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Pentimentos por Cidajack

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Palavras: 5234
Acessos: 2030   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 2

DOIS

disclaimer no capítulo UM

 

 

 

Acordei e vi os olhos azuis me fitando. Eram lindos. Havia uma certa frieza, mas pude perceber que eles me fitavam com muitas contradições. Ela era uma mulher realmente linda. Pensei que, se morresse, queria um anjo como ela. Depois, pensei que não poderia morrer, pois havia prometido fazê-la minha amiga. "Prometido a quem?" Foi a pergunta silenciosa. "A ela" foi a resposta mais secreta ainda.

 

Sem rodeios ela falou

 

-- você tem um nome?

-- Rebecca.

-- Pois bem, Rebecca, temos uma situação a ser explicada e eu não tenho as respostas...

-- Como está ele? Você o salvou?

 

Os olhos azuis deixaram transparecer certo pesar, mas retomaram a frieza habitual. Entendi perfeitamente.

 

-- Ele tinha várias hemorragias e não resistiu. Fizemos nosso melhor.

 

Ficou em silêncio. Ficamos. Olhei desnorteada para ela. Estava só.

 

-- Rebecca...vou ser clara: a forma como ele entrou aqui no hospital requer boletim policial. Antes de qualquer atitude, quero que você seja bem honesta comigo.

 

Meus olhos denunciavam meu desnorteamento. Estava confusa. O que era tudo aquilo?

 

-- Quem era aquele rapaz? Vocês estavam metidos em encrencas? Por que ele foi espancado daquela maneira?

 

Fiquei muito nervosa e histérica. Comecei a berrar e só podia dizer a pura verdade: não sei! Não sei!!!

 

Luciana ficou parada, sem reação. Depois, segurou meus braços, fez um gesto para a enfermeira e esta veio com uma injeção.

 

-- Não, não quero! Olha, o nome dele é Pedro e é tudo o que eu sei. Éramos ....namorados. Nos víamos pelas ruas e éramos unidos pela sobrevivência, apenas. Ele era a única pessoa que eu tinha....Juro, Luciana, não sei mais nada!!

 

Pensativa, com uma expressão grave, os olhos faiscando entre a raiva e o pesar, ela saiu do quarto, mas ordenou à enfermeira que me desse algo.

 

********************************************

 

Certo, eu acreditava na menina. Rebecca...

 

Tinha que tomar uma atitude, até para proteger o hospital.  Chamei um dos médicos plantonistas que atenderam Pedro e simplesmente disse que não sabia o que ocorrera. Pedi que dissesse à polícia que era um indigente, inventasse que eu o socorri e pronto. Ele me olhou espantado. Assim como todos na recepção, quando voltei com esta resolução.

 

-- Mas, Doutora Luciana, este é um hospital particular...

 

-- ...mas temos a obrigação de atender a todos. Diga apenas isto, se precisar, mande falar comigo.

 

"Droga! Por que estou fazendo isto?".

 

Luciana não conseguia entender o que a afetava tanto com a estória da menina. "Menina? Pare com isto! Deve ser mais vivida do que você mesma".

 

Então Rebecca estava só. Quantas emoções estavam naqueles olhos verdes. Luciana se comoveu, principalmente ao lembrar da alegria que sempre irradiavam.

 

Maldosamente, pensou na relação dela com o tal Pedro. "Eram namorados", forma singela de denominar um relacionamento entre indigentes. Faziam sex*, sabe-se lá em quais condições, enchiam o mundo com mais miseráveis e lá estava aquela menina, "assim seja", falando em "namoro".

 

Ficou com o nome nos lábios "Rebecca", assim como com o grito dela em seus ouvidos:  "Luciana".

 

Algumas horas se passaram, antes da próxima questão que a irritou.

 

A administração do hospital a procurou, querendo saber quem iria pagar a conta.

 

Parece que Rebecca estava querendo ir embora e perguntara como faria para sair.

 

-- Por que você quer ir embora? -- Luciana perguntou rispidamente.

-- Não estou doente, estou? -- foi a resposta simples.

-- Prá onde você vai? -- "o que importava isto, Doutora Luciana".

 

Ela deu de ombros. Luciana perdeu a paciência e saiu batendo a porta.

 

-- Mande a conta para mim e deixe-a ir.

-- E o corpo....

