Capítulo 27
Adriana estava saindo da ultima aula do dia, sentia-se cansada com o final do semestre que chegava e a tensão para a defesa de sua tese que se aproximava, conversou com Paula a respeito da proposta de Viviane e a amiga não se opôs à oferta da ruiva, o que deixou Adriana feliz em poder aceitar a proposta do mestrado, só ficara triste porque ficaria sem sua menina maluquinha para lhe fazer companhia pelo ano seguinte.
No corredor do alojamento recebeu uma mensagem de Alessandra, dizendo que estava on line e que precisava conversar com ela. Drica respondeu avisando que já chegaria ao quarto para acessar o notebook.
Chegando ao local, se surpreendeu com Viviane saindo do banheiro nua e de banho tomado, prestes a se vestir. A morena sorriu maliciosamente e trancou a porta do quarto.
-- Olá. –deu um selinho na amiga –
-- Oi Dri.
Adriana abraçou a ruiva pela cintura e acariciou seu pescoço com seu rosto, sentindo o perfume de Viviane.
-- Hum, você está cheirosa! – a ponta do nariz passeava pelo pescoço dela –
-- Ai menina, lá vem você. – fechou os olhos –
-- Eu quero. – sua mão já alcançava o sex* de Viviane –
-- Ai. – soltou um gemido – Você me enlouquece sabia?
Um beijo na nuca e as carícias foram aumentando, Viviane virou de frente e retirou a blusa de Adriana e nesse momento o celular da ruiva começou a tocar, era sua irmã querendo falar com ela.
-- Ai, eu não acredito nisso, O que Vanessa pode querer a essa hora? – disse irritada –
Adriana soltou a ruiva para que ela atendesse ao telefone. Ela atendeu e se vestiu enquanto falava com a irmã, Adriana acabou achando graça da reação da ruiva ao ser interrompida. Drica tomou o seu banho também, quando saiu do banheiro ela avistou Viviane deitada em sua cama.
-- Por que você não assistiu a ultima aula Vivi?
-- Eu estava na biblioteca terminando os exercícios com o Steve.
-- Hum, esse Steve, eu não sei não hein! Ele tá afim de você. – secava os cabelos na toalha--
-- Ih, está com ciúmes é?
-- Eu? – apontou para si mesma-- Claro que não, ainda mais dele.
Vivi se aproximou da amante e a abraçou por trás, então por que ficou tão contrariada?
-- Eu não estou contrariada, só não quero você metida em outra confusão, só isso.
-- Eu estou bem, e não tenha medo, porque depois do que aconteceu, eu não saí com mais ninguém além de você.
Adriana engoliu em seco, e se arrepiou com o contato da amiga.
-- Tudo bem, eu espero que se comporte mesmo. – sorriu – agora deixa eu ligar o computador que Alessandra quer falar comigo.
-- Ih, é a primeira vez que vocês vão conversar depois que Paula te contou né.
-- Isso, eu quero ouvir a versão dela.
-- Qualquer coisa eu estou aqui. – beijou a testa da amiga –
Adriana assentiu com a cabeça enquanto esperava pelo aparelho que ligava, entrou no Skype e chamou Alessandra para uma conversa, a contadora atendeu e parecia muito abatida.
-- Oi Ale.
-- Oi Amiga. Quanto tempo!
-- Bastante tempo sim. Alessandra o que aconteceu ai entre você e Paula?
-- Drica eu fiz uma merd* do tamanho de Itu.
-- Ale, Itu não é grande, só os objetos que são vendidos por lá.
-- Que seja, mas você me entendeu.
Viviane riu sentada em sua cama, ela era muito parecida com Alessandra em certos momentos.
-- Isso eu já soube, mas me conta sua versão da história.
-- Provavelmente Paula te contou corretamente ela não falaria nada diferente do que aconteceu, eu meti os pés pelas mãos e me ferrei, cedi a uma tentação e acabei traindo minha mulher.
-- Ale me explica isso direito, qual era a relação entre você e Nathalia?
-- Nathalia foi minha namorada quando éramos adolescentes, foi meu primeiro amor, me descobri lésbica com ela, na verdade nos descobrimos juntas, nós namoramos durante um tempo escondidas e quando enfim percebemos que essa era nossa praia, resolvemos nos assumir para nossas famílias.
-- Entendo.—Adriana ouvia atentamente a sua amiga –
-- Mas como você mesma passou por isso e já adulta, pode imaginar que a reação da família dela não foi das melhores.
-- É eu posso imaginar sim. – a morena ficou triste --
Viviane que estava no quarto, não tinha como não ouvir, e percebeu que Drica passou por problemas com seus pais, pensou consigo mesma que realmente nunca ouviu Adriana falar na família além de seu irmão, e considerou pergunta-la em uma outra ocasião sobre esse assunto.
-- Então, minha mãe não fez alarde, no fundo ela achava que era fogo de palha e isso não daria em nada, depois viu que não poderia lutar contra quem eu sou e no fim ficou tudo bem, isso você já sabe.
-- Sei sim.
-- Mas Nathalia foi obrigada a terminar comigo, pois os pais dela não queriam uma filha lésbica, falaram diversos desaforos para ela e para mim, me proibiram de visita-la, e fizeram de tudo para que ela trocasse de colégio, enfim, ela terminou comigo como eles obrigaram e acabou indo morar no Canadá, ficou alguns anos por lá e voltou quando o pai dela ficou doente, e depois que ele morreu ela resolveu não sair mais do Brasil.
