CapÃtulo 12 - Vou lutar por ela!
Veridiana enxugou as lágrimas com as costas da mão e respirou fundo buscando força para encarar aquela conversa.
-- Oi Júlia. - Disse ainda fungando.
-- Oque faz aqui como deixaram você entrar? - Júlia estava surpresa com a visita e ao mesmo tempo feliz de ver Veridiana ali na sua frente com aqueles olhos azuis brilhantes, aquele cabelo loiro bagunçado que ela amava.
-- Eu burlei a segurança e dei um jeito de entrar. Precisava te ver. - Confessou Veridiana com um sorriso lindo no rosto.
-- Porque precisava me ver? Achei que nunca mais queria ver a mulher que te dá nojo e repulsa? - Júlia nunca esquecera oque Veridiana dissera quando romperam.
-- Me perdoe eu disse aquilo tudo na hora da raiva, tente entender meu lado naquele momento.
-- Eu nunca me esqueci do que me disse, dia e noite lembro-me de suas palavras e elas me ferem como se fossem hoje.
Veridiana balançou a cabeça negativamente. Lembrou-se de sua mãe que dizia que as palavras ferem mais de que uma agressão física.
-- Eu soube que podia estar doente e como não consegui informação nenhuma, nem mesmo com Renata, eu vim atrás para saber o que realmente estava acontecendo.
-- Porque este interesse todo achei que me quisesse ver pelas costas? - Júlia tinha lágrimas nos olhos.
-- Eu nunca quis seu mau Júlia. - Veridiana aproximou-se da cama, olhos marejados e coração ardendo de paixão. - Eu nunca quis nada do que aconteceu e você sabe disso. - Ela tocou o rosto de Júlia com carinho. - Eu nunca consegui deixar de te amar Júlia, eu lutei com todas as minhas forças, mas eu não consegui! Você está tatuada no meu coração!
Júlia sentiu o coração acelerar e as mãos suaram. Os aparelhos que mediam seus batimentos cardíacos aceleraram os bipes.
-- Pode ver que ainda mexe comigo, não? - Júlia se referiu ao aparelho de batimentos cardíacos e as duas riram. - Veri eu nunca te trai de fato, não fui para cama com a Laísa.
-- Deixa! Não precisamos falar sobre isso, já passou.
-- Não eu preciso te dizer que eu somente a beijei, e quando me mandou embora de sua vida eu somente a tinha beijado duas vezes até então e foi por pura...nem sei com justificar. - Júlia a olhou sinceramente. - Foi idiotice minha Veri. - Ela pegou na mão de sua ex.
-- Eu não quero e não posso te perder Júlia. - Veridiana não se conteve mais e a beijou nos lábios com urgência.
Ambas pareciam querer recuperar o tempo perdido, suas línguas buscavam urgentes a boca uma da outra.
-- Eu te amo. - Júlia disse emocionada.
-- Eu também amo você. - Veridiana continuava a beija-la, temia separar-se de seus lábios e ver que foi tudo apenas um sonho bom.
De repente a porta do quarto se abriu e Laísa viu o que jamais desejaria ver em sua vida.
-- O que está acontecendo aqui? - Perguntou Laísa aos gritos.
Nenhuma das duas disse alguma coisa. Então Laísa adentrou o quarto fechando a porta atrás de si.
-- Alguém pode me dizer o que esta mulher faz aqui? - Ela perguntava encarando Veridiana.
-- Eu vim ver Júlia, porque não posso? - Veridiana a enfrentou naquele duelo de olhares.
-- Creio que não, ela é minha noiva e eu não quero sua presença aqui.
-- Sei que ela é sua noiva minha cunhadinha. - Veridiana disse ironicamente.
-- O que você disse sua maluca? - Laísa a fulminou com o olhar.
-- O que ouviu. - Veridiana falou debochadamente e até Júlia a olhou espantada.
-- Eu namoro sua irmã a Lígia. - Veridiana contou. - Eu imaginei que você não sabia que eu era a namorada dela, assim como eu não sabia que que Júlia estava doente.
-- Você é a tal namorada dela então? - Laísa estava pasma com a revelação. - Não acredito nisso!
-- Pois é o mundo é muito pequeno mesmo. - Veridiana sorriu sem graça.
-- Você namora a Lígia? - Júlia perguntou falando finalmente.
-- Namoro, mas Lígia sabe desde o início que eu não a amo. Tenho um grande carinho por ela, mas não vai além disto. - Veridiana apressou-se em explicar-se a Júlia.
-- Se você quer se vingar de mim faça isso comigo, não use minha irmã, ela é uma pessoa maravilhosa, de um coração imenso, não a magoe por favor! - Laísa pediu sinceramente.
-- Eu sei das qualidades de Lígia não precise me dizer. - Veridiana falou ríspida.
-- Então porque está aqui? E porque estava beijando minha noiva? - Laísa perguntava angustiada.
-- Olha eu já disse o que tinha de dizer a Júlia, agora vou procurar os médicos que estão cuidando do caso e fazer meus exames para ver se posso ser a doadora.
-- Eu não vou permitir isso! - Laísa gritou.
-- Você não tem direito a nada, eu sou uma possível doadora voluntária e isto está na lei, se eu for compatível eu vou doar sim e você nada poderá fazer contra. - Veridiana deu um beijo no rosto de Júlia e dirigiu-se para sair do quarto. Mas antes parou em frente à Laísa e disse olhando-a nos olhos:
-- Saiba que assim que ela melhorar eu vou lutar por ela, fique bem ciente disso.
Laísa engoliu em seco e a observou deixar o quarto senhora de si.
Um silêncio se fez no quarto e Júlia foi a primeira a falar quebrando o silêncio.
-- Laísa eu quero...
-- Não fala nada Júlia, aliás fala uma coisa para mim. - Laísa a olhou seriamente. - Você a ama? Você a quer em sua vida novamente?
-- Laísa eu não sei, realmente não sei. - Júlia passou a mão nos cabelos.
-- Olha eu vou sair, preciso fumar um cigarro. - Laísa falou se encaminhando para sair.
-- Não fuma, você só fuma quando está preocupada ou nervosa. - Júlia estava confusa, não sabia mais o que pensar.
-- E quem disse que eu não estou preocupada e confusa? - Laísa deixou o quarto em direção à rua.
Assim que se sentou em um banco na rua em frente ao hospital, Laísa ligou para Lígia.
-- Oi Laísa aconteceu alguma coisa com a Júlia? - Lígia perguntou preocupada.
-- Não a Júlia está na mesma, mas eu estou te ligando porque quero saber por que não me contou que sua namorada era a Veridiana, a ex da Júlia?
-- Como? - Lígia surpreendeu-se com a pergunta.
-- Por que não me disse que namorava a Veridiana? - Laísa repetiu a pergunta.
-- Como sabe que ela é a minha namorada? - Lígia questionou confusa.
-- Por que ela me contou.
-- Ela te contou? Não estou te entendendo!
-- Ela está aqui Lígia, ela estava beijando a Júlia! - Laísa estava furiosa.
-- O que? Não acredito! Ela disse que iria para Bahia participar de um congresso de gastronomia. - Lígia estava sem acreditar em tudo que ouvia.
-- Congresso nada! Ela está aqui em São Paulo, veio ver a Júlia! E ainda teve a cara de pau de me jogar na cara que é sua namorada!
-- Eu vou para ai agora mesmo. - Lígia nem esperou Laísa falar e desligou o telefone procurando sua bolsa para ir imediatamente para o aeroporto.
******
Veridiana procurou os médicos responsáveis pelo caso de Júlia e se ofereceu para fazer os exames para ver se podia ser doadora.
Depois de coletar sangue e urina ela resolveu voltar ao quarto de Júlia. Mesmo que encontrasse com Laísa ela queria ver Júlia novamente.
-- Oi. - Disse entrando no quarto.
-- Oi Veri entra, a Laísa saiu para fumar. - Júlia sorriu para a ex-companheira.
-- Eu somente queira te dizer que já fiz os exames para ver se sou compatível contigo. Agora é aguardar os resultados. Eu tenho o mesmo tipo sanguíneo que o seu, então os médicos acham que pode haver uma chance. - Veridiana contou feliz.
-- Você quer mesmo fazer isso Veri? - Júlia segurou sua mão assim que ela aproximou-se da cama.
-- Quero sim, eu não vou te perder novamente. - Veridiana a abraçou carinhosamente.
-- Eu não sei o que fazer Veri, estou tão confusa! - Júlia falou afastando-se de sua ex.
-- Não vamos pensar nisso agora, você precisa descansar e estar forte para que se acharmos um doador possa fazer logo a esse transplante. - Veridiana aconselhou acariciando as mãos de Júlia.
-- Eu sei, mas não há como não pensar nisso tudo. A Laísa tem sido tão legal comigo e a Lígia, ela não merece isso.
-- Te entendo Júlia, mas minha relação com a Lígia eu resolvo depois.
-- A Laísa não vai aceitar um rompimento assim tão fácil. - Júlia falou baixando a cabeça desolada.
-- Vamos resolver isso tudo juntas Júlia, agora que te reencontrei eu não vou mais te deixar sozinha.
Veridiana ficou algum tempo mais com Júlia e depois saiu para ir para um hotel para tomar um banho e descansar um pouco.
Já dormia um pouco quando seu celular tocou.
-- Veridiana onde você está? Quero te ver agora! - Era Lígia bastante irritada ao telefone.
-- Então já sabe que estou em São Paulo? - Veridiana estava deitada na cama.
-- A Laísa me ligou me avisando. - Lígia contou tentando se acalmar.
