*********** 3 anos 10 meses e alguns dias***********

Quem era a estranha no espelho? Quem era aquela estranha que me olhava? Seus olhos eram banhados por tristeza, tristeza essa que só eu via, tristeza mascarada pelo tempo, tristeza encoberta pela dor.
Por que só eu sabia o quanto ela sofria, o quanto doía na sua alma.
Deixei um longo suspiro escapar, ainda me olhando, forcei meus lábios a se abrirem em um sorriso, continuei a encarar o reflexo até me convencer que aquele sorriso era sincero.

–Posso entrar -Camila colocou a cabeça para dentro de minha porta, vi meu sorriso se tornar verdadeiro, e mentalmente me perguntei o que estava acontecendo comigo. -Você não viu a minha namorada por aqui?

–Acho que não... -respondi séria e logo depois sorrindo com a cara que a loirinha havia feito. -Como a sua namorada é?

–Ela é linda, deve ter 1,55 m, morena, tem um sorriso encantador e um olhar meio triste. -respondeu ela entrando no quarto. -Mas acho que ela não está aqui...

–E ela sabe? -perguntei me aproximando.

–Sabe do que?

–Sobre nós.

–Desculpa gatinha, mais eu amo a minha pequena, você não tem a menor chance!

–Veremos...

Avancei sobre seus lábios, Camila resistiu no começo mais aos poucos se entregou ao meu beijo, devorava sua boca, seu pescoço, seu corpo, a arrastei em direção a cama, já estava levantando sua blusa quando ela me parou.

–Melhor não minha linda.

–Por que? -perguntei fazendo o contorno de seus lábios com a ponta da minha língua.

–Já estamos atrasadas e eu prometi ao seu Pai que te levava para o tal almoço.

–Tudo bem...

Saímos abraçadas de minha casa, era reconfortante ter Camila, estar com ela, ser amada por ela, seu beijo me enfeitiçava e entre seus braços a dor sempre presente me deixava, não era amor, o meu amor era de outra, mais o que sentia por aquela loirinha era o suficiente para me deixar completa.
Todo o caminho até a casa de Tia Ceci foi feito em silêncio, eu iria vê-la, como será que ela está?
Respirei fundo ao descer do carro, minha Camila apenas me olhava, via preocupação em seus olhos, ela sabia que algo estava errado comigo, mas apenas segurou em minha mão e no seu sorriso eu vi a coragem que precisava para passar por aquilo.
Foi minha mãe quem abriu a porta para nós, ela abraçou a minha loirinha a puxando para dentro da casa, eu apenas as seguia, fomos direto para sala onde meus primos revezavam no videogame.

–Oi Karol. -Júlio veio em minha direção todo feliz.

–Oi seu gordo. -o apertei em meus braços. -Oi seus manés.

–Karol. -respondeu em cumprimento Kaike, Marcos apenas me acenou com a cabeça. -Quem é a gatinha?

–Essa é a Camila mi...

Antonela surgiu na sala roubando minha atenção, busquei o seu olhar,mergulhando em direção a sua alma, meu coração, meu corpo, minha vida, tudo em mim reagiu aquele sorriso, tudo em mim pediu por ela, ficamos apenas nos olhando, saudade, mágoa, dor, amor, era isso que emanava dela, Antonela ainda me amava e não foi preciso dizer nada para que eu soubesse aonde era o meu lugar, entre seus braços que me apertavam, entre seus lábios que estavam longe, entre seu corpo que não me pertencia, ela não me pertencia, me afastei de seus carinhos, indo me refugiar nos braços da única capaz de afastar aquela dor.
Camila me entendeu apenas com o olhar, me apertou com força e eu deixei-a tomar conta da situação, Antonela parecia intrigada com a posição que a loira tomava e meus primos também demostravam interesse.

–E você é? -a perfeição pareceu entender, muito antes dos outros sequer cogitarem a ideia, então abandonou aquele sorriso olhando seria para a outra.
        –Camila, a namorada da Karolina.

Tudo o que vi foi um olhar sofrido de minha amada antes dela sair da sala, minha mãe então interferiu nos chamando para o quintal "-Eu não vou sair do seu lado." Foi o que minha loirinha sussurrou enquanto descíamos em direção ao resto da família que bebia e conversava amenidades.

–Meu deus pequena você não cresceu nada desde a última vez que te vi. -Giordana se aproximou de mim, seu olhar antes intimidador, agora apenas me parecia malicioso, percorrendo meu corpo e em seguida o de minha namorada. -Então essa é a sua garota Karolzinha?

