Larissa

                  Depois de passar a tarde inteira em meio a construção, fomos para casa satisfeitas com o andar dos trabalhos. Já era pouco mais de cinco da tarde, Milena dirigia sem pressa, o transito não estava ruim o que fez com que chegássemos com uma certa rapidez em casa.

- Então teve notícias do Benjamim?

- Não, amanhã vou ter que conseguir um tempo para ajudar ele no pedido.

- Certo, conte comigo para o que precisar.

                Depois desse curto dialogo, fomos nos arrumar para a aula. Como sempre eu fiquei pronta antes que Milena, conversei um pouco com Zé e Suse, depois resolvi ligar para minha namorada que parecia nem lembrar da minha existência. Drama? Talvez, mas estava com saudades e me sentindo abandonada. Fazer o que?

                 Não demoramos muito, Milena sempre tinha um time perfeito quando se tratava de me flagrar com Bella, qualquer que fosse a circunstância. Minha mente foi longe quando Bella contou que estava indo para a academia, senti uma pontinha de ciúmes ao imaginar os olhares que ela iria receber.

- Larissa se você quiser acordar já pode. – falou me cutucando, enquanto dirigia.

- Ai Milena! Eu estou acordada.

- Não, você estava pensando na Isabella.

- Como você sabe?

- Larissa, meu bem, desde que você conheceu ela não consegue pensar em mais nada. Além do mais, você fica com cara de bocó. – caiu na risada.

             Optei por não responder as provocações daquela sem noção. Chegamos na faculdade e como de costume seguimos para a lanchonete. Nos sentamos na mesma mesa de sempre, faltava cerca de meia hora para a aula começar.

- Você vai comer alguma coisa? – perguntou Milena.

- Acho que só um suco.

             Enquanto esperávamos os pedidos Isac e Bianca se juntaram a nós. Ainda devia um pedido de desculpa pelo dia da festa na casa de Bella.

- Oi meninas. – Isac nos cumprimentou ao sentar-se ao lado de Mile.

- Oi. – respondemos juntas.

- Vocês não deviam estar em aula? – perguntei curiosa.

- Sim, mas a professora não nos deu o ar da graça. – Bianca falou.

- Bem que o nosso podia não vir também né Lari? – acenei concordando.

         Milena e Isac não paravam de se beijar. Aproveitei para me desculpar com Bianca.

- Bia preciso te pedir desculpas por ter sumido no meio da festa naquele dia.

- Sem problema loira, eu entendo, desejo toda felicidade do mundo para vocês duas. – falou sorrindo.

- Então sem ressentimentos?

- Sem ressentimentos.

- Podemos ser amigas? – questionei.

- Sim, amigas.

           Sorrimos em cumplicidade, fiquei feliz por ela aceitar ser minha amiga. Nos despedimos dos dois e fomos assistir aula, que pareceu não ter fim. Teríamos prova na sexta à noite. Ao final da última aula eu já estava quase desmaiando de sono, não vimos mais nossos amigos. Chegamos em casa quase 11:00 horas, sem demora fui para o quarto e me atirei na cama, logo depois dormi.

            Acordei com o celular tocando, tateei o criado muda a procura do aparelho. Ainda de olhos fechados atendi a chama.

- Alô.

- Chefinha ainda estava dormindo? – me perguntava o que ele queria essa hora da manhã.

- Sim, quem morreu? – falei me sentando na cama.

- Ninguém, desculpa ter te acordado. Mas precisamos conversar. – ele estava ansioso pelo pedido de casamento.

- Tudo bem, podemos nos encontrar daqui a uma hora na construção?

- OK, até daqui a pouco. Larissa?

- Oi.

- Obrigada.

- Não precisa agradecer.

          Encerramos a ligação. Quando concordei em ajuda-lo não imaginaria que teria que acordar tão cedo. Me deitei novamente por um instante, fechei meus olhos e o sorriso de Bella venho em minha mente, lembrei que não havia falado com ela na noite anterior. Resolvi então lhe mandar uma mensagem.

Meu amor bom dia, desculpa por não ter te ligado ontem depois da facul. Logo que cheguei em casa capotei, acordei agora graças ao Ben.  Espero que esteja bem. Bjus da sua Lari.

          Já era pouco mais de sete da manhã. Tomei um banho rápido e alguns minutos depois já estava tomando café da manhã. Suse estava na cozinha junto com Zé. Cumprimentei os dois, acompanhando-os no café.

