Capítulo 39
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 39
Uma semana depois.
-- Então, como está se saindo depois de tanto tempo longe do hospital?
-- Tranquila. Como se nada houvesse acontecido. Interessante né Brina?
-- Só por Deus mesmo, você não ter ficado com alguma sequela.
-- Fiquei Brina. O TCE afetou a minha libido. - Deu um sorrisinho sacana - Agora só penso em sex*.
-- Bruna, cresce! - Sabrina acelerou os passos. Caminhavam pelos corredores do hospital da Barra.
-- Para que? Para ficar do seu tamanho? Kkkkkk...
Sabrina ficou olhando sério para a amiga.
-- Desculpa. Foi uma brincadeirinha de nada - parou e encostou-se na parede - O que eu tenho para falar agora, é sério.
-- O que aconteceu? - Sabrina a fitou preocupada.
-- Ontem estava no apartamento, sozinha, abandonada, triste - baixou os olhos, mas logo os levantou - Adivinha quem apareceu? Uma barata voadora!!!
Sabrina voltou a caminhar.
-- Espera Brina... - correu atrás dela.
-- Você não tem vergonha? Uma médica com medo de barata - parou e virou-se.
-- E daí? Você morre de medo de perereca.
-- É diferente, Brú - abriu os braços.
-- Barata voa. Perereca não. Essa é a diferença.
-- Elas voam no verão. Quando está bem quente. No inverno elas hibernam.
-- Há tá. Então essa barata está na menopausa, com ondas de calor (fogachos), alterações do sono, da libido e do humor, bem como atrofia dos órgãos genitais.
-- Tudo bem Bruna. Não precisa fazer todo esse drama. Você me convenceu. Eu vou até o seu apartamento matar essa barata.
-- Bigada, miga... - deu dois pulinhos.
-- Palhaça. Quando a Vic volta de Porto Alegre?
-- Sei lá. A mãe dela vai fazer uma cirurgia de varizes. O tempo de recuperação é longo. Já estou com tanta saudade dela...
-- A Priscilla agora só pensa no Sontag. Ela é a vice-presidente...coisa chique.
-- Fomos abandonadas Brina...
No Sontag.
-- Vamos chamar a Adriana e o Ric de volta - Débora sentou em sua portentosa poltrona de presidente.
-- Acho melhor esperar um pouco, mãe. A Bruna tem planos que envolvem os dois e a Sabrina também.
-- A Bruna é tão parecida com a Helena Sontag, que chega a me assustar - colocou a mão no queixo e ficou pensativa - Ela nunca queria o que já estava pronto. Queria ela mesma dar o início, ser a criadora.
-- Por isso ela não aceitou vir para cá com a gente...uma pena. Seria tão legal trabalharmos todas juntas.
-- Eu sei filha, mas não podemos atrapalhar os sonhos dela. Não é mesmo?
Priscilla assentiu com a cabeça.
-- Mãe, o que vai acontecer com o pai?
-- O delegado Cicero ainda está investigando. Por enquanto não temos nada que indique que ele teve alguma participação na tentativa de assassinato. O delegado está procurando alguma pista do Borges, ex segurança do Sontag, que sumiu na mesma época do acidente. Talvez ele seja a chave de tudo.
-- A essa altura o Borges já deve estar fora país.
-- Com certeza, minha filha - Débora olhou para Priscilla com o semblante desanimado. Seria difícil encontrar provas contra Nestor.
No hospital da Barra
Bruna havia encerrado o seu plantão, era o primeiro após o acidente. Estava feliz por retornar a sua vida profissional. Amava a medicina e não se imaginava fora dela. Estava iniciando uma nova fase na residência. Agora trabalharia somente na pediatria, se dedicaria tão somente aos pequenos berrentinhos, como dizia a vô Helena.
Estava entrando em sua pick up, quando teve a impressão de ter ouvido um choro que parecia de neném.
-- Caramba. Doze horas aqui dentro e já estou ouvindo coisas - olhou ao redor e finalmente entrou.
