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Pentimentos por Cidajack

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Palavras: 5299
Acessos: 1945   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 6

SEIS

disclaimer no capítulo UM

 

 

 

Relutantemente, o tempo de retornar chegou. Com ele, todos os transtornos esquecidos.

 

Luciana havia esquecido que era uma mulher de negócios e ocupadíssima. Rebecca esquecera que era uma pessoa simples, sem compromissos e com uma vida banal.

 

Em resumo, por quase três meses, esqueceram-se de quem eram quando deixavam o mundo feito só para duas pessoas.

 

Atravessar a porta da casa para ambas foi como transpor um plano de vida paralelo. Haviam decidido que não construiriam suas vidas desta forma, mas o caminho entre a vontade e a realização dela seria longo.

 

A primeira coisa que logo fugiu ao controle foi a separação inevitável pelos muitos compromissos reassumidos por Luck.

 

Com a ausência prolongada, uma série de fatos e ocorrências tinham colocado suas empresas em situações pendentes, que urgiam por definições, quando não, por reavaliações.

 

Assim, no mês que decorreu, Luck e Becky não tiveram tempo para estarem juntas. Não da forma como haviam se habituado no período de férias.

 

Enquanto Luciana prendia-se em reuniões de conselhos, comitês e viagens; Becky, com a ajuda de Clara, tentava resolver como faria com a sua formação acadêmica e seus planos profissionais.

 

Desta forma, teve início uma etapa que Becky não imaginaria viesse a acontecer agora.

 

Com o intuito de organizar o histórico escolar de Becky, Clara marcou uma viagem para ambas até a cidade onde a jovem loira crescera, o que a fez entrar em um estado de excitação tremendo. No mais remoto lugar da sua alma, ela queria crer que seus pais teriam retornado para lá. Mais do que resgatar seus avanços acadêmicos, ela pensava em buscar pistas sobre um possível paradeiro para eles. Na verdade, esperava encontrá-los.

 

-- Clara, temos que ir mesmo? Você não pode fazer como fez para providenciar meus documentos?

 

-- Pensei que você quisesse rever sua terra natal. Além do que, acho que será uma tarefa mais investigativa e estando por lá, pode ser mais fácil e menos demorado. Pelo que você falou, seus estudos alternaram-se entre as cidades vizinhas, com alguns períodos em escolas diferentes...

-- E é por isso que eu acho que deveríamos deixar para o escritório...

 

-- A dra. Luciana  pediu que eu cuidasse disto pessoalmente....

 

-- .....como eu ia dizendo,  é melhor irmos pessoalmente, tempo eu tenho bastante...

 

Clara entendeu a dissimulação de Becky. Ambas sabiam que a melhor coisa, a mais sensata, era não contrariar a doutora.

 

-- ....e você está certa, eu quero voltar sim. - a loirinha concluiu.

 

De certa forma, o período que a separou de Luck não foi tão sem novidades. Além da iniciativa de Clara, dois convites surpreenderam-na: tanto o Prof. Arthur quanto o Prof. Victor queriam vê-la e marcaram seus encontros.

 

À princípio, decidiu não contar para Luciana.  Sentia uma certa vergonha, pois queria tirar o que pudesse das pessoas que pareciam ser as mais próximas da enigmática doutora de hipnóticos olhos azuis, para tentar recompor seu passado. Sabia que, se contasse, teria vetada todas as possibilidades de aproximação com tais fontes.

 

Com Victor resolveu que um almoço seria o melhor começo. Um lugar neutro, com posturas comedidas e o distanciamento necessário. Por mais que não quisesse pré-julgar sob a ótica de Luciana, Rebecca já havia sentido uma certa animosidade entre eles.

 

Já com o Prof. Arthur foi mais receptiva e aceitou o convite para um jantar na casa dele, para conhecer sua esposa, que desejava ser apresentada à "bela amiga da tão solitária e insociável doutora iceberg", palavras proferidas jocosamente por ele.

 

Com Arthur sentia-se mais à vontade, porém cautelosa. Ele era amigo de Luciana e suas perguntas poderiam se transformar de curiosidade em especulações.

 

Posicionando Victor como antagonista, Rebecca esperava receber informações mais reveladoras, ainda que possivelmente maquiadas por rancor ou mágoas.