-- Então o caso de vocês foi antigo.
-- Sim, e muito intenso, eu sofri feito um frango no abate.
-- “Frango no abate”? – Adriana riu e olhou para Viviane que ria também –
-- Eu fiquei muito mal, achei que nunca mais me apaixonaria por ninguém, e fiquei de galinhagem até a faculdade, mas ai eu conheci a Paula, e me encantei com ela, achei que finalmente tinha esquecido aquele amor do passado e me entreguei a ela.
-- Mas ai a Nathalia apareceu.
-- Isso, e reavivou todo aquele sentimento que estava adormecido, nosso caso terminou muito mal resolvido, nós nos amávamos e ela só foi embora por causa da família, eu acabei revivendo toda aquela tragédia grega que eu sofri quando ela partiu. Sabe Romeu e Julieta?
-- Ale, “Romeu e Julieta” foi escrito por um Inglês.
-- Ah, você entendeu.
-- Adriana ria da amiga -- E quando rolou o clima novamente?
-- Lembra o dia que você encontrou a Ana na boate, e eu fui falar com Nathalia?
-- Lembro.
-- Foi naquele dia, eu fui falar com ela que eu estava com saudades, e ela respondeu que também se sentia assim, sentia que tinha esse passado mal resolvido comigo e precisava conversar a sós para entender o que estava acontecendo com ela.
Adriana e Viviane escutavam o relato emocionado da amiga.
-- Então nós marcamos em um sábado no Centro da cidade e nos encontramos para almoçar, e depois de muito conversar acabamos parando em um motel, e foi quando começou tudo.
-- Ai Ale, como isso aconteceu, e por que você deixou passar tanto tempo para falar com Paula?
-- Eu estava confusa, era maravilhoso estar com Nathalia novamente, mas não sentia que era suficiente para deixar Paula, eu ainda a amo, na verdade eu nunca deixei de amá-la, só que eu já estava envolvida de novo com Nathalia.
-- E agora você percebeu que foi só fogo de palha, que aquele amor todo do passado não passou de uma recaída.
-- Isso, Nathalia ficou tão arrasada pelo término do namoro com Isadora que ao invés de ficar mais tranquilo para nos encontrar aconteceu o inverso, ela não quis mais e eu senti um remorso tão grande que acabei concordando que não deveríamos nos ver mais.
-- Agora me diz, o que vocês duas ganharam com isso?
-- Absolutamente nada, nós só perdemos, perdemos as mulheres que nos amam, e que eram a nossa realidade. – lágrimas brotavam de seus olhos –
-- O que você pretende fazer agora?
-- Eu não sei, eu estou morando com minha irmã até alugar um apartamento para mim, e ainda estou indo para o escritório, mas é infinitamente terrível olhar para ela e ver aqueles olhos de mágoa e reprovação.
-- Alessandra, Paula te ama de verdade, dê um tempo para ela, não seja invasiva, mas tente conversar, se você realmente se arrependeu pode ser que ela te dê uma nova chance.
-- Ai Drica, você não conhece a Paula? Quando cisma com uma coisa.
-- Mas não é questão de cisma, é amor, ela está magoada, prove para ela que você a ama, que foi um deslize e que nunca mais irá acontecer, tente reconquistá-la.
-- Ela nem fala comigo, não olha mais pra mim com o mesmo amor. Eu não sei se consigo.
-- Ela está magoada, mas se vocês realmente se amam, tudo vai se resolver.
-- Eu queria tanto que você estivesse aqui. – chorava com mais intensidade - -
-- Eu também minha amiga, mas eu estou ai, no seu coração, e sempre que precisar pode contar comigo.
-- Eu não sei o que fazer. – limpava o rosto com as mãos --
-- Alessandra, você vacilou, isso não dá para apagar, o que você precisa fazer agora é dar tempo ao tempo e deixa que Paula veja a mesma mulher com quem ela casou, e não essa mulher que ela vê hoje, com mágoa e sem confiança. Você terá que se desdobrar para recuperar a confiança dela se quiser que ela volte para você.
Viviane olhava para a companheira de quarto com admiração, via em Adriana um porto seguro, ela sempre sabia o que dizer para acalmar os corações aflitos.
-- Você tem razão. Eu vou fazer isso, minha única preocupação agora é o escritório, eu não sei como vamos fazer.
-- Relaxa, nas férias de fim de ano eu vou voltar para o Brasil e nós decidimos isso.
-- Você resolveu voltar? – limpava os olhos com as costas da mão –
-- Não amiga. Eu vou só para as festas de fim de ano, e volto para começar o mestrado, mas Viviane vai se mudar para o Rio e vai ficar no meu lugar na contabilidade, Paula já aceitou, ela me pediu para falar com você e ver se você concorda.
-- Entendo, por mim tudo bem, eu vou ter que sair da sociedade mesmo.
-- Calma, amiga, deixa as coisas acontecerem, é muito cedo ainda para fazer deduções.
-- É verdade.
-- Meu conselho é que você converse com Paula, e abra o seu coração, não faça rodeios, apenas seja você mesma, inclusive com suas loucuras, tipo beber suco com parafusos ou entrar na maternidade para visitar uma operada com pinos.
A garota acabou rindo do comentário da amiga, lembrando das situações que já se meteu.
-- Isso porque você não sabe da ultima.
-- Me conta ué.
-- Eu fui pra uma reunião da empresa do Sr Ronaldo Teles, aquela importadora.
-- Sei.
