Estava mexendo no notebook enquanto Camila lia um livro do meu lado na cama. O aquecedor do quarto estava ligado, deixando o ambiente em uma temperatura agradável. Olhava a página inicial da NYU procurando saber mais sobre a faculdade e seu programa de bolsas. Na verdade tinha feito aquela página como a inicial do meu navegador. Procurava sobre Julliard também. A distância entre as duas faculdades e o nível de preço dos apartamentos que ficavam no meio do caminho das duas.

- Quando Troy voltar de viagem, vou pedir a ele para formatar meu notebook.

- O que disse?

- O notebook está precisando formatar, assim que Troy chegar de viagem vou pedir pra ele fazer isso.

- Ah sim. Realmente tenho notado ele mais lento mesmo

Abri a página de uma imobiliária e cliquei em um apartamento para ver as fotos. Não era nada grande, possuía apenas um quarto, sala, cozinha e um banheiro. Só de olhar o preço já suspirei. Teria que arrumar no mínimo três empregos para bancar um aluguel daquele.

- O que está vendo? – Camz perguntou e esticou o pescoço em minha direção para ver.

- Dando uma olhada em apartamentos. Só pra ter uma noção. - Camila olhou atentamente o que estava vendo. – Linda, nunca falamos a respeito. Decidimos ir para Nova York e tudo o mais, até estava falando com Diana sobre isso, mas me dei conta que com a pessoa mais importante, eu não falei, que é você. – Falei um pouco insegura.

- O que é? – Sua atenção voltou para mim.

- Nós ainda não discutimos sobre moradia, e como somos namoradas e vamos para o mesmo lugar, eu andei pensando... – Deixei a frase no ar.

- Você quer dizer sobre morarmos juntas? – Assenti levemente. – Eu estou contando com isso, Laur.

Não pude deixar de sorrir e beijá-la.

- É que nós nunca falamos expressamente sobre isso, e eu na verdade já vinha contando com isso e fazendo planos há tempos. – Camz riu.

- Eu sei. Você tem se preocupado muito com nossa ida pra lá. Acho incrível essa sua dedicação. – Sorriu pra mim.

Entrelacei nossas mãos e beijei delicadamente seus dedos. Ela voltou sua atenção para o notebook e olhou a página do apartamento e da imobiliária.

- Amor. – Falou com a voz doce. – Não podemos morar nessa região.

- Pensei em um lugar que não ficasse longe pra você e nem pra mim.

- Mas não precisamos morar entre elas. As duas faculdades ficam em Manhattan. Qualquer coisa próximo delas será muito cara.

- Não queria que perdêssemos muito tempo no transporte.

- Bom, isso será algo que teremos que considerar. O bom é que nossas faculdades são muito próximas. Penso até que dará para almoçarmos juntas dependendo do horário das nossas aulas.

- Isso soa ótimo para mim. – Sorri e ela me deu um selinho.

- Pra mim também. Com certeza facilita nossa vida elas serem perto uma da outra.

- Voltando para o assunto dos apartamentos. Sabe em qual região seria melhor morarmos?

- Precisamos de um lugar em que possamos bancar. Não importa qual região, se dermos conta do aluguel, andar um pouco, acordar cedo para pegar metrô não será problema. Tudo bem?

- Claro, se você diz. – Sorri.

- E outra, eu também irei trabalhar para ajudar nas despejas. Não pense que irá bancar tudo sozinha. Estamos juntas nessa, me ouviu? – Falou me olhando nos olhos.

- Mas amor, faculdade de música toma muito tempo, você terá que ensaiar, passar o dia na faculdade... – Não deixou eu terminar de falar. Colocando um dedo sobre meus lábios.

- Laura, assim como eu precisarei estudar, você também irá precisar. Não é justo que só você trabalhe. Tenho plenas condições de fazer o mesmo. Quando falo que estamos juntas nisso, não é da boca pra fora.

Camila sempre me surpreendia. E isso só me deixava mais apaixonada por ela. Naquele momento mais do que tudo, senti orgulho. Orgulho da pessoa decidida e de opiniões que era. Da pessoa incrível que sempre foi.

- Eu te amo. – Falei ainda com seus dedos sobre meus lábios. Ela suavizou o olhar e sorriu pra mim.

- Eu também te amo.

