Capitulo 35 - Confie e Seja Confiável

"Há seis requisitos necessários para um relacionamento ser feliz: o primeiro chama-se Fé, e os outros cinco, Confiança." (Elbert Hubbard).

Eduarda ajudou Rafaela a colocar os equipamentos de segurança: capacete, luvas e óculos.

-- A última vez que andei de bicicleta Dú foi lá em Joinville. Isso já faz uns nove anos. Enferrujada é pouco pra mim. Então já sabe né, paciência.

-- Não se preocupe amor. Vamos tranquilamente. Se cansar me avisa ok? - jogou um beijo pra morena, que devolveu do mesmo jeito.

Pedalaram pela orla da zona sul. Pegaram a lagoa até o Jardim de Alá, depois entraram em Ipanema e foram até o Leme. Deram uma paradinha em Copa para curtir a paisagem e tomar uma água de coco.

-- Senta aqui e descansa enquanto eu vou comprar uma água de coco pra gente - estacionaram as bikes e a loirinha foi até um quiosque comprar a bebida.

Rafaela estava tão distraída olhando para onde Eduarda caminhava que levou um susto quando sentiu uma mão pegar em seu braço.

-- Ora, ora. Que agradável surpresa - sorriu irônico.

-- Kenedy?

-- Eu mesmo amor. Passeando de bicicleta? Que programa mais gay - falou entre os dentes.

Pelo visto Kenedy continuava o mesmo homofóbico idiota de sempre. Olhou para Eduarda que conversava com o vendedor. Torceu para que ela não retornasse naquele momento. O encontro dos dois com certeza seria desastroso.

-- Não temos mais nada o que conversar - esfregou as mãos em um gesto nervoso.

-- Como não? Temos muito que conversar. Eu não desisti de você Rafa. Afastei-me somente para que você pudesse fazer parte desse teatro ridículo. Eu mais do que ninguém sei o quanto você almeja a presidência da Jeser.

-- Vai embora Kenedy. Você já não recebeu o suficiente?

Rafaela estava desesperada, Eduarda estava retornando e com cara de poucos amigos.

-- Claro que não. O que tenho é uma migalha perto do que você terá. Você não está pensando em usufruir de tudo isso sozinha não é mesmo?

Eduarda se aproximou dos dois.

-- Algum problema amor? - Eduarda encarou Kenedy.

Kenedy olhou a loirinha de alto a baixo e fez sinal de positivo para Rafaela.

-- Que desperdício - deu um sorriso e saiu caminhando tranquilamente pelo calçadão.

Eduarda o acompanhou com o olhar até que desapareceu no meio das pessoas. Virou para Rafaela e a fitou como se esperasse uma explicação.

-- O que foi Dú? - disfarçou o nervosismo.

-- Quem era?

Os olhos verdes de Eduarda estavam como os de uma pantera e Rafaela os conhecia muito bem.

-- Um amigo lá de Santa Catarina - pegou um dos cocos que a garota segurava, sentou no banco e começou a beber.

Eduarda parou em pé a sua frente.

-- Tem certeza que é só isso? Pois não foi o que pareceu.

-- Dú, por favor, não começa. Senta aqui - bateu no lugar ao seu lado.

A garota sentou ainda bicuda.

-- Eu estive pensando Dú. Depois que casarmos poderíamos comprar uma casa para morarmos, não gostaria de criar meus filhos trancados em um apartamento.

Rafaela era esperta. O assunto filhos fazia Eduarda cair aos pés da morena e esquecer qualquer coisa.

-- Eu também acho amor. Fui criada na mansão, com espaço pra correr, brincar... Nunca morei em apartamento, mas acho que odiaria.

"Amo a liberdade, mas deixo livre o meu coração, para dar a alguém a oportunidade de aprisiona-lo..." - beijou a morena - Por mim compramos uma casa enorme, com um jardim enorme, de frente para a mar, para que eu possa todas as manhãs levar os meus pequenos para ver as ondas beijar a praia - sorriu. Agora com olhos verdes luzentes.

Rafaela olhava encantada para aquele anjo, de riso fácil e olhar sincero, que admirava a natureza e amava os sentimentos.

-- Vamos? Já repus as energias - Rafaela colocou o coco vazio na mão de Eduarda e saiu correndo para pegar a bike.

Na boate...

-- Eu não acredito!!! Mas não vai dar tempo nem de eu mandar fazer a minha roupa. Não, isso é uma tragédia.

Jorge não se conformava com a data do casamento. Teria apenas um mês para se preparar.

-- Tragédia ou não, vai ser nessa data. É o aniversário da Rafa e a Duda deixou que ela escolhesse - Roberta contava para Jorge a decisão das duas.

-- A Dudinha é um pau mandado mesmo. Pra que assim tão rápido? Ou... Uma das duas está gravida? - fez o gesto típico de colocar as mãos na boca.

-- Engraçadinho. Não esqueçam que vocês dois serão as testemunhas da Duda. Então se agilizem e corram atrás do prejuízo. Eu e a Claudia seremos as testemunhas da Rafa. A partir de amanhã já iremos atrás de nossos trajes.

-- Vai ser uma loucura. Estou nervoso desde agora e você sabe, quando fico nervosos tenho medo até de mim - deu uma voltinha e saiu atrás de Eddie.

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A semana foi agitada. Os preparativos para o casamento tomou o tempo de todos. Roberta era a que tinha a maioria das tarefas para cumprir. Era a decoração da mansão, o bufe, os convites... E tantas outras coisas que se não fosse a ajuda de Claudia, Aline, Jorge e Eddie, com certeza não conseguiria a tempo.