 

O olhar de Luciana foi fuzilante.

 

-- Queima, empalha, leva prá casa....só não me faça mais perguntas!!!!

 

O funcionário, sabendo do risco que corria, saiu sem demora.

 

******************************

 

Rebecca queria sair do hospital, sem ser percebida. Como era ingênua! Como poderia imaginar que a simples pergunta traria a Doutora Luciana tão irritada para falar com ela.

 

Nunca tinha recebido um olhar tão furioso e penetrante. Mas não se intimidou. "Estavam quites" pensou. O que a deixou surpresa foi a pergunta sobre o destino de Rebecca. "Poderia ser um interesse ou mera especulação, para saber se estaria livre daquelas pessoas".

 

Nem pensara em fazer um enterro para o Pedro. Não tinha mesmo condições. Não importava o que fariam, mas em algum lugar o poriam.

 

Luciana não percebera que ela a seguira. Rebecca presenciou a cena com o funcionário e ficou muito impressionada, pois a mulher era dura como aço. Viu a expressão de submissão do rapaz e também o medo misturado ao ódio pela impotência diante da toda poderosa.

 

Pensou em dizer obrigado, mas achou que nada valeria para aquela mulher se ela demonstrasse a sua gratidão.

 

Nunca sequer tinha agradecido por tê-la salvo, naquele dia do assalto.

 

Nunca iria entender o porquê dela ter ajudado. Sabia que a profissão dela era ética e tinha seus códigos, mas também sabia que uma mulher como aquela não seria tão escrupulosa .

 

O mais engraçado era que, por mais que visse o lado negro dela, não conseguia odiá-la.

 

"Que besteira! Nunca serei amiga dela!".

 

 

 

 

 

Luciana não conseguia mais se concentrar em suas atividades.

 

Raramente se intrometia na parte comercial da empresa, mas quando o fazia era para arrumar encrenca.

 

Suas observações nunca foram questionadas e, por mais difíceis que fossem, seus caprichos acabavam satisfeitos.

 

Administrava o hospital por hobby, pois não teria o que fazer sem esta ocupação.

 

Como os demais conselheiros estavam senis, ela e o marido eram os mais atuantes.

 

Tinha um séquito de diretores e gerentes que nem sempre sabiam satisfazê-la. Alguns, eram antigos de casa e goz*vam das graças dos conselheiros. Estes eram intocáveis, mas sabiam qual a real posição que ocupavam. Na verdade, quem detinha o poder era Luciana.

 

Era um grupo de empresas verticalizadas, através das quais vendiam planos de assistência médica e tinham uma rede própria de recursos, entre eles os hospitais e laboratórios.

 

Seu exército era composto por administradores hospitalares, área comercial, financeira e todos os trâmites governamentais que envolviam a proteção dos direitos dos consumidores. Era um verdadeiro inferno!

 

Por isso, ela estava tão enfastiada durante aquela reunião. Ali, estavam todos os outros poderosos. Concorrentes, arqui--rivais nas batalhas travadas na arena que era o mercado onde comercializavam seus produtos. Porém, qualquer sombra de intervenção das forças governamentais, os colocavam em conluio. Corriam atrás de deputados, senadores e toda a corja. Alguns donos de empresas como a de Luciana também eram políticos e seguravam as coisas quando o governo cismava em tomar uma posição.

 

Estava fora de casa há quase uma semana. Tinha um monte de coisas para pensar. As novas legislações não estavam muito favoráveis aos seus negócios. Paralelo, iniciara um processo de qualificação nos hospitais, o qual queria estar à frente pessoalmente. Até tinha esquecido a idéia de se isolar em algum  lugar do novíssimo  continente.

 

Como as coisas não andavam e todos os esforços e contatos foram feitos, resolveu que voltaria naquela noite mesmo para casa. Ficar em hotéis não era a sua predileção.

 

Durante estas reuniões, nunca havia parado para pensar que o produto que sustentava o seu poder era ...a vida, no sentido pleno da palavra. Salvar vida ou vender a garantia de salvá-las era que fazia dela a mulher poderosa que era. Não só por mandar em outras vidas, mas por decidir mesmo quem deveria viver ou não, de acordo com as normas de seu produto.

 

Vivia em um país rico, mas cheio de pessoas miseráveis e carentes de recursos de saúde, educação, trabalho. Seus consumidores, ainda que nem sempre bem atendidos, eram privilegiados por terem um pouco mais de recursos.

 

Detestava pensar sobre estas coisas. Queria esquecê-las, embora todos os dias fosse testemunha da precariedade das pessoas. Pessoas como Rebecca.

 

Tinha feito uma couraça de proteção e jurara sequer olhar para pessoas assim. Tudo o que sempre quisera era se afastar da pobreza, falta de recursos e humilhações. Antes de ser humilhada, preferia humilhar. Antes de ser dominada, queria dominar. Não receberia ordens, ditaria-as.

 

Não queria, mas pensava constantemente em Rebecca. "O que teria acontecido após deixar o hospital" era a pergunta que martelava em sua cabeça.

 

 

 

 

 

Ao sair do hospital, Rebecca não tinha para onde ir. Foi para casa de Renée.

 

Ele a ouviu calado.

 

-- Eu sabia Rebecca, este seria o fim dele. Ele não estava se metendo em boas companhias. Ouvi dizer que ele meteu os pés pelas mãos.

 

Nem imaginava o que ele andara fazendo e não queria saber. Naquele instante, percebeu que tinha medo da solidão e por isso ficara com ele. Aprendera muito, mas era mais para ter companhia que o seguia. A morte dele clareara sua mente.  Nem estava prestando atenção ao que Renée dizia até ouvir a última frase.

 

-- Será que você está segura?

 

Olhei com certa curiosidade e temor ao mesmo tempo.

 

-- Como assim?

 

-- Sei lá, meu bem. De repente eles jogaram o corpo do cara no seu colo, então sabem que você e ele tinham uma relação. Se a estória que eu ouvi for verdadeira....

 

-- ...que estória? -- tinha que me interessar agora.

 

-- Parece que Pedro deveria vender umas muambas e receber uma grana alta, porém ele dera sumiço ou na mercadoria ou na grana. De qualquer forma tudo era grana e alta.

 

-- Você acha que vão pensar...

 

-- Bem, talvez não tenham calculado que ele morreria, o que torna as coisas piores, pois se ele está vivo, deve dizer onde está o que foi perdido.

 

Fiquei assustada mesmo.

 

-- Ah, não fariam nada para mim...fariam?

 

Renée desviou o olhar.

 

-- Olha, Rebecca, você pode ficar aqui esta noite, mas eu não quero e nem posso me meter em encrencas. A polícia já me conhece demais.

 

-- O que eu faço?

 

-- Desapareça das ruas por enquanto. Sei lá, mude  de lugar. Circule mais.

 

Foi a pior noite para ela. Pensava e não achava solução. Pela primeira vez, amaldiçoou o pai por tê-la trazido. Na mesma hora, se arrependeu. "Coitados, onde estarão agora? Queria estar com eles".

 

Na manhã seguinte fez exatamente o que Renée falou. Foi para outra parte da cidade. Arrumou um canto para dormir e sentiu a solidão, pois nem ao menos veria Luciana, ainda que fosse só para sonhar com o carro negro e sua dona. Conhecia três pessoas: um delinqüente que fora assassinado, um travesti performista amedrontado e uma médica poderosa que mal suportava olhá-la.

 

 

 

 

 

Depois de uma semana, Luciana voltou a rodar pelo trajeto do hospital. Já não passava com o carro totalmente fechado. No fundo, procurava pela loirinha.

 

Mais uma semana e nada de vê-la. Pensou, com sensatez, que ela deveria ter ido embora para qualquer lugar de onde tivesse vindo. Dissera que estava sozinha sem o tal moleque. Sentiu um estranho sentimento. Não quis dar nomes ao que sentia, mas sabia que era um sentimento de perda. Por breves momentos, aquela menina tinha provocado algumas atitudes nobres nela. Chegara mesmo a se importar com a criatura. Sacudiu a cabeça e agradeceu aos deuses, qualquer um deles, por não mais ter contato com a tal loirinha, pois ela a fazia cometer coisas que destoavam de suas atitudes habituais, tão mais sensatas e seguras.

 

A reunião com os diretores foi um porre. A consultoria contratada para  a qualificação do primeiro hospital era um entojo. Luciana sabia ser arrogante e reconhecia a arrogância, por isso detestava ser alvo dela. Os caras queriam ser paparicados, demarcar espaço, mas com sutileza, pois ela era a cliente. Então era um festival de falsidades.