Beijou-me calmamente. Segurei em sua cintura e apertei seu corpo sobre o meu. Queria sentir seu calor. Seu coração batendo junto ao meu. Camz finalizou o beijo e me abraçou, repousando seu rosto na curva do meu pescoço. Desde que ela estivesse ao meu lado, nada mais me importava.

 

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            Terminei de fazer a pipoca no fogão e coloquei em duas vasilhas. Peguei o suco com uma mão e na outra levava a pipoca. Cheguei na sala e vi Diana e Alice jogando uma na outra almofadas.

- Vamos parar, né? Se quiserem a pipoca de vocês ta em cima da mesa, não consegui trazer tudo.

Tínhamos colocado almofadas no chão da sala pra assistirmos o filme. Camila me ajudou pegando a pipoca e me ajeitei sentando ao seu lado.

- É assim mesmo, Carter. Quando for em casa tratarei você com a mesma cortesia.

- Como se você já não o fizesse. – Dei risada.

- Laura só faz essas coisas pra Camila agora. – Alice falou e me deu a língua, se levantando para ir a cozinha.

- Não é verdade, Laura é agradável com todos. – Camz intervém ao meu favor, me puxando para me dar um selinho.

Diana riu exageradamente de forma irônica sendo acompanhada por minha irmã, que voltava com a pipoca, no mesmo tom.

- Qual filme iremos assistir?- Sentou entre Camila e Diana.

- Camz quem escolheu o filme.

- Vish, devia ter trazido meu travesseiro. Certeza que irei dormir. – Diana implicou.

- O filme é bom. Muito construtivo, vocês vão gostar. – Se defendeu.

Coloquei o pendrive na TV e abri o arquivo. Alice falou.

- Gênio indomável? Esse filme não é velho?

- Não tanto, mas tenho certeza que vocês ainda não assistiram. – Olhou para elas que negaram com a cabeça. – Muito bem, então será esse mesmo.

- Não é velho não, só do século passado. Imagina se fosse novo.

Diana sussurrou para Alice, mas falou alto o bastante para que nós ouvíssemos. Não tive como não rir e Camz me olhou feio.

- Parem com isso e vamos assistir. – Falei tentando me redimir com minha namorada.

O filme começou e me recostei no ombro de Camz. Bebia suco e às vezes recebia pipoca na boca. Com o filme um pouco mais avançado peguei em sua mão e fiz um carinho leve.

- Depois preciso te contar uma novidade. – Falei no ouvido de Camila. Ela virou pra mim e sorriu.

- Também tenho uma novidade pra contar. – Sussurrou de volta.

- Huum estamos cheia de novidades então. – Brinquei.

- Vamos parar com a falação ai? Quero ver o filme.

Joguei uma pipoca em Alice e dei um selinho em Camz antes de voltar minha atenção para a TV. Sempre trocava carinhos com Camila durante o filme, vezes e outra ouvíamos alguma implicação, entretanto nem ligava. Sabia que faziam só para encher a paciência. E assim se passaram as duas horas de filme.

- Não achei que iria dizer isso, mas eu realmente gostei do filme.

- Minha namorada tem bom gosto, Alice. Deveria saber – Ela revirou os olhos e eu ri abraçando Camila por trás enquanto íamos para a cozinha.

- Só pra filme, maninha. Não se iluda.

- Sabe – Falei de maneira pensativa. – Se o filme fosse sobre mim... na verdade, se eu fosse a personagem principal, o final do enredo teria sido exatamente o mesmo.

- Se você fosse a personagem principal, o final do filme seria mais do que previsível. – Diana disse rindo.

- Previsível ou não. Eu gostei do final.

Sorri pra Camz concordando com o que falou.

- Bom, está ótimo aqui, mas tenho que ir pra casa. Você vai ficar aqui, Mila?

- Vou sim. Amanhã no almoço vou pra casa. – Resmunguei diante da informação. Achei que passaríamos o dia juntas.

- Tem que aprender o dividir minha prima, Carter. – Me deu um tapinha no rosto.

- Diana, me leva na casa de uma amiga? É caminho da sua. – minha irmã perguntou.

- Claro, sem problemas.

- Avisou nossos pais? – perguntei.

- Avisei tanto o pai quanto a mãe.

- Está um pouco tarde. Vai dormir lá?

- Vou sim. Amanhã iremos ao clube da cidade vizinha, a família de Ana acabou de virar sócia.

Confirmei com a cabeça e a observei subir as escadas.

- Sean não está em casa?

- Tá nada. Logo depois do ano novo ele viajou com a família do Kevin. Vão passar umas duas semanas no litoral.

