Capítulo 6
Esther
Com o encerramento dos jogos, a próxima semana, seria de muito estudo; antes das provas finais. Enquanto as meninas tomavam uma ducha, eu fui atrás de Bruna, agradecer o que havia feito. Encontrei ela, lanchando perto das árvores. Fiquei com receio de aproximar, mas, precisava entender os motivos dela.
– Oi. – Falei receosa.
Me encarou um instante e voltou a comer.
– Sinceramente, não entendo você! Mas, não posso deixar te agradecer por… – Interrompeu.
– Cai fora, pirralha! – Disse sem paciência – Agradecer, o quê? – Havia certa agressividade em sua voz – Eu não fiz nada! Você entendeu? – Encarou, séria.
“Qual é o problema dessa garota?” Engoli seco, deixando-a sozinha. Sinceramente, não sabia se ficava mais incomodada com o fato dela ficar dando em cima de Mia, ou, com essa raiva sem sentido, que demonstrou.
– Esther! – Ouvi Manuela, chamando – Ei! Estava te procurando! – Olhou de onde eu estava vindo – Essa garota voltou a te provocar? – Franziu o cenho – Vou lá dizer; poucas e boas, para ela! – Estufou o peito, corajosa.
– Não! Ela não fez nada! – Segurei o seu braço, vendo-a murchar, soltando o ar preso – Aconteceu alguma coisa? – Desconversei.
– Hmm… Quero saber, que horas você vai passar em casa? – Sorriu animada – Os meninos, querem ir na sessão das 19:00 horas! – Pensou – Assistir à estreia de um tal, Harry Potter…
– O livro é ótimo! Espero que o filme, também seja! – Fiquei feliz com a escolha – Então, por volta das 18:00 horas.
Caminhamos de volta para o pátio. Manuela, perguntava sobre o livro, e a história em si, parecia ter ficado encantada, com a história do “O menino que sobreviveu”. O restante da manhã, foi tranquila.
***
– Então loira, será que vai conseguir nadar? – Mia, questionou preocupada.
– Nem que, eu fique de molho na água, está muito calor! – Caminhava devagar, tendo o apoio de Mia – Foi apenas uma cãibra, já tomei um analgésico. – Observou.
– Eu falei, que elas eram umas brutamontes! – Acusou – Onde já se viu, “encoxar”, a minha loira assim?! – Manuela, gesticulou nervosa.
– Ei! Ninguém aqui foi encoxada, tonta! – Riu – São ossos do ofício.
– Não exatamente. A treinadora Cássia, pareceu ter apreciado muito, essa investida de Letícia! – Mia, falou séria.
– Também notei! – Observei – Mas, Bruna deu uma chamada naquela garota! – Admiti.
– É o mínimo, que se espera de uma capitã! – Falou ríspida.
O clima ficou tenso, apenas um momento, antes de Manuela, soltar uma de suas pérolas, nos levando a risada. Gaspar, o motorista de minha vó, estava me esperando. Pedi a ele, que desse uma carona para as meninas, mas, Mia disse que não tinha necessidade, já que a van havia chegado, e que Daniele, iria para casa com ela. Mais tarde, elas iriam para o clube. Despedi delas, deixando Manuela em sua casa.
***
– Escolhe logo uma roupa, Manuela! – Falei impaciente.
Cheguei no horário e encontrei Manuela, desesperada, sem saber o que vestir.
– Mas, nada fica bom! – Fez muxoxo.
Estava de frente para o espelho, com várias peças de roupas, espalhadas pela cama.
– Não acredito, que você, passou a semana inteira planejando esse “encontro”, para entrar em pânico justo agora! – Falei inconformada.
Isadora, a mãe de Manuela, ria divertida, antes de vir ajudar a sua filha. Sabia do jeito da filha, por isso, já deixou separado um conjunto, que não só agradou a Manuela, como, me fez respirar aliviada.
A campainha tocou. Marcos, o pai de Manu, recebeu os meninos. Conversou com Jorge, o irmão mais velho de Gustavo, para ter atenção no trânsito. E sutilmente, comentou, que era amigo do delegado. Manu, reclamou e Isadora interveio, dizendo que chegaríamos atrasados.
Confesso, que quando iniciou a trilha sonora, senti um arrepio gostoso. Agradeci, Manuela mentalmente, por ter aceito o convite por mim. Olhei um segundo, a mão que tocou a minha. Gustavo, sorriu feliz, voltei a minha atenção para tela, desejando ter Mia ali comigo.
***
– Cara, que filme irado! – Felipe disse eufórico – Dessa vez, eu tenho que agradecer, as suas nerdices. – Confessou – Obrigado!
– Agradeça, lendo o livro! – Gustavo sugeriu – O filme foi muito bom, mas, o livro é melhor! – Avisou.
Enquanto esperávamos por Jorge e Lúcia, entramos em uma conversa rica em detalhes, sobre as cenas do filme. Os melhores momentos, para cada um.
– Obrigada, pelo convite! O filme foi mágico! – Rimos em cumplicidade.
– Querem tomar um sorvete conosco? – Gustavo sugeriu, ao ver o seu irmão se aproximando.
– Obrigada, mas, a minha tia já deve estar chegando! – Adiantei, antes que Manuela, arrumasse outro compromisso para nós.
– Vamos, Guto! – Jorge chamou, acompanhado da namorada.