 

Saber sobre o filho dela pareceu que seria a abertura que teria para percorrer os caminhos internos de tão arredia criatura, porém toda a confissão de um dia não permitiu nenhum questionamento posterior, nenhuma avaliação de arrependimentos. O que ficou claro, o amor incondicional,  realmente era o mais importante, não fosse pelos constantes momentos de ausência ou de demonstração de raiva e rancores incontidos.

 

Depois de ouvir a confissão e os temores de Luciana, Rebecca pensou que poderia se sentir feliz e especial por atingir um coração tão endurecido. Mas, cada vez que percebia que esse amor e mundo feliz fechavam-se nela apenas, sentia-se incomodada.

 

As palavras que Luciana dissera sobre seu casamento, sobre amar e ser amada pelo marido vir a ser o que contava para eles,  sendo todo o resto insignificante; ficaram gravadas na mente de Rebecca. Definitivamente, não era assim que ela queria. 

 

Tudo o que existia ao redor delas era importante, principalmente as pessoas. Rebecca estava sozinha, mas tinha, em algum lugar, a sua família e a amava. Gostaria de fazer amizades, expressar seu amor pelas pessoas e principalmente seu amor pelos pequeninos.  Não concebia alguém que os odiassem. Ainda mais sendo esse alguém o seu maior amor. Todas estas coisas não poderiam pertencer só a um lado do relacionamento sem abalá-lo como um todo.

 

Por mais que soubesse que não era nela, Rebecca,  que Luciana tinha que encontrar sua redenção, também sabia que teria que ajudá-la a encontrar isto dentro dela mesma. E a ajuda só poderia vir com conhecimento e compreensão. O trabalho de formiguinha que estava realizando grandes efeitos ainda seria insuficiente para que, nesta vida, uma jovem determinada loirinha visse irradiar a luz natural de uma certa poderosa doutora.

 

Talvez isto fosse desculpa para atenuar a "investigação" que resolvera empreender para invadir os compartimentos escuros dentro de Luciana. Mas, se esse era o único caminho, ela o trilharia.

 

Tinha duas peças valiosas desse quebra-cabeças acenando tentadoramente para ela. Por que não aproveitá-las?

 

 

 

 

-- Ninguém jamais lhe faria jus apenas descrevendo-a. Fosse eu uma ladra, roubaria seus olhos de jade para compor um par de brincos preciosos. Somente um brilho tão intenso para derreter certas geleiras...

 

-- Cecília, Rebecca já está cansada de tantos elogios. E ela ainda não transpôs a soleira da porta, querida!

 

Arthur e Cecília era um casal divertidíssimo. Ela era uma mulher extravagante. O estilo chamado de emergente. Não trabalhava, adorava promover chás e outros eventos de cunho beneficente. Era elegante, apesar de algo sempre parecer demais em seu modo de vestir.

 

Rebecca foi logo alçada à condição de "como se fosse nossa filha"...

 

-- ...pois Luciana, apesar de ser tão desnaturada e glacial, também tem essa nossa consideração. Sinto falta dela, como ela está?

 

-- Prá falar a verdade, penso que o Prof.  tem visto mais ela do que eu, pois eles vivem fechados naquelas reuniões. Mas, pelo que temos nos falado, ela está bem, apesar de todo o estresse haver voltado.

 

-- Ah! Mas agora ela tem uma maneira muito encantadora de relaxar, presumo.

 

-- Cecília!!

 

Becky enrubesceu pelo pensamento que tal observação trouxe à sua mente. Sem perceber sorriu.

 

-- Tá vendo, Arthur. Ela já está sorrindo só de pensar.

 

A loirinha sentiu que não era mais um leve enrubescimento, mas todo o sangue que lhe subia às faces.

 

-- E, por favor, quer parar de ficar corando deste jeito, mocinha.

 

O jantar foi muito gostoso. Fatos sobre Luciana foram contados. Mas nada que Becky já não soubesse, uma vez que o lado esportista e aventureiro da doutora foi o que mais veio à tona durante as conversas.

 

Curioso era que o casal conhecia Luck há muito mais tempo do que o período de casamento dela com o Prof. Thomas.

 

Luciana, ainda recém-estudante de medicina, era companheira da filha deles.

 

Com esta informação, outra peça juntava-se ao quebra-cabeças. O Prof. Victor mencionou a Dra. Paula, sem se deter muito, apenas insinuando que ela devia perguntar ao Prof. Arthur.