-- E na hora o advogado deles cismou que estávamos cobrando os impostos de maneira errada, eu fiquei a manhã inteira explicando àquele ignorante qual o percentual que nós utilizamos e quais as alíquotas são decorrentes dos valores que eles nos passam e tudo o mais.
-- Hum.
-- Quando eu voltei para o escritório, eu estava tão irada com aquele almofadinha metido a Brad Pitt que eu já entrei na sala reclamando dele para Paula. – gesticulava para a câmera -- Falei diversos palavrões e elogios desaforados.
--Elogios desaforados? – ria com Viviane –
-- Eu não percebi que Paula estava com o Sr. Ronaldo no Skype falando exatamente do advogado e da reunião, eu só via Paula fazendo cara de pânico na minha direção e não dizia nada.
-- Ai eu perguntei a ela o que estava acontecendo, por que ela estava se contorcendo que nem uma lacraia, foi quando eu ouvi a voz do cliente no computador dizendo que ligaria mais tarde.
-- Ai Ale, que mico!
-- Mico? Foi um king kong! Imagina minha cara, ainda bem que depois ele voltou a falar com a Paula e disse que estava tudo esclarecido. Paula me deu uma bronca daquelas.
-- Imagino! Só você mesmo.
-- Bom, é isso ai, eu não vou mais tomar o seu tempo, eu vou pensar no que você me disse vou tentar conversar com ela, eu a amo demais não posso perder minha contadora predileta.
-- Tudo bem, fica com Deus, e tudo vai dar certo tá.
-- Um beijo amiga.
-- Beijo.
Alessandra saiu do Skype e Viviane olhou para a amiga.
-- Até na fossa ela consegue ser engraçada.
-- Ela parece alguém que eu conheço. – sorria --
-- Quem será essa pessoa? – Vivi perguntava se fazendo de desentendida—
-- Uma ruiva alienada que usa calcinha com nome de cerveja e cai com as pessoas dentro de banheiros minúsculos, completamente nua. – andava em direção da cama de Vivi –
-- Ai, mas eu não conheço ninguém que se encaixa nesse perfil. – ria da situação –
-- Então eu vou te apresentar. – segurou Viviane pelas mãos e fez a ruiva levantar da cama colando seus corpos –
-- Ai, que assim você me enlouquece. – fechava os olhos --
-- É exatamente isso que eu quero. – beijava o pescoço da amante -- Vem tomar um banho comigo. – sussurrava mordiscando sua pele --
-- Eu acabei de sair do chuveiro. – falava devagar, sentindo a excitação subir pelo seu corpo –
-- Toma outro. Eu também vou pro segundo. – ria --
-- O que eu não faço por você?
O beijo começou urgente, as duas mulheres caminharam juntas para o banheiro e perdidas entre beijos e abraços, caricias e gemidos, fizeram amor para descarregar as tensões que as assolavam.
********************
Era final de expediente e bia e Claudinha já haviam saído, a loira estava com Lívia e se preparava para sair com a professora.
A campainha tocou.
-- Você está esperando alguém? – beijava a loira –
-- Não, já encerrei por hoje.
-- Então a gente atende já saindo para não dar margem para quem estiver ai querer entrar e nos tomar muito tempo, eu quero você todinha pra mim hoje. – outro beijo e a campainha continua a tocar –
As duas pegaram suas bolsas e ao abrir a porta Ana deu de cara com a ex namorada, ao ver Lívia atrás da loira segurando sua cintura, a mulher entrou feito um foguete no escritório esbarrando nas duas amigas, quase derrubou a professora no chão.
-- O que é isso Gisele? O que deu em você?
-- O que deu em mim? Eu que te pergunto Ana Paula, o que está acontecendo aqui?
-- Nada que eu deva te explicar. –colocou as mãos na cintura –
-- Como não? – gesticulava --Você é minha mulher você me deve explicações sim.
-- Ana deu uma grande gargalhada-- Eu não sou sua mulher ha muito tempo Gisele, eu terminei com você, vai embora.
-- Eu não vou, essa mulherzinha é aquela debochada da boate, quer dizer que ela é só sua professora não é, só se for de vadiagem. – gesticulava intensamente --
-- Ei, pode ir parando, você não me conhece, então me deve respeito.
-- Cala a boca que o assunto aqui é com ela. – levantou o dedo no rosto de Lívia --
-- Gisele para com isso! Você não vai embora para a Bahia? Por que me procura ainda? Achei que já tinha até viajado.
-- Por isso que eu vim aqui te ver, tentar te convencer a ir comigo, mas meu lugar nunca esfria não é, primeiro foi aquela sonsa, agora essa debochada.
-- Eu estou vendo que você adora dar apelidos para os outros. – Lívia comentou --
-- Eu já falei para você ficar na sua. – levantou o dedo para Lívia novamente --
-- Quer saber você é louca e você Ana deixa essa doida falando sozinha e vamos embora daqui.
-- Gisele sai. – Ana segurava a porta aberta –
-- Eu não vou a lugar nenhum.
-- Vai sim, porque nosso caso acabou, não existe mais nós, eu não sou mais sua mulher e você pode pegar o seu aviãozinho e ir embora para Salvador.
-- Isso não vai ficar assim.
-- O que você vai fazer? Tentar me matar como você fez com a outra? – Lívia desafiou Gisele —
Gisele olhou para ela com ódio no olhar, e em seguida mirou Ana Paula que entendeu a revolta de Gisele por ter contado sobre o acidente de Adriana que foi provocado por ela.