 

Eram conceitos em cima de conceitos. Muito falatório. Os diretores, realmente deveriam se preocupar, pois estavam frente a frente com ela, perdendo um tempo enorme, o que no mínimo a levaria a pensar que eles nada faziam. Ela sabia, diga-se de passagem, que isto era verdade.

 

O consultor era totalmente afetado. Suas expressões calculadas e estudadas na frente do espelho, com certeza. Mas, era o melhor que o seu dinheiro podia comprar. E era realmente dispendioso.

 

Ao chegar em casa, só queria sossego. Sua secretaria preparou o banho e depois foi cuidar da janta. Fora orientada por Luciana que ela faria a refeição no próprio quarto.

 

-- Qual deles, senhora?

 

Sentiu uma certa gracinha na pergunta e não deixou por menos:

 

-- Descubra. Você é paga para não fazer perguntas.

 

Lá pelas tantas, o telefone tocou. Olhou para a linha e viu que era do hospital. Era a linha particular, destinada às emergências, mas quem ela conhecia que estaria em emergência. Não fosse a curiosidade e a vontade de dar uma senhora bronca, não teria atendido.

 

-- Luciana.

 

A voz do outro lado gaguejava, mais do que falava e tudo o que dizia era cercado de "perdão, desculpas, não foi minha culpa". Depois de alguns minutos, conseguiu falar algo, uma vez que Luciana nada dizia.

 

-- Ligaram de um outro hospital falando que acharam o número do nosso hospital com o nome da doutora pendurados no pescoço de uma mocinha...

-- O quê? Eu não dei número algum prá ninguém. Antes de me incomodarem, deveriam ter verificado.

-- Desculpe, mas só conseguimos entender que era grave e o nome da doutora...bem, se não avisássemos poderíamos por em risco...

-- Vocês já colocaram algo em risco...-- ela falou sarcasticamente.

-- Eles estão ainda na outra linha. Diremos que a senhora não conhece nenhuma Rebecca..

-- ...espera. Qual é o hospital?

 

*************************************

 

Eu conhecia o hospital. Era um desses hospitais de bairro, para atendimento público. Tínhamos credenciamento com eles. Chamei meu motorista e rumei para lá. De novo, a pergunta: "por quê?".

 

Desta vez, iria descobrir. Tinha lembrado do sonho e de como pedira para aquela garota ajudá-la a ser feliz.

 

Chegou ao hospital e com paciência que lhe era peculiar, invadiu a emergência médica, antes que pudesse ser interpelada pela recepção. Os olhos azuis procuravam impacientes pelos cabelos loiros. O que Luciana via era aterrorizante: pessoas com todos os tipos de ferimentos em condições precárias de atendimento. Lembrou-se dos seus tempos de plantonista e como era difícil lidar com falta de equipamentos, leitos e sub--condições, até mesmo dos próprios colegas, às vezes cansados por rotinas contínuas de trabalho.

 

Sacudiu a cabeça e fixou-se em seu objetivo. Sentiu uma mão em seu ombro e, pela sua estatura, olhou intimidantemente para a residente que a tocara. Seu olhar foi tão frio e ríspido, que ela retirou a mão como se tivesse tocado em brasa.

 

-- Sou a Doutora Luciana. Diga, uma mocinha loira, olhos verde, mais ou menos 1,65 ....

-- Rebecca. Ela está ali. Está muito machucada. Chama por você o tempo todo.

 

Mal ouviu o resto da frase. Correu pelo corredor cheio de pessoas resignadas em suas dores e a viu. Pensou que pudesse estar enganada, mas sentiu as lágrimas em sua face.

 

-- Rebecca. -- falou delicadamente, enquanto pegava as mãos da menina.

-- Luciana...-- a voz era fraca -- não consigo vê-la, mas sei que é você, conheço sua voz...

-- Não fale. Vou tirá-la daqui.

 

Ela tinha sido espancada e muito. Estava com hematomas e cortes nos braços e pernas. O rosto, ainda que tenham removido, tinha sangue e os olhos estavam fechados pelo inchaço. Estava disforme. A boca cortada e inchada também.

 

Luciana ficou horrorizada. Primeiro por ser Rebecca, depois com a violência.

 

Chamou a residente que a havia tocado e perguntou sobre os chefes do plantão. Não tinham ambulância para remover Rebecca. Luciana deu um pequeno show e disse que estava cancelando o credenciamento com o hospital. Desta vez, não foi por vaidade, mas por indignação com a forma como tratavam aqueles coitados. Tão logo souberam quem ela era, a ambulância foi providenciada, muito embora Luciana já houvesse chamado o seu serviço de resgate.

 

Seguiu com Rebecca na unidade de tratamento móvel, bem equipada e muito moderna. Tinha andado em uma somente quando teve que aprovar a compra do equipamento.

 

De repente, decidiu-se por não levar Rebecca para o hospital. Lembrara-se da outra vez, quando teve que fazer ocorrência e não sabia com que tipo de pessoas estava envolvida.

 

Levou-a para casa.

 

Após cercar-se de todos os recursos necessários, Luciana dedicou-se pessoalmente ao tratamento de Rebecca.

 

Deixou de ir ao hospital e instalou Rebecca em seu próprio quarto, aquele onde ficavam seus pertences pessoais. Ali também instalou seu escritório, de onde comandava seus negócios. Assim, enquanto a jovem se recuperava, ela não estaria alheia ao que ocorria.

 

Rebecca tinha algumas costelas quebradas e tinha que permanecer imóvel. Luciana, para o espanto de todos os serviçais, alimentava pessoalmente a jovem.

 

Após permanecer inconsciente por alguns dias, ela acordou. Sequer poderia imaginar onde estava, mas era enorme, iluminado, com portas de vidros que ocupavam uma parede inteira. Não conseguia abrir bem os olhos e a luz a incomodava. Pensava no incomodo, quando as persianas foram fechadas e a claridade reduzida.

 

Ao longe, pode ver a sombra da mulher alta, de cabelos negros, vestida com um robe também negro, percebeu que caminhava em sua direção. De repente, pensou na morte.

“É, a morte poderia ser Luciana!".

 

-- Pensei que a tivesse perdido para Morfeus. -- ouviu o gracejo

 

-- Poderia ser pior, se fosse Hades! -- ela forçou um sorriso, que lhe rendeu um gemido de dor.

 

-- Calma, menina. Não faça movimentos bruscos. você foi duramente ....-- "que palavra usaria?"-- maltratada.

 

-- Você quer dizer, espancada, né?

 

E veio a lembrança da noite terrível.

 

-- Você teve sorte. Sábia ideia a do cordão.

 

-- É. Achei legal quando vi você, na noite que te salvei.

 

Um silêncio constrangedor pairou no ambiente.

 

-- Acho que devo um obrigado a você, Rebecca.

 

Luciana percebeu, que se aquele rosto estivesse em condições, teria recebido um dos mais belos e inebriantes sorrisos, acompanhados de radiantes olhos verdes. Súbito, sentiu raiva das pessoas que deixaram Rebecca naquele estado.

 

De sua parte, Rebecca gostaria de poder ver melhor os olhos azuis que, sem muito jeito, haviam--na agradecido.

 

-- Eu devo muito mais a você, Luciana. Você é uma pessoa boa. Desculpe--me .....

-- Você sabe quem fez e por quê? -- olhou para Rebecca, fazendo alusão ao seu estado.

-- Não sei quem são, mas fizeram por Pedro. Ele se encrencou e eu andava com ele....

 

Luciana pensou, com sua habitual praticidade, que poderia estar correndo perigo. Porém quem iria imaginar que uma mulher de rua teria uma ... "amiga"... como ela.

 

-- Aqui você está segura.

-- Com certeza. -- apesar de gostar de estar falando com Luciana, ela estava cansada e adormeceu novamente.

 

 

***********************

 

"O que vou fazer com ela?", Luciana queria achar uma razão para tê-la ali. Seus empregados estavam alvoroçados. Quantos dias ela estava ali, ao pé--da--cama da figura surgida do nada. Nunca fora de dar explicações, mas estava incomodada por não saber, ao certo, o que fazia.

 

Aos poucos, os ferimentos foram melhorando. Os olhos verdes até estavam bonitinhos rodeados pelo roxo.

 

-- Nunca achei que roxo combinasse comigo. -- Rebecca disse ao se olhar no espelho naquela manhã.