 

A menção espontânea do nome acendeu a curiosidade de Becky.

 

-- Elas eram muito unidas. Planejavam montar uma clínica juntas. Queriam prestar assistência às crianças carentes. Nossas meninas sonhavam muito. E hoje são mulheres brilhantes...

 

-- ...e solitárias.

 

-- Arthur!

 

Rebecca não pode evitar.

 

-- Onde está ela agora?

 

-- Na Austrália. Nos encontramos lá, no mesmo período que vocês estiveram. Ela e Luciana se viram. Lamentável como sempre. A dra. Iceberg fica cada vez melhor em sua arrogância. Mas é problema delas. São boas garotas, separadas.

 

De repente, pairou um silêncio na sala.

 

O olhar de Rebecca fugiu à percepção de Cecília, mas não escapou de encontrar os pálidos olhos azuis de Arthur. Havia uma certa tristeza.

 

-- Vamos à sobremesa?

 

Enquanto Cecília se entretinha com a governanta, Arthur olhava fixamente para Rebecca. Os dois tinham decodificado suas necessidades. Ele sabia que Rebecca queria informações. Ele também tinha seus questionamentos.

 

-- Como você conseguiu?

 

-- Desculpe-me....

 

-- Como você conseguiu alcançá-la?

 

-- Ainda não consegui.

 

Mesmo Cecília ficou calada com tal declaração. De repente, observar o delicioso tiramissu era o mais importante ponto do jantar. Rebecca interrompeu enfadonho ato, com uma pergunta bem ousada.

 

-- Ela e Paula...bem...eram somente ...amigas? Quero dizer, não tinham...

 

-- Minha filha e Luciana eram amigas. - foi a resposta ríspida, mal disfarçando certa indignação, de Cecília.

 

-- Desculpe-me o pensamento.

 

Arthur olhou demoradamente para a colher de sobremesa e depois para Rebecca.

 

-- Não. Nós sabemos que não era só amizade,  Cecília. Melhor do que elas, sabemos que sim, as duas se amavam. Era nítido. A expressão naqueles magníficos olhos azuis de Luciana não deixava qualquer dúvida.

 

-- Foi uma loucura de adolescentes. Curiosidade que fizemos bem em não alimentar, Arthur! - Cecília estava quase histérica.

 

-- Elas não eram adolescentes e não fomos nós que evitamos tudo, você sabe muito bem.

 

-- É por isso que ainda nutro algo por Luciana. - foi a resposta entre dentes de Cecília.

 

Rebecca estava perdida no meio do tiroteio. De alguma maneira, um escudo a protegia.

 

O que começou como um jantar agradável, virou um conflito familiar e Luciana era o pivô.

 

Quando passaram para a sala de visitas, o ambiente não era tão confortável.

 

-- Quando vi você e Luciana juntas...especialmente quando vi o olhar dela sobre você, eu reconheci o sentimento. Soube que ela a amava e que era sincero, pois só tinha visto aquela expressão nos mesmos olhos quando minha filha estava por perto.

 

Os pensamentos na cabeça de Becky estavam desenfreados.

 

-- Pensei que o professor tivesse sido pego de surpresa com o tipo de relacionam....

 

-- Rebecca, nem Luciana ou Paula sabem que eu sabia. Cecília nunca deu margem para tal e eu achei prudente não me intrometer com as duas jovens. Na verdade, como bem disse minha esposa, poderia ser coisa da juventude mesmo. Elas nunca vieram até nós ou deixaram transparecer, sempre que podiam evitar, é claro. Os tempos eram outros...sinceramente eu não gostaria que nenhuma delas ficasse com qualquer tipo de rótulo.

 

-- Entendo. É estranho para mim também. Realmente, estamos nos acostumando com a idéia, porém não temos nada e nem porque temer  por optarmos por nosso amor. Luciana é a mulher que é e não se intimida com nada. Sabe se fazer respeitada. Eu....bem, ao lado dela e por ela nada me abala. Eu a amo. Expressar amor não pode ser algo tão nocivo.

 

Os pálidos olhos azuis do professor pareciam hipnotizados pelo cálice em sua mão. Pareciam úmidos e sua expressão era contida.

 

-- O professor sente-se bem?

 

Ele levantou-se e depositou o copo no bar. Lentamente, virou-se e encarou Becky.

