Isabella

                  Um barulho irritante me fez acordar, assustada, quase cai da cama. Peguei o celular que tocava insistentemente, na tela a foto de Benjamim aparecia.

- Espero que esteja acontecendo um apocalipse zumbi, só assim para eu não te matar por me acordar essa hora. – cuspi de uma vez só.

- Isa e seu humor matinal, me responde uma coisa, quando você dorme com a Larissa você acorda assim também? – riu me provocando.

- Não Benjamim. – ele gargalhou. – Chega de graça, me diga logo, o que você quer?

- Só para saber se você vai me ajudar a preparar o pedido. Só para constar, você vai ficar sozinha com a Larissa. – disse divertido.

- Claro que vou. Só me liga mais tarde para eu me lembrar. – falei sonolenta.

- Tudo bem, só por favor não vão se pegar no meu sofá, ou algo do tipo. – disse malicioso.

- Pode deixar, usaremos sua cama. Tchau Ben. – desliguei antes que ele seguisse com as provocações.

                  Nikki estava latindo perto da minha cama, me levantei indo colocar comida e agua para ela. Levei-a no colo, ela realmente andava muito carente. Depois que a alimentei, preparei meu café da manhã. Enquanto comia olhei o que teria que fazer, chequei meu e-mail e havia um link mandado por Siqueira, quando abri era uma matéria sobre a última audiência que fizemos. O funcionário estava difamando a empresa, fiquei furiosa. Ele teve sorte por Ingrid não nos autorizar a denuncia-lo a polícia, por conta dos roubos dos materiais.

                  Respirei fundo, não entendia com as pessoas podiam ser tão desonestas. Falaria com Ingrid e Siqueira para ver qual medida iriamos tomar. Encaminhei o link para Maísa, junto com todos os documentos que comprovam a mentira que o homem havia inventado. Pedi para que ela desse um jeito com a imprensa. Meu celular tocou e logo que vi do que se tratava sorri:

Meu amor bom dia, desculpa por não ter te ligado ontem depois da facul. Logo que cheguei em casa capotei, acordei agora graças ao Ben.  Espero que esteja bem. Bjus da sua Lari.

                 Ao ler a mensagem, consegui me acalmar um pouco. Larissa era realmente uma mulher admirável, a cada dia sentia que ela era a pessoa certa para mim. Respondi a mensagem em seguida:

‘’Bom dia meu anjo, não precisa se preocupar, confesso que também capotei. Qual o problema do Ben? Tirou o dia para acordar os outros, me ligou cedo também. Vejo você mais tarde? BJUs da sua Bella.’’

                 Assim que mandei a mensagem fui para o banho. Meus músculos estavam doloridos por conta dos exercícios. Demorei o tempo necessário para relaxar meu corpo. Me vesti e logo depois sai de casa. Parei na porta do elevador, lembrei da probabilidade de dar de cara com Alana mais uma vez. Suspirei, como diabos ia conseguir ficar esbarrando nela sempre, o que foi aquela troca de olhares ontem?

               Preciso manter distância dela. Entrei no elevador, torcendo para que ela não aparecesse, não posso me permitir deixar ser atraída por ela novamente, não depois de tudo que ela me fez e muito menos depois de ter encontrado Larissa. Quando o elevador passou do andar que ela mora suspirei aliviada, logo que chegou na garagem fui para meu carro.

               Segui para a empresa sem pressa, Maísa chegou exatamente no mesmo instante que eu. Estacionamos os carros e caminhamos juntas para ao prédio:

- Você olhou o e-mail que te mandei? – perguntei.

- Vi sim, que homem sem escrúpulos. Preciso saber o que vocês pretendem fazer em relação a ele, só assim posso retratar com a imprensa.

- Não sei ainda como iremos agir, vou conversar com Siqueira e Ingrid mais tarde é bom que você esteja presente.

- Tudo bem, me manda uma mensagem quando for a hora.

- Certo, até mais tarde. – ela acenou seguindo para sua sala.

              Bati na porta de Siqueira, o homem ainda não havia chegado. Segui para minha sala, a secretária me passou os recados logo depois fiquei sozinha. Aproveitei para olhar alguns contratos que estavam passando do prazo, precisava pedir um levantamento para saber quais iriam ser renovados. Passei quase duas horas, analisando documentos.

- Dra. Isabella.

- Pois não Luciana.- falei sem tirar meus olhos dos papeis.

- Dr. Siqueira pediu para chama-la. – olhei para a secretaria e disse.

- Tudo bem, já estou indo. Obrigada.

            A mulher saiu, juntei alguns dos vários papeis espalhados sobre minha mesa, fui ao encontro de Siqueira. O homem estava furioso, poderia jurar que saia fumaça de suas narinas, depois que ele estava mais calmo fomos para a sala de Ingrid. Avisei a Maísa que nos encontrou no elevador.

