Capítulo 14 - A doação
Laísa e Júlia olharam para Veridiana que estava parada na porta.
-- Veri? - Júlia disse surpresa.
-- Sou eu Júlia a idiota de sempre, imbecil de sempre, aquela que todos tiram para trouxa. - Veridiana estava muito brava e magoada.
-- Bem eu vou deixar vocês sozinhas, depois conversamos. - O médico se retirou do quarto.
-- Parabéns pelo casamento Júlia. - Parabenizou Veridiana com ironia. - Você também Laísa, seja feliz!
-- Com certeza eu serei sim. - Laísa disse firmemente.
-- Espero que não leve um par de chifres como o que levei. - Veridiana falou deixando Júlia vermelha.
-- Isso não vai acontecer, pois eu sei como valorizar e tratar uma mulher como Júlia. Se você passou por essa situação com certeza não soube dar valor ao que tinha ao lado. - Laísa foi direta, sem medo.
Veridiana riu e disse:
-- Talvez, talvez esteja certa, mas quem faz uma vez pode muito bem fazer outra. Anteontem mesmo eu estava beijando sua esposa aqui neste mesmo quarto que pelo que soube se casaram.
-- Veridiana acho que esta conversa não vai levar a lugar algum. - Júlia interveio preocupada com o rumo daquela conversa nada amistosa.
-- Defendendo a espozinha querida Júlia? Como você mudou! - Veridiana debochou rindo alto.
-- Chega Veridiana! - Laísa falou enérgica. - Você não vai entrar aqui e ficar ofendendo a mim e a minha esposa e ficar por isso mesmo. Se você não quer mais doar o seu rim tudo bem a gente segue na luta, sinta-se livre para retornar ao Sul.
Verdiana olhou para Júlia e está procurou a mão da esposa segurando firme e a encarando desafiadora.
-- Certo então, você sabe o que faz Júlia, não vá se arrepender depois. - Veridiana deixou o quarto espumando de raiva.
Quando já saia do hospital ouviu seu nome sendo chamado era o médico responsável pelo caso de Júlia.
-- Dona Veridiana preciso de uma posição sua. - Disse o médico ao alcançar Veridiana.
-- A minha posição é não vou doar meu rim! - Veridiana disse seriamente e deixando o médico sem ação. - Procure outra trouxa. - Falou e saiu andando calmamente.
O médico deu a notícia a Laísa e Júlia, e elas não se surpreenderam com tal atitude, elas até esperavam por isso.
-- Agora voltamos à estaca zero. - Disse Júlia quando o médico saiu.
Laísa sentou-se no sofá levando as mãos à cabeça bagunçando os seus cabelos.
-- Não posso te perder meu amor, não posso. - Laísa saiu do quarto às pressas.
Desesperada Laísa dirigiu até o hotel onde Veridiana estava hospedada. Informara-se na recepção sobre o endereço dela na capital Paulistana.
Ao chegar ao hotel ela pediu para falar com Veridiana, que apesar de estranhar a visita autorizou que ela subisse a seu quarto.
Veridiana abriu a porta do quarto e deparou-se com uma Laísa descabelada, olhos arregalados e vermelhos, parecia ter chorado muito.
-- Aconteceu alguma coisa com a Júlia? - Veridiana perguntou assustada ao vê-la daquele jeito.
-- Ainda não aconteceu, mas pode acontecer se você não doar este rim a ela. - Laísa entrou no apartamento.
-- Ah, então é isso. - Veridiana fechou a porta do apartamento.
-- Como assim "então é isso"? Laísa parecia desnorteada. - Ela vai morrer sua egoísta idiota! Por sua causa ela pode morrer!
-- Acho que você precisa se acalmar! - Veridiana percebeu seu jeito descontrolado, suas pupilas estavam dilatadas e ela cuspia-se ao falar. Parecia drogada.
-- Você não sabe nada sobre mim Veridiana, não sabe o que eu já passei o que eu sofri então você não vai fuder com minha vida sua vadia!
O medo começou a tomar conta de Veridiana.
-- Você tem de fazer a doação Veridiana, tem de fazer!
-- Você mesmo disse que não fazia diferença se eu doasse ou não, porque isso agora? - Veridiana aproximou-se da mesa do centro da sala e discretamente pegou seu telefone e apertou o número dois que era o número que ela tinha registrado para chamada rápida para Lígia. - Acho que você está sem controle. - Ela acionou a chamada e deixou o telefone ligado, se Lígia atendesse ouviria o que acontecia ali.
-- Eu posso resolver isso. - Laísa falava mais para si mesma do que para com Veridiana. Andava de um lado para outro na sala passando as mãos nos cabelos desordenadamente. - Eu posso salvar o meu amor, a minha linda. Eu... eu posso te obrigar! - Ela gritou retirando do bolso da calça social uma pistola automática.
-- Oque é isso Laísa ficou maluca? Isso é uma arma pode me machucar com isso. - Veridiana falou alto para que Lígia ouvisse.