 

Luciana, distraída em seu computador, levantou a cabeça e sorriu. Ficou admirando o belo sorriso naquele rosto cheio de manchas. Cada vez que a olhava, sentia vontade de matar com as próprias mãos quem fizera aquilo.

 

-- Quando poderei sair desta cama?

-- Amanhã iremos ao hospital e pedirei alguns exames. Conforme for, começaremos umas pequenas caminhadas.

-- você e eu?

-- Não. Você e uma enfermeira. Tenho muitas coisas para fazer.

 

A resposta soou mais seca do que deveria ser e Luciana percebeu a tristeza no olhar de Rebecca. Para seu espanto,  pegou-se explicando para ela que fazia tempo que estava longe das atividades do hospital e deveria blá,blá, blá.  Aliás, com qual rapidez seu olhar passou da calma para a habitual frieza e irritação, quando se deu conta de que a sua secretaria tinha se admirado em vê-la se explicando.

 

************************************

 

 

A semana seguinte foi de total mudança. Rebecca ganhou um quarto, em outra ala da casa. Tb tinha a sua disposição uma enfermeira que a ajudava com sua rotina diária de cuidados pessoais. Além, é claro, de ter todo o séquito de Luciana ao seu dispor. Apesar de toda a mordomia, estava triste, pois raramente via os olhos azuis que aprendera a amar.

 

Era louco. Era uma pessoa até bem vivida. Mas não conseguia entender o que sentia pela doutora. Melhor dizendo, entendia sim: era amor. E ele só tinha aumentado após o contato com aquelas mãos e o calor de sua pele. Sabia que podia sentir desejo e não sentia nenhuma culpa. Era bem adulta. Porém, a qual distância estaria dos sentimentos de Luciana. Sabia que aquele afastamento tinha sido proposital.

 

Para Luciana era claro que precisava impor novos limites. Erguer novas barreiras. Baixara demais a guarda. Era louco fazer o que fez. Mas, o que tinha feito? Ajudara uma pessoa, oras. Sentia-se bem. Tinha experimentado coisas que há muito desconhecia. Até se enfurecera contra o descaso aos mais carentes. Chegara mesmo a questionar suas atividades. Seus negócios. “Espera. Estou indo longe demais".

 

Chamou sua secretaria e foi direta:

 

-- Providencie um outro quarto para minha hóspede, o mais longe que puder de mim.

 

Desde então, não mais a vira, ainda que sob o mesmo teto. Dera ordens aos empregados de manterem a garota afastada dela.

 

Para Rebecca o distanciamento fora aceito como uma espécie de acordo. Enquanto estivesse convalescente, poderia permanecer ali, contanto que não incomodasse. Naquele momento, parecia ser  justo.

 

Com o passar do tempo, já se sentindo bem recuperada, a menina passou a temer e ansiar pelo dia no qual Luciana determinaria a sua saída daquela casa.

 

Como raras eram as vezes que se encontravam, pois tinham seus códigos de privacidade,  Rebecca passou a contar com a cumplicidade dos criados.

 

É certo que eles nada diziam sobre quem era e como vivia a mulher alta, de cabelos negros e magníficos olhos azuis. Rebecca sentia muita falta destes luminosos olhos, poderosos, frios e quentes ao mesmo tempo. Ela queria a doutora mais do que sua própria vontade de querê-la. Era uma cascata de quereres, como se todas as vontades e desejos convergissem sobre um único alvo e dele emanassem mais e mais desejos.

 

Não era só sex*. Era saber como entrar naquele casulo e fazer aflorar toda a beleza que Rebecca intuía existir sob aquelas expressões de fúria ou demonstrações de poder.

 

Sentia-se frustrada, pois chegara a pensar que teria muito tempo ao lado dela. Ela fora tão calorosa, atenciosa, preocupada. Todos os empregados eram uníssonos quando comentavam a forma que havia chegado àquela casa e como Luciana postara-se como sua guardiã. Nenhum deles ousou perguntar à garota estranha quem ela era e como conhecera a doutora, mas a curiosidade era latente em todos eles.

 

Certa noite, Rebecca foi acordada e levada para ver uma cena muito louca. Todos os quartos da casa estavam com as camas reviradas. Ela ficara sabendo desta mania de Luciana, mas não acreditara. Agora, era testemunha.

