Capítulo 59
As Cores do Paraíso -- Capítulo 59
Talita dirigia em alta velocidade pela rodovia em direção à praia do Encanto. Na verdade nem sabiam o motivo de tanta pressa. Estavam apostando em um pressentimento. Parecia loucura voltar e perder o avião para São Paulo, mas Gabriela preferia pecar pelo excesso e não pela falta.
Como sempre, Gabriela ouviu seu coração, sim ela sempre ouvia seu coração. E naquele momento o seu coração gritava para que ela voltasse.
Talita sofria vendo a amiga tão nervosa. Nunca a viu assim. Ela era sempre muito tranquila e confiante.
Segurava aquela caixinha entre as mãos. Segurava com tanta força que os dedos estavam brancos.
-- Calma Gabi. Logo chegaremos -- Talita tentava transmitir uma calma que não sentia.
-- Sabe Talita, eu sempre soube entender os avisos, orar e deixar a mente leve, a alma pura, para conseguir escutar o que meu guia espiritual tinha para me falar. Eu sei que estou de bem com Deus. Então vou deixar que ele nos guie na velocidade do seu sopro. Deus nunca decepcionou ninguém! Ele muitas vezes nos diz NÃO para os nossos sonhos e vontades! Mas Ele sabe o que é o melhor para cada um de nós. Você pode perder tudo na vida, deixar de acreditar em muitas coisas. Mas nunca, nunca, nunca, perder as esperanças em Deus. Nunca perder a Fé.
Na praia do Encanto.
Larissa, como fazia todas as manhãs, saiu de casa para levar as gêmeas para tomar banho de sol. O dia estava lindo. O sol fraquinho da manhã era propício para o passeio com as meninas.
Sentou em um dos bancos sob as árvores e pegou Melissa no colo. A garotinha era a mais parecida com Gabriela. Olhos muito azuis e curiosos. Cabelos bem clarinhos e escassos. Digna representante da família Hoyer. Como dizia Talita: Alemoa batata.
Micaela era branquinha, mas não tanto quanto a irmã. Tinha os cabelos um pouco mais escuros e os olhos eram claros, mas ainda indefinidos.
-- Olá, meus amores -- Os pais de Larissa andavam de mãos dadas, os dedos entrelaçados e caminhando devagar pela praia -- Na volta da caminhada passamos para dar um cheirinho nos nossos anjinhos -- acenaram com a mão e continuaram a caminhar.
Larissa ficou observando os dois se afastarem. O nascimento das netas serviu para amenizar um pouco a dor que sentiam, mas ainda as marcas do sofrimento estavam estampadas nos seus rostos. O sorriso era difícil, brincar ou falar do passado era impossível. A ruiva já havia se acostumado com essa imagem dos pais. Desde criança foi assim.
A empresária olhou para as meninas e sorriu. Pensou que talvez agisse da mesma forma se acontecesse algo com uma de suas filhas.
-- É mãe e pai. Hoje eu os entendo muito bem.
Pôde então perceber que apenas vislumbrava a dor indescritível que o amor aos filhos pode gerar. Passou por ela mil imagens do que a esperava no futuro das suas filhas, e um aglomerado de recordações da sua própria infância, nas quais aparecia tantas vezes a sua mãe, vigiando, abraçando e chorando por ela.
As coisas mudaram muito depois da morte do irmão, seus pais se tornaram ausentes e infelizes, mas devia a eles, a pessoa correta e realizada que era hoje.
Encontrava-se tão perdida em seus pensamentos e em tudo o que estava acontecendo que nem percebeu que alguém a observava.
Djalma andava de um lado para o outro, à procura do melhor momento para agir. Desde o instante que Gabriela entrou no carro e partiu para a sua viagem, ele estava escondido atrás das pedras.
Djalma estava respondendo em liberdade pelo crime de tentativa de assassinato contra Gabriela. Assim que soube da gravidez de Larissa, não teve mais sossego.
É difícil de saber o que se passa na cabeça de um fanático religioso, que torna tão difícil para ele abandonar sua fé, mesmo diante de tantas evidências de que algumas religiões são nocivas e mentirosas, mesmo quando as piores desgraças lhe acontecem e ele acha que não pode contestar, porque "foi Deus quem assim quis".
Já se matou em nome de Jesus, de Allah, do profeta... Mas o fato é que essas divindades e suas histórias não tem nada a ver com isso. Um martelo não foi feito para matar, mas se alguém comete um assassinato usando-o, a culpa é de quem matou e não do martelo. A religião é uma ferramenta politica.
Muitas pessoas que estão à frente de religiões e dizem agir em nome de Deus, na verdade são lideres políticos e não religiosos.
Djalma não era um líder politico, ele era daquele tipo de pessoa que aceitava vender todos os seus bens para entregar tudo o que tinha a um pastor que garantia a ele um terreno no céu. Era um fanático que acreditava que as meninas de Gabriela haviam sido geradas pelo demônio e que Deus lhe incumbira dessa árdua e divina tarefa: Eliminar as filhas do demônio.
Olhou para Larissa por entre um vão entre duas pedras, que formavam uma pequena caverna e viu que ela estava de cabeça baixa olhando para a menina que estava em seus braços.
Esse era o momento pelo qual estava esperando, estava na hora de mostrar para eles o poder de Deus. Saiu correndo feito louco, jogando areia para todos os lados. E berrando:
"E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia." Apocalipse 13:1.
