As duas continuaram conversando durante o almoço, em seguida Carol retirou a mesa e lavou a louça com uma Elisa ”reclamona” sentada no banco da cozinha.

- A Dona Neide vem toda quarta feira fazer uma faxina aqui, ela lavaria a louça. – Elisa – eu poderia lavar a louça amanhã cedo também, ridículo você fazer tudo isso por mim e ainda lavar a louça.

- Lisa, são dois pratos, dois copos e talheres – Carol falou olhando para trás onde estava Elisa – pronto estou quase acabando!

- Deixa no escorredor, não precisa secar! – Elisa falou e na posição que estava ficava olhando as costas de Carol e a todo momento os olhos baixavam e ela lutava pra voltar a olhar em direção a cabeça de Carol – já terminou? – Elisa pensou – Que tortura!!! Já pensou se ela vira bem na hora que estou imaginando como seria ela vestida no shorts de jogadora de vôlei? Deusssss, toma jeito Elisa!!!

- Já sua teimosa! Pronto não caiu a minha mão! – virou secando as mãos e indo pegar um copo para colocar água – Agora Dona Elisa, tomar os remédios e descansar!

- Sim Dra!- Elisa tomou os remédios e Carol ajudou ela se levantar e foi com ela até seu quarto, a colocou na cama e foi até a sala.

- Vou pegar uma almofada da sala para apoiar seu pé. – Carol.

- Ok.

- Pronto – Carol falou sentando na ponta da cama que Elisa estava deitada – Está tudo bem? Precisa de mais alguma coisa?

- Não Ca, está tudo ótimo – Elisa falou isso e virou o rosto no travesseiro tentando se esconder.

- Hey, o que foi?-Carol segurou o queixo de Elisa.

- Nada. Obrigada, sei que não quer que eu fique agradecendo, acredito até que eu já esteja sendo chata também. – Secou uma lágrima que estava escorrendo.

- Por que está chorando? Fiz algo de errado?- Carol perguntou preocupada segurando a mão de Elisa.

- Se você fez algo? Fez sim! – deu um sorriso fraco e olhou para Carol – Você deu os primeiros socorros, você me trouxe em casa, você me alimentou, lavou a louça, me carregou para lá e para cá, até se preocupou em pegar uma almofada para colocar meu pé em cima, me aguentou reclamando, aguentou meus rompantes de tagarelice, me fez rir, me fez companhia. Ou seja, você fez mais por mim do que qualquer outra pessoa já fez. – Elisa puxou a mão de Carol e deu um beijo.

- Lisa, eu não fiz nada de mais e talvez as pessoas idiotas com quem viveu não sabiam fazer uma coisa muito simples que todos podem fazer – se abaixou até seu rosto ficar próximo do de Elisa e falou – Dar carinho.- beijou a testa de Elisa – Ser paciente – beijou um lado do rosto – se importar – beijou o outro lado, ficaram se olhando até que Carol falou – Vou deixar você descansar, o remédio vai te dar um pouco de sono.

- Fica ... – Elisa falou bem baixinho.

- O que?

- Fica...fica um pouco aqui comigo...se você puder e quiser, é claro.

- Posso e quero, só não iria ficar sem um convite não é? – disse sorrindo – Mas agora devidamente convidada, eu fico.

- Então deita aqui também, vamos ver um filme – Elisa foi pro lado dando espaço para Carol.

- Vamos! Apesar de que você logo irá dormir. – riu.

- Acho que não, sem estou com sono e ainda são quatro da tarde.

- Ok- riu outra vez – Veremos!

                Ficaram zapeando a TV até acharem um filme que as duas não tinham visto, Carol estava muito desconfortável deitada na ponta da cama, pois tinha receio de se aproximar mais e Elisa se assustar. Passaram 15 minutos de filme e como dito, Lisa já estava dormindo. Quando Carol menos esperava Elisa virou para o seu lado e passou o braço por sua barriga, fazendo com que Carol chegasse mais perto e colocasse seu braço por baixo da cabeça de Elisa para ficarem mais juntas. Carol se acomodou melhor, fez carinho no braço de Elisa, sorriu e pensou: - acho que nunca senti algo tão bom! – sorriu e decidiu descansar um pouco também, pois estava acordada desde as cinco da manhã e na noite anterior tinha ido dormir tarde.