-- Você contou para ela?
-- Contei, e daí? Vai embora Gisele e não me apareça mais aqui.
-- Você me paga Ana Paula, e você abre o seu olho. – apontava o dedo para Lívia –
-- Ei boneco de Olinda, abaixa esse dedo ai. – mais uma comparando Gisele ao coitado do boneco --
Gisele bufava, ela não gostava de apelidar as pessoas? Lívia deu o troco. Ela estava espumando de raiva, Ana ainda permanecia parada na porta indicando a saída para a ex namorada.
-- Vocês duas vão me pagar.
Gisele saiu pelo corredor, e nem esperou o elevador, desceria os cinco andares de escada, Ana Paula ficou olhando a mulher sumir pelo corredor e depois encarou Lívia.
-- Viu, você hoje presenciou o que eu passo ha quatro anos.
-- Como você aguentou?
-- Eu não sei. – abriu espaço para Lívia sair da sala – O que eu sei é que eu não aguento mais.
-- Juro que eu não te reconheço Ana, você mudou muito com esse relacionamento, eu não namorei uma mulher submissa desse jeito.
-- fechava a porta – Eu sei, nem eu me reconheço mais.
Desceram pelo elevador até a garagem do shopping, pegaram o carro de Ana e saíram, as duas combinaram de comer alguma coisa e depois iriam para um motel nas redondezas.
Tomaram as ruas conversando sobre o que acontecera com Gisele, Ana dirigia distraída e de repente Gisele surge com o carro ao seu lado, com cara de poucos amigos, buzinando para chamar a atenção da advogada.
-- Puta que pariu, ela não desiste!
-- O que foi Ana?
-- Gisele perseguindo a gente.
-- Desacelera, e deixa ela passar.
Ana fez o que a outra advogada pediu e deixou Gisele passar, a ex namorada percebeu que perdeu o campo de visão e passou para a frente das duas na rua, olhando pelo retrovisor, ela começou a frear bruscamente.
-- Ela está tentando provocar um acidente.
-- Ai, outro. – Ana lembrava da cena do acidente de Adriana e sentiu um aperto no peito –
-- Eu vou sair daqui.
Embicou o carro em uma rua saindo da rua principal, entrou em algumas ruas e cortou caminho, saindo já perto de casa.
-- Acho que nós despistamos ela,
-- Ainda bem, aquela mulher é louca Ana Paula! Você tem que se livrar dela.
-- Meu bem, eu estou tentando. Mas você viu como ela age? Ela me envolve nessas teias que ela arma, se faz de vítima, e eu caía feito um patinho, mas agora tudo mudou, eu cansei de vez, não me afeto mais com o que acontece.
-- Eu fico admirada de te encontrar desse jeito, aquela mulher decidida e forte que foi minha namorada nunca permitiria uma situação assim.
-- Eu sei, mas eu permiti, fiquei cega e deixei que ela me dominasse, e eu sofri muito por causa disso, perdi uma pessoa maravilhosa que hoje não quer me ver nem pintada de ouro, e perdi quase quatro anos da minha vida com uma ilusão.
-- Nunca é tarde para recomeçar. – Lívia segurava a mão de Ana Paula –
Estacionaram o carro em uma pizzaria e entraram para jantar, as duas estavam saindo, mas sem compromisso, apenas relembrando os velhos tempos, Lívia tinha a intensão de reatar o namoro com Ana, mas esperava o momento certo para propor novamente o relacionamento. Enquanto Ana tentava esquecer o sentimento que nutria por Adriana, que cresceu em meio a distancia, em meio à vida conturbada que Gisele lhe ofereceu.
Em meio a brincadeiras corriqueiras entre elas, um pedaço de pizza e outro, o assunto voltou à mesa.
-- Ana, você decidiu o que vai fazer? – comeu um pedaço de pizza --
-- Com relação a que? – sorveu um gole de refrigerante –
-- A menina que está em Harvard.
-- limpou a boca com o guardanapo – Eu não vou fazer nada, ela não quer falar mais comigo.
-- E você vai deixar essa mulher que você diz ser tão maravilhosa escorrer pelos seus dedos?
-- Me admira você me falar isso, está me jogando para cima de uma concorrente? – jogou uma bolinha de guardanapo na amiga –
-- Não Ana, -- bebeu outro gole de refrigerante -- eu estou abrindo os seus olhos, para mais tarde você não se arrepender de não ter tentado.
Ana ouvia atenta a amiga, namorada, amante e professora.
-- Daqui a alguns anos ela pode voltar, e o caso mal resolvido de vocês pode prejudicar o momento que você estiver vivendo, se você acha que não pode ser feliz sem ela, então vai atrás, se você acha que pode seguir em frente, -- olhou nos olhos de Ana -- então namora comigo novamente.
Ana quase engasgou com um pedaço de pizza que acabava de colocar na boca.
-- Lívia, eu... – limpava a boca com o guardanapo – você está falando sério?
Lívia sustentou o olhar para assegurar que falava sério e estava disposta a tentar novamente.
-- Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida!
Aquele olhar negro fixado nos seus olhos azuis misturavam as cores na visão de Ana Paula, ela não sabia o que fazer, tinha medo de tentar novamente e magoar a professora como fez no passado, e se Adriana voltasse? Se ela aterrissasse no Brasil dizendo que ainda a ama, e que ainda a quer? O que fazer? O que ela sentiria?
-- Lívia, eu não sei se eu posso, você viu o que aconteceu hoje, e se Gisele continuar nos importunando?