- Bom dia Ingrid.

- Bom dia. Você é nova aqui. – disse olhando Maísa.

- Sim, sou Maísa Andrade. Larissa me contratou para cuidar do marketing e publicidade da empresa. – respondeu apertando a mão da mulher. – Muito prazer.

- Ótimo, agora vamos ao que interessa. Como daremos um fim nesse homem? – perguntou friamente.

- Ingrid a minha opinião continua a mesma desde o início, nós devíamos ter feito a denúncia, se ele estivesse atrás das grades teria nos poupado essa dor de cabeça. – Siqueira disse ainda irritado pela situação.

- Não pensei que ele pudesse jogar tão baixo, depois do acordo que fizemos. Ele recebeu todos os direitos mesmo sendo demitido por justa causa. – Ingrid disse. – O que você acha que de ser feito Isabella? – me perguntou.

- Sinto muito Ingrid, mas concordo com Siqueira dessa vez, não acho que dinheiro irá fazer com que ele se cale. Temos provas suficientes para colocá-lo atrás das grades por um bom tempo.

- Torci para que não chegasse a esse ponto. – a mulher caminhou até a grande janela de vidro, depois disse vencida. – Tudo bem, façam a denúncia, espero que isso acabe por aqui. Maísa você pode entrar em contato com a imprensa e contar nossa versão da história, se preciso envie até o vídeo dos furtos.

- Tudo bem, pode deixar. Cuidarei imediatamente disso. – falou prontamente.

- Bom acho que isso é tudo. Obrigada.

            Saímos da sala, Maísa já tentava entrar em contato com a imprensa. Siqueira e eu cuidamos da papelada para a denúncia. Mal vi a hora passar, meu celular tocou e sorri ao ver que era Lari. Atendi rapidamente, queria que eu fosse encontrar com ela e Benjamim no restaurante “Iguarias”.

             Minutos depois eu já estava chegando ao local. Segui para uma mesa, os dois não demoraram a chegar. Não conseguia parar de olhar minha namorada, cada passo que ela dava em minha direção meu coração batia descompassado. Conversamos sobre o pedido, fiquei apaixonada pelo anel que meu amigo havia escolhido. Me deu até vontade de casar de novo só que dessa vez com a pessoa certa.

              Depois que almoçamos nos despedimos na saída do restaurante, Lari e eu seguiríamos para o apartamento de Benjamim. Logo que entrei no carro fui atacada por Larissa. Me beijava de uma forma que meus desejos ficavam a flor da pele, seria difícil ficar a tarde inteira ao lado dela.

              Algumas horas haviam se passado desde que começamos a organizar as coisas, o chão do quarto estava repleto de balões vermelhos em formato de coração. Larissa parecia distraída o que me causava certo receio, até que resolveu falar:

- Amor, você acha que é fácil encontrar alguém, sendo que toda a informação que você tem da pessoa são os dois primeiros nomes? – perguntou sem me olhar.

              Olhei-a sem entender o porquê daquela pergunta. Quem será que ela queria encontrar.

- Quem você está querendo encontrar dona Larissa? – falei enciumada. - Ela caiu na risada.

- Ciúmes Dra. Isabella? – falou chegando perto de mim.

- Não, quer dizer, talvez. – me olhou de forma intensa.

Passando a mão em meu rosto disse:

- Não precisa ter ciúmes, eu só tenho olhos para você. – me beijou com carinho.

                  Sempre que eu escutava essa frase meu coração saltava no peito. Sorri para ela que ainda me olhava divertida, por conta do meu ciúme.

- Então quem você quer encontrar? – Questionei.

- O Zé me contou uma história hoje e não consegui parar de pensar nisso. Ele se apaixonou com uma mulher a um tempo atrás, mas não conseguiram ficar juntos. Me pareceu que ele ainda ama essa mulher. Fiquei pensando em tentar encontrá-la.

- Que triste. Nós podemos tentar.

- Tudo bem, depois vemos isso. – fomos interrompidas pela campainha.

        Era a entrega do restaurante, recebemos a encomenda e finalizamos a preparação. Já era noite quando olhamos para o apartamento todo arrumado, sorrimos orgulhosas e fomos embora. Avisamos a Benjamim que já estava tudo certo. As 18:30 paramos em frente ao portão da casa dela.

- Bom você está entregue. – falei sorrindo.

- Ainda não, falta uma coisa.

       Se inclinou em minha direção, foi se aproximando até que nós beijamos. Meus dedos estavam acariciando sua nuca, ela mantinha suas mãos em meu pescoço. Alguns minutos depois paramos para respirar:

- Assim fica difícil deixar você entrar. – falei enquanto ela beijava minha testa, que repousava em seu ombro.