                Carol despertou horas depois o filme já tinha acabado e já passava outro, tentou se virar e sentiu um peso, Elisa estava deitada atrás dela com um braço em sua cintura e uma perna em cima das suas, uma conchinha um pouco estranha, mas riu porque vindo de Elisa não poderia ser diferente. Tentou não acordá-la e se levantou, ainda ficou uns instantes olhando para ela, a cobriu desligou a TV deu beijo em sua boca, bem leve, foi até a sala procurou um papel e uma caneta e escreveu:

                Linda, você estava dormindo tão gostoso que não quis te acordar,quando acordar tome outro remédio, amanhã ligo para saber como você está e fique o máximo com o pé para cima ok? Deixarei a chave com o porteiro ai assim que acordar você o chama para pegar sua chave tá? Fique bem!

Bjos, MINHA teimosinha.

Cá.

                Carol foi para sua cara, chegando viu que tinham muitas ligações perdidas em seu celular, algumas do Carlos, algumas de Letícia e outras de um número desconhecido, o que achou estranho. Com Carlos falaria no outro dia, portanto ligou para Lê.

- Diga, minha advogata querida! – Carol sempre chamava Letícia de advogata.

- Hum, bom humor a esta hora em dia de semana, transou com quem? – Letícia sendo Letícia.

- Cala a boca Lê! – e riu – tudo bem ?

- Sim – rindo – e você? Sumiu desde sábado, nem me contou nada da paulista!

- Desculpa Lê, vou resumir ok? – Carol resumiu tudo para Letícia até os momentos atuais.

- Como eu disse, transou!

- Babaca, claro que não, acho que ela só estava me abraçando daquela forma, pois estava grogue do remédio e dormindo – riu – ela é muito tímida Lê, e acabou de se descobrir, e também não quero nada com pressa, das outras vezes só me ferrei!

- Ahhh tá Dra. Carolina!!! Uma guria daquela na cama com você e nada? Capaz!!!

- Juro Lê, não que eu não queira – riu – mas sabe quando dizem que a espera vai valer a pena? Conto com isso – riram.

- Falando a sério agora, ela é linda, engraçada, toma tequila, amiga dos nossos amigos ... mas e ai? Você está preparada pra seguir? Não estou querendo ser amiga da onça, só estou preocupada, vai devagar Carol, você entra de cabeça se apaixona e depois se ferra...

- Eu sei Lê, o Bê também conversou comigo, estou indo devagar, estamos nos conhecendo adoro conversar com ela, nunca alguém me tirou tantas risadas em tão pouco tempo, ela sorri pra mim e eu automaticamente já abro um sorriso, o assunto não acaba quando começamos a conversar, ela é meiga, carinhosa, inteligente, fica tagarelando sozinha – riu – hoje falou que sou gostosona, mas não percebeu que tinha dito em voz alta, ai ficou toda vermelhinha e minha vontade era só encher ela de beijos e ficar segurando ela perto de mim.

- Hahahaha...coloca sincera então nas qualidades!Caracas Carol você está muito afim dela!

- Estou! E desta vez eu não estou com medo ou daquele jeito preocupada de que tenho que me esforçar para que a pessoa me veja e se importe comigo, ela demonstra em pequenas situações, frases e gestos que ela também se importa e está tentando.

- Ai Carol, que bommm!!! Fico tão feliz por você amiga, demais mesmo!Ela tem irmã? Amiga? Prima?- riram

-Então Lê, a família dela que é um problema, nem se falam muito bem, sei que tem uma irmã mas acho que é noiva e os amigos, ela perdeu contato com a maioria, na realidade é uma história complicada e particular dela.

- Entendo, mas se ela te contou quer dizer que confia em você.

-Sim, fiquei feliz por ela ter me contado, e mal pela história em si.