- Larissa, como foi em Ouro Preto? – a mulher me perguntou.

- Tudo certo. Fechamos um contrato com um empresário para a construção de um shopping aqui.

- Que ótimo querida. Isso significa que teremos que ficar por aqui por mais tempo? – me perguntou esperançosa.

- Sim. Afinal porque você quer ficar aqui mais tempo?

- Você não sabe ainda Lari? – Milena disse entrando no cômodo.

- Não.

- Ela está de paquera. – falou sentando-se.

- E como você sabe disso? – perguntei curiosa.

- Tenho minhas fontes. – olhou para Zé.

- Ah, seu velho fofoqueiro. – Suse disse zangada.

- Eu não falei nada, dona Milena que fica procurando pistas. – Zé se defendeu.

        A confusão estava feita, Suse acusava Zé que colocava a culpa em Milena. Não tinha como não rir da situação. Fiquei feliz com a possibilidade de Susane ter encontrado alguém, foram muitos anos vivendo em função dos meus pais e agora de mim.

- Milena, você vai comigo para a construção ou vai para a empresa?

- Vou na empresa, o Ben me pediu para dá uma olhada em um projeto com um dos arquitetos.

- Tudo bem, então nos vemos mais tarde.

- Tudo bem.

      Seguimos caminhos separados, optei por não ir dirigindo. Iria aproveitar o trajeto para responder alguns e-mails. Zé abriu a porta para mim, ainda não conseguia me adaptar a essas formalidades, tanto que preferia ir no banco da frente. Logo que entramos olhei meu celular e uma mensagem de Bella havia acabado de chegar.

‘’Bom dia meu anjo, não precisa se preocupar, confesso que também capotei. Qual o problema do Ben? Tirou o dia para acordar os outros, me ligou cedo também. Vejo você mais tarde? BJUs da sua Bella.’’

       Sorri lendo o conteúdo da mensagem, Zé me olhou e disse:

- Isabella está bem? – olhei para o homem sem entender como ele sabia que era ela.

- Como você sabia que era ela? – questionei-o

- Seu sorriso, o brilho nos olhos. E principalmente a cara de apaixonada. Também já senti isso. – falou com tristeza.

- Sentiu? Por que não sente mais? – perguntei curiosa.

- Uma longa história, quem sabe outra hora te conto.

- Ora Zé temos tempo, olhe esse transito. – apontei a rua. – Por favor? – implorei.

- Nós éramos jovens, lembro do dia que a vi pela primeira vez. Morávamos numa cidadezinha, todo mundo conhecia todo mundo. Ela era filha de um fazendeiro, Catarina Almeida, a mulher mais bela que eu já havia visto.

      Parou por alguns momentos parecendo fazer um esforço para relembrar os fatos. E em seguida continuou:

- Era fim de ano. A cidade inteira se reunia na praça da cidade para a queima de fogos. Lembro-me de ter visto o céu iluminado, logo depois quando tirei os olhos dos fogos por um instante fiquei paralisado. Senti meu coração bater acelerado, não conseguia parar de olha-la. Até que por uma fração de segundos ela me olhou de volta.

           Já estávamos quase chegando a construção, mas eu queria saber o fim da história, Zé estacionou o carro, esperou que eu saísse porém, permaneci no mesmo lugar.

- Não vou sair sem saber o final. – falei decidida.

- Desde aquele dia sempre dávamos um jeito de nos encontrar. Fizemos promessas de ficarmos juntos. Eu queria pedi-la em casamento, quando tomei a iniciativa de fazê-lo fui informado por um dos empregados que ela havia partido. Alguns anos depois fiquei sabendo que ela iria casar.

- Nossa Zé, você nunca descobriu o porquê de ela ter ido embora? – perguntei triste pelo fim.

- Não. – o homem falou triste.

- Sinto muito. – apertei seu ombro levemente.

          Ele apenas acenou, me arrependi por ter insistido para que ele contasse o que havia acontecido. Não quis perguntar se ele havia procurado por ela depois disso. Me despedi dele e segui para me encontrar com Ben.  Fiquei com a história martelando na minha cabeça, o que será que aconteceu com Catarina?

- Larissa? Larissa? – Benjamim me chamava atenção.

- Oi?

- Está tudo bem?