-- Eu imaginei. Estou em um hotel aqui próximo do hospital. - Veridiana deu o endereço do hotel e logo desligou o telefone se alevantando e indo se vestir para esperar sua namorada chegar.
E essa chegada não demorou mais de que vinte minutos.
Lígia entrou no quarto do hotel e não parecia muito confortável com a situação que se encontrava.
-- Então seu congresso era aqui? - Lígia começou a conversa.
-- Como já sabe não havia nenhum congresso. - Veridiana rebateu. - Eu vim a São Paulo depois de ter ouvido uma conversa sua com sua irmã na sua casa. Havia ido até lá para nos acertarmos de vez e acabei ouvindo uma conversa de vocês.
-- A senhora certinha ouvindo atrás das portas, agora? - Ironizou Lígia.
-- Foi por acaso, mas foi bom porque você egoísta jamais iria me contar, não é mesmo?
-- Eu não queria perder você! - Lígia gritou perdendo o controle. - Pensa que eu não sei que nunca esqueceu ela? Eu sei, várias vezes a noite você dizia o nome dela em seus sonhos. Acha mesmo que eu iria contar dela para você fazer exatamente o que fez agora?
-- Eu tinha este direito, eu vivi com ela por seis anos Lígia! E se quer saber mesmo da verdade, eu ainda a amo sim, e amo muito. E já fiz os exames para ver se posso ser doadora dela.
-- O que? - Lígia levou as mãos à cabeça. - Isso só pode ser um pesadelo, só pode!
-- Eu não vou perdê-la de novo.
-- Quero ver a Laísa deixar! - Riu Lígia nervosa.
-- Pois ela já sabe disso, eu mesma disse a ela que assim que Júlia se recuperar vou lutar por ela. - Contou Veridiana.
-- Então terminamos? É isso Veridiana?
-- Não temos porque continuar. Eu tenho um carinho muito ...
-- Pro inferno com seu carinho! - Lígia espumava de raiva. - Eu fiquei ao teu lado quando queria se afundar na bebida, eu te incentivei a comprar parte do restaurante, e você faz isso comigo?
-- Lígia eu sou grata por tudo que fez por mim, mas não podemos ter uma relação em cima de sentimentos de gratidão.
-- Eu amo você, posso te ensinar a me amar, com o tempo você pode se apaixonar por mim. - Lígia tentou abraçar a namorada que se afastou discretamente.
-- Isso não existe. Estamos juntas há quase um ano e não aconteceu nada, não vai ser agora que vai acontecer algo Lígia!
-- Eu odeio essa Júlia, por mim ela podia morrer!
Ao terminar de falar Ligia recebeu um tapa no rosto com toda a força.
-- Nunca mais fale isso! - Veridiana a olhava furiosa.
-- Eu lamento por você. - Lígia disse com a mão no rosto atingido pelo tapa. - A Laísa nunca vai deixar a Júlia e no que depender de mim eu vou ajudá-la a ficar com ela. - Ela olhou Veridiana com muita mágoa no olhar. - Eu te amava de verdade Veridiana! - Disse e saiu sem olhar para trás.
Veridiana sentou-se no sofá chateada, não queria que fosse assim, não queria magoar Lígia, mas não ouve outra opção.
Ela somente pensara em si ao não lhe contar que Júlia estava doente, isso era egoísmo puro. Pensava Veridiana.
Nos dias seguintes Veridiana não foi ao hospital, preferiu ficar no hotel e usou o celular para se comunicar com Júlia.
Laísa não falava nada a respeito de Veridiana e continuava a cuidar de Júlia com dedicação.
Mas foi no final do dia que Laísa resolveu pôr em prática a ideia que tivera.
Júlia foi levada para fazer diálise e quando voltou para o quarto, ele estava todo decorado com flores e cartazes com declarações de amor. Havia salgadinhos e bebidas não alcoólicas.
Mas o mais surpreendente foi ver Laísa toda elegante com um longo vestido na cor champanhe, acompanhada do médico de Júlia e alguns enfermeiros e de uma juíza de paz.
Laísa tinha armado um casamento surpresa para Júlia que agora olhava para tudo sem ação.
-- Vem minha linda, as enfermeiras vão te ajudar a se vestir para o nosso casamento. - Disse Laísa sorrindo.
Sem saída Júlia foi acompanhada das enfermeiras até o banheiro onde se vestiu para o seu casamento.
Um vestido longo na cor gelo foi trazido por Laísa para a ocasião.
De volta ao quarto a juíza de paz celebrou a união que foi aplaudida pelos médicos e enfermeiros no local.
-- Eu te amo minha linda, vamos ser muito felizes. - Laísa abraçou a então sua esposa agora e a beijou nos lábios com carinho. - É minha para sempre agora.
Júlia nada dizia apenas parecia uma marionete sendo manipulada.
Parecia que agora o destino de Júlia estava selado.
Fim do capítulo
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