As Cores do Paraíso - Capítulo 58

 

Gabriela e Larissa olhavam para os fogos que estouravam no céu, iluminando e colorindo a noite na praia do encanto.

Quando estamos felizes, todas as cores são belas. Até o preto, a cor das trevas se torna glamoroso.

Como seria um mundo sem cores? Muitos são aqueles que dizem que mesmo com cores ele já é demasiado cinzento. Mas será o mundo cinzento, ou a nossa forma de ver o mundo é que é cinzenta?

Não, a vida não é incolor, ou terrivelmente cinzenta, nós é que o somos! Tudo se resume à atitude, à forma como escolhemos viver e se a escolha for acertada não há dúvidas que todos os dias, mesmo naqueles mais tenebrosos vamos conseguir encontrar alguma cor...

Samanta e Luísa recordavam o dia colorido em que comemoraram o resultado positivo do exame de BHCG. Dos momentos felizes, as conquistas, mas principalmente, lembravam dos dias cinzentos das derrotas e das maldades de Davi Júnior.

O vento forte soprou no rosto de Gabriela. Apertou Micaela bem forte contra o peito para protegê-la do ar da noite. O céu estava lindo e estrelado... Lembrou-se das horas que ela e Talita passavam deitadas, quando crianças, lá na pracinha de Pomerode, observando as estrelas. Saudade.

-- Vô, capricha na próxima bateria -- berrou da sacada da bela casa.

-- Deixa comigo, Gabi -- Davi levantou os braços para o alto. Sentia-se orgulhoso e extremamente feliz.

-- Vem, Lari. Trás a Melissa para ver os fogos.

-- Gabi, o máximo que vai acontecer é ela se assustar.

-- Quando elas forem grandinhas, eu conto como foi a chegada delas no paraíso. Da mesma forma que as minhas mães contaram para mim.

A nossa atitude perante a vida acaba por determinar se ela é incolor ou preenchida por uma multiplicidade de cores. Não é por acaso que existem pessoas mais "coloridas" do que outras, porque elas têm outra visão sobre a vida e isso acaba por ser determinante...Gabriela com sua espiritualidade e alegria, enchia de cores por onde passava.

Os fogos de artifício começaram novamente, iluminando o terraço da casa.

 

 

Talita e Alice também apreciavam os fogos da sacada da casa em que elas moravam.

-- Que espetáculo lindo, né amor? -- Alice colocou a cabeça no peito de Talita e se afundou lá.

-- Maravilhoso -- beijou a cabeça de Alice com carinho.

Os fogos se tornavam cada vez mais intensos, mais belos. Estourando de alegria e cores no céu.

 

 

Os dias foram passando na praia do Encanto. Dias felizes de paz e de harmonia.

Larissa e Gabriela todos os dias levavam as gêmeas para tomar banho de sol. Saiam de casa sempre às nove horas e no máximo as nove e dez já estavam dentro de casa.

-- Você sabe por que é tão importante o bebê tomar banho de sol, Gabi? -- Larissa empurrava o carinho com as meninas.

-- Não, miau. Por quê?

-- Porque quando o recém-nascido é amamentado no peito, ele recebe a vitamina D através do leite materno. Para que ela seja sintetizada no organismo, é preciso que o bebê seja exposto a alguns minutinhos de sol por dia. Com isso, os raios solares transformam a vitamina D, que estava inativa no organismo em ativa. Consequentemente, o cálcio, fundamental para o crescimento e desenvolvimento dos ossos também é melhor absorvido.

-- Caramba. Você é melhor que o Dráuzio Varella, amor.

Larissa sorriu.

-- Também não devemos passar protetor solar em bebês com menos de seis meses, uma vez que eles possuem a pele muito sensível e protetores podem causar alergias.

-- Isso eu sabia -- Gabriela sentou na areia, e ficou em silêncio por alguns instantes olhando para as meninas que dormiam como anjinhos.

Larissa estranhou o silêncio dela. Gabriela era do tipo que nunca ficava quieta.

-- Alguma coisa está te incomodando?

A loira respirou fundo e olhou para Larissa.

-- Estou tendo o mesmo sonho há várias semanas. Esses sonhos repetitivos normalmente têm mensagens importantes que precisam ser codificadas, pois denotam a existência de uma realidade que precisa urgentemente fazer parte de nossa vida consciente. E eu não estou conseguindo decifrá-las.

-- Por que não me contou?