 

-- Nunca consegui sentir raiva de Luciana. Acho que a admiro, como bem disse Cecília, pois ela teve mais coragem do que Paula. Mas, isto não significa que não tenho ressentimentos. Minha filha nunca mais retornou  para  nós. Não temos mais lugar no mundo dela. Se ela quisesse, teria sido uma profissional tão ou mais respeitada que Luciana, mas ....

 

"Calma. É muita informação", Becky procurava frear sua ansiedade para não perder nada. Sabia que de repente todas as fontes poderiam secar. Também sabia que Luciana não poderia ser poupada de uma longa conversa. Aliás, várias conversas, considerando-se tudo o que Victor também havia revelado.

 

O pequeno cálice de licor há muito se esvaziara e a boca de Becky estava seca. Arthur delicadamente retirou o cálice vazio das mãos de Becky e o substituiu por água, quando a pequena loira recusou algo mais forte.

 

-- Só queria saber como você conseguiu se aproximar dela. Quebrar aquele casulo meticulosamente tecido.

 

Ao ouvir sua própria narrativa sobre seu envolvimento com Luciana, percebia o quanto tivera sorte em conseguir chamar a atenção da doutora. Cada momento mais conflituoso era ponteado pelo Dr. Arthur com acenos concordativos com o tipo de reação de Luciana.

 

Numa certa altura, Cecília retornou à sala e começou a escutar, sendo mais efusiva em suas exclamações, algo entre "típico dela"  ou  "como ela não mudou",

 

E então, quando a narrativa se tornou mais suave, ambos estavam boquiabertos com as conquistas de Becky.

 

-- Menina, ela jamais tocou no assunto do filho. Nem mesmo conosco! - Cecília estava estupefata.

 

A exposição de Rebecca não pretendia ser gratuita e a cobrança foi imediata.

 

-- O que aconteceu entre Luciana e Paula?

 

Pálidos olhos azuis encararam os calorosos olhos verdes, mais brilhantes do que nunca.

 

-- Aconteceu a ambição em um coração jovem. Aconteceu a perda de valores e referências. Aconteceu o amor elevado ao seu ápice e depois a queda em um profundo abismo. Aconteceu a força versus pureza. Ambas saíram machucadas, mas somente uma era forte, corajosa e cada vez mais ambiciosa e, por conseguinte, poderosa.

 

Cecília falava e acariciava as mãos de Arthur. O ressentimento de ambos era claramente diferente.

 

-- O que você sabe agora Rebecca é tudo o que nós sabemos: que Luciana amava a nossa filha e casou com Thomas, com quem conseguiu tudo o que sempre quis: carreira, poder, fama, família e amor, pois ele a amava mesmo...

 

-- ....e perdeu o que mais teve valor para ela, como punição. Espero que ela tenha aprendido e não faça o mesmo mal a você, linda loirinha.

 

Cecília oscilava entre a compreensão e a necessidade de vingança contra Luciana. Não se deixava clara sobre seus reais sentimentos: ela gostava ou não da doutora? De repente, Becky se sentia confusa com seus próprios sentimentos em relação à esposa do Dr.Arthur.  Deveria confiar nela?

 

Já o professor era claro: Arthur queria saber o que em Becky, pessoa, não apenas relacionamento, fora tão melhor sucedido do que em sua filha.

 

 Ao olhar distraidamente para o relógio, assustou-se com o adiantado das horas.

 

-- Tenho que ir.

 

Levantaram-se todos. As despedidas foram as clássicas, apesar do clima que reinava no ambiente. Cecília deixou claro que pretendia encontrar Rebecca para um chá.

 

Arthur, ao acompanhá-la até o carro, foi extremamente gentil e demonstrou o porquê de contar com a simpatia de Luciana.

 

-- Rebecca é um nome muito formal. Como costumam chamar você, minha criança?

 

-- Becky. Luck me chama assim.

 

-- Luck...ela pediu para você chamá-la assim?

 

-- Não. Ela representa a minha sorte. Quando aprendi o significado da palavra, achei que caía bem.

 

-- Becky, Luciana era uma moça extraordinária. Brilhante aluna, aplicadíssima. Ela não falará, mas foi considerada superdotada. Ingressou muito cedo na medicina. Porém, em um determinado momento, não bastava ser o que era e ela quis mais. E sacrificou voluntariamente todo um momento especial de sua vida. E este sacrifício envolveu a vida da minha filha.