Larissa não teve tempo para reagir. Aquele homem endoidecido arrancou a criança dos braços dela. A ruiva ainda lutou com todas as forças para impedir que ele levasse o seu tesouro. Chegou a puxa-lo pela camisa rasgando o tecido e ficando com um pedaço em sua mão.
-- NÃOOO...
Larissa gritava e corria desesperada. A boca se abria puxando para dentro do corpo o ar salgado do mar.
Enquanto corria, via o monstro que se dizia enviado por Deus, invadir o mar com o seu anjinho loiro no colo.
Cambaleante, abatida pelo vento atroz e completamente encharcada, Larissa lutava com todas as forças até cair de joelhos. Olhou por sobre as ondas e só conseguiu avistar uma mancha verdinha do casaquinho que Melissa vestia. Os fios loirinhos de seus cabelinhos se misturavam com a água do mar, quase imperceptíveis.
-- SOCORRO!
O eco lhe respondia, e a sua voz caía no espaço.
Um rapaz loiro caminhava pela praia com a nítida sensação de estar vivendo um sonho. Tinha convicção absoluta de já ter vivido aquela cena. As pessoas que encontrou pelo caminho, faziam gestos que ele já vira e diziam palavras que já ouvira e até ele próprio fazia e dizia coisas que para ele eram uma repetição e, portanto, já acontecidas.
Totalmente despreparado para esse tipo de manifestação, assaltava-lhe uma estranhíssima sensação de irrealidade. Como era possível ele saber exatamente o que esta ou aquela pessoa iria dizer ou fazer? Onde estava ele, afinal? No passado, no qual aquilo ainda estava acontecendo? Ou no presente, apenas recordando o acontecido?
Estranho descobrir que conhecia a cidade sem nunca ter estado aqui ou, pelo menos, assim lhe dizia sua memória.
Arrastou o pé na areia e desenhou um coração. Era o ponto final. Já havia avançado demais os limites da propriedade particular. Estranhou a guarita estar vazia e ninguém o impedir de entrar.
Deu meia volta para retornar, mas estancou os passos ao ouvir gritos de socorro.
O rapaz não podia ver quem gritava. Desesperado, olhou em volta. Ninguém à vista, mesmo assim correu em direção ao mar guiado apenas pelo som da voz desesperada.
Subiu em uma pedra e de lá, foi possível avistar um homem e uma mulher.
O ângulo não era favorável. Não dava para ver ao certo o que acontecia e ele não tinha tempo para isso. Jogou-se nas ondas e nadou na direção da mulher num ritmo intenso, braçada após braçada.
Quando se aproximou da mulher, percebeu que ela não estava se afogando. Gesticulava e apontava veementemente para o homem que se afastava cada vez mais da praia. Só entendeu a situação quando ela gritou:
-- Minha filha... Ele vai matar minha filha...
Ele nadou. Nadou por tudo o que era mais precioso em sua vida. As ondas continuavam a combatê-lo. Mas ele lutou, apenas diminuindo o ritmo de tempos em tempos para limpar os olhos e não perder o homem de vista.
Talita entrou no condomínio em uma velocidade absurda. Gabriela olhou para a guarita e não avistou o responsável pela segurança. O que aumentou ainda mais a sua preocupação.
-- É Gabi, você tinha razão. Temos problemas no paraíso -- Talita acelerou ainda mais.
Talita parou o carro próximo ao carrinho de bebe. Gabriela correu até ele e encontrou apenas Micaela dormindo tranquilamente. Olhou para o mar e o que viu fez as suas pernas bambearem e o corpo estremecer de terror.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 26/01/2016
Affz .......momentos tensos.,....eu até desconfiem desse sem,alma * tentar algo
contra Lari ou uma das meninas....mas vou torcer pra nada acontecer à criança
quanto a esse *sem,alma vai com o diabo ....desculpa aí mas sou meio braba com
quem mexe logo.com bebezinho inocente......bjs aff tá acabaaaaando o.conto
Quero 2 temporada kkkkkk pela mor kkkk
Xaaaau rindo de nervoso.... Aí que raiva desse fubango dos inferno,kkkkk
jake
Em: 29/11/2015
Minha QUERIDA AMIGA AUTORA....Assim q te considero....Não faz isso
com certeza que você não vai querer que eu morra de ansiedade....
corre Gabi ela vai conseguir....bj bj
POR FAVOR NÃO DEMORE MUITO.....PLEASE....
Resposta do autor em 03/12/2015:
Olá Jake. Demorei né. Desculpas. Mas, enfim. Está aí. Bjs.
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lenna11
Em: 28/11/2015
Tô com o coração na boca de tão nervosa , tomara que n aconteça nd com a bb, parabéns vc nos mostrando que muitas vezes nossos sonhos podem ser um aviso de algo que vai acontecer!
Resposta do autor em 03/12/2015:
Olá Lenna. Esse é o penultimo capítulo. Te espero no próximo. Bjã e até.
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Mille
Em: 28/11/2015
Nossa até fiquei sem folego aqui lendo, e esse rapaz deve ser o irmão da Larrisa que reencarnou.
E ajudará a salvar a Melisa.
Bjus querida autora fico encantada com suas histórias.
Resposta do autor:
Olá Mille. "Ôxente, tô mais feliz que pinto no lixo". É assim que se fala? Enfim, amo os seus comentários. Bjs querida.
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