-- Não queria te aborrecer com isso -- se levantou e começou a empurrar o carrinho de volta para casa -- No começo achava que era o meu pai. Mas agora tenho certeza que não é.

-- E você reconheceu quem é?

-- Um rapaz loiro. Um jovem muito bonito. Não faço a mínima ideia quem seja.

-- Se quiser conversar sobre o sonho...

-- Não. Primeiro quero decifrá-lo, depois te conto -- olhou para o relógio em seu pulso e depois para as meninas -- Já deu os dez minutos, garotas. Hora de voltarmos para casa.

 

Mais tarde.

 

-- Quer dizer que você vai para São Paulo, Gabi?

-- Vou amanhã pela manhã. Pego o avião as onze.

-- Eu acho o Rio mais legal que São Paulo.

-- Para mim tanto faz. Gosto das paulistas e das cariocas.

-- Se a Larissa escutar isso, pode dizer adeus a viagem.

Gabriela sacudiu os ombros.

-- Não tenho medo da Larissa. Aqui quem manda sou eu.

Talita revirou os olhos e se esparramou no sofá.

-- Vou te contar um "causo", Tali:

Dois casais, um Carioca e outro Paulista, estavam jogando cartas e uma carta caiu embaixo da mesa.

O Carioca abaixou para pegar e deu uma olhada na mulher do paulista por baixo da mesa, ela estava sem calcinha e com a perereca a mostra.

Alguns minutos depois o Carioca suando quente levantou para tomar água e a mulher do Paulista disfarçou e foi atrás dele. Chegando à cozinha ela perguntou:

-- E aí? O que achou?

-- Maravilhoso - Respondeu o carioca.

-- Quaisquer mil reais e a gente conversa - disparou a Paulista.

-- Tudo bem é só dizer quando!

-- Amanhã à tarde ele não estará em casa você pode ir lá.

-- Combinado!

No outro dia à tarde o Carioca chegou na hora marcada pagou os mil reais e mandou ver na mulher do Paulista. No fim da tarde o Paulista chega do trabalho e pergunta a mulher:

-- O Carioca esteve aqui à tarde?

-- Sim - respondeu a mulher assustada.

-- Deixou mil reais?

-- Sim - respondeu a mulher apavorada.

-- Ufa que alívio, aquele carioca filho da puta esteve no meu escritório pela manhã, me pediu mil reais emprestados e disse que passava aqui hoje à tarde sem falta para me pagar!!!

- Kkkkkk... essa foi boa, Gabi.

-- Pergunta para um paulista se ele achou boa.

Kkkkkk...

 

-- Agora falando sério... você pode me levar no aeroporto amanhã de manhã?

-- Claro. Que horas você quer sair daqui?

-- Acho melhor sairmos daqui às nove e meia. Vai que o trânsito esteja ruim.

-- Por mim tudo bem. Nesse horário estarei aqui.

 

 

Naquela noite Gabriela voltou a sonhar com o rapaz loiro.

 

-- GABRIELAAA -- o rapaz loiro berrava lutando contra as ondas do mar. Agitava os braços desesperadamente. Por alguns instantes desaparecia e voltava a aparecer ainda mais desesperado. Até que depois de submergir várias vezes, não voltou mais a tona.

Gabriela nadou na direção do rapaz num ritmo intenso, braçada após braçada. Segurava uma caixinha na mão esquerda. Devia ser algo muito valioso, pois, segurava com firmeza e não largava por nada.

Gabriela nadou. Nadou por tudo o que era mais precioso em sua vida. Embora soubesse que a corrente estava a seu favor, não era o que parecia.

Levou tempo demais até as ondas, finalmente, lhe darem um impulso, erguendo-a e derrubando-a perto de seu destino.

Mergulhou várias vezes procurando pelo rapaz e só voltava à tona quando lhe faltava o ar. Ela engoliu água salgada, engasgou-se, sentiu que o pulmão iria explodir a qualquer momento. Então, desistiu de procura-lo.

Acordou sobressaltada e sentou-se na cama assustada. Olhou para Larissa que dormia tranquilamente ao seu lado e sentiu-se mais tranquila. Com esforço para não acorda-la, saiu da cama e foi até o quarto das meninas para se certificar que tudo estava bem com seus anjinhos.

Beijou a testa das filhas e retornou para o quarto.

Deitada na cama, não conseguia parar de pensar no sonho. Quem era aquele rapaz loiro? Qual seria o significado do sonho e que mensagem estava tentando transmitir?

