando dissipar, a dúvida que pairou sobre meus pensamentos no momento que reparei no balançado dos quadris de minha senhora, aquilo fora pecaminoso no mínimo.
Malvina cumprimentou a todos, sentando-se logo em seguida ao lado do marido, sendo prontamente servida por Jurema. Fiquei ali de cabeça baixa, ainda que de soslaio procurasse vê-la, já não lembrava da humilhação sofrida na noite anterior por parte do senhor Leôncio, e nem mesmo por parte dela, até porque sua visita em meu quarto, perturbava-me num grau muito mais alto.
O café fora rápido, senhor Leôncio em momento algum dirigiu a palavra a esposa, tampouco aos serviçais. A senhora Malvina, apesar de ter se demorado um pouco mais na mesa, também manteve-se em silêncio, até o momento em que seu marido informou-a de que iria até a cidade, e não tinha hora pra voltar.
--Isaura?
Arrepiei-me, estremeci, engoli em seco ao ouvir meu nome, sendo pronunciado por aquela voz baixa e rouca, e mais ainda ao vê-la procurar-me com os olhos, que eram de um verde magnífico.
--Si...sim senhora.
Dei um passo a frente, ficando completamente "exposta" aos seus olhos. Ela sorriu levemente, apenas um sorriso de canto, mas ainda assim era um sorriso, que a deixara ainda mais linda que era. Mais uma vez recriminei meus próprios pensamentos, apertando o maxilar como se isso fosse me impedir de ter aqueles devaneios absurdos.
--Gostaria de conhecer a fazenda, toda a extensão da propriedade...assim como ontem que me mostrastes o casarão, gostaria que me levasse pra dar um passei...por ai.
--Sim se...senhora.
--Ótimo.
Mais uma vez ela sorriu, só que dessa vez fora um sorriso de verdade, daqueles que expõem todos os "dentes da boca", daqueles que "iluminam" quarteirões. Senti a face queimar, certamente estava rubra pelo constrangimento passado, mas afinal, qual era o motivo do constrangimento mesmo?
--Bom dia!
Meus pensamentos foram interrompidas pela entrada abrupta do senhor Henrique, eu sequer lembrava de sua presença na casa grande, ou seria de sua existência?
Henrique beijou carinhosamente o topo da cabeça da irmã, sentando-se ao seu lado logo em seguida.
--E então?! Gostou de sua nova casa irmã?
--Sim, a casa eu simplesmente amei, mais gostaria de conhecer o resto da propriedade, falava sobre isso nesse exato momento...Isaura me acompanhará em um passeio.
Os olhos do senhor Henrique, tão verdes quanto os de Malvina, "caíram" pela primeira vez naquele dia, em cima de mim, fazendo com que pela segunda vez naquela manhã, minhas faces ardessem de constrangimento.
--Ow que pena...não poderei acompanhar as damas mais belas de Campos de Goitacases no passeio, prometi a Leôncio que o acompanharia até a cidade, para que conhecêssemos a mesma, já que é a minha primeira vez por aqui e Leôncio fora embora à muitos anos.
--Acho que perdestes a companhia irmão...Leôncio acabou de sair para a cidade, dormistes muito.
--Ow...realmente. Ele deveria ter me esperado, já que fora um convite dele.
--Você é quem deveria ter acordado cedo Henrique!
--Hunf...pelo menos poderei acompanhá-las no passeio.
Mais uma vez senti o peso do seu olhar sobre mim, no entanto, o de Malvina fora ainda mais intenso, havia um "Q" de irritação, ou seria desconforto?
--Acho melhor você ir ao encontro de Leôncio irmão, ele não deve estar satisfeito com sua irresponsabilidade.
--Será?
--Certamente. Terá outras oportunidades para passear pela fazenda...
--Tens razão...Leôncio não irá se agradar se não for...bom...até mais tarde senhoras.
Logo após fazer um gesto galante com o chapéu, Henrique apanhou uma maçã sobre a mesa, e deixou a casa grande rumo a cidade. Malvina lançou-me um olhar inquisidor, o qual não entendi minimamente, pronunciando logo em seguida.
--Vou vestir algo mais agradável para o passeio, aguarde-me na varanda.
Assenti um tanto receosa com o que estaria por vir, e o que veio, definitivamente me surpreendeu.
Fim do capítulo
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Comentários para 3 - CapÃtulo 3 Ações e reações :
Resposta do autor em 20/12/2015: Acho que você teve a tal "ADP" né? Kkkkkk
Resposta do autor em 02/12/2015: kkkk sua linda, pra postar eu precisaria escrever, e pra escrever eu precisaria de tempo, uma coisa difÃcil pra mim 😔 Mas prometo me esforçar ok?
Resposta do autor em 02/12/2015: Feliz que tenha gostado 😊
DaenerysTargaryen
Em: 03/12/2015
mulher , demora assim nao vou ter um ADP aqui volta logo eu amo seu conto
Resposta do autor em 20/12/2015: Acho que você teve a tal "ADP" né? Kkkkkk
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silva
Em: 02/12/2015
Adorei, esperando os próximos capítulos ... Não demore tanto para postar a história, já estou ansiosa desde já.
Obs: Só acho que deveria postar mais uns capítulos para recompensar toda a espera ... haha
Resposta do autor em 02/12/2015: kkkk sua linda, pra postar eu precisaria escrever, e pra escrever eu precisaria de tempo, uma coisa difÃcil pra mim 😔 Mas prometo me esforçar ok?
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histrionica
Em: 02/12/2015
Adoro histórias de época... Estou ansiosa pelo próximo capítulo!
Resposta do autor em 02/12/2015: Feliz que tenha gostado 😊
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