Ligou o carro e saiu dirigindo devagar pelo estacionamento até chegar ás ruas. Ligou o som do carro e uma música linda e suave embalou seus pensamentos, a fazendo lembrar de uma certa gaúcha maravilhosa:
Eu vou contar para todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim
O transito estava tranquilo. Em meia hora Bruna já estava percorrendo a avenida principal que dava para a orla da praia do Leblon.
O clima estava ameno, nem muito frio e nem calor. Gostoso para caminhar, andar de bicicleta, praticar esportes ou simplesmente ficar sentada em dos quiosques tomando uma água de coco. E era o que faria. Com certeza. Não estava a fim de ficar sozinha, trancada em seu apartamento, jogando vídeo game, ou vendo televisão.
Faziam somente dois dias que Victória havia viajado e já não aguentava mais de saudades dela.
Chegando ao prédio, Bruna estacionou o carro na garagem e saiu. Novamente ouviu um choro fino e agudo, semelhante ao miado de um gato.
Deu uma volta completa ao redor do veículo e parou na sua traseira, percebeu que o choro estava vindo da caçamba da pick up. Levantou o protetor de caçamba e olhou para dentro.
-- Meu Deus!!! -- Bruna ficou apavorada -- Um bebê...é um bebê...
Bruna soltou um riso nervoso, e deu alguns passos, fazendo rodas ...
-- Não. Eu devo ter atendido tanta criança hoje, que estou delirando -- deu mais uma olhadinha para dentro -- Aiiiiii...é um bebe mesmo...
O bebe estava enrolado em uma manta, dentro de uma caixa de papelão.
Bruna retirou a caixa da caçamba e colocou no chão. O bebe era tão lindo. Balançava as mãozinhas no alto e....abria um berreiro desesperado.
-- Que papel é esse?
Junto com o bebe havia uma carta escrita à mão. A escrita era horrível, erros grotescos de português. Estava difícil de compreender.
-- Um presente de Deus... para a melhor doutora do mundo...Não deixe que ninguém a leve. Confio só em você. Adeus.
Bruna passou as mãos pelos cabelos.
-- O que eu faço? Você deve estar com fome - tirou o bebe de dentro da caixa e a apertou contra o corpo - Calma, calma, não pense que vai ganhar tudo no grito.
Rapidamente pegou a sua maleta e seguiu em direção ao elevador, inclinando sua cabeça para os lados, olhando em sua volta, como se estivesse cometendo um crime.
Assim que abriu a porta do apartamento lembrou da barata voadora. Deu meia volta e ficou parada no corredor. O bebê chorava demais, iria chamar a atenção de todos. Lembrou da gostosona do 221. Victória a mataria, mas não tinha outro jeito. Ou era ela, ou a gagá do 220.
-- Por sua causa vou apanhar até no céu da boca - tocou a campainha e esperou chacoalhando a menina gritona.
Levou alguns minutos até que a ruiva aparecesse vestindo um short curtinho e um bustiê.
-- Que cena fofa -- apoiou-se com uma das mãos no umbral da porta - O que a gata deseja?
-- Desculpe te incomodar..., mas, preciso de ajuda - falou envergonhada.
-- A mamãe brava te abandonou, bebê?
-- Ela está viajando e tem uma barata voadora lá no apartamento.
A ruiva deu uma gargalhada.
-- Desculpe, mas não deu para segurar - deu uma tossidinha se recompondo - E esse neném?
-- Ela está com fome... me ajuda... - quase implorou. Estava desesperada a menina não parava de chorar.
-- Quem foi o maluco que deixou duas crianças sozinhas em casa? - Fechou a porta e caminhou em direção ao apartamento de Bruna.
Entrou, olhou ao redor, procurou na cozinha, no quarto e nada.
-- Não tem nada meu amor. Acho que ela já foi embora -- se abaixou um pouco, o suficiente para Bruna ver as papadas de sua bunda.
-- Será? Ela é tão linda - sacudiu a cabeça - Quer dizer ela é tão nojenta.
-- Depois vemos isso. Agora vamos dar um jeito nessa garota aí. Ela está com fome, bebê.
-- Vou ter que sair para comprar leite, uma mamadeira e fraldas. Você fica um pouco com ela para mim?
-- Claro, vai logo, antes que ela quebre todos os vidros das janelas.
Bruna saiu correndo.