– Outro dia, então? – Insistiu – Talvez um lanche? – Sorriu charmoso.
– Vou olhar na minha agenda, um horário disponível! – Brinquei.
– Olhe com cuidado, para não deixar passar, uma oportunidade… – Beijou o meu rosto, próximo a minha boca – Tenha uma ótima noite! – Despediram-se.
– É, as quietinhas são as piores, mesmo! – Disse Manuela, que tinha um sorriso maroto.
***
Não demorou muito e avistei Lúcia, sendo acompanhada, por Mia e Dani. Estavam trazendo duas caixas de pizzas, acenaram para nós. Quando chegamos na casa de Mia, fiquei sabendo que Daniele, também dormiria lá. O convite foi estendido para Manuela, que adorou a ideia, fazia muito tempo que não tínhamos uma noite só para as meninas. Manuela, ligou para a sua mãe, avisando. Organizamos tudo, e comemos as pizzas com refrigerantes bem gelados. Enquanto comíamos, Lúcia queria saber como havia sido o nosso encontro, fiquei tímida na hora, pois Mia, estava encarando. Manu, não se fez de rogada, e, contou até mais do que devia. Engasguei, quando contou do meu quase beijo. As meninas riram, Lúcia falava que a “caçulinha dela” estava crescendo. A minha vontade, era de que a terra se abrisse, e, eu fosse tragada. Mia, estava em silêncio com um sorriso zombeteiro, devorando as pizzas. Depois da vergonha que passei, arrumamos tudo, e fomos para o quarto. Eu, dividia o quarto com a Mia, já que Eduardo estava dormindo na casa da namorada, usamos o seu colchão de casal, pois queríamos aproveitar a noite, todas juntas. O colchão foi posto no meio do quarto, e nele, ficamos jogando cartas e contando piadas. Antes de irmos dormir, Daniele, fez expressão de dor e Mia, se adiantou, aplicando uma massagem com gel anti-inflamatório em sua coxa.
Despertei, após um sonho estranho. Suspirei, virando em direção de Mia, na outra cama. A impressão que tive, era de ter visto o braço dela, para baixo, com os dedos entrelaçados aos de Dani. Os meus olhos pesarem, apaguei novamente. Acordei no susto, parecia que só havia piscado por um segundo. Olhei na direção das meninas, que dormiam. Dani, virada para Manu, que estava com parte do corpo, para fora do colchão, resmungando, ainda dormindo. Mia, estava virada para parede, dormindo profundamente.
“Foi apenas um sonho…” Pensei, bocejando. Olhei para o despertador, ainda era muito cedo. Toquei o meu pingente, tentando lembrar o que havia sonhado, suspirei. Resolvi tomar uma ducha, tinha perdido o sono. Levantei com cuidado, e peguei uma toalha. Ao sair do banheiro, quase fui atropelada por Manuela, que correu para fazer as suas necessidades matinais, ri, desejando um bom dia. O cheirinho de café, recém-feito, atiçou o meu apetite. Segui para a cozinha.
– Bom dia, estrelinha! – Disse Lúcia, sonolenta – Caiu da cama?! – Sorriu, coando o café.
Aproximei, beijando o seu rosto.
– Bom dia! – Sorri, dei de ombros – São as injustiças da vida, isso sim! – Lamentei – Quando, eu posso dormir até mais tarde, o meu corpo resolve madrugar.
– Hmm… O seu corpo, ou, um certo rapazinho, que causou isso? – Sorriu maliciosa.
– Tia! – Corei – Não tem nada a ver… Eu, só perdi o sono! – Senti, as minhas faces queimarem.
– SEI! – Riu divertida – Acho que, já está na hora das meninas acordarem! O dia está lindo, para ficarem de preguiça na cama. – Terminava de arrumar a mesa, para o desjejum.
– Ok! Já entendi, o recado. – Coloquei na mesa, a maçã que havia pegado.
Segui para o quarto, pensando a respeito, no pedido de Gustavo, e, se o que Lúcia havia dito, fazia sentido. Estava distraída, quando o meu corpo simplesmente parou. A porta estava entreaberta, pela fresta, pude ver Mia. Ela já havia acordado. Estava deitada, virada para Daniele. Apoiava, a sua cabeça sobre o seu braço, acariciando o rosto, ainda adormecido da loira. Aproximei, devagar. Os olhos de Daniele tremeram, abrindo em seguida. “O que está acontecendo?” Pensei, prendendo a respiração e sentindo o meu coração disparar. Mia, a presenteou com sorriso sereno, sem deixar de acariciar, o rosto da loira. Dani, retribuiu o sorriso, sussurraram um bom dia. Toquei o meu rosto, ao sentir uma lágrima solitária, deslizar. Daniele, levantou o corpo, aproximando o seu rosto no de Mia. “Não, Mia!” Não consegui reagir. Eu, estava travada, assistindo tudo. Mia mordiscou o lábio, antes de roça-los nos de Daniele, em um beijo carinhoso.
Tropecei, saindo na inércia indo de costas, sendo acolhida por um abraço protetor. Olhei e vi Lúcia, presenciando a cena. Não aguentei, e em seus braços, comecei a chorar por uma dor que, eu não imaginava existir.
“Ninguém cruza nosso caminho por acaso e nós não entramos na vida de alguém sem nenhuma razão.”
Chico Xavier
Continua…
Fim do capítulo
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