- Que sortudo. – Diana riu.

- Pois é. – concordei.

Minha irmã desceu as escadas já com a mochila na mão. Diana e Alice se despediram da gente e partiram.

- Está com fome, linda? Se quiser podemos pedir algo.

- Huum não quero comer algo de fora. Podemos fazer alguma coisa aqui mesmo?

- Se prefere, vamos fazer. Mamãe fez compras esses dias, então temos bastante opções.

Fui abrindo os armários e falando o que via. Assim que falei que tínhamos spaghetti, Camila se manifestou.

- Isso! Vamos fazer spaghetti.

- Você sabe como fazer?

- Tenho uma ideia, mas por isso temos a internet para ajudar. – Disse levantando o celular.

- Santa internet. – Ri

- Temos carne? Podemos fazer a Bolonhesa.

- Tem sim, e queijo também.

- Ótimo, então pegue os ingredientes.

Camila foi falando o que iríamos precisar, e eu ia pegando e colocando no balcão. Ajudei a descascar e picar os tomates. Camz não gostava de usar molhos prontos. Coloquei água pra ferver e esperei que ela fizesse o molho.

- Tem champignon, quer usar? – perguntei.

- No final do molho eu coloco, amor.

Ela terminou de fazer e eu coloquei a massa na água já fervente. Fui até a bancada e me recostei nela. Desligou o fogo da panela de molho e foi até mim.

- O cheiro está bom. – Disse a ela.

- Uhum. E está me dando mais fome.

- A massa é rapidinho, já já tá pronta.

Peguei na cintura de Camz e a ergui colocando-a sentada no balcão. Deitei minha cabeça em seu colo e fechei os olhos. Ela passava as mãos levemente entre meus cabelos, fazendo carinho. Era uma sensação de tranquilidade.

Levantei meu rosto e procurei seus lábios para beijá-la. Trocamos um beijo carinhoso e cheio de amor. Beijava-a calmamente. Entretanto não demorou muito para eu logo começasse a me assanhar. Segurei firme em sua cintura e aprofundei o beijo. Sendo correspondida a altura. Minhas mãos já se aventuravam por debaixo de sua blusa, alcançando a base de seus seios no segundo seguinte. Mas Camz não permitiu que ficassem por lá.

- Amor, tem que olhar a massa.

- Não ta pronta ainda não.

Desci minha boca para seu pescoço e distribui beijos. Mordi o lóbulo de sua orelha.

- Acho melhor providenciar logo nosso jantar se não você vai ficar me mordendo. – Riu.

- A fome que estou sentindo agora, não é nem de longe o spaghetti que vai saciá-la.

Camz corou e eu aproveitei para capturar seus lábios novamente. Ela me segurava pelos ombros e soltava gemidos entre um beijo mais quente e outro. Eu sabia que ela estava tão entregue quanto eu. Nossos corpos tinham certa urgência em ficar juntos. Subi novamente minha mão, dessa vez por cima da blusa, mas alcançando finalmente seu seio e o apalpando.

- Amor, sério. – Beijei e busquei sua língua. – Vamos perder o ponto da massa. – Falou, mas não fez nenhum movimento para se levantar.

- Ok. - Me afastei bruscamente dela. Passei a mão por meus lábios e a olhei. Sua expressão era de quem não estava entendendo nada. – Vamos ver a bendita massa.

Virei-me e fui até o fogão. Realmente estava no ponto. Então desliguei o fogo, peguei a panela e joguei sobre o escorredor. Olhei para ela que ainda permanecia em silêncio.

- Que foi? – Me fiz de desentendida e segurava o riso.

- O que foi? – repetiu a pergunta e balançou a cabeça negativamente. – Isso vai ter volta, Laura.

Desceu do balcão e foi até a pia. Não consegui mais prender e acabei rindo. Ela me olhou feio, ainda com a feição frustrada.

- Amor, só fiz o que tinha me falado. Fui ver a massa. – Aproximei-me dela.

- Se acha muito engraçada né, Carter. – Colocou a massa em uma travessa, distribuiu uniformemente e depois jogou  o molho por cima.

- Vem cá, não fica com essa carinha de brava não. – Abracei.

- Não. Nem vem, Laura.

- Vou sim. – Ri e beijei seu rosto. – Você é muito linda, sabia?

- Não vai me ganhar com elogios. – Segurava o riso.