-- Ana, eu estou decepcionada com você, não parece nem de longe a mulher decidida que eu conheci ha anos atrás, a mulher forte e inteligente por quem eu me apaixonei, hoje você está revestida de medo e insegurança, você não pode viver com medo. – segurou sua mão sobre a mesa –
-- Lívia, eu não sou mais essa mulher. – baixou os olhos –
-- É sim, e ela está ai dentro querendo sair novamente, querendo viver novamente. Deixa que ela viva!
Ana Paula olhava para a professora que ainda sustentava o olhar desafiador para a loira, pensava em tudo que ela disse e constatou que Lívia tinha razão, ela sempre foi decidida e ativa, nunca teve medo de nada, sempre correu atrás dos seus sonhos e nunca se deixou abater, lembrava-se de alguns acontecimentos até o ponto que conheceu Gisele, e comparando suas atitudes quando estava com a ex namorada percebeu que perdia sua essência, virava outra pessoa, acuada, submissa e insegura, essa definitivamente não era a pessoa que ela queria ser, e a partir daquele momento resolveu se presentear com a volta da mulher de fibra e decidida que sempre foi, e deixou de sentir medo.
-- Lívia você tem toda razão, eu não tenho sido a mulher que eu sou, me escondi atrás de uma máscara e cedi a uma situação que ela me impôs, não é isso que eu quero para minha vida.
-- É disso que eu estou falando, agora já parece a mulher por quem eu me apaixonei.
-- Lívia, eu preciso de um tempo para te responder. – olhava para a professora –
-- Sim, tudo bem. Conversa com ela e depois você me fala.
-- Como você sabe que eu penso em falar com ela?
-- Eu te conheço muito bem. – piscou para a loira –
-- Eu não sei o onde eu estava com a cabeça quando eu deixei você ir embora.
-- Eu sei, eu sou o máximo não sou? – uma bolinha de papel foi jogada em Lívia –
-- Pretenciosa! – ria –
-- Vamos embora? Eu quero comer outra coisa agora.
-- Ai, ai, tarada como sempre. – revirava os olhos --
Pediram a conta e saíram descontraídas do restaurante, rumo a um motel.
No local, Ana e Lívia acomodavam seus pertences, e se olhavam com o mesmo desejo de quando eram namoradas, os sentimentos confusos de Ana Paula pareciam não existir mais.
-- Toma um banho comigo? – Ana se aproximava de Lívia –
-- Um convite desses, eu não recusaria por nada. – abraçou a loira –
O contato entre seus corpos saía faísca, uma corrente elétrica passava pelos seus poros, causando um torpor nas duas amantes, alheias ao mundo a sua volta, o beijo veio de maneira passional, lasciva, urgente. As peças de roupas faziam o caminho do quarto até o banheiro.
-- Ai Lívia. – Lívia mordia o pescoço da amante – Ah.
-- Eu sou louca por você meu anjo. – sussurrava no ouvido de Ana –
Suas mãos passeavam em um bailado pelos corpos quentes e suados, dentro do box, abriram a ducha sem nem olhar para a alavanca. A água gelada escorreu pelos corpos aquecidos pelo desejo causando um arrepio em ambas as mulheres. Poeticamente podia-se escutar o chiado da água gelada batendo nas peles, evidenciando o calor que emanava das suas amantes.
Corpos nus, entregues a um só desejo, mãos de veludo que conheciam os caminhos pelos quais se enveredavam, bocas silenciosas em um beijo quase visceral, a sensação de Ana Paula era de libertação, enquanto Lívia experimentava novamente a felicidade de ter sua paixão em seus braços sem culpa ou restrições.
Mãos ágeis, e bocas atentas, corpos vulcanizados, e um orgasm* explosivo, foi o resultado daquele encontro entre as duas advogadas. Ainda debaixo do chuveiro, se recuperavam do êxtase vivenciado.
-- Você me enlouquece Ana. – beijava a orelha da loira –
-- Eu sei. – dava um sorriso malicioso –
-- Sua boba – ria da outra – Eu quero você inteira pra mim. – beijava o ombro –
-- Lá na cama. – entrelaçou os dedos nos cabelos de Lívia e trouxe a boca da mais velha contra a sua –
Já na cama, Lívia envolvia Ana em um jogo de sedução, apenas estimulando a loira sem tocá-la em seu sex*, segurava as mãos da advogada sobre sua cabeça e a beijava, pelo pescoço, descendo até o ombro, chegou aos seios, os biquinhos entumecidos de tanto tesão, brincou um tempo com o mamilos rosados que suplicavam por aquele contato. – Ah! Não faz isso – Ana falava com a voz rouca, excitando ainda mais Lívia, que continuava com sua tortura.
Soltou as mãos de Ana e chegou ao seu sex*, mergulhando entre suas pernas, fazendo o seu corpo arquear, ela estava completamente molhada, o que fez a professora sorrir, se deliciou com aquele líquido que Ana lhe oferecia, deixando a outra louca, rebol*ndo em sua boca, até que sem responder pelos seus atos, pediu suplicante.
-- Lívia vem, entra em mim. Ah!
Obedecendo o seu pedido Lívia entrou com dois dedos, sem deixar o contato da língua, com estocadas regulares e firmes ela levou Ana Paula a um orgasm* intenso em sua boca. – AH! – um grito saiu da boca da aluna. Sorveu aquele néctar dos deuses e lentamente retirou os dedos do seu sex*. Beijava seu corpo até chegar a sua boca, se perdendo naquela face angelical de sua parceira.