- Eu sei, meu sonho é não precisar ir para aula hoje. – disse desanimada.

- Não fica assim, amanhã nos veremos de novo. – falei tentando melhorar aquela carinha que ela fazia.

- Eu sei, eu sei. Bom não vou tomar mais seu tempo. – sorriu – Até amanhã, cuidado na vida nessa academia. – falou ciumenta.

- Até amanhã. Sabia que você fica linda com ciúmes? – falei segurando sua mão.

- Não, não fico nada. – me deu um beijo demorado. – Amo você.

- Também te amo linda. – ela sorriu, logo depois saiu do carro.

          Esperei que ela entrasse, ao chegar no portão me mandou um beijo no ar. Fiquei abobalhada pelo gesto, sorri ligando o carro e fui para casa. O transito estava tranquilo, logo que cheguei me arrumei, comi algo e segui para a academia. Meu pensamento estava em Larissa e em como me sentia bem ao seu lado, talvez eu realmente devesse não ter tantos receios em relação ao nosso relacionamento, ela tem se mostrado a cada dia mais apaixonada por mim.

          Talvez eu devesse me entregar por inteiro, sem medos, duvidas ou receios. Logo que cheguei na academia comecei a treinar. Me perguntava como será que estava o jantar de noivado dos meus amigos. Depois de duas longas horas de treino sai da academia morta. Assim que cheguei em casa tomei um banho, preparei um jantar leve e fui para a frente da Tv com uma taça de vinho em mãos.

          Meu celular acendeu, peguei achando que era Lari. Na tela apareceu uma notificação de Maísa. Ela havia mandado a foto de sua mão para mostrar o anel de noivado. Sorri, saber que havia dado tudo certo com os dois me deixava feliz. Pensei então em quanto tempo fazia que eu também não me sentia assim tão feliz, ter Larissa ao meu lado estava me trazendo vida de novo. No fundo eu sabia que ela merece o melhor de mim, tomei o restante do líquido que havia na taça.

         Foi então que decidi não mais fugir de toda a felicidade que ela me proporciona, resolvi deixar que as coisas fluam sem paranoia. Me entregarei para ela sem reservas ou receios. E isso começaria agora! Peguei o celular e mandei mensagem para Milena:

Mile, boa noite vcs já saíram da facul?

Oi Isa, ainda não, aula chata para o excelentíssimo senhor caralh*. Mas daqui a pouco estaremos indo embora. Pq? Algum problema?

Ótimo. Está tudo bem sim, só estava pensando em fazer uma surpresa para Lari.

Hummm. Surpresa para a loira é? Já vi que hoje não conseguirei dormir.

Nada disso Mile. Só estava pensando em ir dormi com ela hoje, oq vc acha?

Ótima ideia, ela vai adorar.

Tudo bem então, daqui a pouco saiu de casa.

Ok, prometo não contar nada.

Obrigada.

           Peguei uma mochila e coloquei algumas roupas dentro, deixei a comida e agua prontas para Nikki. Optei por ir de taxi, assim evitaria que Lari visse meu carro na garagem e soubesse que eu estou lá. Passei em uma banquinha de flores, comprei duas rosas, uma vermelha que representa a paixão sinto por ela e a branca que representa um amor puro e incondicional.

          Alguns minutos depois eu já estava entrando na casa, Suse me recebeu como sempre, muito educada e prestativa.

- Dra. Isabella, que surpresa. – falou dando beijinhos de comadre.

- Oi Suse. Espero não está incomodando. – falei sem jeito.

- Imagina querida, vamos entrar. – me deu passagem.

- Imagino que veio ver Larissa. – falou sorrindo olhando as duas rosas em minha mão.

- Sim, na verdade vim esperar por ela.

- Suse já estou de saída.

            Não acreditei ao ver Siqueira ali, em minha cabeça mil e uma perguntas pairavam. O que diabos ele estava fazendo com Suse?

- Dra. Isabella, como vai? – o homem disse sem graça.

- Olá Siqueira, não é necessária tanta formalidade, afinal, não estamos em ambiente de trabalho. – falei e observei o homem corar levemente.

- Siqueira e eu estamos...Nos conhecendo. – Suse confessou sem jeito.

- Vocês não precisam me explicar nada. – falei tentando amenizar o desconforto. – Bom se me dão licença vou esperar por Larissa no quarto. Boa noite Siqueira, boa noite Suse. – sorri e segui para o quarto.

            Subi as escadas quase correndo, nunca pensei que Suse e Siqueira pudessem ter algum tipo de envolvimento. Peguei as rosas e coloquei em cima da cama, deixaria ali para que assim que ela chegasse já avistasse. 

Fim do capítulo