Isabella

                 Depois do que Alana falou, fiquei sem jeito. Como eu iria aguentar esbarrar nela se ela sempre for ficar com essas conversas sem sentido. Respirei fundo e fui para meu carro. Segui para a empresa, Maísa chegava junto de Ben.

- Bom dia.

- Bom dia Isa. – responderam ao mesmo tempo.

- Meu amor vou andando. – meu amigo falou beijando Maísa. – Até mais tarde Isa.

- Até. O que deu nele?

- Não faço ideia. Isa eu trouxe o contrato para você dá uma olhada antes de irmos para a revista. Mas o que quero mesmo agora é um café da manhã. Vamos comer algo?

- Tudo bem, vamos na padaria e depois para revista.

                A padaria era na mesma rua da empresa, tomamos o café da manhã enquanto esperávamos dei uma olhada no contrato. Minutos depois já estávamos indo para o antigo local de trabalho de Maísa.

- Você não acredita em quem encontrei hoje de manhã.

- Deixe-me pensar... Alana? – falou com o dedo no queixo como se refletisse algo.

- Sim, no elevador. Não sei como serão esses nossos esbarrões. Acredita que ela ainda teve a audácia de chamar Larissa de fedelha? – ela caiu na risada.

- Falou a maturidade em pessoa né? Eu sei qual solução para esse seu problema.

- Tenho medo do que seja mais diga.

- Comece a usar as escadas, duvido que você vá se encontrar com ela.

- Maísa você está bem doida, são cinco andares até o meu apartamento. Não sobreviveria nem aos primeiros degraus. – rimos com meu comentário.

- Então está difícil. Acha que Larissa vai levar na boa isso?

- Não sei. – na verdade eu sabia sim, ela iria se chatear.

                  Chegamos a revista “Burlar”, Andrey Gusmão, o futuro ex chefe de Maísa ainda não havia chegado.  Logo que entramos os olhares se voltaram para mim. Fiquei um pouco receosa afinal ali estava cheio de repórteres e devido as ultimas noticias de Larissa eu estava na mira deles também.

- Se acostume amiga, quando se namora alguém importante você acaba se tornando uma também.

            Acenei concordando com ela, nos sentamos para esperar Andrey. O homem nos deu um chá de cadeira até as nove da manhã. Tinha cabelos ralos, usava um terno, parecia ter o rei na barriga. Já era um senhor na verdade, mas agia como um garotão. Logo que entramos em sua sala ele falou:

- Ora, se não é a futura senhora Rodriguez. Sentem-se, a que devo a honra de sua visita. – escolhi não responder ao comentário do velho.

- Dra. Isabella, pode me chamar assim. Bom, temos interesse na rescisão do contrato de Maísa, viemos para fechar um acordo em relação ao valor a ser pago.

- Quer dizer que sua namorada está roubando minha melhor funcionaria? – falou olhando para Maísa.

- Não estamos roubando-a, foi apenas uma proposta que foi devidamente aceita.

- Certo, certo.

            Passamos quase uma hora para acertar um valor razoável, o homem estava disposto a manter Maísa como funcionaria, porém eu tinha o aval de Larissa para acertar o valor independente de qual fosse. No fim ficou certo a quantia de seis mil reais que seriam pagos até o fim da semana.

             Segui para o carro, esperaria Maísa pegar suas coisas para irmos para a empresa. Resolvi ligar para Larissa contando como foi a reunião, ela fez um drama no começo, dizendo que pensava que eu a havia esquecido, contei como havia sido o acordo, alguns minutos depois tive que desligar. Maísa chegou e fomos para a empresa.

             Redigi o contrato assim que chegamos, logo depois fui mostrar a sala que ela ocuparia, ficou completamente encantada com o local. Deixei-a curtindo a sala e fui olhar alguns processos com Siqueira, queria me certificar que tudo correra bem em minha ausência. Não sei se era impressão minha mais sempre que passava observava as pessoas me olhando de forma estranha.

              Sabia o motivo, meu namoro com a dona da empresa. Resolvi não me importar muito com os olhares atravessados. Passei o resto da manhã com Siqueira. Já era quase uma da tarde quando Maísa me ligou.

- Oi Má.

- Isa você já almoçou?

- Não, nem vi a hora passar. Me distrai analisando alguns documentos.

- Então daqui a pouco passo na sua sala para irmos comer.

- Ok.

              Alguns minutos depois ela bateu na porta:

- Vamos?