Ana ainda tinha os olhos fechados, respirava ofegante, e começava a relaxar aos poucos. Lívia acomodou-se ao seu lado e Ana deitou em seu ombro, abraçada à sua cintura. Alheia ao mundo lá fora, Ana começava a se sentir livre novamente, feliz, de volta a vida.
Lívia deixou Ana Paula em casa e foi embora, já passava de meia noite, quando entrou em casa, passou no quarto de Camila e viu a garota dormindo. Sorriu e encaminhou-se para o seu quarto, ao chegar jogou suas coisas sobre a poltrona e começou a tirar a roupa, colocou seu baby doll e foi colocar o celular para despertar. Ao pegar o aparelho, viu inúmeras ligações de Gisele, o que ela prontamente ignorou, pois sabia que a ex namorada estava nervosa mais cedo.
O que lhe chamou a atenção foram algumas ligações de um número desconhecido, não tinha em sua agenda de contatos, mas como a hora já estava avançada, ela preferiu retornar pela manhã, deitou-se e dormiu.
Na manhã seguinte, ela já estava em seu escritório e depois de atender um cliente seu celular voltou a tocar com o número desconhecido da noite anterior, curiosa ela atendeu.
-- Alo.
-- Alo, Ana Paula? – uma voz masculina --
-- Sim, sou eu, quem fala?
-- Bruno, marido da Gisele.
Ouvir a voz do Bruno deixou Ana Paula meio perdida, não entendeu aquele contato, o que o marido de Gisele queria com ela?
-- Oi Bruno. – respondeu desconfiada –
-- Ana Paula, eu sei que você deve estar estranhando minha ligação, mas é que eu sei que a Gisele gosta muito de você, eu seria capaz até de dizer que ela te ama.
Com essa frase ele deu uma pausa na narrativa e Ana entendia menos ainda o motivo da ligação.
-- Eu não sei onde você quer chegar com isso.
-- Eu estou ligando para avisar que Gisele sofreu um acidente ontem e está internada na UTI.
O chão se abriu debaixo dos pés de Ana Paula, seu coração acelerou de maneira impensável, sentia que ia desmaiar na cadeira onde estava sentada, o ar lhe faltou e diante do silêncio que era quase palpável Bruno se fez presente.
-- Ana, você ainda está ai?
-- Estou, é que essa notícia me pegou completamente de surpresa, mas o que aconteceu com ela?
-- Ela bateu com o carro na Ponte Rio-Niterói, voltando pra casa. Parece que perdeu o controle do carro, bateu na lateral de um ônibus e o carro capotou.
-- Minha nossa! Mas como ela está?
-- Ela está em coma induzido, teve traumatismo craniano e alguns ossos quebrados.
-- Qual hospital ela está? – levantava para pegar sua bolsa –
-- No Copa Door.
-- Eu estou indo para lá.
Desligou sem dar chance para o marido de Gisele falar mais nada. O remorso corroeu suas veias, lembrou da forma como Gisele deixara o seu escritório no dia anterior, e a maneira agressiva que ela dirigia pelas ruas de Itaipu, entendeu que ela seria o motivo da imprudência de Gisele no trânsito. Ligou para Isadora.
-- Isa, eu preciso de você.
-- O que foi Ana?
Enquanto saia, falou com sua secretária.
-- Bia, desmarque tudo o que estiver marcado pra mim hoje.
-- Está tudo bem?
-- Ana, o que está acontecendo? – Isa perguntava –
-- Eu vou sair Bia.
No corredor ela voltou a falar com Isadora.
-- Ana, você pode me dizer o que está acontecendo?
-- Isa, a Gisele está no hospital em coma, ela sofreu um acidente.
-- E o que você quer que eu faça? – falou irritada –
-- Vai comigo lá no hospital, eu não quero ir sozinha. – a voz embargada denunciava o choro –
-- Eu vou, só porque é pra você, aquela cobra está colhendo o que plantou.
-- Agora não Isa, deixa o sermão pra depois.
-- Tudo bem, me pega aqui.
Despediram-se e Ana dirigiu até o Centro da cidade, onde Isadora trabalha, pegou a amiga e foi para o hospital.
Chegando no local, procurou na recepção por Gisele e foi informada que a visita para UTI só começaria em quarenta minutos, foi direcionada para a sala de espera do andar para aguardar a liberação, encontrou o Bruno acompanhado por alguns parentes da esposa, incluindo a mãe e uma das irmãs de Gisele. Percebeu o olhar do marido da ex fitando o seu, seu semblante era de tristeza e ele foi ao seu encontro.
Suas mãos suavam, sentia-se nervosa com aquela proximidade.
-- Oi Ana. – estendeu a mão para um aperto –
-- Ana retribuiu o gesto – Oi Bruno, essa é Isadora, minha amiga.
-- cumprimentou Isadora – Prazer Isadora.
-- Prazer. – Isadora respondeu seca –
-- Como ela está? – Ana se limitava a perguntar o básico –
-- Estável, está entubada e os médicos disseram que só terão noção das sequelas das lesões quando ela acordar.
Ana permaneceu calada.
-- Você estava com ela ontem?
Ana hesitou para responder, mas preferiu dizer a verdade.
-- Sim, ela esteve no meu escritório ontem no fim do dia, ela ficou vinte minutos e depois saiu.
-- Eu tinha que embarcar para Salvador semana que vem, vou precisar adiar a viagem. Não posso ir embora com ela nesse estado.