-- Duda é uma folgada, nem com a própria roupa ela se preocupa. Acredita que ela saiu hoje para surfar no Arpoador e me deixou responsável em escolher um traje? - Roberta andava de um lado para outro nervosa.

-- Eu posso ver isso pra você. Sou a pessoa mais indicada para a escolha de trajes - Jorge era só empolgação.

-- Sei não - Roberta ficou na duvida, mas não tinha outro jeito, estava muito ocupada para isso - Tudo bem. Então capricha.

Jorge saiu pulando e batendo palminhas de alegria.

Rafaela escolhia o modelo do vestido que usaria no casamento. Eram tantos e tão lindos que a missão não seria assim tão fácil como havia imaginado.

O interfone tocou lhe tirando a atenção das fotos.

-- Dona Rafaela, desculpe incomodar, mas o Senhor Kenedy está aqui na portaria insistindo para subir - o porteiro parecia estar nervoso.

-- Deixe-me falar com ele, por favor.

Rafaela estava decidida a dar um basta nessa palhaçada e despacha-lo dali mesmo.

-- Amor preciso subir - falou na maior calma.

-- Que parte do suma da minha vida você não entendeu Kenedy? Tem um segurança aí perto de você só esperando por minha ordem para te jogar no meio da rua.

Silêncio absoluto...

-- Eu preciso pegar algumas coisas que deixei aí. Estou precisando com urgência - falou ansioso.

Rafaela buscou em sua memória algo que o ex pudesse ter deixado no dia em que terminaram e; infelizmente esse algo existia.

Dias atrás quando procurava alguns documentos encontrou uma caixa com pertences dele no meio de suas coisas. Nesse momento arrependeu-se amargamente por não ter separado e enviado via Sedex. Agora teria que aturar aquele imbecil mais uma vez dentro de seu apartamento.

-- Tudo bem pode subir, mas vou adiantando, jogo rápido - falou dura.

-- Será.

Eduarda voltou mais cedo do Arpoador. Resolveu antes de ir em casa trocar de roupa para ir a boate, dar uma passadinha no apartamento da morena e matar um pouco da saudade.

-- Kenedy não enrola, pega logo as suas coisas e cai fora.

Rafaela estava de braços cruzados encostada na porta do quarto.

Kenedy levantou e foi até ela.

-- Não encoste as mãos em mim - impediu o contato.

-- O que aconteceu Rafa? Você me amava e agora agi como se me odiasse.

-- Não te odeio Kenedy, longe disso, apenas quero evitar confusão. O que houve entre nós ficou no passado, acabou. No momento tenho outros objetivos, outras amizades...

-- Outro amor? Eu não vou aceitar isso Rafa... - partiu para cima da ex e a empurrou na cama.

Travaram uma luta feroz, Kenedy jogou todo o peso do corpo sobre Rafaela e a deixou imóvel na cama.

-- Eu nunca vou permitir que você fique com outra pessoa - beijou o seu pescoço - você sempre será minha.

Rafaela tentava se livrar do seu oponente, mas todo esforço era em vão, ele era muito mais forte que ela.

Eduarda passou correndo pela portaria.

-- Estou subindo...

-- Menina espere... - correu atrás dela - A dona Rafaela está com visita.

Eduarda parou.

-- E daí? Qual o problema? - não estava entendendo a preocupação do porteiro.

-- É que... É o... - não sabia como falar para a menina que tanto gostava - O Senhor Kenedy está lá com a dona Rafaela.

Eduarda olho para ele surpresa.

-- Ela permitiu numa boa? - as palavras custavam a sair de sua boca.

-- Sim - falou triste.

Eduarda virou e prosseguiu com o seu objetivo que era encontrar a sua morena. A distancia que a separava do apartamento parecia não ter fim. Pegou a sua chave, com um chaveirinho do Bob Esponja, presente de Rafaela para ela e abriu a porta lentamente.

Foi caminhando em passos lentos até a porta do quarto e parou para ouvir:

-- Eu te amo Rafaela e nunca vou deixar de te amar - silêncio - Dois anos passam voando e quando menos esperarmos você estará livre desse seu pesadelo.

Eduarda não suportou mais ouvir aquilo, entrou no quarto na hora em que Kenedy beijava Rafaela. Parou na porta com os olhos cheios de lágrimas. Era o mesmo cara da praia...

Uma enxurrada de pensamentos na velocidade da luz  encheram sua cabeça: Ela estava encontrando-se com ele já há muito tempo, eles trans*vam quando ela não estava por perto, ela realmente estava somente cumprindo o contrato...

Rafaela sentiu o mundo acabar quando viu a loirinha parada na porta com lágrimas caindo dos olhos e escorrendo pelo rosto. Buscou forças que nunca imaginou ter e empurrou Kenedy de cima de si.

-- Dú eu posso te explicar - correu até a menina e segurou seu rosto com as duas mãos.

Eduarda afastou-se violentamente dela.

-- Não encosta suas mãos sujas em mim - passou as mãos pelo rosto com se o estivesse limpando.

-- Amor qual é? Volta pra cá, a gente aproveita e trans* pra mostrar pra ela como se faz - Kenedy falou debochado.

Eduarda virou uma fera.

-- Eu poderia mandar te matar agora mesmo, seu verme - apontou para o rapaz -- Mas não vou, vocês não valem nem isso - virou para sair, mas foi impedida pela morena.

-- Dú por favor me escuta - chorava desesperada.

-- Me deixa Rafa - procurou pela bombinha no bolso da bermuda - Por favor me deixa.

Eduarda deixou o apartamento de Rafaela arrasada, sentiu uma parte de si morrer naquele momento. Passou pela portaria como um zumbi, entrou no carro ainda em transe. Ligou e saiu dirigindo sem saber sequer que rumo tomaria.

Fim do capítulo