 

Desta noite em diante, passou a vigiar Luciana. Várias vezes a viu vagando pela casa. Certo dia, não pode se conter. Entrou no quarto que ela escolhera e a pegou deitada, em posição fetal, totalmente absorta em pensamentos. Rebecca aproximou-se e, apesar de ter sido notada, acolheu Luciana em seu colo, acariciando seus cabelos, sem que ela oferecesse resistência.

 

-- Por quê?

 

Simplesmente viu as lágrimas nos olhos azuis, agora bem mais humanos.

 

*************************************************

 

Viajei para mais uma reunião chatéssima, porém providencial.  Fiquei fora e pensei nos últimos acontecimentos. Pensava o dia todo, nem bem conseguindo me concentrar nas palavras enfadonhas de meus colegas.

 

Quem era Rebecca? O que era aquela estranha andando na minha casa, descobrindo meus hábitos e questionando minhas dores?

 

Há muito tempo eu tinha me fechado para o convívio e tais aberturas em minha vida eram algo para o qual não mais  estava acostumada. Meus espaços deveriam ser preservados. No entanto, de repente, do nada, com uma força perturbadora, pois onipresente, aparece aquela menina. Poucas palavras...não tão poucas, considerando-se o quanto ela falava; mas, palavras certas e às vezes proferidas tão ingenuamente e com tamanha honestidade, que revirava todas as atitudes que eu quisesse tomar.

 

Por que eu me deixava arrastar por uma  corrente puxada por braços aparentemente tão frágeis?

 

Às vezes que passei na cabeceira da cama dela, fez com que a observasse demoradamente. Seu sono era calmo, a despeito de ter sofrido perdas sentimentais e físicas. E, nestas vezes, lembrando agora, encostara levemente meus lábios nos dela. Naquele momento, pensava em roubar aquela serenidade para mim, predadora nata que sou. Indo além nesta minha autoconfissão, admito para mim mesma que senti vergonha por roubar aquele contato. Não era pudor, nunca fora moralista. Era respeito, era admiração, era um desejo de não profanação de algo belo.

 

Então, quando acordei nos braços de Rebecca senti muitas coisas, mas a certeza quase insana de querê-la com desejo e isto me abalou. Ali, encostada naquele corpo, pude sentir seu cheiro, calor, respiração, contato. Há muito não sentia aquele tipo de desejo. Era meio selvagem, mas ao mesmo tempo, cândido. Enquanto ela dormia, olhei seu rosto por um bom tempo. Encostei meu rosto e senti sua respiração entrar por meus poros e quis o pulsar daquela vida em minhas mãos. Ela estava muito bonita.

 

Tinha que me afastar para pensar melhor. Certamente ela não era uma inocente, mas não era nada fácil explicar a atração que sentia. Além do mais, temia ser retribuída por obrigação, favor, gratidão...sei lá o quê. Sabia o quanto conseguia intimidar as pessoas. Embora achasse que conhecia Rebecca, não queria me arriscar.

 

 

 

 

********************************************

 

 

Da janela, viu o motorista levando o carro preto, seu sonho, para a garagem.

 

A doutora regressara. Clara estava contrariada. Rebecca intuiu que fosse mais alguma das grosserias de Luciana. Cortava o coração ver como a mulher tão gentil com ela, tratava aquelas pessoas. Mais Clara, pois o resto mal a via pela casa. Às vezes nem eram os gestos, mas a falta deles. Nenhuma pergunta mais amena, nenhum elogio pela eficiência assustadora da secretária, sempre tão solícita. Havia devoção e verdadeira adoração nos olhos dela, mas Luciana nem sequer olhava diretamente prá ela e, quando o fazia, cortava com a mesma precisão que manejavam um bisturi. Eram só ordens, sem direito a replica.

 

Ao perceber o sumiço de Luciana, logo na manhã seguinte, após terem dormido juntas, Rebecca sabia que aquele simples contato assustara Luciana, com certeza. Não fora nada de especial, pois apenas deixara Luciana dormir em seu ombro o que foi maravilhoso para ela, mas não o fora para a mulher que se protegia contras coisas que ela não conseguia entender.

 

A secretaria disse que ela tinha ido resolver problemas com os políticos e os legisladores lá da capital do governo.  Verdade ou não, fora um bom intervalo para que Rebecca pudesse decidir algumas coisas.

 

Interpelou Clara quando ela passou apressada pelo hall principal da casa.

