Capítulo 32
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 32
-- Nós parecemos um bando de malucos. Daqui a pouco algum morador vai chamar a polícia - Victória aparentava estar calma, mas na verdade estava agitadíssima. Esfregava as mãos, andava de um lado para outro.
-- E não somos? Ao menos eu sou, e não nego - Sabrina pulava em cima da pick up da Bruna.
-- Sai daí Sabrina. Que vergonha - Priscilla puxava a garota pela perna da calça - Sabia que eu morava aqui e todo mundo me conhece?
-- Mas não é para chamar a atenção? - Abaixou-se, mas não saiu de cima do carro.
-- É para chamar a atenção da Brú quando ela chegar e não do Leblon inteiro, né Brina - Priscilla sentou no meio fio.
Quando Michelle avisou que Bruna havia recebido alta do hospital, Sabrina teve a ideia de recebe-la na frente do prédio. Seria uma forma de se mostrarem para ela. Queriam que Bruna mesmo não lembrando delas, soubesse que elas existiam e que a amavam muito.
-- Até parece que você não conhece a criaturinha, Prí. Esse aí adora chamar a atenção - Thiago se aproximou e a puxou pelo pé - Sai daí, sai daí louca.
-- Se liga Thiago. Cuida do Ric que de mim... A Prí cuida - assoprou um beijo para a amiga.
-- Palhaça - Priscilla sacudiu a cabeça e sorriu.
No carro de Nestor...
Bruna olhou através da janela, assustada e confusa, afinal tudo era estranho. Sua mente estava vazia. Sentia-se nua.
Olhava para o homem que dirigia o carro. Ele dizia que era o seu pai. Era terrível a ausência de sensações que as pessoas a provocavam.
O carro percorria a avenida de tráfego intenso. Muita gente caminhando pelo calçadão, andando de bicicleta, correndo.
Nestor parou o carro em frente ao prédio, aguardando o portão abrir.
-- Olha lá Bruna, devem ser os seus amigos - a enfermeira inocentemente abriu o vidro do carro e virou o rosto da garota para que ela visse a recepção.
-- Bruninha, Bruninha, Bruninha... - Gritavam para chamar a atenção dela.
Bruna simplesmente olhou. Sem vontade, sem interesse.
Nestor ficou uma fera com a enfermeira.
-- Fecha essa droga de janela. O que esses malucos pretendem? Deixar a minha filha, mais confusa que já está?
-- São os amigos dela, doutor Nestor. Toda essa demonstração de carinho só fará bem a ela -- a enfermeira ficou sem entender aquela reação do pai.
-- Se quiser manter o seu emprego, mude essa sua opinião. Aquelas pessoas que estão fazendo essa baderna toda, são os culpados por minha Bruna estar assim.
A enfermeira não acreditou muito naquele papo, mas resolveu não bater de frente com o médico. Precisava muito daquele emprego e também não queria deixar aquela menina nas mãos de qualquer um. Confiava no seu trabalho e sabia que seria muito útil na reabilitação dela.
-- Foi tão rápido que não deu para vê-la direito - Victória estava decepcionada.
-- Ela não precisou raspar os cabelos?
-- Não Thiago. Meu pai preferiu que raspassem somente o local da cirurgia.
-- Aquela boina dela é um charme. Eu amo boinas, são simples e dão um super estilo no look.
Sabrina estava sentada em cima do automóvel.
-- Desce daí Brina - Priscilla a chamou com doçura.
-- Não vou descer. Estou revoltada. A única coisa que consegui ver foi o capô branco do carro do doutor Nestor - estava emburrada.
-- Bem feito. Quem manda ser exagera. Pensou que subindo aí iria ver melhor que a gente aqui de baixo - Thiago falou debochado.
-- Pois fique sabendo, meia porção de qualquer coisa, que fiquei muito feliz em ver o capô do carro do doutor Nestor - pulou de cima do carro.
-- O que faremos agora Vic? - Thiago passou o braço em volta do pescoço da amiga.
-- Que tal se formos lá para o apartamento? Comer pizza e beber vinho, seria uma ótima pedida. Que tal?