- Sim.

            Logo que chegamos ao local fizemos os pedidos. Maísa parecia irritada.

- Que foi amiga?

- Não sei onde o Benjamim se enfiou, liguei para ele e só deu caixa postal.

- Ai Maísa, vai ver ele ficou sem bateria, talvez esteja na construção. Não vi Milena e muito menos Larissa pela empresa hoje. Provavelmente estão atolados de trabalho na construção.

- É, você tem razão.

          Almoçamos em um clima descontraído, minha amiga fazia planos para o casamento, mal sabia ela que isso estava bem perto de acontecer. Saímos do restaurante, deixei ela na empresa e segui para uma audiência.

           Passei quase o resto da tarde presa no fórum, Siqueira estava comigo. Um ex funcionário estava processando a empresa alegando que havia sido demitido sem justa causa. O que não era verdade, Benjamim descobriu que ele estava roubando materiais das construções. Pedia uma indenização por ter sido mandado embora sem aviso prévio. No fim das contas, conseguimos provar que havia sido por justa causa.

 - Esse cara é um pilantra. – Siqueira falou logo que saímos da sala de audiência.

- É sim, maior cara de pau.

            Depois de passar a tarde inteira no fórum segui para casa. Assim que cheguei Nikki correu em minha direção. Dei atenção a ela e depois fui para o banho, hoje iria voltar a me exercitar. Passei a última semana parada, não podia arriscar, afinal a idade está chegando e depois tudo vai cair. Tomei um suco e logo depois segui para a academia, iria a pé mesmo, era no mesmo quarteirão.

            Já era quase seis e meia da noite, coloquei o fone de ouvido liguei a playlist e sai de casa. Ao chegar no elevador meu celular tocou.

- Oi anjo, estava pensando em você agora. -  falei docemente.

- Serio? Pensando em que exatamente? Na gente na cama sem roupa fazendo indecências? – deu uma risada safada.

- Claro que não, quer dizer também. – sorri sem jeito.

- Só liguei para te dar um oi, estou saindo para a faculdade daqui a pouco, queria ouvir sua voz antes de sair. – que coisa mais linda essa minha loirinha.

- Como você consegue ser assim tão doce? – ela não me respondeu, apenas riu. – Eu estou saindo para a academia, preciso me cuidar.

- Você em roupas de academia, assim é injustiça. Olha que mudo o rumo, em vez de faculdade, vou é ficar te olhando treinar.

- Iria adorar essa expectadora acredite, mas você precisa ir para aula.

- Eu sei eu sei, meu anjo tenho que ir, se comporte nessa academia ouviu? Não quero marmanjos babando na minha mulher. Ah! E muito menos mulheres. Amo você linda, bom treino.

- Pode deixar vou me comportar direitinho. Boa aula meu amor. Beijo.

              Encerramos a ligação, eu já estava quase chegando na academia. Depois de quase uma hora e meia de treino, fui para casa. Meu corpo parecia ter sido espancado. Tudo o que eu desejava era um longo banho de banheira para relaxar, comer alguma coisa e cama.

              Apertei o botão para chamar o elevador, continuava ouvindo música. Alguém parou ao meu lado. Senti o cheiro que a muito tempo conhecia, mantive meus olhos na tela do celular, na tentativa de ignorar completamente aquele ser.

- Você não precisa de academia, continua linda Isa. – Alana falou.

- Oi Alana, não é uma questão estética, somente para manter a saúde. – falei sem olha-la.

             A porta do elevador se abriu, ela entrou e me olhou perguntando:

- Você não ia subir?

- Sim, mas vou esperar mais um pouco.

- Qual é Isabella, acha mesmo que eu te atacaria dentro do elevador?

- Olha Alana, conhecendo você como conheço não duvido disso.

- Prometo que não farei nada. – me olhou beijando os dedos cruzados.

            Me dei por vencida, entrei no maldito elevador. Continuei ignorando-a completamente. Porém sentia seus olhos atentos em mim. Quando chegou no seu andar ela saiu.

- Até mais Isa.

- Tchau Alana.

           Antes que as portas se fechassem olhei para ela, que já estava parada em frente a seu apartamento. Fixamos o olhar, ela me sorria. Senti um misto de saudade e desprezo. Apertei o botão várias vezes para que o elevador subisse. Ela continuava parada me olhando, sorria de uma forma linda. Poderíamos ter sido felizes juntas, pena que ela jogou tudo fora. Sacudi a cabeça afastando esse pensamento, não posso cair nas garras de Alana mais uma vez.