 

Pararam junto ao carro. Becky destravou a porta e esperou. Ele queria dizer mais e mais.

 

-- Não posso deixar de amá-la. Desde a primeira vez que eu vi aqueles olhos e pude presenciar o desabrochar de tão vívida criatura, nunca pude sentir nada mais vil do que uma irremediável mágoa. Seus pais a confiaram a mim, por conta de uma dívida que tinha para com eles. Ela é minha filha, tanto quanto Paula. Eu queria com tanta força que elas se dessem bem e de repente a resposta ao meu desejo excedeu limites. Não concordamos e nos omitimos. Cecília ainda nega. Com o tempo, eu entendi, cedi e realmente, mais uma vez, quis que desse certo. Enfim...

 

Um profundo suspiro veio do fundo daquele ser alto, que parecia tocar a lua que se colocava atrás dele. Ele segurava a mão de Becky, pousada no volante.

 

-- Você é a sorte dela. Ela a ama. Vi isto nos olhos dela. Cecília pode achar que ela lhe fará algo semelhante ao que fez com Paula. Mas agora ela tem tudo e nada ao mesmo tempo. Neste momento, você é o tudo e o resto, nada.  Sei o que você está tentando fazer. Infelizmente, eu só  sei o que me foi permitido presenciar e não farei segredo para ajudá-la a alcançar e resgatar o que foi a minha menina de olhos azuis. Existem muitos mitos sobre ela. Cuidado com quem os contam.

 

-- Prof. Victor?

 

-- Muitos nomes surgirão. Paula foi um deles e nem mesmo nós sabemos ao certo o que ocorreu, além de testemunharmos os fatos resultantes. Desta forma, Luciana será a sua fonte mais fiel e verdadeira, se assim ela o quiser.

-- Temo que ela não entenda tudo da mesma forma que o professor. Estou mexendo em um vespeiro. Ela pode se virar contra mim.

 

O olhar dele era de compreensão e mesmo de concordância com a constatação de Becky.

 

-- Confie em seu senso de julgamento. Alicerce-se no amor que já demonstrou abrir portas há muito emperradas. Você tem sabido azeitar as fechaduras emperradas, fazendo um trabalho artesanal. Vá em frente, garanto que terá um tesouro como recompensa.

 

-- A sua amizade é o meu primeiro tesouro descoberto, professor. Sei porque Luck o estima tanto.

 

Becky desceu do carro e o abraçou demoradamente. Não deu para ter certeza, mas ele parecia estar com os olhos úmidos. Abraçou-o novamente.

 

-- Já é tarde mocinha. Uma certa doutora não gostará de saber que seu precioso amor está sozinho por estas ruas da cidade.

 

*************************************

 

O percurso até o apartamento era longo, o que era propício. Rebecca precisava pensar e as ruas desertas permitiam que ela deslizasse o carro na mesma velocidade de seus pensamentos.

 

Era a hora de costurar as informações obtidas com os dois professores.

 

As pistas lançadas por Victor foram plantadas cautelosamente, de forma casual.

 

O almoço com ele, antecedera ao encontro com o Prof. Arthur. Por confiar mais no gentil professor, estrategicamente decidira encontrar o suposto inimigo primeiro, desta forma ela poderia checar possíveis intrigas

 

Na verdade, a principal preocupação dele era com a origem de Rebecca e quais seus planos futuro e como Luciana se encaixava neles.

 

Durante a conversa, várias vezes desculpara-se e pedira para não ser mal-interpretado, mas ele precisava zelar pelo patrimônio construído por Luciana sobre o que era dele também.

 

 

-- Professor, minha maior briga com Luciana é justamente com respeito aos nossos desníveis sociais. Com ela aprendi a gostar de coisas boas, mas sinceramente não faz a minha cabeça. Tudo o que eu quero é descobrir o meu caminho. Tentei sozinha e não fui bem-sucedida. Agora vou tentar sob a orientação de Luciana.

 

-- Mas, o que exatamente você quer? - ele questionou de um modo enfadonho.

 

Não viu motivo para não abrir seu coração com ele sobre planos e sonhos.

 

-- Você lembra um pouco Luciana quando ela conheceu Thomas. Você é ambiciosa, menina. E tem consciência . Luciana não foi consciente à princípio. Talvez por ainda pensar em seus planos com Paula. Thomas foi muito ...precipitado, digamos.