 

-- Onde está Luciana?

-- No quarto dela, Rebecca e seu eu fosse você...pensando bem, eu não sou você. Ela está lá, com aquele humor de cão... -- baixou os olhos, corando -- Desculpa, não queria dizer...bem, não acho que deva dizer tais pensamentos...prá você.

 

Dei um tapinha em seu ombro, num gesto de conforto e total compreensão.

 

Fui em direção ao quarto. "Como posso amar tanto esta mulher? O que vejo nela, meu Deus? Por que dei a mim mesma essa missão?"

 

 

*************************************

 

A porta abrindo-se abruptamente deixou Luciana assustada. O dardo lançado pelo azul gélido de seu olhar chocou-se a meio caminho com o calor daqueles olhos verdes. Por um momento, a mulher poderosa e suas resoluções vacilaram.

 

Sabia que aconteceria, mas não imaginara naquela noite. Enquanto estava convalescente, era fácil evitar Rebecca. Porém, com o passar do tempo...era inevitável que se encontrassem.  E, aquilo certamente não seria um encontro camarada, pela forma como Rebecca invadiu o quarto de Luciana.

 

-- Não quero mais ficar aqui.

 

A secretária veio logo atrás, cheia de desculpas e preocupações. Luciana fez um sinal para que ela saísse. Aquela atitude irritou ainda mais Rebecca.

 

-- Deus, eu odeio essa sua mania de tratar as pessoas sem dirigir-lhes palavras. É muito cruel, sabia?

 

 

Clara ficou estática ao ouvir o que a loirinha disse, apenas seus olhos se movimentavam, bailando do verde para o azul. “Que cena interessante!”

 

 

 

Mantendo o controle, mas engolindo em seco, Luciana fingiu ignorar o comentário e refez o sinal. Sem demora, a secretária se foi.

 

Agora, seus olhos estavam fixos nos olhos de Rebecca. Desafiavam-se.

 

-- Posso saber o porquê de tanta rebeldia, Rebecca? -- a pergunta fora feita em um tom neutro, evidenciando a tentativa de manter o controle.

-- Você se afastou de mim. Não vem saber como estou. Não posso dar um passo sem que Clara  não me persiga. Se você não quer a minha companhia, por que devo continuar aqui?

-- Porque você não tem prá onde ir, menina.

 

Por um segundo, Rebecca perdeu a fala, pela crua realidade do que Luciana falara.

 

-- Eu me viro. O que não posso é ficar aqui isolada. Se eu a atrapalho, livre-se de mim.

-- Como se fosse fácil.

 

O comentário de Luciana foi ríspido, mas a rispidez era com ela mesma, porém pegou Rebecca no contrapé. A resposta foi imediata.

 

-- Resta saber se você realmente quer.

 

Foi desconcertante. Desta vez a coisa ficara séria. Luciana sabia que estava pega. Estava nas mãos de Rebecca e, o que era pior, a loirinha tinha certeza disto.

 

-- Agora, mais do que nunca, eu tenho certeza do que quero. Saia do meu quarto.

 

Rebecca ficou parada, sustentando o olhar, sem piscar.

 

-- Saía do meu quarto, se quiser permanecer em minha vida. -- as palavras saíram entre os dentes, enquanto os punhos estavam cerrados.

-- Por que acha que temo suas palavras?

-- Porque eu não invadi sua vida.

 

Num gesto totalmente inesperado, Rebecca puxou Luciana e a beijou. Não com ternura, mas com raiva. Empurrando-a, Luciana caminhou para o banheiro.

 

-- Não tenha tanta certeza, doutora. -- havia raiva na voz de Rebecca.

 

Ao ouvir o estrondo da porta, Luciana destruiu com um chute a porta de vidro do box. O sangue pingando distraiu sua atenção.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

vixi.


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Comentários para 2 - Capítulo 2:
sonhadora
sonhadora

Em: 11/11/2015

Cara, que bom que vc voltou!!! Passei dias louca pra continuar essa história! Não desconsiderando as outras, essa história mexeu muito comigo e eu ficava virando as madrugadas devorando os capítulos!!! Obrigada por postar aqui, eu já li a primeira parte toda e estou ansiosa pela segunda, mas vou reler de novo, de novo e de novo!!! Abraço Cidajack!!!

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