Com 16 anos me chamaram na diretoria, eu não sabia o que estava acontecendo, mas lá no fundo algo me dizia que não era uma coisa boa, no entanto a madre me olhava sorrindo.

-Juliana arruma suas coisas. -disse levantando da sua cadeira e contornando a mesa para ficar ao meu lado.
        -Por que madre, o que aconteceu?
       -Já faz alguns anos que seu pai foi solto e desde então ele entrou com um pedido para ter sua guarda de volta... -a velha soltou um longo suspiro. -Ele arrumou um bom emprego e parou com a bebida, não te contamos minha filha porque muitas vezes esses pedidos são negados pelo tribunal, mas não foi...
      -A senhora está me dizendo que vou embora? -a irmã confirmou sorrindo triste ao ver meus olhos se encherem de lagrimas. -Eu não quero!
     -Por mim minha filha, você continuaria aqui conosco, mas eu não tenho como fazer nada.... juliana seu pai precisa de você, de uma chance pra ele.
      -Não irmã eu não quero.
    -Escuta menina, varias jovens são trazidas para cá todos os dias, muitas delas queriam ter o que você esta tento, alguém que se importe com elas que queiram cuidar delas e as ame como uma família de verdade...

Eu estava arrasada, não havia o que fazer, a madre me informou o horário que ele viria me buscar, mas eu não queria, por mas que sentisse saudade de meu pai partir era o mesmo que abandonar Emily. Ha como precisava dela nessa hora e chorando fui ao seu encontro, ela carinhosa me reconfortou entre seus braços.

-O que aconteceu Juh?
       -Meu pai...
       -Aconteceu alguma coisa? Ele não está preso?
    -Não... Ele, ele foi solto, esta vindo me buscar, eu vou ter que ir... -desesperada voltei a chorar, mas ao contrario do que esperava Emily sorria para mim secando minhas lágrimas.
     -Juh quando você sair daqui eu não quero que fique pensando em mim, o meu coração é seu, mas eu sempre disse que não queria ser um fardo na sua vida.
       -Eu não posso te perder Emily.
       -Se for para ficarmos juntas Juh, vai acontecer, eu te amo.
    -Eu prometo que venho te buscar Emy, no seu aniversario de 21 anos quando você for independente, eu venho pra te levar comigo.

Trocamos um ultimo beijo apaixonado, só então sai daquele quarto deixando meu grande amor para trás. Meu pai me esperava próximo ao portão encostado em um carro simples, entre lágrimas nos abraçamos, muita coisa foi dita, entre aquele abraço muitas palavras se tornaram desnecessárias, enquanto ele me pedia desculpas e me levava até o carro eu olhei uma ultima vez para trás vendo de longe a imagem de Emily na janela, acenei pra ela uma ultima vez, eu sabia que ela não podia me enxergar, mas guardei na minha memoria o seu ultimo sorriso de despedida.
Quando chegamos ao novo apartamento começamos a subir com minhas coisas, um dos vizinhos do prédio se ofereceu para ajudar, apos subirmos tudo nosso vizinho se viu interessado em minhas pituras, me disse que trabalhava de ajudante em uma pequena galeria e perguntou se poderia levar alguns deles para sua chefe dar uma olhada, deixei que ele os levasse sem esperança alguma de que alguém fosse gostar de minhas pinturas, porem algumas semanas depois o mesmo vizinho bateu a nossa porta, ele falava de exposições e do quanto eu poderia ser famosa, pediu autorização a meu pai para organizar a tal exposição prometendo fama, meses depois via meu nome em revistas de arte, meus quadros eram vendidos a preços absurdos e comecei a me perder naquele mundo de glamour.
Quando me perguntavam qual era a inspiração para aquelas obras eu sempre me lembrava de Emily.
Os anos foram passando e por mais que não quisesse fui me esquecendo dos anos no orfanato, e assim Emily também passou a fazer parte do passado, eu continuava a morar com meu pai, que se recusava a aceitar meu dinheiro, ele dizia que deveria guardar para minha futura família.
Com 20 anos sai da casa do meu pai para meu próprio apartamento, minha vida se tornou corrida, entre trabalhos artísticos e faculdade, não me sobrava tempo pra nada, aquele era meu mundo, trabalhar e estudar, nas horas vagas saia com alguns colegas de faculdade e isso completava meu tempo...
E mais uma vez o tempo praticamente voava, estava preste a fazer 23 anos, andava distraída pelas ruas da cidade quando uma pequena loja me atrairá, adentrei no estabelecimento sem procurar nada em especial, artigos usados, roupas, moveis, mais foi um quadro atras do balcão que me chamou atenção, nele uma garota pintava e outra a observava de longe.