 

-- Quem é Paula?

 

-- Pergunte ao Prof. Arthur.

 

Rebecca percebera que o médico elegantemente vestido e de maneiras tão refinadas não daria as coisas de bandeja. Parece que, pressentindo que ela o esperava rancoroso, quisesse ser indiferente aos atos de Luciana, apenas ponteando a conversa com informações que ele sabia Rebecca daria um jeito de averiguar.

 

-- Mas, o que você pode apresentar para, digamos, atestar sua capacidade acadêmica?

 

-- Como?

 

-- Conheço pessoas influentes na área educacional.

 

-- E....

 

-- Rebecca, posso verificar se podemos avançar algumas etapas e colocá-la em uma faculdade ou algo que o valha.

 

Os olhos verdes demonstraram incerteza e incredulidade.

 

-- Olha, eu não gosto de ver a pessoa que representa a imagem da minha empresa  associada a um escândalo por estar "casada" com uma outra mulher. Muito menos gostaria que as pessoas apontassem você como uma aventureira, como já fizeram com a própria Luciana. Não digo isto pelos seus belos olhos verdes, mocinha. Acho uma coisa abominável e uma aberração imaginar duas mulheres como vocês gem*ndo e esfregando seu corpos em busca de prazer, de uma maneira nada natural. Enoja-me pensar.

 

Rebecca o encarava. Sua vontade era esganá-lo. Mas ainda não era a hora.

 

-- Mas, conheço Luciana e sei que por demonstração de  força  ela levará esta situação adiante. Não acredito que ela se importe com você. Já vi ela enjoar de coisas mais interessantes. É uma predadora. Porém, quanto mais resistência encontrar, mais prolongará o desafio. Parece-me que a melhor coisa é deixar que tudo siga seu rumo e nada seja alardeado.

 

Ao mesmo tempo em que demonstrava desdém, ele observava atentamente os modos de Rebecca.

 

- Você foi bem preparada. Seus modos são elegantes, ainda que precise de um pouco mais de refinamento; sua cultura e conhecimento são notoriamente elevados. Você tem talento e isto não pode ser desperdiçado. Você precisa da minha ajuda, Rebecca. Aceite.

 

Concentrada em dobrar o guardanapo, ela viu uma mão muito bonita e bem cuidada escorregar um cartão sobre a mesa.

 

- Tome, neste cartão tem o telefone de alguém que terá o maior interesse em ajudá-la. Em envolver-se novamente com Luciana, ainda que indiretamente.

 

Os olhos verdes rapidamente memorizaram o nome escrito no cartão. Lentamente, ergueu-os para defrontarem-se com olhos muito escuros e sem qualquer tipo de expressão, rodeados por aros também escuros e pesados.

 

- O que faremos com nossa antipatia mútua, Prof. Victor.

 

- Não gosto do que imagino você faz com ela na intimidade, mas acho que podemos conviver pacificamente. Se posso suportar Luciana, que é um tigre; um gatinho como você é sobremesa.

 

“Seu presunçoso filho de uma puta. Pensa que eu não sei o que Luciana faz com você. Vejo que é pouco. É muito atrevido. Abusa da idade, eu acho”, com tais pensamentos, Becky permaneceu calada.

 

Agora, relembrando tudo e alinhavando com a narrativa do Prof. Arthur, o quebra-cabeça ia ficando cada vez maior. E Luciana cada vez mais uma caixa de surpresas.

 

Luciana encontrara-se com Paula. O fato dela não ter comentado era aceitável, haja vista que suas revelações sobre seu passado faziam parte de um processo homeopático e esta parte ainda não fora mencionada. Será que algum dia Luciana falaria sobre isto?

 

Rebecca estava reticente quanto à ajuda do Prof. Victor. É claro que se Luciana tivesse alguma influência, ela já teria usado para ajudá-la nesta questão. Assim, descartar o professor poderia ser um tanto quanto radical.

 

Durante horas o cartão com o nome de uma mulher queimou nas suas mãos. Qual o interesse dela em se envolver com a doutora novamente? O que estaria sendo repetido? Era algo bom ou ruim para o relacionamento delas?

 

Falando em relacionamento, como contar suas investigações para a doutora. Se não contasse, ficaria nas mãos do Prof. Victor e poria o Prof. Arthur em uma situação difícil; além, é claro, do fato de expor Luciana a ser pega em algo que ela desconhecia, trazendo um enorme desconforto para ela diante dos cépticos em relação ao novo envolvimento.