-- Ela vai se recuperar.
Uma enfermeira apareceu no corredor avisando que as visitas estavam liberadas, a mãe e a irmã da loira entraram primeiro, depois de um tempo, Bruno entrou sozinho, e Ana entrou no final, sozinha, Isadora não quis acompanha-la.
Ao ver o estado da ex namorada, Ana Paula começou a chorar, Gisele estava imóvel, entubada, tinha vários aparelhos monitorando seus sinais vitais, aquele ar mórbido de hospital lhe trouxe um medo que não cabia em si, pensou em Adriana, o que a morena havia passado por causa dela e ela não esteve ao seu lado quando precisou.
Segurou a mão de Gisele e deixou uma lágrima escapar, não estava acostumada a uma rotina religiosa mas ali rezou pedindo pela vida de Gisele, se sentia culpada por ter deixado a loira sair tão nervosa no dia anterior. Mas o sentimento que emanava de seu peito era mais pena do que outra coisa, não era amor, ou saudade, era apenas solidariedade pelo estado físico da ex namorada.
Saiu da UTI e encontrou apenas Bruno e Isadora na sala de espera.
-- Vamos Isa. – pediu em um fio de voz –
-- Eu gostaria de conversar com você. – Bruno pediu –
Isadora olhou para a amiga e ela sinalizou que falaria com ele.
-- Eu te espero no carro.
-- Tudo bem Isa.
Entregou as chaves para a amiga e esperou que ela tomasse o elevador.
-- Pode falar Bruno. – Ana o encarava –
-- Ana eu não sei como dizer isso, mas eu sei que existe um envolvimento entre vocês duas, existe um relacionamento para ser mais preciso.
Ana apenas escutava, onde ele queria chegar com esse papo mela cueca a essa altura do campeonato? Gisele em uma UTI e ele com essa calma toda.
-- O que acontece Ana, é que eu não estou disposto a perder a minha mulher, então eu até aceitei numa boa essa história toda, se ela quiser ficar com os dois por mim não tem problema.
-- Olha aqui Bruno. O que aconteceu entre nós realmente foi um relacionamento onde a sua mulher sempre me falou que estava se separando de você, e nunca fez de verdade, o que acontece é que eu terminei com ela por que eu não aceito essa vida, eu não quero isso para mim. Então não se preocupe, você não vai perder sua mulher, ela é toda sua.
-- Esse que é o ponto, ela que não quer ficar sem você. Eu me sujeitei a isso porque ela me disse que você havia terminado e que ela não abre mão desse relacionamento entre vocês. Então eu sugeri que você viesse para a Bahia conosco.
-- Olha só Bruno, esse assunto termina aqui. – Ana virou de costas para ir embora –
-- Se eu fosse você eu pensava no assunto, casa, comida e uma mesada por mês igual a que eu dou para a Gi.
Ana Paula voltou-se para ele com ira no olhar, ele estava pensando que falava com uma prostitua? Era essa a impressão que ele tinha.
-- apontou o indicador em sua face – Olha aqui rapaz, você não pense que eu sou uma prostituta que você pode comprar com mesadas, eu sou mulher suficiente para não precisar ser sustentada por um corno feito você.
-- ele segurou o seu braço com força e retrucou – Que moral você tem para falar assim comigo hein garota?
-- Me solta, nós estamos em um hospital.
Ele soltou o braço de Ana, seus olhos estavam vermelhos, sua expressão era de raiva. Dessa vez foi ele quem elevou o dedo e apontou para Ana Paula.
-- É o seguinte, eu quero a minha mulher comigo e feliz, se ela precisa de você para isso acontecer eu vou fazer de tudo para fazer a vontade dela.
-- É por isso que ela está assim, vocês se tratam como duas crianças, ela precisa de limites, ela não pode ter tudo o que quer. Ela quase matou uma pessoa ha um tempo atrás, está quase morta dentro daquela UTI e amanhã será o que?
-- Não me interessa, a proposta está feita, ou você vai por bem ou vai por mal.
-- Agora todo mundo resolveu me ameaçar. Quer saber Bruno, Vai você e Gisele pra Bahia, pra onde vocês quiserem ir e me deixem em paz.
O elevador chegou bem na hora e Ana saiu deixando o rapaz em pé olhando para ela. Estava nervosa, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Chegando no saguão, encontrou Isadora esperando por ela, seus olhos vermelhos denunciavam seu choro que estava prestes a desabar, foi amparada por Isadora que envolveu o seu ombro levando a amiga para o estacionamento.
Chegando no carro, Ana não conseguiu conter as lágrimas e desabou em um choro cansado, sentou-se no banco do carona e entregou as chaves para a amiga.
-- Ana você está bem?
A advogada apenas balançou a cabeça negativamente.
-- O que ele queria com você?
-- Ele quer me comprar, Isa. – soluçava – Ele quer que eu vá para Salvador com eles e se ofereceu para me bancar, uma mesada, morar com eles e ficar a disposição dela.
-- Que canalha! Vamos embora daqui.
-- Esse corno me tratou como uma prostituta. Eu odeio o Bruno, eu odeio a Gisele, eu odeio. – chorava –
-- Pelo menos você parou de dizer que ama, já é um começo.
-- Isa!
-- Calma, foi só um comentário. E agora o que você vai fazer?
-- Eu não sei. Eu espero que ela se recupere, e me deixe em paz.
-- Ana e Adriana?
-- O que tem ela?
-- Não falou mais com ela?
-- Eu liguei para ela há algumas semanas.
-- Você não me falou.
-- Como Isa? Você se isolou, depois que terminou com Nathalia nunca mais quis sair, só fica enfiada dentro de casa, eu nem me dei ao trabalho.
-- Desculpe amiga, eu sei que eu estou sendo uma chata, e não estou sendo a melhor amiga do mundo.
Ana olhou para a amiga ao volante e segurou o seu ombro.
-- Isa, eu sei que você está sofrendo, mas tenta reagir.
-- Eu prometo que vou tentar.
-- Eu preciso te contar uma coisa.
-- Então conta.
-- Lívia está de volta ao Rio.
-- Lívia, sua ex? A professora? – Isadora falava espantada—
-- Ela mesma. --depois de uma pausa — Eu passei a noite com ela.
-- O QUE? – Isadora quase causou um acidente –
-- Isa! Olha pra frente! Quer matar a gente? – segurava na alça de segurança do carro (mais conhecido como puta que pariu)--
-- Menina, que babado é esse? Quando isso aconteceu? Quero saber de tudo!
-- Até que você parece bem melhor pra quem estava deprimida. – enxugava os olhos com um lenço de papel que ela pegou no porta luvas –
-- Meu bem, essas fofocas levantam qualquer astral. Mas me fala, conta tudo.
-- Como você é fofoqueira! – acabou rindo –
O caminho de volta para Niterói foi todo dedicado à volta de Lívia para o Rio de Janeiro e consequentemente para a vida de Ana Paula. Chegando em Niterói, as duas amigas pararam no Fragatas, bar que fica próximo ao apartamento de Isadora para conversar.
-- Mas Ana, isso fica pior a cada dia, quer dizer que a Lívia é a inquilina da Drica.
-- Isso mesmo. – bebia um gole de suco –
-- Eu estou passada, e você transou com ela no apartamento da outra.
-- Isso. Eu não me orgulho disso Isa, mas aconteceu, foi mais forte do que eu.
-- E quando ela descobrir?
-- Ela não vai descobrir. Ela não quer saber de mim.
-- Por que Ana?
-- Ai Isa, sempre a Gisele, eu acho que ela mandou um e-mail para a Drica como se fosse eu, eu não entendi direito, mas eu liguei para ela há algumas semanas e ela despejou um monte de desaforos para mim, seria com razão mas não fui eu quem mandou o tal e-mail.
-- Ela comentou comigo uma vez sobre esse e-mail, mas eu achei que você tinha realmente enviado por causa das ameaças da Gisele. – bebia um gole do refrigerante --
-- Não, eu não mandei nada desse tipo. – brincava com o canudo no copo –
-- Então por que você não acaba logo com esse mal entendido, conversa com ela.
-- Não, eu resolvi deixa-la em paz, ela está bem melhor longe de mim, -- seu olhar estava perdido – ela quase morreu por minha causa, já sofreu demais, ela não merece isso.
-- Nem você merece essa cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança toda vez que ouve o nome dela.
-- Eu vou superar, você sabe que Lívia me pediu para voltar a namorar com ela?
-- Menina, mas quanto tempo eu passei hibernando?
-- Dois meses.
-- E já aconteceu isso tudo?
-- Minha vida anda movimentada. – bebeu o restante do suco –
-- Eu estou vendo. Mas e ai, o que você respondeu para Lívia?
-- Eu pedi um tempo pra pensar, eu cheguei a cogitar a possibilidade de procurar Adriana, mas depois eu decidi aceitar o pedido de Lívia e não causar mais sofrimento para Drica.
-- Entendi. E Gisele nisso tudo?
-- Eu terminei com ela de novo.
-- Quero ver até quando.
-- Dessa vez é pra valer amiga. Eu não volto mais. Gisele fez um escândalo no Multicenter, ela chegou no escritório ontem depois do expediente. E me encontrou com Lívia saindo.
-- Ih, já até imagino.
-- Ela saiu feito uma louca no transito eu até me sinto meio culpada pelo acidente.
-- Ei, pode parar com isso, você não tem culpa nenhuma do desiquilíbrio dessa maluca.
-- É, eu também tento me convencer disso. Mas é difícil.
-- Amiga, esquece esse pessoal, deixa ela se recuperar e ir embora com o marido dela, e volta a viver a sua vida tá. – segurou a mão da amiga –
-- Obrigada Isa. Inclusive, é hora de a senhora voltar à vida também não?
-- Eu sei, mas é tão duro minha amiga, eu sinto tanta falta dela!
-- Eu sei como é isso amiga, mas bola para frente, ela te procurou de novo?
-- Não, me mandou flores com um cartão pedindo perdão logo assim que terminamos, mas eu não respondi.
-- Então deixa rolar. O tempo vai resolver por você.
-- É, vai sim. Quer saber, vamos tomar um chope?
-- Agora?
-- O que é que tem? Não vamos voltar pro trabalho mesmo. E que se dane, eu quero beber com minha amiga hoje.
-- Essa é a Isadora que eu conheço! Pede ai então.
E assim, mais um dia termina, com o retorno de antigas amizades, resoluções para uma nova vida, esperança que se refaz de tempos melhores e novos amores, ou velhos amores em novas relações. Ana Paula finalmente se sentia livre para viver sua vida sem cobranças e sem Gisele, não sofria mais por ela, apenas deseja que a outra se recupere e seja feliz.
Fim do capítulo
Boa leitura!
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