-- Estou dentro - Sabrina levantou o dedo - E a Prí também.
-- Tá muito passadinha, Sabrina - Priscila passou o braço pelo pescoço dela.
-- Passadinha é melhor que cru, meu amor - beijou a cabeça da garota - entrem aí, vamos voltar ao quartel general - falou rindo.
No apartamento de Nestor.
-- Meu nome é Margarete, mas pode me chamar de Marga.
-- Muito prazer. Me chamo Sofia.
-- Como ela está magrinha. Nem parece a menina Bruninha.
-- É porque nesses casos há grande perda de cálcio, nitrogênio e proteínas que levam o paciente a perda de peso e consequentemente, favorece a formação de úlceras de decúbito. A nutricionista virá aqui amanhã conversar com você.
-- Que bom porque eu não faço a menor ideia do que preparar para ela.
-- Nada sólido Marga.
-- Tadinha - sentou na cama e fez um carinho nos cabelos da garota que dormia - Ela adorava o meu Strogonoff.
-- Não se preocupe daqui a algum tempo ela vai volta a comer o seu Strogonoff.
-- É, porque essas papinhas aí, não sustenta ninguém.
Sofia sorriu simpática. Iria se dar bem com Marga, ela parecia ser bem maleável.
A enfermeira olhou ao redor. O quarto que fora improvisado para Bruna era maior que o apartamento que morava com sua mãe lá em Juazeiro.
Foi uma sorte grande ter conseguido esse emprego. Ganharia em um mês, o equivalente a seis meses de salário do antigo emprego. Era um sonho. Chegou a poucos dias no Rio, não tinha sequer onde morar e já de cara iria cuidar da filha de um milionário. Olhou por alguns instantes para Bruna, depois sentou em uma poltrona ao lado da cama. Como ela consegue ser tão linda, mesmo depois de tanto tempo no hospital? Sorriu do seu próprio pensamento. Apoiou a cabeça no encosto macio da poltrona. Estava muito cansada e logo adormeceu.
Na sala Nestor conversava com Marga.
-- O que você achou da Bruna, Marga?
-- Ela está muito abatida e fraca. Tão magrinha. Coitadinha.
-- Tanto tempo em coma, até você emagreceria - deu uma gargalhada alta.
-- Muito engraçado - ficou bicuda - A Priscilla bem que podia estar aqui com ela - falou e olhou de canto de olho esperando a bronca.
-- A Priscilla juntou-se a um bando de desocupados e fracassados, que não devem ter absolutamente nada para fazer.
-- Mas ela tem direito de ver a irmã.
-- Virou defensora dela agora?
A empregada nada respondeu, apenas fitou-o esperando que ele falasse algo a mais sobre Priscilla.
-- Ela ganhou o seu dia com a irmã e ganhará muito mais se quiser.
-- Como assim doutor?
-- Ela poderá voltar para casa e ter todas as regalias que sempre teve. É só se afastar das más influências.
No apartamento de Victória.
Priscilla e Sabrina conversavam na sala.
-- Você está sendo muito legal com a gente Sabrina. A Bruna vai ficar muito feliz quando eu contar as loucuras que está fazendo para nos ajudar.
-- Vou te confessar uma coisa Priscilla - estava tremendo de nervosismo, ansiedade, medo, vergonha e mais umas dez sensações biológicas desagradáveis. Mas mesmo assim continuou - Eu amo demais a Bruna, mas tudo o que estou fazendo... uma parte é por ela lógico - gaguejou - Mas o verdadeiro motivo é você.
Priscilla olhava fixamente para ela. Prestava atenção a cada palavra da garota.
-- Quero te ver sempre feliz e faço qualquer coisa para isso. Minha maior felicidade é te ver feliz. Quando você chora, eu choro junto.
-- Brina...
-- Não fala nada Prí... não precisa... eu quero te pedir desculpa -- ela se sentou, triste e chorosa. Agora não tinha volta. Teria que continuar.
-- Desculpa? - Priscilla franziu a testa, não entendendo.
-- É. Desculpe por eu ter te conhecido e ficado feliz ao ouvir a sua voz pela primeira vez ...
Desculpe por ter me identificado com você e por te entender ...
Desculpe por querer estar sempre presente em sua vida e querer participar do seu dia-a-dia ...
Desculpe por querer impor meus pensamentos para te incentivar ...
Desculpe querer te dar o meu carinho por me sentir bem ao teu lado ...
Desculpe por querer te dar o meu ombro amigo e não perceber que te sufocava com minhas preocupações ...
Desculpe por sofrer junto com você ...
Desculpe por te telefonar, sem imaginar que te acordaria ...
Desculpe por me sentir feliz ao teu lado e achar que também estava te fazendo feliz ...
Desculpe por sonhar um sonho que era só meu ...
Desculpe por ser uma bobona tímida que precisa usar uma poesia para te falar tudo o que sente
Me desculpe mais ainda ... Por Te Amar Demais!!!
Priscilla olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas e disse:
-- Desculpe por ter dado apenas migalhas enquanto você me dava o mundo. Por não ter lhe falado o quanto você é importante para mim e o quanto também te amo.
Sabrina levantou a cabeça e não acreditou no que estava ouvindo parecia um sonho.
-- Nunca me deixe, nunca saia de perto de mim, Sabrina.
-- O que mais quero nessa vida é ficar do seu lado Prí.
Sabrina se aproximou dela e deu um beijo, um beijo doce carinhoso. Beijo tímido, praticamente um estalinho. Vacilante afastou- se envergonhada.
Priscilla aproximou-se com um sorriso malicioso a puxou pela gola da camiseta e dessa vez sim, se beijaram de verdade.
Foi um beijo daqueles, bem demorados, de tirar o fôlego. Sabrina abraçou a cintura de Priscila e a puxou para o sofá. Deitaram-se sem parar o beijo. Sabrina passava a mão por baixo da blusa de Priscilla. Tentou abrir o sutiã, mas não conseguiu. Pararam de se beijar para recuperar o fôlego e desataram a rir.
-- Safada - falou sorrindo.
-- Eu? Sou toda tímida, isso sim - apertou Priscilla contra o seu corpo.
-- Finge que é tímida para atacar depois. Né dona Brina? -- deu um soquinho no ombro no ombro dela - Desde quando você me ama?
-- Lembra quando você fez a primeira eucaristia e eu te entreguei uma rosa vermelha?
-- Lembro -- levantou um pouco a cabeça e olhou fixamente para Sabrina.
-- Pois é. Naquela época já era louca por você.
-- Porque não me contou!
-- Senti medo. Preferia ter somente a sua amizade que não ter nada. O meu sonho era te ter sempre por perto, só para te cuida.
-- Que fofa! -- deu um beijo calmo e gostoso.
Sabrina ficaria deitada naquele sofá pelo resto de sua vida. Abraçou sua cintura por debaixo da blusa e sentiu o corpo dela sobre o seu corpo, ela era quente e aconchegante.
Priscilla sentia-se protegida, tranquila nos braços de Sabrina. Escondeu o rosto no pescoço da garota, colocou um dos braços sobre a sua barriga e fechou os olhos. Que perfume gostoso. Foi o seu último pensamento antes de adormecer.
Os primeiros raios de sol, ainda frios entravam pela janela do apartamento de Victória.
O dia amanheceu ensolarado e com céu limpo no Rio de Janeiro. Muita gente já caminhava pelo calçadão e praticava esportes.
Victória levantou cedo. Não havia dormido bem, estava preocupada e triste. Pensava muito em sua loirinha. Bruna estava precisando dela e ela nada podia fazer. Como era azarada, pensou. Quando achou o grande amor da sua vida, ela perde a memória e a esquece completamente. Seria cômico se não fosse trágico. Colocou o roupão e saiu em direção a cozinha. Passou pela sala e não pode deixar de dar uma paradinha para admirar a cena tão meiga. Se Bruna estivesse alí, com certeza mergulharia em cima delas, jogaria um copo de água, pintaria os seus rostos com batom, qualquer coisa, mas não passaria em branco, com certeza.
-- Essas duas... - resmungou para si mesma e foi preparar o café.
Na delegacia de Angra...