- Sim. Claro. Vamos começar?

- Tudo bem.

          Olhamos como estavam os trabalhos, tudo corria bem. Até agora nenhum problema com o material ou com o projeto. O prédio seria de seis andares, incluindo garagem e térreo com um heliporto. Dr. Fontes, não economizaria na extravagância. A manhã passou mais rápido do que o esperado, mal percebemos que já era hora do almoço.

- Benjamim, vou ligar para Bella nos encontrar no “Iguarias”. Você liga para Milena enrolar Maísa na empresa, assim que nós terminamos de almoçar iremos para o seu apartamento cuidar de tudo, enquanto você leva ela em casa.

- Larissa você acha que isso vai dá certo?

- Claro que vai, diz que vocês irão jantar fora ou algo do tipo. Quando nós saímos do seu apartamento avisamos.

        Ele foi ligar para Milena, enquanto eu discava o número de Bella. No segundo toque ela me atendeu.

- Oi anjo.

- Oi meu amor, tenho um convite para te fazer.

- OK.

- Me encontra no “Iguarias”? Sabe o restaurante aqui perto da construção?

- Sei sim meu anjo, daqui a pouco chego.

- Ótimo, só mais uma coisa, você tem algo para fazer hoje à tarde?

- Não. Porque?

- Ótimo, vamos ajudar o Ben, daqui a pouco te explico.

- Tudo bem, até já então anjo.

- Até meu amor.

- Pronto, vamos? – Benjamim falou.

- Vamos.

        Dispensei Zé já que iria com Benjamim para o restaurante e depois poderia ir de carona com Bella para o apartamento dele. Meu amigo estava uma pilha de nervos. Quando chegamos no restaurante minha namorada já estava lá. Seguimos para a mesa.

- Obrigada por ter vindo Isa. – ele agradeceu.

- Não precisa agradecer. Então qual é o plano? – perguntou nos olhando.

- Milena vai enrolar a Maísa, depois será o Benjamim. Nós duas vamos para o apartamento dele. Benjamim você fez o que eu disse?

- Claro, as fotos, estão dentro do closet embaixo de algumas toalhas. – Bella olhou para ele rindo. – Que foi? Não podia deixar em um lugar onde ela visse.

- Ótimo, cadê o anel? – Perguntei

- Aqui. – tirou a joia do bolso, uma peça linda, em ouro velho com uma pedra de diamante, dentro estava gravado “Always”.

- Que lindo Ben. – nesse instante vi os olhos de Bella brilharem ao ver a joia.

- E os balões? – perguntei tentando voltar ao assunto anterior.

- Também estão guardados lá. – nesse instante o garçom veio nos atender, depois que fizemos os pedidos continuamos a conversa. – O jantar também irá ser entregue enquanto vocês estiverem lá.

- Ótimo, só nos resta esperar.

          Durante o almoço Bella e eu tentávamos acalmar os nervos do futuro noivo. Já eram 13:30 quando nos despedimos na frente do restaurante, Benjamim voltou para a construção. Nós duas seguimos para o apartamento dele. Assim que entramos no carro, tratei logo de matar um pouco a saudade de Bella. Antes que ela colocasse o cinto de segurança a puxei para um beijo, demorado e extremamente excitante.

- Isso tudo é saudade? – me perguntou logo que nos separamos.

- Você não faz ideia. – lhe sorri.

         Seguimos para a casa de Benjamim. Logo que entramos perguntei a Bella:

- Preparada para passar a tarde enchendo balões? – sorri travessa.

         Ela suspirou, me olhou sorrindo e disse em seguida:

- Qualquer coisa desde que eu esteja ao seu lado.

        Como não me derreter inteira com essa declaração? Me aproximei dela beijando-a em seguida. Começamos os trabalhos, depois de uma hora já haviam muitos balões espalhados pelo chão do quarto. Enquanto eu preparava tudo, voltei a pensar na história de Zé, me perguntava se poderia ajuda-lo de alguma forma.

- Amor, você acha que é fácil encontrar alguém, sendo que toda a informação que você tem da pessoa são os dois primeiros nomes? – perguntei.

        Bella parou o que fazia e me olhou sem entender nada, juro que ouvi um pouco de ciúmes no seu tom de voz ao dizer em seguida:

- Quem você está querendo encontrar dona Larissa?

Fim do capítulo