-Gostou? -perguntou o balconista gentil. -É de uma artista chamada Juliana, se chama "Único amor" meu filho comprou a alguns anos, pagou uma fortuna por ele...
-Angel... -foi tudo que escapou de meus lábios quando uma em chorrada de lembranças surgiam em minha cabeça.

Sai correndo da loja em direção ao meu carro, como eu pude me esquecer dela, dirigi rumo ao antigo orfanato sem parar, desesperada corri porta a dentro a procura da minha Emily, cheguei a porta de seu antigo quarto, sabia que ela não estava lá e mesmo assim entrei, o quarto estava diferente não havia nenhum vestígio do que era anos atrás, caminhei a passos curtos até a janela da nossa despedida encostei nela deixando as lagrimas escorrerem.
Lá de cima olhava as crianças brincarem despreocupadas no jardim enquanto as irmãs as olhavam, uma delas mais distante parecia perdida enquanto olhava para o céu, desci até o jardim, cumprimentei algumas freiras antes de me aproximar da freira solitária, ainda sem a olhar sentei ao seu lado aproveitando mais daquele silencio.

-Você finalmente veio Juh.

Assustei-me ao ouvir aquela voz, carinhosamente ela levou sua mão até meu rosto sentindo cada um de meus traços, eu não sabia o que falar, todas aquelas emoções dormentes gritaram dentro de mim.

-Eu vim te buscar. -falei fraco ganhando dela um sorriso.
-É meio tarde pra isso não?
-Não, eu nunca deixei de te amar Emy, eu...

Ela sorrio se levantando antes de ajeitar a batina.

-Vai pra casa Juliana.
       -Só se você for comigo!
      -Eu não pertenço mais a sua vida Juh, sirvo a Deus agora e alem disso você vai encontrar alguém bem melhor que eu.
       -Eu não consigo pensar em ninguém melhor que você Emily.
       -Juliana não insista.

Levantei indo caminhar a seu lado, eu não podia desistir, não era possível que ela tivesse deixado de me amar e mesmo se tivesse eu faria ela se apaixonar novamente por mim. 
Entramos em um quarto grande e espaçoso, onde só havia uma cama uma comoda e alguns livros em braile, devia ser seu novo quarto, queria puxar conversa mas não sabia como começar foi então que percebi uma coisa.

-Como sabia que era eu? Digo lá fora, você me reconheceu sem eu precisar falar nada. -perguntei curiosa.
      -Eu não posso ver você com meus olhos, mas descrevo cada detalhe seu com meu coração.

Só ficava me perguntando como havia esquecido daquele sorriso, como pude demorar tanto, tentava me lembrar do momento em que tinha deixado Emily de lado.

-Por mais que eu tenha demorado Emily em nenhum momento meu coração chegou a pertencer a outra pessoa. -confessei esperando apenas uma pequena chance, um pequeno milagre que me desse chance de provar que não a deixaria nunca mais.

Peguei em suas mãos as levando até meus lábios beijando-as delicadamente e depois as levei até meu coração, que batia descompassado chamando por ela.

-Faz tuas malas, vai comigo. -pedi sussurrando baixo e ela sorrio depositando um beijo no canto da minha boca.

-Essa é minha vida agora.
       -Não, não é, sua vida é comigo!
     -Eu te esperei por anos Juliana, anos e então eu desisti. -lagrimas vieram aqueles olhos sem vida molhando aquela triste face. -Os primeiros meses foram os piores por que eu tinha a ilusão que você realmente viria...
       -Eu vim Emily.
       -Agora é tarde...
      -Não, não é. -segurei em sua cintura a encostando na parede, encaixando nossos corpos. -Você pode me parar quando quiser Emy. -sussurrei unindo meus lábios aos dela em um beijo calmo, cheio de carinho e saudade e entre seus lábios eu novamente pedi. -Vem comigo...

Fim do capítulo