–Camila. -apresentei a contragosto.

–Giordana. -a ruiva se pronunciou. -É um prazer conhecê-la, sou a esposa da Antonela.

–Ah claro, já ouvi falar de você. -Camila disse com desdém dando as costas a outra.

O silêncio que se seguiu foi triste, pesado, me afastei de Giordana, indo em direção a mesa, comíamos, riamos, brincávamos, mais uma vez eu interagia com a família na nossa encenação perfeita, mas dessa vez não foi a perfeição quem se refugiou na varanda, a loira que lá estava parecia perdida em pensamento, o entardecer já se tornava noite e mesmo a olhando do quintal, mesmo longe eu sabia que ela me esperava, discretamente subi ao seu encontro, rapidamente prendi seu corpo contra a mureta e comecei a lhe dar beijos pelo pescoço.

–Obrigada Camila.
         –Tá tudo bem, sinceramente eu pensei que seria pior.

Ela virou de frente para mim, meus lábios chamaram pelos seus, e meu corpo a desejou, sem pensar duas vezes a devorei com minha boca.
   Gemidos abafados tomaram conta do local, apertos, arranhões, mordidas, eu a queria, desci por seu pescoço, puxando seu vestido um pouco para baixo suguei os seus seios, brincando com a ponta da língua, arranhando as suas costas, as suas coxas, continuei a descer com meus beijos, levantei o seu vestido, mergulhei no seu prazer, intercalando os meus movimentos, entre ch*padas, estocadas , mordidas, cada vez mais fundo, rápido e fraco, devagar e com força, o corpo dela rebol*va em minha boca, buscando o aumento de prazer e eu saciei a sua vontade, acelerei o ritmo, aumentei a força, suguei com vontade, até ser presenteada com seu gozo.

–Mas o que...

A porta da varanda foi aberta, Antonela passou por ela me fuzilando com o olhar, era uma mistura de ódio, de dor, de perda, demorou um pouco para que meu cérebro processa-se toda a cena que se seguiu, Camila se escondeu atrás de mim tentando se recompor, Antonela avançou para cima dela.

–Sai daqui. -falou a puxando pelo braço, indo em direção a porta. -Sai agora garota antes que eu quebre a sua cara.

      –Eu só saio se a Karolina quiser. -a loira se desvencilhou das mãos da outra e se pôs em minha frente a fim de me proteger.

      –Eu não vou falar de novo sua vadiazinha, sai antes que eu perca a pouca paciência e te parta a fuça, sai que o meu negócio é com a Karolina.

    Enfim a consciência do que acontecia me atingiu, abracei Camila a virando, nossos olhos se encontraram, ela estava preocupada, afaguei sua mão a re-confortando.

–Pode ir Mila, já eu desço.

A loira fez questão de me beijar antes de desaparecer pela porta, eu não a olhava, me sentia incomodada, porque ela, porque sempre ela, de tantas pessoas naquela casa tinha que ser justamente Antonela a abrir aquela porta?

–Eu não acredito que você estava fazendo isso Karolina. -era, decepção que surgia em seu rosto.

–E o que eu estava fazendo Antonela? Seguindo minha vida? Sendo feliz? Não era isso que você queria?

–Não, não era Karolina, não era ver você com a língua dentro da vagin* de uma puta qualquer o que eu queria...

–Não fala assim dela, e quanto a minha língua eu a coloco aonde bem entender!

–O que aconteceu com a Karolina que eu deixei anos atrás?

–Você quer mesmo sabe Antonela? Quer ver como ficou aquela Karolina? Eu faço questão de te mostrar!

Sem esperar resposta voltei a entrar na casa, passei pela sala indo em direção ao quarto de Marcos recolhendo munição eu sabia onde ele guardava suas coisas, fui direto para o banheiro, uma carreira era tudo que precisava, cocaína, em seguida álcool, bebi, cheirei, trancada entre as paredes daquele lavatório, só sai de lá quando meu pai ameaçou derrubar a porta, amparada pelas paredes, guiada pela loucura, cheguei até o quintal, todos me olhavam assustados, sem pensar muito eu subi na mesa.

–Essa sou eu, e eu to bêbada, calma que eu só tenho algumas coisinhas pra dizer, primeiro família, minha família perfeita, perfeita aff, sabe o que todos dizem né? Uma família para ser perfeita tem que ter de tudo, temos o nosso inocente, Julinho seu gordo tô falando de você, seguido do nosso Playboy, é Kaike seu egoísta de merd*, você só olha pro seu próprio umbigo, tem vergonha de falar da gente pros seus amiguinhos bacanas, sé um otário!