O delegado Cicero assistia concentradíssimo a um vídeo de segurança de uma loja localizada no centro de Angra dos Reis.
-- E aí doutor novidades? - Bocão entrava na sala do delegado com uma pilha de papéis na mão.
-- Nenhuma. Estou a mais de uma hora assistindo a esse vídeo e nada - virou-se novamente para a tela do dvd - Minha nossa como tem putas nesse local - ficou pensativo - Até que são bonitas as danadas.
-- Que a sua senhora não escute - Bocão comentou e levou um olhar congelante de volta.
-- O que são esses papéis?
-- O senhor vai ficar petrificado quando ler o resultado da pericia - colocou os papéis sobre a escrivaninha.
-- Não colocariam um carro no meu jardim só por brincadeira. Logo imaginei que seria algo importante - puxou os papéis para perto - Vou ler esse documento. Providência uma viatura. Vamos visitar o nosso amigo Pedro. Acho que se apertarmos mais um pouquinho ele vai lembrar de mais alguma coisa, além de um corpo passando pela ponte.
No apartamento de Victória...
A campainha tocou, fazendo Priscilla dar um pulo de cima do sofá. Sabrina acordou assustada, olhou ao redor tentando se localizar.
-- Levanta Brina. Tem alguém na porta - ajeitou os cabelos e passou a mão pela roupa.
-- Está linda, amore - virou-se para continuar a dormir.
-- Sabrina, estou abrindo a porta.
-- Está bem - levantou e correu para o quarto.
-- Olá - Priscilla abriu a porta e sorriu largo quando viu que era Dulce - Entra Dulce.
-- Bom dia Priscilla, desculpe por chegar assim, tão cedo - sorriu sem jeito - É que ainda tenho muito o que fazer hoje.
-- Tudo bem Dulce. Senta - apontou para o sofá.
-- Tenho uma coisa para lhe entregar - tirou uma chave da bolsa e entregou para ela.
Priscilla pegou a chave a examinou e olhou para a advogada como que pedindo uma explicação.
-- Essa chave pertencia à sua mãe. Ela abre o cofre particular dela no Banco do Brasil.
-- O que tem nesse cofre, Dulce?
-- Todos as planilhas e documentos que provam as falcatruas do doutor Nestor na Sontag.
-- Caramba. Achei que nunca mais iria rever isso.
-- Só temos um pequeno problema.
-- Qual? - Perguntou ansiosa.
-- A senha está com a Bruna.
-- No apartamento de Nestor...
O médico tomava banho e cantava:
(Porque Homem Não Chora - Pablo)
Você foi a culpada desse amor se acabar
Você que destruiu a minha vida
Você que machucou meu coração me fez chorar
E me deixou num beco sem saída
Estou indo embora agora, por favor não implora
Porque homem não chora
Estou indo embora agora, a mala já está lá fora
Porque homem não chora...
Quando abriu a porta do box, olhou para o espelho...
-- Aiiiiiiiiiiiiii... - saiu correndo.
Marga subiu as escadas e encontrou o patrão pelado ao lado da cama.
-- Meu senhor Bom Jesus!!! Coloca uma roupa, doutor - tapou os olhos com a mão - O que aconteceu?
-- Vai lá no banheiro, Marga. Olha no espelho - o corpo inteiro tremia.
Marga entrou, demorou, demorou e voltou.
-- Então? - Perguntou com os olhos arregalados.
-- Não sei não doutor. Acho melhor o doutor procurar um pai de santo.
Nestor entrou receoso no banheiro e foi até o espelho. Não tinha nada.
-- Não estou entendendo. Estava escrito com batom a frase: "Eu sei o que você fez" e uma caveira pendurada.
-- Hííí... macumba da brava.
Marga saiu deixando Nestor encarando o espelho. Estava assustado.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
gabisayury
Em: 20/10/2015
Amandooo denovo essa historia.... amo todas suas historiaa... mais eu percebi q esta faltando o cap 32 ...eu amo esse capitulooo.
Bjusss sua fâ
Resposta do autor:
Valeu pelo toque Gabi. Estou indo lá consertar o erro. Bjã anjo.
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