-Entendo, bom Carol, você sabe que sempre estarei aqui por você, e temos que sair mais para que eu aprove não é, não deixe ela pensar que é fácil não – riram- Só vai com calma, se coloca em primeiro lugar ok? Não faça igual fez com a Geórgia.

- Ai Credo Lê, tinha que falar desta “demônia”, e outra a Elisa é totalmente diferente de todas que já conheci.

- Shi tá xonadinha, tá bom amiga vamos fazer algo no fim de semana ok?

-Ok, beijos.

-Beijos.

                Carol arrumou suas coisas, tomou seu banho, e em seguida foi dormir, estava muito cansada.

                No outro dia acordou com o telefone tocando.

- Alo – atendeu sem olhar quem era.

- Bom dia, segui todas as suas recomendações Dra. Estou me sentindo muito bem – disse uma Elisa de muito bom humor.

- Oi Lisa, que gostoso escutar sua voz.

- Ai, te acordei? Desculpa Ca, dormi direto ontem e ai acordou bem cedo.

- Tudo bem linda, na realidade ainda bem que me ligou, acabei perdendo a hora – riu – ou melhor, que horas são? – riram

- Oito da manhã, pensei que já estava chegando à clínica.

- Em dias depois de cirurgia só começo a atender às dez horas.

- Ai que droga, desculpa Ca te acordei muito cedo.

- Fica tranquila, bom que me arrumo com calma, mas então está bem? Melhorou um pouco mesmo?

- Sim, ótima esta Dra e ela ainda deixa bilhetinhos fofos. Além do cheiro dela também ficar no meu travesseiro.

- Esta última frase você quis mesmo dizer ou escapou? – falou rindo

- Desta vez quis mesmo dizer – riram – Agora vou deixar você se arrumar e começar a trabalha via skype com o Guto, estamos com uns problemas lá na construtora.

-Tudo bem Lisa, no almoço te ligo ok?

-Vou ficar esperando – Elisa sorriu não querendo desligar.

-Não quero desligar – Carol falou.

- Nem eu ...

-Mas temos...

-Eu sei ... – Elisa.

-Bjos linda

-Bjos Cá linda. – riram e desligaram.

                Elisa ficou segurando o celular e o olhando com um sorriso no rosto e disse para si mesmo: - Acho que estes remédios estão batizados – riu – estou mais boba que o normal. Seguiu o dia trabalhando e tentando resolver os problemas com o Guto, falou com Carol mais duas vezes e os dias seguiram assim, trabalho, falar com Carol, trabalho, falar com Carol. Na sexta Elisa pensou que Carol iria chama-la para sair, mas o convite não veio, e se sentiu decepcionada, e em seguida insegura se falava algo ou não, resolveu então ligar para o Guto.

- Guto?

- Oi amoré, tudo bem?

- Sim, deixa eu falar, to em dúvida...

- Novidade...

-Nos falamos a semana toda, hoje nos falamos só no almoço e depois nada, pensei que ela me chamaria pra fazer algo mas não chamou, você acha que ligo?

- Já deveria ter ligado né Li ? Ela sabe tudo de você e tenta de tudo para não te assustar mas também tem que sentir algum interesse a mais de você né, para de ser puritana e parte pro abraço.

- Ok, e não sou puritana, só sou um pouco metódica e paciente.

- Conta outra – Guto riu – tá morrendo de medo de passar dos beijinhos.

- Não é medo Guto, só receio de fazer algo errado.

- Ok, então dona certinha, liga pra ela e marquem de jantar ou cinema ou algo do tipo.

- Vou ligar agora .... bjos... tchau!

- Bjos – Guto riu – Ai esta Elisa me diverte, tá parecendo adolescente.

                Elisa ligou em seguida para Carol, tocou até cair na caixa postal. Elisa ainda tentou mais duas vezes depois de alguns minutos, até que desistiu. Começou a pensar um monte de besteiras, e no final se policiou tentando não surtar, pois alguma explicação teria, mandou uma mensagem para Carol e resolveu esperar.