Com esses pensamentos martelando em sua cabeça e vencida pelo cansaço, acabou dormindo. Dormiu sem encontrar resposta para nenhuma de suas indagações.

 

 

No dia seguinte um pouco antes do horário combinado, Talita chegava à casa de Gabriela.

-- Bom dia Talita -- Larissa recebeu a amiga com um beijo na bochecha -- Já tomou café.

-- Bom dia Lari. Levantei mais cedo e tomei café com a Alice.

-- Grande Alice. Sempre madrugadora.

-- Verdade. Ela nunca perde a hora.

Gabriela entrou na cozinha empurrando o carrinho com as gêmeas.

-- Olha quem chegou, tia Talo. As meninas superpoderosas.

-- Para de me chamar assim, Gabi. Que coisa horrível.

-- Pensa Tali, quando você estiver com aquele monte de filhos. Parece que estou vendo você no churrasco gritando com a gurizada:

-- Sai daí "Giscleyson", vai se machucar!; vem pra cá "Uóchitu" já tem farofa de linguiça meu filho, vem logo, antes que seus primos venham e terminem tudo; "Dayany" pega teu irmão e leva lá pra "drento" e limpa a boca dele de Biscoito maizena, a boca chega a tá branca nos cantos; "Cryslaine" limpa o nariz do teu irmão que tá verde de tanto catarro; "Cristyan Jeferson" tem asa de galinha meu filho aproveita, "Krystóferson" vem comer carne meu filho, tá sangrando, "Mayquol Djéquyson" para de correr meu filho e chama sua irmã para vir comer.

-- Você está vendo como ela me trata, né Lari? -- Reclamou com voz chorosa.

-- Deixa de ser chorona, Tali. Agora vamos, se não vou acabar perdendo o avião. Vamos no carro da Larissa.

Larissa acompanhou Gabriela até o carro. Se despediram com beijos e abraços carinhosos.

-- Gabi, se cuida meu amor. Assim que chegar lá me liga. Não sai à noite, aquela cidade é muito perigosa.

Gabriela sorriu e acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos. Viver ao lado de Larissa era como se estivesse em um sonho, ou em um desses romances perfeitos de cinema.

-- Não se preocupe, meu amor. Eu vou me cuidar. Eu vou, mas deixo o meu coração aqui com vocês. Cuida bem dele.

-- Eu te amo! E quando eu digo que te amo, não digo por força do hábito. Eu falo isso para te lembrar que você é a melhor coisa que aconteceu em minha vida.

-- Não precisa falar, miau. Só de olhar para as nossas meninas eu vejo todo o amor que existe entre nós.

 

 

Gabriela e Talita já estavam a cinco minutos na estrada.

-- Paulistas aqui vou eu!!!

-- Não te apruma não, sua alemoa.

-- Tali, um carioca e um paulista estão andando pela praia quando encontram uma lâmpada mágica. De dentro dela surge um gênio que promete realizar um desejo de cada.

E o carioca:

-- Quero que o Rio de Janeiro seja cercado por muralhas como as da China, para evitar a entrada dos paulistas.

Plim!

-- Prontinho, o seu desejo já está realizado.

E o paulista:

-- Gênio, esses muros são resistentes?

-- Muito! Nada poderá derrubá-los!

-- E são bem altos?

-- Mais altos que o Cristo Redentor!

-- Então encha d'água!

Kkkkkk...

 

Por sorte, Talita estava dirigindo em baixa velocidade, pois um carro que saia de uma rua lateral, cortou a frente delas, obrigando a garota a frear bruscamente.

-- Caramba. Essa foi por pouco -- Talita estava pálida e tremula -- Você está bem?

-- Sim, estou - Gabriela respondeu ainda assustada.

Com a freada vários objetos e papeis caíram do console do automóvel de Larissa. Mas um, em especial chamou a atenção de Gabriela.

-- Que caixa é essa, Gabi? -- Talita olhou curiosa para a caixinha que estava na mão da amiga.

-- Não sei Tali, mas sonhei com ela a noite passada. E pela maneira como eu cuidava dela, deve ser algo muito precioso para mim.

-- Abre para a gente ver o que tem dentro.

Gabriela abriu a caixinha.

-- Pensei que fosse outra coisa -- Talita deu uma gargalhada -- Que fofo.

-- Tali, volta para o Encanto -- Gabriela pediu pensativa.

-- Você só pode estar brincando, né? Seu avião sai daqui a pouco.

-- Por favor, Tali, me escuta...volta para casa...agora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo