Capítulo 20
O semestre em Harvard estava começando e Adriana já estava organizando as aulas que teria junto com Viviane no campus de exatas. A movimentação de alunos já era muito grande, muitos voltando para os alojamentos retornando das férias com os pais e outros recém-chegados para essa nova experiência que ela também estava desfrutando.
Com os horários nas mãos, as duas dirigiram-se para o refeitório para o almoço, e a tarde Drica continuaria com sua rotina de fisioterapia para a recuperação da cirurgia. Viviane sempre vivia mais andando pelo campus do que no quarto.
Viviane chegava no departamento médico procurando por Adriana, avistou a menina fazendo exercícios com a fisioterapeuta, e acenou para ela. Entrou na sala indo em direção da morena.
-- Ai amiga, você pode me salvar?
-- Depende do que você precisa, se eu tiver que sair correndo atrás de algum dos seus namorados vai ficar meio difícil.
-- Não é nada disso. – fez uma careta –
-- Então o que é? –ria –
-- Eu fiquei menstruada, e não tenho absorvente aqui, me arruma um, e aquele seu lencinho que você carrega na sua bolsa.
-- Ah isso é fácil, toma a chave do meu armário, fica ali naquela sala. – apontava para a lateral indicando uma porta – Minha bolsa está lá, ali tem um banheiro também, pode se trocar por lá.
-- Ai amiga, obrigada, você é tudo de bom! – deu um beijo no rosto da morena e saiu correndo –
Adriana e a fisioterapeuta ficaram rindo da ruiva saltitando pela fisioterapia. Minutos depois vem Viviane do banheiro com o pacote de lencinhos nas mãos reclamando com Adriana.
-- Poxa Dri, esse negócio de lenço em pacotinho é a maior furada hein!
Adriana olhou para trás e viu Viviane chegando. – Por que?
-- Depois que a gente abre para usar não tem como fechar mais, o que você coloca no pacote? Um pregador? – entregou o pacote para a amiga –
Adriana quando pegou o produto nas mãos, percebeu que a embalagem estava totalmente rasgada, como quem abre um pacote de biscoito salgadinho. Ela olhou para o pacote, olhou para a ruiva que não entendia a cara de interrogação que a morena fazia, e olhou para a fisioterapeuta que segurava o riso como podia.
-- Viviane, você destruiu o pacotinho.
-- Eu não, eu tinha que abrir, como você queria que eu usasse sem abrir? Com o pensamento?
-- Não, maluquete, a embalagem já estava aberta, olha isso aqui.
Adriana mostrou a colega de quarto que no pacotinho tinha uma abertura na lateral que contem uma cola, por onde é retirado o lencinho que será usado e depois de terminar, é só fechar novamente que os lencinhos permanecem húmidos e prontos para serem novamente utilizados.
-- Viu? Era para abrir por aqui, e depois fechar de novo.
-- Ah, mas eu procurei por tudo quanto foi lugar e não achei nada para abrir essa bodega, eu sentei o dedo mesmo, como que eu ia adivinhar?
-- Ai Vivi, o que eu faço com você?
-- Ah, eu hein, você tem umas coisas que a gente precisa fazer faculdade pra usar, é muita tecnologia pra mim. – gesticulava –
-- Deixa pra lá Vivi, toma, joga isso fora que do jeito que está não adianta mais nada. – entregou o pacote cheio de lenços para serem jogados no lixo—
Vivi pegou o objeto e saiu reclamando ainda, Adriana não teve outra escolha a não ser rir da amiga com a fisioterapeuta.
******
Já era noite quando as duas voltaram para o quarto e depois do banho, ambas sentaram em suas camas e ligaram os lap tops, cada uma com o seu intuito, Viviane sempre via filmes ou series pela internet e Adriana lia os e-mails e já fazia pesquisas sobre os assuntos que irão estudar.
Ao abrir sua caixa de mensagens ela percebeu um e-mail de Ana Paula, como resposta do seu, ficou feliz por ter finalmente notícias da mulher amada. Abriu a mensagem e ao começar a ler ela não acreditou nas palavras que ela via. Seus olhos lacrimejaram, era a mensagem que Gisele escrevera usando o e-mail de Ana Paula para simular que a loira não queria mais saber de Adriana.
O e-mail dizia o seguinte:
“Adriana,
Eu espero que você esteja bem, eu agradeço sua preocupação em me enviar e-mails e perguntar como eu estou, mas é melhor que você não o faça mais, eu estou muito bem com a Gisele atualmente, depois que você saiu da nossa vida nós nos acertamos e ela é uma pessoa maravilhosa, é a mulher certa para mim, eu não posso mais falar com você, não me procure mais, eu estou muito feliz e realizada, esqueça que me conheceu, pois sua amizade só vai atrapalhar a minha vida. O sex* foi bom, mas não passou disso.
Adeus”
Adriana ficou desesperada, ela não sabia o que fazer, levantou da cama esquecendo até das muletas, dentro do peito o coração parecia que ia explodir em pedaços. Viviane vendo o destempero da amiga levantou e foi ao seu encontro.
-- Adriana, o que houve?
Adriana só conseguia chorar. Não tinha forças para falar.
-- Adriana, se acalma, senta, você está forçando o seu pé. – Viviane segurou a morena pelos braços --
-- Eu não quero sentar. – soltou-se de Vivi --
-- Calma Amiga, o que aconteceu? – estava assustada --
-- Eu não acredito nela, ela não pode estar falando sério.
-- Quem?
-- Olha o e-mail. – apontava para o notebook --
Viviane sentou na cama e pegou o computador de Drica, leu a mensagem e olhou para a morena que ainda andava de um lado para o outro dentro do quarto.
-- Quem é essa mulher?
-- É a responsável por essa viagem. –tinha as duas mãos na cabeça --
-- Eu não estou entendendo, me explica melhor.
-- Eu sou apaixonada por ela, eu vim para cá para ficar longe dela, pois ela ama outra pessoa.
-- Isso está muito complicado, senta aqui, se acalma e me conta do inicio.
Adriana sentou ao lado de Vivi e esticou a perna novamente, começou a contar a novela mexicana que se tornou a sua relação com Ana Paula e Gisele. Viviane ouvia atenta, e a conversa esticou pois Adriana contara várias das experiências com Ana inclusive o acidente que a deixara naquele estado.
-- Adriana tem certeza que foi ela que escreveu isso? – Viviane já ficou com raiva de Ana --
-- Eu não consigo acreditar que tenha sido ela. Ela não é assim.
-- Liga para ela e pergunta. – entregava o aparelho para Adriana --
Adriana olhou para o telefone na mão de Viviane e pensou em fazer a ligação, mas ao lembrar do e-mail, Adriana desistiu.
-- Eu não posso.
-- Manda uma mensagem.
-- Ela deixou bem claro que não quer que eu a procure mais.
-- Pede para as suas amigas descobrirem isso para você.
Adriana secou o rosto, e se acalmou um pouco, entrou no Skype e encontrou Isadora on line, o que trouxe um pouco de esperança para a menina.
-- Oi Isa, tudo bem?
-- Oi Senhora Harvard, como estão as coisas? Muito frio por ai?
-- Nossa! Muito frio mesmo, eu estou quase fazendo um curso paralelo para pinguim.
-- Boba, mas me conta ai, você está com o nariz vermelho por quê? Está gripada?
-- É um pouco. – mentiu --
-- O frio é muito forte.
-- Sim, mas me conta as novidades, como está a empresa?
-- Adriana, eu vou te responder, mas eu sei que você quer perguntar sobre Ana Paula. A empresa está bem, e as meninas estão dando conta do recado. Agora pode perguntar o que você realmente quer saber.
-- Como ela está?
-- Ela está bem, trabalhando muito.
-- Ela voltou para a Gisele?
-- Desculpe Drica, mas voltou sim. Elas estão juntas.
-- Entendi. —baixou os olhos -- Ela está feliz?
-- Adriana, você realmente quer saber disso?
-- Eu preciso saber. – sua expressão era de súplica --
-- Eu conversei com ela ontem, e ela parecia feliz sim, disse que a insuportável está mudada, está ficando mais tempo com ela, e eu acho que elas estão se entendendo.
Adriana sentiu o chão abrir debaixo dos seus pés, a informação de Isadora encaixava com o e-mail que ela recebera, Ana realmente estava feliz ao lado de Gisele. Seus olhos lacrimejaram e Isadora percebeu a tristeza no olhar da morena.
-- Drica, não fica assim, eu acho que agora é hora de você olhar para frente e seguir com a sua vida da melhor maneira que você conseguir, procure um novo amor, se dedique ao seu estudo e tire o máximo de proveito dessa oportunidade que você está tendo.
-- Sim, eu vou fazer isso Isa, obrigada. – sevou os olhos com as costas da mão -- Mande um beijo a todas.
-- Pode deixar, se cuida. Beijos.
Adriana desligou o Skype e deixou as lágrimas caírem, agora em um choro mais doído, mais contido também, deixou o computador no canto da cama, o qual Viviane pegou e colocou na escrivaninha sentando ao lado de Drica, ela afagou o ombro da colega de quarto e ficou assistindo o choro silencioso da garota.
-- Você quer alguma coisa? – fez um carinho --
-- Não, obrigada, eu só quero ficar um pouco quieta.
-- Tudo bem, se quiser conversar me chama, eu não vou sair daqui.
-- Obrigada.
Adriana beijou o rosto da colega em agradecimento e seus lábios atingiram o canto da boca de Viviane, o que deixou a ruiva um pouco desconcertada. A proximidade das duas estava começando a gerar curiosidades e algumas vontades que Viviane não conseguia explicar. Ela levantou deixando Adriana deitada na cama debaixo das cobertas chorando baixinho pelo amor perdido.
Viviane sentou em sua cama e chateada com a situação de Adriana, pensava como alguém poderia ser tão estúpido a ponto de dispensar aquela mulher maravilhosa que se apresentava a medida que elas se conheciam mais e mais, colocou uma música para escutar e Paula Fernandes embalava o choro doído de saudades e decepção que ecoava em seu intimo, perder Ana Paula foi o fim da esperança de ser feliz por completo.
https://www.youtube.com/watch?v=ROiDfGEHmmE
Diga Sim Paula Fernandes
Eu tô com saudade
Da nossa amizade
Do tempo em que a gente
Amava se ver
Eu não sou palavra
Eu não sou poema
Sou humana pequena
A se arrepender
Às vezes sou dia
Às vezes sou nada
Hoje lágrima caída
Choro pela madrugada
Às vezes sou fada
Às vezes faísca
Tô ligada na tomada
Numa noite mal dormida
Se o teu amor for frágil e não resistir
E essa mágoa então ficar eternamente aqui
Tô de volta a imensidão de um mar
Que feito de silêncio
Se os teus olhos não refletem mais o nosso amor
E a saudade me seguir pra sempre aonde eu for
Fica claro que tentei lutar por esse sentimento
Diga sim ouça o som
Prove o sabor que tem o meu amor
Cola em mim a tua cor
Eu te quero sim, sem dor
Diga sim...
*********
No Brasil dois dias depois, Ana Paula sem saber que Adriana pensava que ela a dispensara, ligava para Isadora para chamar a amiga para um chope, era sexta-feira, Gisele não viria para Niteroi e ela não fez força nenhuma para ir para o Rio.
-- Oi Aninha.
-- Oi Isa, tudo bem?
-- Tudo certo, e você?
-- Tudo bem, você tem programa para hoje à noite?
-- Ainda não. Você está pensando em fazer alguma coisa?
-- Eu queria sair para tomar um chope. Liga para Nathalia.
-- Pode ser, ela vai vir quando sair do trabalho eu ligo para ela encontrar conosco direto no bar, você quer ir aonde?
-- O que você acha do São Nunca?
-- Perfeito, hoje é dose dupla de chope.
-- Então eu te encontro oito horas.
-- Até lá amiga.
Ana tomou um banho e enquanto se arrumava, Camila entrou no quarto.
-- E ai maninha, vai sair? – se jogava na cama de Ana --
-- Sim eu vou ao São Nunca com Isa e Nathalia, quer vir conosco?
-- Eu acho que eu vou ficar em casa hoje.
-- O que? Você em casa em plena sexta-feira? Você está doente? – colocou a mão na testa da irmã--
Camila riu de Ana Paula.
-- Não, eu só quero descansar. – abraçou um travesseiro --
-- Mila está acontecendo alguma coisa?
-- Não.
-- Então por que eu acho que você está mentindo para mim?
-- Você me conhece bem mesmo hein!
-- Mais do que a mim mesma. – sorria --
-- Você está prestes a sair, depois a gente conversa.
-- Claro que não. – sentou-se na cama ao lado de Camila -- Pode me falar agora, as tulipas de chope ainda estarão lá no bar quando eu chegar.
Camila sorriu para a irmã.
-- Ai minha irmã, por que o nosso coração é tão estúpido?
-- Mila, se eu soubesse, eu não estaria com a Gisele hoje.
-- Eu sei, estaria em Harvard.
Ana Paula ruborizou, Camila também a conhecia muito bem.
-- É uma possibilidade.
-- Eu estava ficando com um carinha lá da faculdade, era só um passa tempo, eu não quero namorar agora, é muito cedo mas eu acabei me envolvendo, e eu me apaixonei. Só que tem um porém, ele tem namorada, e eu tenho certeza que eu não sou nada além de uma trans* fora do relacionamento.
-- Ai minha irmã, você sabia que ele é comprometido?
-- Pior que eu sabia.
Ana Paula fez uma cara feia para a irmã repreendendo sua atitude.
-- Eu sei que eu estou completamente errada, eu não devia ter feito isso, muito menos me apaixonar.
-- Camila, se apaixonar é consequência do primeiro ato, e é esse que você deveria ter evitado, sair com um cara comprometido, você tem o exemplo em casa, deveria ser a ultima opção para você.
-- Pior que eu sei, eu sei disso tudo, e hoje eu entendo quando você diz que não consegue largar a Gisele, eu sei que eu não posso mais encontra-lo mas toda vez que eu o vejo no Campus, ou que ele me liga eu acabo cedendo e saio com ele.
-- Camila, eu sou a última pessoa para te dar conselhos, mas eu posso dizer que enquanto está no inicio é a hora de você cortar esses encontros, quanto mais tempo passar pior será.
-- Eu sei, como você aguenta? Como você consegue lidar com essa situação?
-- Eu não sei, na verdade eu não lido com isso, eu finjo que não existe situação para não ficar louca, mas tem horas que eu não aguento e brigo, termino, ai eu volto, é complicado.
-- Eu sei.
-- Tem certeza que você não quer ir comigo? – fez um carinho em sua cabeça --
-- Eu tenho, hoje eu vou ficar aqui. Acho que vou assistir “Cartas para Julieta” pela enésima vez e chorar as mágoas em um pote de sorvete.
-- Ana riu da irmã -- Tudo bem, se mudar de ideia me encontra por lá.
-- Pode deixar, obrigada por me escutar.
-- Eu estou aqui sempre que você precisar é só chamar.
-- Eu te amo Aninha.
-- Eu também te amo minha irmãzinha.
Ana deu um beijo em Camila e terminou de se arrumar para sair e encontrar com as meninas no bar.
Chegando ao local, já tinha muita gente, Isadora e Nathalia já estavam acomodadas em uma mesa, elas avistaram Ana chegando e fizeram sinal para a loira.
-- Oi amiga. Tudo bem?
-- Oi Isa, Nathalia. Quanto tempo que eu não vejo vocês, eu estava com saudades. – abraçou as amigas --
-- Eu também, você agora só fica à disposição de Gisele. – fazia uma careta --
-- Ai Isa, não fala assim.
-- Poxa Ana, desculpa, mas eu não posso deixar passar.
-- Isa ela está melhor. Nós estamos procurando apartamento e tudo.
-- Mas ela já se separou?
-- Ainda não. Não dá para ficar com ela lá em casa, vai ser uma guerra entre ela e Camila.
-- Amore, eu só acredito vendo. – falava incrédula --
-- Meninas, vamos mudar de assunto, eu não vim aqui para conversar sobre Gisele. – Nathalia bebia um gole da caipirinha --
-- Você está certa Nathalia. – Isa levantava a mão chamando o garçom --
-- Isa, você tem noticias de Adriana?
-- Por que você não liga pra ela?
-- Eu quero manter distancia para não fazer a menina sofrer mais.
-- Ana, ela está sofrendo por você de qualquer maneira, sua ausência tem sido pior do que se você conversasse com ela. – o garçom se aproximou – Amiga você bebe o que?
-- Chope.— o rapaz anotou o pedido e saiu -- Como você sabe disso?
-- Eu falei com ela essa semana.
-- E como ela está?
-- Ela está bem. Mas me perguntou sobre você. Se você já estava com ela de novo. – bebeu um gole de chope --
-- E você falou o que?
-- A verdade, que você voltou para Gisele que estava feliz com ela, e eu dei minha opinião, que ela siga com a vida dela e procure alguém para ser feliz.
-- Ai Isa, você falou isso? – recebeu a tulipa do garçom --
-- Claro, você não atende a menina, não responde e-mail, não liga para ela, você quer que ela faça o que? Que ela coloque um cinto de castidade e espere chegar aqui para te encontrar morando com outra?
-- Eu já entendi Isa. Deixa pra lá. – bebeu uma boa quantidade da bebida --
A noite era para ser boa mas acabou deixando um gosto amargo na garganta de Ana Paula. A loira estava pensativa e acabou saindo mais cedo da noitada. Enquanto dirigia, lembrava-se dos momentos em que passou com Adriana. Seu corpo queimava de saudades, ela poderia sentir os toques leves dos dedos de Adriana, ainda tinha a memória do cheiro da morena. Mas não sabia se seria bem recebida se ligasse depois de tanto tempo ignorando as ligações de dela. Acabou indo direto para casa e se fechando em seu casulo.
Fim do capítulo
Boa leitura meninas.
Beijos.
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