                Carol passou a semana falando com Elisa e na correria de cirurgias e atendimentos na clínica. Na sexta feira falou com Elisa na hora do almoço e pensou em de noite na hora que chegasse em casa ligar para ela para fazerem algo, mas no fundo queria também que Elisa tomasse alguma iniciativa, por isso, deixou para ligar para ela só em casa. O problema é que Carol não contava com uma cirurgia de emergência que levaria muito tempo e que no meio da cirurgia o paciente, que veio de um acidente de moto, tivesse duas paradas cardíacas e com isso precisassem chamar o cardiologista, e o único de plantão, ou melhor, a única era a Dra. Geórgia.

                Dentro da sala de cirurgia se tratavam como profissionais que eram, Geórgia nem se atrevia a dar uma de suas investidas em Carol, pois sabia como ela levava o trabalho a sério. Em seguida foram para a antessala tirar as roupas cirúrgicas, Carol fingiu que nem conhecia Geórgia e seguiu direto para o vestiário para pegar suas coisas e ir embora.

- Ótima cirurgia Dra. – Geórgia disse e Carol nem respondeu.- Carolina, por favor, podemos conversar? Trabalhamos juntas, não podemos nos ignorar.

- Se você não pode, eu posso. – disse isso e foi saindo, porém Geórgia a segurou pelo braço.- Me solta!

- Carol, por favor, me dá uma chance...

- Te dar uma chance? Há há há Geórgia, te dei milhões de chances! – tentava se soltar, mas Geórgia ia a segurando mais e tentando colocar Carol encostada na parede.

- Carol, me escuta, você não pode acreditar em tudo que dizem para você!

- Eu vi Geórgia! A última vez que você me fez de idiota me colocando um belo par de chifres, eu vi!As outras vezes as pessoas que me alertaram eram confiáveis e mesmo assim eu não dei atenção, eu era uma boba apaixonada e iludida. Mas quando eu vi você na cama com a Laura que além de tudo era minha amiga também, ACABOU, tudo o que eu sentia acabou! E hoje não resta mais nada!A única coisa que sinto por você é indiferença! – disse se soltando e indo até a porta.

- Não é isso que seu corpo demonstra – falou Geórgia sorrindo e indo atrás de Carol.- Ainda não acabamos Carol, e você também sabe disso!

- Geórgia, se enxerga jamais me contentaria com suas migalhas e jamais voltaria para alguém que me traiu. E estou muito bem, então me deixa em paz e faça seu trabalho que faço o meu. Boa noite!  - Carol saiu e foi direto ao estacionamento e de lá para casa.

- Ahh então a Dra Carolina tem alguém? Bom saber preciso descobrir mais sobre isso! – Geórgia falou e em seguida também foi embora.

                Carol chegou em casa nervosa pelo dia corrido, pela cirurgia complicada, pelo embate com Geórgia e principalmente por não ter falado com Elisa. Quando foi pegar seu celular que viu que estava sem bateria, colocou o carregador e viu que Elisa tinha ligado algumas vezes e mandado uma mensagem:

Elisa: Cá? Tudo bem ? tentei te ligar algumas vezes ... quando der me retorna? Se puder ...

Elisa: é que, queria saber se não queria fazer algo hoje? Fico no aguardo.

                Carol ficou feliz por Elisa tomar a iniciativa, mas triste por ter saído tão tarde e o celular descarregado, e além de tudo isso estar tão irritada pela discussão com a Geórgia.

Mensagem:

Carol: Lisa, tudo bem? Desculpe-me minha bateria acabou e tivemos uma cirurgia de emergência, cheguei em casa agora (já eram duas da manhã). Fiquei feliz pelo convite e se não fosse à cirurgia eu adoraria fazer algo com você sim! Este convite se estende para amanhã? Rs ou melhor, para hoje? BEIJOS

                Carol mandou a mensagem já na hora que deitava para dormir, ficou pensando no que aconteceu hoje e em Elisa, e que se as coisas seguissem como queria em relação a Elisa, de ficarem mais sérias, ela teria que conversar com ela e sabia que seria uma conversa bem difícil por causa da insegurança de Elisa, teria que ter cuidado e mostrar para a loirinha que Geórgia era passado e ela é presente e futuro.

Fim do capítulo