- Não são elogios. São verdades. Constatação de fatos. - Beijei sua bochecha. – Seus olhos são lindos também, sempre me sinto acolhida quando você me olha. – Beijei sua testa, ela fechou os olhos e beijei cada um. – Seu nariz todo delicado. – Dei um beijo de esquimó dela. – E por último e não menos importante, seus lábios. Que sempre me tiram do sério. Toda vez que nos beijamos, é como se eu estivesse na hora e lugar certos, porque me fazem esquecer de tudo e me mostram que estou em casa.

Ela sorriu meigamente pra mim e nos beijamos. Terminamos de ajeitar tudo e colocamos na mesa. Peguei o suco na geladeira e servi. Comemos entre conversas.

- Muito bom esse spaghetti. Não irei passar fome em NY.

- Modéstia a parte, está mesmo bom.

Terminamos de comer e limpamos a mesa.

- Deixo o que sobrou na travessa para seu pai ou guardo na geladeira?

- Pode guardar na geladeira, papai está na cidade vizinha só chega amanhã.

Deixamos tudo limpo e lavamos a louça.

- O que quer fazer agora, linda? Podemos ver outro filme, jogar alguma coisa...

- Vamos pro quarto? Não estou com muita vontade para fazer outra coisa a não ser deitar.

Camz nos últimos tempos andava sem ânimo, isso estava me preocupando. Entretanto acabei atribuindo ao fato de termos virado o ano e os pais não a terem procurado, sabia que se sentia triste com isso.

- Você quem manda.

Subimos as escadas entre beijos e brincadeira. Como já tínhamos tomado banho, apenas trocamos de roupa. Camz colocou um short e uma blusinha de alcinha, conjuntos de um pijama. Eu também coloquei um short e optei por uma blusa mais larga de magas. Deitamos na cama e eu a abracei por trás.

- Amor, escuta essa música.

Peguei meu celular e coloquei na música nova de uma banda que gostava. Camz ouviu em silêncio, sua respiração tão ritmada que pensei que houvesse dormido.

- Amor? – Perguntei quando terminou a música.

- “I was me”, gostei da música.

- Pensei que tivesse dormido – Ri. – Então, é uma música nova. Gostei dela também.

- A letra me faz pensar.

- Uhum – Concordei e coloquei em outra música do Imagine Dragons. – Linda, você disse que tinha uma novidade pra me falar.

- Se eu não me engano, você também tinha uma. – Ela se virou para ficar de frente pra mim.

- Tem razão, mas quero ouvir a sua primeiro.

- Consegui um lugar onde posso estudar piano. – Falou sorrindo.

- Sério amor? Que noticia boa. – Enchi seu rosto de beijos. – Como conseguiu?

- Foi a tia Malika, ela conversando com uma amiga acabou entrando nesse assunto. Essa amiga dela disse que a mãe era professora de piano e que tem um em casa, que se eu quisesse posso ir lá estudar. Ela mora sozinha e pode até me ajudar nos estudos.

- Meu amor, essa notícia é ótima! Você vai poder voltar a estudar. – beijei-a – Estou muito feliz!

- Eu também fiquei muito empolgada. O teclado no qual estava estudando era bom, quebrava um galho, mas piano é diferente. E ainda vou ter uma professora pra ajudar.

Sorri realmente feliz. Camila tinha talento. Toda vez que a escutava tocar, podia perceber isso. Tocava com leveza, como se tudo fosse extremamente fácil. Apesar disso eu sabia que era mais do que necessário praticar. O tempo em que estava sem praticar, depois do que aconteceu em relação aos seus pais, havia me deixado preocupada, podia perceber isso nela também. Agora, enfim, essa parte estava resolvida.

- Muito bem, agora é sua vez.

- Ok. Você sabe que tenho uma avó que mora na Califórnia, certo? – Ela assentiu com a cabeça. – Então, papai e mamãe vão semana que vem visitá-la, e Alice vai junto. Eu vou ter que ficar por causa da loja. Papai tem um funcionário de confiança que vai ficar responsável, mas ele está de férias e só volta dois dias depois deles partirem.

- Vão ficar muito tempo lá?

- Uns cinco dias. E sabe o que isso significa? – Ela fez que não com a cabeça. Eu a abracei. – Significa que você vai ficar esse tempo aqui em casa. Apenas eu e você. – Ela sorriu.

- Isso soa Bom.

 

-Correção. Isso soa ótimo. – A puxei para um beijo.

Fim do capítulo