No Sontag
-- Amor, olha a hora - Sabrina já estava perdendo a paciência com Priscilla.
-- Brina, meu amor. Eu tenho que terminar de ler esses relatórios e assinar. Tenho que entregar hoje para o setor de compras. Quero estar livre amanhã, para podermos curtir a sua folga.
Sabrina mudou o humor na hora.
-- Assim está bem melhor - sorriu - Já que será assim, vou até o apartamento da Bruna. Prometi que iria até lá matar uma barata para ela.
-- Tadinha, deve estar trancada no quarto - enroscou os braços ao redor do pescoço da namorada - Estarei no apartamento da mamãe em Copacabana. Me liga -- deu vários beijinhos no rosto e na boca.
-- Ligo sim, amor - deu um selinho e saiu.
No Leblon.
-- Minha nossa!!! - Bruna caiu deitada na cama - Esse bebê comeu uma feijoada no almoço.
-- Tem certeza que você é pediatra?
-- A parte de higienização eu deixo para as mães - deu um cheirinho na cabeça da garotinha que agora, dormia como um anjinho - Você leva jeito com crianças.
-- Você acha? Tenho jeito com as mamães das crianças também -- passou a mão pelo cabelo e pelo rosto de Bruna.
A garota levantou, fugindo da ruiva.
-- Uma mulher entra no ônibus com seu filho e o motorista se espanta:
-- Nossa, é o bebê mais feio que já vi!
A mulher ouve calada e senta na parte de trás do ônibus. Bufando, desabafa para outro passageiro:
-- O motorista me insultou!
E o passageiro recomenda:
-- Vá lá reclamar com ele! Deixa que eu seguro esse seu bichinho para você.
A ruiva levantou sorrindo e foi até Bruna.
-- Eu sempre te achei muito gata e queria te conhecer - encurralou a loira contra a parede.
-- Eu sou comprometida, você conhece ela. Aquela morena forte, brava, usa chapéu grande, bombacha e espora.
-- Eu não tenho medo - ela a botou mais ainda contra a parede, avançou para cima dela e a beijou ...
Sabrina deu dois toquezinhos com o dedo na porta. Com o celular na mão fingiu estar em uma ligação.
-- Morena, pega o primeiro avião de volta para o Rio. A loira sem vergonha está na maior vagabundagem aqui no seu AP.
Bruna desvencilhou-se dos braços da gostosona e correu para Sabrina.
-- Brina - abraçou a amiga e a beijou no rosto - Que bom te ver.
-- O que é isso garota - afastou-se dela - Você sofreu um atentado violento ao pudor?
-- Eu não acredito - a ruiva foi até a porta e virou-se, falando revoltada para as duas - Vim até aqui, cuidei dela, dei mamadeira, dei banho, troquei a fralda cagada e o que ganho em troca?
-- Desculpa Nicole pela indelicadeza da Sabrina - pegou na mão da garota e a levou até a porta - Ela é grossa assim mesmo. Por favor não fica chateada.
-- Claro que não bebê. Se precisar de mim é só me chamar - deu um selinho rápido - cuida bem da princesa - virou-se e saiu rebol*ndo em direção ao seu apartamento.
-- Bruninha, estou passada. Sério que ela fez tudo isso em você? Até fralda cagada ela trocou? Que horror...
-- Deixa de ser lerda, sua pega-varetas. Vem comigo - puxou a amiga pela mão até o quarto - Olha o que eu ganhei!!!
Sabrina arregalou os olhos.
-- Minha Nossa Senhora do Destino... é um bebê - Sabrina deitou na cama com a cabeça apoiada nos cotovelos - De quem é essa garotinha linda?
-- É minha, Brina.
-- Fala sério Bruna. Quer ser presa é?
-- Alguém abandonou ela dentro da caçamba da pick-up. Olha aqui o bilhete - entregou o pedaço de papel para a amiga.
-- "Um presente de Deus... para a melhor doutora do mundo...Não deixe que ninguém a leve. Confio só em você. Adeus. "
-- Bruna, você tem que chamar o conselho tutelar. Você sabe disso.
Bruna sentou na beiradinha da cama desolada.
-- Eu sei - falou chorosa - Mas a pessoa deu para mim, ela disse que só confia em mim.
-- Mesmo assim, Bruninha. A Vara da Infância e da Juventude, que mantém um cadastro de pessoas que estão aguardando a chegada de uma criança, é quem irá avaliar o que será melhor para o bebê - Sabrina sofria junto com a amiga - Sinto muito minha loirinha.
-- Me ajuda a cuidar dela, ao menos por esse fim de semana? É sexta, segunda eu procuro o Conselho Tutelar.
-- Até lá seremos o que? Duas lésbicas e um bebê? Eu não sei nem passar talco? Aliás, ainda usam talco?
-- Ainda usam, acho mais aconselhável usar pomada. Ao passar o talco o bebê acaba aspirando o pó e indo para os pulmões. Também tem um talco em creme da natura que é muito bom.
-- Tem aquele óleo vegetal para higiene e massagem. Podemos também comprar um kit enxoval completo. Ela vai precisar Brú. Como que nós vamos passear com ela sem roupinhas lindas?
-- Eu vou pedir para a vendedora daquela loja de produtos infantil, que fica lá no Shopping Leblon, trazer os produtos até aqui - Bruna levantou e foi pegar uma caneta e um papel - Vamos fazer uma lista?
-- Vamos... coloca aí... um carrinho de bebê com bebê conforto, berço rosa com Duas alturas e mosquiteiro, banheira...
-- Tem que ser tudo com o desenho dos Minions, Brina.
-- Pode ser. Continua aí... cadeira para alimentação...
-- Mas ela é tão novinha Brina.
-- Hóóó... como você é tansa. A gente guarda oras...vamos continuar...
Em Copacabana.
-- Aquelas duas estão aprontando mãe, eu sei disso, eu sinto isso. Olha como estou arrepiada - mostrou o braço para Débora.
-- É. Tenho que concordar com você que não dá para deixar as duas por muito tempo sozinhas.
-- A Sabrina atendeu o celular rapidinho. Só disse que não podia mais passar o dia comigo porque tinha que cuidar do bebê - falou brava - A Vic que deixe a mãe com o irmão e venha ficar com ela.
-- Que exagero. A Bruna já está bem grandinha - Débora riu da infantilidade da filha caçula.
-- Vou até lá dar uma olhadinha nas duas - Pedro levantou e pegou as chaves do carro de cima da mesa - Também não confio nas duas.
-- Vai lá meu amor, mas não demora - beijou o namorado na boca.
Mais tarde no Leblon...
-- A fralda estava ao contrário, meninas - Pedro trocou a fralda do bebê - Olha só como se coloca. Aprendam com o professor Pedroca.
-- Uiiiiiii...Pedro seu braço está todo breado de cocô - Bruna pulou para longe dele - E a cama também...a Vic vai me matar, estamos destruindo o apartamento.
-- Nem tanto Bruna. Depois a gente seca tudo. Banho é assim mesmo, né Pedro?
-- Criança é assim mesmo, Bruna. Tem que ser criada livre - saiu em direção ao banheiro -- Vou lavar o meu braço. Essa minha neta tão novinha já começou a aprontar.
Bruna olhou para a menina que dormia alheia a tudo. Parecia uma lagartinha dentro do casulo. Como alguém tinha coragem de abandonar um filho desse jeito. A loira foi deitando bem devagar para não a acordar, mas não adiantou. Ela já acordou chorando.
-- Quem vai fazer a mamadeira? - Berraram juntos.
Fim do capítulo
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mickah
Em: 21/10/2015
Que legal esta super maravilhoso esse conto. a cada dia algo diferente aparece e dessa vez essa pequenina novidade vai ser o que faltava para enlouquecer bruna e sabrina kkkk bjs vandinha espero proximo cap que sabe ainda hoje não gusta nada sonha não é mesmo?kkk
Resposta do autor:
Olá Mickah. Amo saber que estás gostando da estória. Continua comigo. Bjã anjo.
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Srta Petrova
Em: 21/10/2015
Que legal um bebezinho rsrsrsr
Ai meu deus agora que essa duas vão fazer piadas mesmo rsrsrsr
Resposta do autor:
Olá Siflima, bom te ver aqui. Bjã.
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