E funcionou, Lígia ouviu parte da conversa e se desesperou saindo urgente para o hotel de Veridiana.
-- Eu vou atirar na tua cabeça, você vai ter morte encefálica e pode ser doadora da minha linda. - Laísa estava totalmente desiquilibrada.
-- Larga está arma Laísa vamos conversar. - Pedia Veridiana sem perder o olhar da arma na mão de Laísa que tremia muito.
--Eu vou acabar com tua vida vou ser feliz com minha linda.
-- Se me matar nunca vai ser feliz com ela, pois ela nunca vai te perdoar.
-- Cala a boca! - Laísa andou pela sala, parecia tentar organizar suas ideias, pois ela batia com a mão desocupada na cabeça.
Lígia em pouco tempo chegou ao hotel, e depois de uma desculpa esfarrapada conseguiu subir para o apartamento de Veridiana.
A porta estava encostada e ela entrou rapidamente deparando-se com Laísa descontrolada com uma arma na mão.
-- Minha irmã o que está pretendendo fazer com essa arma apontada para Veridiana? - Lígia teria de usar toda sua experiência psiquiátrica para dissuadir sua irmã.
-- Saía daqui, meu assunto é com essa egoísta. Sabia que ela não quer mais doar o rim para a Júlia? - Laísa falava babando. - Mas eu vou força-la a doar, eu vou atirar na cabeça dela. - Ria loucamente.
-- Laísa... - Lígia se aproximava da irmã. - Assim vai piorar as coisas, se a matar agora o rim não vai servir, ele vai parar de funcionar imediatamente. Eu sou médica ouça o que estou te dizendo.
-- Oque? Você quer me enganar, você ama esse aí! - Laísa revirava os olhos.
-- Minha irmã você se drogou? - Lígia percebeu seu estado alterado.
Laísa riu descontroladamente mais uma vez.
-- Peguei um pó no centro da cidade, estava precisando pensar. - Disse batendo com a mão na cabeça. - Mas agora já pensei e vou matar essa ai. - Ela engatilhou a arma.
-- Você me prometeu Laísa que não usaria essas merd*s novamente. Você prometeu cuidar de mim. Como vai fazer isso assim desse jeito chapada? - Lígia estava bem próxima da irmã agora.
-- Eu vou cuidar de você e cuidar da minha linda também.
-- Não desse jeito Laísa, eu estou muito triste com você. Não esperava isso de ti minha irmãzinha. - Lígia viu que conseguira atingir a irmã que enchera os olhos de lágrimas.
Nesse momento ela conseguiu tirar a arma da mão de Laísa e abraça-la forte a protegendo do mundo.
Veridiana respirou aliviada e caiu sentada no sofá, olhando as duas irmãs abraçadas. Sentiu pena de Laísa e entendeu sua loucura.
-- Vem eu vou cuidar de você. - Lígia abraçou a irmã pela cintura e começou a deixar o apartamento. - Obrigada por me avisar. Ela vai ficar bem só precisa assimilar essas coisas todas que aconteceram.
-- Ela tem problemas com drogas? - Veridiana perguntou.
-- Teve. - Lígia deixou o apartamento de Veridiana e levou a irmã para casa. Lá ela cuidou da irmã com extremo carinho e amor. Assim como Laísa fazia com ela quando era pequena.
**********
Júlia soube por Lígia que telefonou, sobre o estado de saúde de Laísa. Ela explicou que a irmã se desestabilizou quando pensou na possibilidade de perdê-la.
Disse também que irmã consumira drogas, e que esse fora um vício que quase matara Laísa na juventude.
Surpresa com tanta informação Júlia decidiu pedir para ir para casa para poder dar apoio à esposa.
No início o médico foi contra, mas depois autorizou a sua saída tendo em vista que Laísa necessitava de Júlia ao seu lado.
**********
Ao chegar ao apartamento que vivia com Laísa, Júlia sorriu feliz de poder estar de volta ao lar.
Lígia a olhou entrar no apto e ficou surpresa.
-- Oi cunhadinha onde está minha mulher? - Perguntou Júlia sorridente.
-- O que faz aqui sua doida, precisa de cuidados médicos. -Lígia comentou com um pequeno sorriso.
-- Eu sei, mas minha esposa precisa de mim e eu vim cuidar dela. Ela está no quarto?
-- Sim.
Júlia se dirigiu para o quarto e encontrou Laísa deitada na cama dormindo profundamente. Aproximou-se da cama e tocou seu rosto com carinho. Ela acabou acordando e se assustando de vê-la ali ao seu lado.
-- Oi minha esposa, sente-se melhor? - Júlia perguntou sentando-se na beira da cama.
-- O que faz aqui linda, precisa ficar no hospital. - Laísa sentou-se ainda meio tonta.
Lígia havia lhe dado algumas medicações para cortar o efeito da cocaína no seu sangue e lhe acalmar um pouco os nervos.
-- Eu falei com o médico que você precisava de mim e ele me liberou.
-- Estraguei tudo não linda? - Laísa baixou a cabeça envergonhada.
-- Não fique assim, você somente agiu por amor e acabou perdendo o controle. - Júlia acariciou sua mão.
-- Eu te amo tanto minha linda não vou suportar perde-la. -Laísa chorava. - Aquela vadia não vai doar minha linda.
-- Chega amor, Deus sabe o que faz. E se tem de ser assim vai ser assim.
As duas se abraçaram e choraram juntas, até acabarem adormecendo abraçadas uma a outra.
Só acordaram quando celular de Laísa tocou. Era do hospital e pediam para irem o mais rápido possível para o Hospital.
Em meia hora as duas estavam em frente ao doutor Marco Pacheco responsável pelo setor de transplantes do hospital.
-- Temos um doador. - Informou o médico.
-- Temos? - Laísa perguntou intrigada.
-- Soubemos a poucas horas, logo que a Júlia deixou o hospital, tentamos ligar para ela, mas o celular estava desligado.
-- O telefone ficou sem bateria. - Disse Júlia ainda confusa.
-- Bem precisamos fazer uns exames antes do transplante. - O médico informou olhando o prontuário de Júlia.
-- Quem é o doador? - Júlia perguntou curiosa.
-- O doador pediu sigilo e nós temos de respeitar sua vontade. Agora tenho de ir. Logo a enfermeira virá colher seu material. Boa sorte! - O médico saiu do quarto sorridente.
-- Será que Veridiana mudou de ideia? - Laísa perguntou desconfiada.
-- Creio que não, ela já disse que não doaria e Veridiana quando diz uma coisa ela cumpre. - Júlia falou com convicção.
********
O transplante foi bem sucedido e Júlia recuperava-se no CTI em coma induzido, para uma melhor recuperação.
Laísa estava radiante por ter sua esposa de volta e com uma previsão de vida longa se não houver rejeição.
O médico explicava como seria a recuperação de Júlia.
-- Em geral, ele, os pacientes transplantados ficam de sete a dez dias no hospital. Para inibir a rejeição, assim que é internado começa a tomar imunossupressores, ou seja, drogas que diminuem as defesas imunológicas não só contra o novo órgão, mas contra agressões de agentes externos. Atualmente, os remédios são muito mais específicos contra a rejeição e podem ser dosados no sangue de tal forma que, com a menor quantidade possível, consegue-se suprimir a resposta de agressão contra o órgão transplantado e manter a defesa contra vírus, bactérias ou tumores.
-- Entendo doutor. -Laísa apesar de apreensiva estava feliz.
-- Logo mais a transferiremos para o quarto. - O médico informou.
-- Obrigada doutor, vou em casa então tomar um banho e descansar um pouco. - Laísa deixou o hospital rumo a sua casa.
Laísa já saia da sala do médico quando ouviu uma enfermeira falando:
-- Precisa ver como está a paciente do 303B. - Falou uma das enfermeiras.
-- É Veridiana Pisanski, né? - Perguntou a outra enfermeira consultando suas folhas de visitas.
-- Isso verifica os sinais vitais dela tá? - Disse a enfermeira saindo pelo corredor.
Boquiaberta Laísa pensou se teria ouvido mal. Então resolveu conferir o que ouvira.
-- Oi tudo bem? - Laísa preguntou a atendente da recepção.
-- Oi dona Laísa no que posso ajuda-la? - Perguntou a recepcionista solicita.
-- Me diz uma coisa a paciente do 303B é Veridiana Pisanski?
-- É parente dela?
-- Não, sou amiga dela e queria ver se ela está bem.
A enfermeira sorriu e mexeu no computador.
-- Veridiana Pisanski está bem e recuperando-se da doação do rim esquerdo.
-- Obrigada. - Laísa sorriu e saiu caminhando pensativa.
*********
Veridiana estava acordada, o médico a recém viera vê-la e dissera que em três dias ela teria alta e que estava se recuperando muito bem do transplante assim como o receptor do órgão.
-- Foi você então?
Laísa abriu a porta perguntando bravamente.
-- Foi você sua vaca que doou o órgão?
Veridiana sorriu satisfeita.
-- Você não queria sua linda viva? Pois bem ela agora viverá por muitos anos com um pedaço meu em seu corpo.
-- Sua cobra você armou tudo! - Laísa espumava de raiva.
-- Pense o que quiser, mas agora saia daqui antes que eu chame as enfermeiras. - Veridiana estava muito feliz com a reação de Laísa.
-- Ela nunca vai saber que foi você que dou este rim, nunca! - Laísa deixou o quarto furiosa.
Precisava de uma ideia e rápido para manter Júlia ao seu lado, pois quando ela soubesse que Verdiana doou o rim com certeza iria procura-la e isso era muito arriscado, já que ela sabia que sua esposa nunca esquecera a ex.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: