Capítulo 57
As Cores do Paraíso -- Capítulo 57
Na recepção da maternidade todos estavam muito ansiosos por notícias.
Samanta era a mais agitada. Andava de um lado para o outro da sala. Luísa a puxou pelo braço e a abraçou, fazendo com que ela sossegasse.
-- Vai dar tudo certo, meu amor.
-- Mas porque essa demora?
-- É normal que demore. Afinal são gêmeos.
Talita abraçava Alice cada vez mais forte contra ela. Era essa a maneira de enfrentarem juntas aquela angustia que sentiam.
Fernanda voltava da lanchonete, com dois copos numa das mãos e uma garrafa de água na outra. Sentou do lado de Laura e a serviu.
-- Nenhuma informação ainda?
-- Ainda não. Estou ficando nervosa.
-- No mínimo a sua prima maluquinha, está transformando a filmagem do parto, uma superprodução cinematográfica. Corta... vamos repetir a cena da saída do bebê... coloca ela de volta...
As duas riram imaginando a cena.
-- Dá um pouco de água aí - Talita pediu parada na frente de Fernanda.
-- Te dou o copo e você pega água no bebedouro.
-- Cara como você é mesquinha - Talita pegou o copo e ficou olhando para ele.
-- Cara como você é folgada. Porque não vai até a lanchonete e compra uma garrafa de água, como eu fiz?
-- Tudo bem...mas lembre-se, nunca se nega um copo de água a alguém.
Laura tomou a garrafa da mão de Fernanda e colocou na mão de Talita.
-- Vocês duas são muito chatas. Porque não usam essa chatice de vocês e vão lá torturar a recepcionista? Talvez assim ela dê alguma informação.
-- Vamos? - Fernanda convidou Talita.
-- Vamos.
As duas foram infernizar a vida da coitada da recepcionista.
As únicas coisas que Larissa ouvia era: Empurra, força, mais, mais, empurra. Não sabia quem falava, de quem era a voz, mas talvez nunca mais a esquecesse, pois, as palavras ficaram ecoando em sua cabeça.
Mesmo sendo gêmeos o parto estava sendo fácil, uma vez que as meninas estavam loucas para nascer.
Assim que chegou na maternidade a levaram direto para a sala de parto, sem aguardar dilatação.
Larissa preferiu o parto normal devido aos benefícios proporcionados. O parto normal é mais seguro tanto para mãe quanto ao bebê, a recuperação é muito mais rápida, a descida do leite é mais fácil, os usos de medicamentos são menores, o pulmão do bebê é preparado para a vida fora do útero, pois ao passar pelo canal vagin*l são expelidas as secreções além disso diminui os riscos de hemorragia e infecção hospitalar, entre outros.
O índice de morte materna em caso de cesárea é 3,5 vezes maior que em parto natural. Isso é um diferencial importantíssimo na hora de decidir qual o método melhor. Os riscos são inerentes à própria cirurgia, a começar pela anestesia, em que a possibilidade de uma reação é imprevisível.
Depois de mais ou menos três horas de Larissa ter dado entrada, as meninas nasciam.
Um choro alto e estridente, ecoou pela sala e logo em seguida mais um choro, não muito diferente do primeiro.
Larissa sorriu ao ver as mãos do médico cheias de sangue, com o pequeno bebê sobre elas.
Viu o rosto desacreditado de Gabriela mirando o bebê que chorava demais e ela chorava junto.
-- Corta o cordão - alguém mandou.
As lágrimas de felicidade desciam pelo rosto de Larissa e de Gabriela.
Gabriela chegou perto das crianças, ainda nos braços do médico. Todas as enfermeiras estavam ao redor deles. Puxaram os bebês, um de cada vez e fizeram os testes de rotina.
-- Me deixem vê-las - Larissa abriu os braços para receber as crianças.
Gabriela se sentou perto de Larissa, na maca, e colocou as crianças nos braços dela.
-- Elas são a sua cara, meu amor - Gabriela falou com um sorriso imenso na face.
Larissa olhou para as meninas, elas estavam sujas de sangue como qualquer recém-nascido, com a pele extremamente branca, de cabelo bem loirinho.
-- Talvez os olhos sejam da cor dos seus... -- Gabriela disfarçou olhando para as meninas.
-- Sei... espero que ao menos na personalidade sejam parecidas comigo.
-- Ai, ai, ai... preferia que fossem ruivas - Gabriel sorriu - Três mandonas, não vou aguentar.
O sorrido dela era tão grande que o coração de Larissa se enchia de amor, enquanto mirava as pequenas meninas em seus braços.
-- Agora precisamos leva-las para o berçário - uma enfermeira chegou pegando as meninas e ajeitando em seus braços.
Gabriela entrou em desespero.
-- Cuidado, você vai derrubar as minhas filhas.
A enfermeira fez questão de voltar da porta e responder a loira.
-- Tenho vinte anos de enfermagem. Se for preciso levo bebês segurando com os dentes. Como as gatas.
-- Mas você usa dentadura...as gatas não.
-- Gabi... - Larissa falou sonolenta - deixa de encher o saco da enfermeira.
A mulher olhou para a garota com sangue nos olhos.
-- Agora você vai lá fora conversar com os seus parentes e amigos. Eles estão deixando meio hospital malucos -- outra enfermeira pediu sorrindo - Enquanto isso nós levamos a mamãe para o quarto.
Gabriela mesmo contrariada obedeceu. Olhou para Larissa que dormia e a beijou carinhosamente no rosto.
-- Cuida bem da minha, miau. Eu deixei meu guia aqui do seu lado, se você não for carinhosa com ela, ele vai chamar a sua atenção - engoliu o riso. A enfermeira olhou ao redor cheia de pavor -- Fica de olho nela -- fingiu falar com alguém ao seu lado e saiu. Da porta deu uma olhadinha para trás e viu a mulher se benzendo.
A recepção estava um alvoroço. Haviam umas dez pessoas penduradas no balcão. Falavam todos juntos, deixando a recepcionista maluca.
Quando Gabriela apareceu no lugar, uma multidão de pessoas, todas ansiosas, correram em sua direção.
-- Então Gabi...
-- Nasceram?
-- São parecidas comigo?
-- Quantos Quilos?
-- Calma gente -- a voz dela se perdia no meio de tantas vozes falando ao mesmo tempo.
-- Fala minha filha. Como elas estão? - Luísa perguntou demonstrando ser a mais calma.
-- Todas as três estão bem. Elas são lindas, mãe -- contou cheia de orgulho.
Luísa sorriu, e a abraçou pelo pescoço.
-- Ouviram isso não é pessoal? As nossas meninas nasceram saudáveis e lindas - Samanta pronunciou em voz alta - Agora vou organizar a entrada para as visitas... entraremos em casais... como na arca.
Davi parou ao lado de Samanta e tocou em seu ombro.
-- Com licença, mestre de cerimônia de maternidade -- tossiu e continuou a falar -- Na arca entraram macho e fêmea, aqui tá meio difícil né?
-- Aquela era a Arca de Noé. Essa é a Arca LGBT da Samanta. Muito mais moderna e humana. Que privilegia a diversidade.
Davi balançou a cabeça.
-- Quanta besteira, meu Deus.
-- Por ser político você será o último. Aqui o povo em primeiro lugar.
Fernanda e Laura observavam de longe a disputa entre os avós.
-- Começou cedo -- Fernanda revirou os olhos.
-- Verdade, amor.
-- Se eu fosse psicóloga iria adorar estudar essa família.
-- Porque Fê? Não entendi.
-- Veja a Gabi. Ela é a prova viva do que é a dicotomia Inato/Adquirido. O que determina o nosso comportamento? Será o meio ou é a natureza? Somos biológicas ou socialmente determinados?
-- Explica melhor.
-- Ela tem a personalidade maluca da mãe Samanta, o inato. Inato, este indica que o comportamento humano e a personalidade são determinados geneticamente por hereditariedade dos progenitores. O comportamento é determinado por características que nascem com o ser humano (inatas). E tem a sobriedade, a calma, a paciência da Luísa e da maneira como foi criada em Pomerode, que é o outro polo.
-- O adquirido?
-- Isso mesmo. Que representa a educação e a influência do meio ambiente. Estes dizem que os seres humanos são produto daquilo que aprendem e dos ambientes em que vivem. Então, a nossa maneira de ser e de agir é influenciada pelo que aprendemos, pelas experiências vividas e pela nossa história pessoal.
-- Isso Freud explica, amor?
-- Explica - Fernanda sorriu.
As visitas começaram conforme Samanta organizou.
Larissa sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Havia um sorriso lindo no rosto dela, como se de fato estivesse realizada. Como se um sonho houvesse se tornado realidade!
Trouxeram as meninas e as encaixaram nos seus braços.
Gabriela estava radiante de felicidade, trêmula de alegria. Pensava que enfim, depois de tantas outras vidas vividas ao lado de seu amor, depois de tantas reencarnações na busca da evolução plena. Havia finalmente restabelecido os laços de família e colhido o fruto do amor verdadeiro.
Gabriela abraçou as três e beijou cada uma na testa.
-- Vocês são um presente de Deus. Se eu pudesse definir em palavras o significado especial que vocês têm na minha vida, com certeza eu não conseguiria..., mas tenho certeza que dizendo somente "Obrigada por vocês existirem" Vocês entenderão. Né miau?
Larissa não respondeu com palavras.
"Um olhar apenas, diz tudo aquilo que a boca não consegue traduzir com palavras.
Um olhar apenas, diz tudo o que não conseguimos traduzir com gestos ou ações.
Um olhar apenas, diz tudo aquilo que está encerrado, no silêncio do coração.
Um olhar apenas, revela nossos sentimentos, sejam de angústia ou simplesmente de alegria.
Um olhar apenas, denuncia quem somos, a situação em que estamos, e aquilo que almejamos.
Um simples olhar pode dizer tudo isso, sem termos que dizer nada!
Não é à toa que os olhos são chamados: O espelho da alma".
Carlos almeida
Na sucessão dos nascimentos, o homem adquire experiência e conhecimento acerca de si mesmo e do seu destino. Pela reencarnação aprende-se que "o homem colhe aquilo que semeia".
Toda vida é eterna. A lei da justiça é infalível. Não há um pensamento, uma palavra ou uma ação que não tenha o seu eco. Para possuir, dê. Você tem de saber disso. O homem cria as causas e a lei cármica ajusta os efeitos. Você tem liberdade de escolher entre o bem e o mal.
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Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 13/11/2015
Que bom que elas nasceram e troxe muita alegria para Gaby e Lari, assim como toda a família.
Por enquanto só alegria, tomara que o cara do não faça nada contra as criancas. Gaby é hilária deixou a enfermeira com medo do anjo protetor.
Como sempre lindo os dois capítulos.
Bjao e ótimo final de semana
Resposta do autor:
Bjã Mille.
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Sem cadastro
Em: 13/11/2015
Miauzinha e GutiGutizinha nasceram.... Lindo esse momento. Você me deixou com lágrimas nos olhos.
Agora acredito que a vida de Lari e Gabi vai viram uma loucura com esse amor entre Davi e Samanta. Iss vai render boas risadas para nós leitoras kkkk
Como sempre um capítulo lindo.
Um grande beijo para você!
Resposta do autor:
Bjã Pietra. Até.
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