–Cala a boca Karolina.

–Calma mamãe vai chegar a sua vez... Mas primeiro a prima Rika, o capacho da família, ta pra nascer alguém tão sem opinião igual a você...

–Se continuar a falar da minha mulher...

–Olha só se não é o Renato... Ninguém aqui gosta de você seu machista de merd*... Mandou a enteada pro exterior só porque ela assumiu ser lésbica, vive proibindo minha prima de se divertir, acha que força é solução pra tudo, vai a merd* seu nojento! 
"E você é você mesma tia Ceci, fica ai pagando de bacana, todo mundo sabe que a senhora ta falida."

–Karolina!

-Calma mamãe... Agora é a sua vez! A senhora vive sendo santa, acha que tudo que os outros fazem é errado, vive olhando para vida dos outros e não vê a sua ou vê? A senhora é uma hipócrita e nossa família uma farsa.

–Menina desce daí ou vou te pôr de castigo!

–De castigo papai? Não é o senhor que diz que devemos falar a verdade? Ah esqueci o senhor é um puta mentiroso!

–Do que está falando menina?

–Quantas vezes comeu a secretaria essa semana Papai? Diz que tá trabalhando e fica fudendo com ela no consultório, você e mamãe sustentam esse casamento só de fachada que eu sei.

–Pare com essas mentiras Karol.

–Eu? Mentindo? Sou a única que está sendo sincera aqui, você trai minha mãe com ela, todo mundo sabe, agora se está se perguntando como eu sei te respondo, ela é mesmo uma vagabunda, isso ai, eu comi ela também, mais a pergunta é... Quem não comeu a piranha da Eliza? Não é mesmo Marcos? Aproveitando que falei com você, por que não cria vergonha na cara e se interna de uma vez? Você é drogado todo mundo já sabe, quem sabe eu não me interno também a propósito sua cocaína acabou viu?

–E você é perfeita Karolina? –perguntou Giordana.

–Não, não e não eu sou a puta! Espera ai olha só quem se pronunciou agora...

–Karol cala a boca e desce daí. –mandou Antonela.

–Olha só vamos completar a família meu amor, todo mundo sabe que em uma família tem que ter um homossexual... E com vocês a nossa querida Antonela!

–Karol desce.

–Por que Nela? Tá com medo de que? Você não me perguntou o que tinha acontecido com a Karol de anos atrás? Aqui estou eu, foi assim que fiquei... você achava tudo isso uma hipocrisia... vamos esclarecer as coisas então... você é a maior cadela do universo, por que não conta o motivo por ter ido embora Nela? Por ter ficado com essa daí.

–Karol...

–CONTA PRA ELES, CONTA PRA ELA. –gritei apontando para ruiva.

–Do que ela está falando Antonela? –perguntou Giordana.

–Nada!

–Ah.... Então eu não fui nada Antonela? É isso mesmo? Você sabia o que eu sentia e mesmo assim me levou pra sua cama, ah é a cama era dela né? Giordana meu amor, a dois anos enquanto você bancava a boa anfitriã sua mulher fodia comigo na sua cama! E depois Nela o que você fez depois?

–Não faz isso Karol... –ela havia começado a chorar.

–VOCÊ ME DEIXOU! NEGA QUE ME AMA SUA IDIOTA! PODE NEGAR O QUANTO QUISER, MAIS EU SEI, VOCÊ SABE, SABE QUE QUANDO COME A SUA MULHERZINHA A NOITE É EM MIM QUE VOCÊ PENSA, SABE QUE O QUE SENTIU HOJE FOI CIÚMES, VOCÊ QUERIA ESTAR NO LUGAR DA CAMILA NÃO É? QUERIA ESTAR NO LUGAR DELA, QUERIA QUE EU ESTIVESSE CHUPANDO VOCÊ!!!

–Ora sua pirralha eu...

–Vai o que Giordana? Vai me bater? Eu não sou mais a garotinha que tinha medo de você! Sua corna!

–Vamos embora Antonela. –chamou a ruiva.

–Vai, vai com ela Antonela, vai fingir que nada aconteceu e brincar de ser perfeição.

–Karolina...

Antonela vinha em minha direção, e eu deixei que meu corpo me guia-se até ela, mas foi outra quem ela abraçou, ela procurou refúgio no colo da mãe, e tudo que me lembro foi de ser amparada pelos braços de Camila, lágrimas caindo sobre seu colo, e então nada, minha vista se escureceu e simplesmente apaguei...

Fim do capítulo