 

Precisava de tempo para ir atrás da mulher do cartão, mas sabia que não o tinha.

 

**********************************************

 

- O que eu posso fazer neste fim de mundo sem você?

- Luck, você está em uma capital movimentada! Que negócio é esse de "fim-de-mundo"?

- Becky, nem que eu estivesse cercada por um exército eu deixaria de sentir a sua falta. Você sabe muito bem que nada me distrai sem a sua presença.

 

Ela sabia. Como Luciana ficara dependente dela! Não era dependência com relação às atitudes ou decisões. Era a dependência que ela mesma sentia quando longe de todos os sentidos que a doutora despertava nela. A dependência da eterna descoberta de novas sensações ou mesmo o encontro com as velhas conhecidas.

 

Certa vez, chegou a pensar que a coisa era puramente física. Ficava maravilhada em ver um corpo tão forte e rígido derreter ao mero contato de seus dedos. Ela, Rebecca, era uma pessoa que pouco conhecera de amor enquanto sentimento ou prazer libidinal. Achava que todo e qualquer carinho a faria se desmanchar. Porém, quando tinha Luciana tudo se invertia. Quando ouvia aquela mulher pedindo mais e delirando num prazer intenso, ela realmente buscava o "mais" para dar e saciar aquele corpo poderoso, alimentar a fome da mulher que nunca soube pedir ou demonstrar vulnerabilidade.  Pensava mesmo que era egoísmo fazer o que fazia com Luciana, pois queria provar do seu próprio poder sobre a pessoa indomável.

 

Se fosse só físico, já seria monumental. Mas, não era. 

 

Luciana desafiava Rebecca com sua reserva, com suas transformações de humor, com sua proteção às vezes excessiva, com o ciúmes e a vergonha dele.

 

Quando sozinhas, a doutora era divertida. Seu humor sarcástico era o ponto alto da convivência. Era impressionante as habilidades que surgiam no dia-a-dia ao lado dela. As vezes que ela ajudava Rebecca a estudar. A simplicidade que algo complicado ganhava na explicação dela.

 

Por outro lado, Becky ainda se sentia excluída da vida daquela mulher quando, por muitas vezes, ela se trancava em um dos quartos da casa e ficava horas sem querer ver alguém; ou quando, no meio da noite, Becky percebia a ausência dela na cama e a via parada, junto à janela, perdida em pensamentos; e, ainda, quando suas poucas confissões eram bruscamente interrompidas, sem esperança de serem retomadas ou permitidas perguntas. Eram enormes barreiras, intransponíveis.

 

Eram momentos difíceis, esquecidos pelas sinceras juras e demonstrações de carinho e entrega quando o amor de ambas falava mais alto. Isto sempre prevalecia quando juntas.

 

- Se for a mesma falta que eu sinto, Luck...- Rebecca ouviu o suspiro da doutora - quando você volta?

- Se pudesse, neste exato momento....- Luciana ouviu o suspiro de Rebecca - mas, penso que em dois ou três dias.

- Mas, quando você chegar, eu estarei viajando. Poderemos sobreviver?

 

Becky sabia que o silêncio de Luciana denotava sua exasperação. Por outro lado, a idéia da viagem fora da própria doutora. Um longo suspiro interrompeu o silêncio.

 

- Eu estou ficando desesperada. Você não sabe o quanto tenho fantasiado...

- O que você tem feito?

- Bem...você sabe ... quero dizer...imagino suas mãos descendo por meu corpo...

- Só descendo ou  elas param e brincam com alguma parte em especial...

- As partes especiais choram e dizem que sentem saudade...

- Mas, você não está cuidando delas direitinho?

- Não tão bem como você. Elas preferem o seu toque. Depois, só posso imitar as mãos e elas urram por sua boca, língua, pele...

- Hum...- Luciana pode sentir o desejo na voz de Becky - acho que sua conta de telefone vai vir muiiiiiiito alta...

 

*************************************************

 

Rebecca era  muito curiosa, Luciana sabia. Prá ser sincera, estava achando ótimo se revelar para ela. Melhor ainda que ela estivesse sendo paciente e deixando a doutora decidir o que e quando revelar.

 

Eram tantas coisas mal resolvidas que, com a soberania do tempo, acabaram ganhando soluções na própria falta delas.

 

Luciana sabia que quando começasse a escavar suas ruínas, acharia muita coisa perdida. Muitas coisas que o tempo alterou o valor. O tempo, a necessidade circunstancial, a verdade do momento em que tudo foi perdido.

 

Agora que Becky conhecia os professores, seria fatal a aproximação e as perguntas. Todas as partes envolvidas tinham interesses e nenhuma, com certeza, era inocente.

 

Se pudesse, proibiria seu amor de ter contato com eles, mas sabia que isto só aumentaria a chance dela ir procurá-los. Primeiro por ser uma proibição e depois por atiçar a curiosidade.

 

Analisando todas as possibilidades, o que de mais grave poderia ocorrer era Becky ouvir coisas distorcidas, as quais com certeza seriam passadas a limpo com a habitual franqueza da loirinha. Mas, realmente, não queria que encontros fossem formalizados ainda.

 

Sabia que tinha se aberto em coisas que deram esperanças à sua amada de que se tornaria um livro de fácil acesso. No fundo da sua alma, gostaria. Só não estava pronta.

 

Seus valores mudaram tão bruscamente com o passar do tempo, que nem mais sabia mensurar o quanto eles poderiam assustar  e até mesmo afastar sua única razão de ser .

 

Após quase três meses com dias exclusivos para ela, Luciana sentiu de fato a separação.

 

Sua sorte, ou azar, era que os dias eram agitados e as horas passavam rapidamente, quando ela trabalhava. Porém, à noite, sozinha no hotel, era desesperador. Não conseguia pegar um copo d'água sem pensar em Rebecca.  Sentir o copo em seus lábios a fazia desejar os lábios e a umidade de seu beijo.

 

Pegava-se fantasiando com o corpo perfeito, com a lembrança do cheiro, do contato. Admirou-se por perceber que mesmo apenas fantasiando, seu prazer era intenso. E, quando se deu conta que estava se acariciando e tocando os pontos preferidos de Becky, entregou-se com satisfação ao frenético orgasmo no qual viu seu corpo ser lançado.

 

Ouvia a voz, ouvia os gemidos, a respiração. Sabia, embora fossem surpreendidas às vezes, os sinais do prazer crescendo e explodindo no corpo menor, mas não menos quente e exigente que o seu.

 

Nunca pensara em eternidade para este relacionamento. Não podia mais fazer planos tão longos. Não suportaria não realizá-los. Apenas imaginava e aceitava a perda como inevitável. E, pelo medo de perder, começou a viver a relação ao contrário; imaginando que cada dia que passava, era um dia vencido contra a perda. Desta forma, ganhou força para viver realmente o que de belo pudesse tirar do relacionamento, lutando para que todos os dias fossem vitoriosos. Era insano, mas parecia-lhe um bom trato com o destino.

 

Sentia saudade. Ligou para ela e mais uma vez foi surpreendida.

 

Sentindo-se como uma adolescente que comete um pecado, Luck estava esparramada na enorme cama, nua, ainda meio trêmula da deliciosa sessão de sex* por telefone que acabara de terminar, muito a contra-gosto,  com Becky.

 

Sabia que lá no apartamento, Becky deveria estar tão ou mais relaxada do que ela agora. Jamais tinham sido tão soltas e ardentes. Não à distância.

 

Ouvir aquela voz meio rouca, meio grave, mas tão suave  e apenas um sussurro, ordenando seus movimentos, enlouqueceu e destravou todos os sentidos. Bem, quase todos.  "É, devíamos ter feito isto antes, mas com certeza repetiremos" foi a última coisa que pensou antes de dormir, com um sorriso nos lábios.

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

essa luciana!!!


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Comentários para 6 - Capítulo 6:
josyy
josyy

Em: 14/11/2015

Nossa estava com tanta saudades da LUCIANA E DA REBECA.Quebo que voltou autora,para nossa felicidade nao vamos ficar sem a LUK que e a minha deusa kkkkkkkkkkk.Muito obrigada por ter voltado.bjs

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Catrina
Catrina

Em: 12/11/2015

Oíiii
Que bom te encontrar por aqui!
Estava com saudades e louca para ver o final dessa história. Mas sei que muita água vai passar por baixo dessa ponte.
Jack the sampa seja bem vinda.
Bjs.

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