           Respirei fundo ao chegar no 5º andar, caminhei lentamente até meu apartamento. Nikki como sempre me recepcionou, corria entre minhas pernas animada. Brinquei um pouco com ela, que parecia a cada dia mais carente. Comecei a pensar na possibilidade de adotar mais um cachorrinho ou quem sabe outra cadela.

             Depois de um longo banho e comer algo leve, fui em direção a varanda, a noite estava linda, bebia um pouco de vinho e aproveitei para pensar na vida. Lembrei-me de todas as vezes que havia discutido com Alana, em certas ocasiões apenas por bobagens, nunca houve muito dialogo, nenhuma das partes queria ceder a nada. Logo não poderia colocar a culpa do fim do nosso relacionamento apenas nela.

             Hoje, sei que poderia ter agido de forma diferente com ela, claro que nada justifica toda sua infidelidade e mentiras. Hoje, não a odeio como pensei, não que eu ainda a ame, mas só tenho certo desprezo. Ela foi uma grande paixão em minha vida, sempre pensei que envelheceríamos juntas, o bom e velho conto de fadas. Só que sem príncipe encantado, apenas uma cachorra sem vergonha.

- Desculpa Nikki. – a cadela me olhou e voltou a se deitar.

              Ainda sinto certo incomodo quando estou perto dela, por mais que eu tente ser indiferente, por mais que eu saiba que amo Larissa. Ah, Larissa! Essa sim parece ter sido um presente dos céus, com aquela carinha de anjo. Era fato que a cada dia ela me encantava um pouco mais, sempre que estou ao seu lado parece não existir mais nada.

              Peguei meu celular olhando uma foto nossa. Nossos sorrisos demonstravam toda felicidade que sentíamos. Lembrei-me então da foto de Alana que ainda estava em meu armário, precisava dar fim aquele retrato. A companhia tocou, pensei ser alguém conhecido já que o porteiro não interfonou avisando nada. Me passou pela cabeça que pudesse ser Alana. Olhei pelo olho mágico e respirei aliviada.

- Ai Isa onde você estava que quase não abre a porta. – foi entrando sem ser convidado.

- Oi Benjamim, boa noite para você também, entre fique à vontade. – falei fingindo-me de brava.

- Desculpa, é que estou feliz. Vem aqui me dá um abraço. -  Eu sumi entre seus braços.

- Benjamim você es-tá me sufocando. – ele me largou. – Obrigada por me deixar respirar.

- Eu cheguei agora da casa dos pais de Maísa, pedi a mão dela em casamento, eles me deram permissão. – falou de um folego só.

- Coitada, estava toda triste hoje, louca da vida por você ter sumido. Fico feliz que tenha dado tudo certo.

- Eu sei, fiquei tão nervoso que ela pensa que estou traindo ela. Até ameaçou cortar fora o pequeno “ben” se descobrisse. – não aguentei, um homem daquele tamanho chamando o p*nis de pequeno “ben” foi demais para mim.

- Meu Deus Benjamim, que coisa ridícula.

- O quê? – falou sem entender.

- Pequeno “ben”, sério? – ele deu de ombros. – Bom, a pergunta que não quer calar, quando vai fazer o pedido a ela?

- Amanhã, sua namorada vai me ajudar. Na verdade, nem sei o que faria se ela não estivesse me ajudando.

- Ei seu ingrato, sempre estive aqui do seu lado, tudo bem que não tenho helicóptero para te emprestar mais mesmo assim.

- Ai Isa, nem começa, vocês duas são meus anjos. – segurou minha mão.

- Por falar em noiva ela está me ligando. – mostrei o celular. – Oi Má.

- Isa você tem notícias do safado do meu namorado?

- Tenho sim, na verdade ele está aqui comigo.

- Fazendo? – ela realmente estava irritada.

- Conversando, nós..nós – olhei para ele tentando pensar em alguma desculpa. – Ficamos presos com algumas coisas na empresa. Mas ele já está indo embora.

- Hum, tudo bem.

- Não se preocupa, ela já está de saída. Maísa deixa de ciúmes que ele é louco por você.

- Eu sei que é, mas isso não me impede de ser ciumenta. Isa preciso ir agora.

- Tudo bem, até amanhã. – encerrei a ligação e olhei para o meu amigo. – Acho que você vai dormir no sofá hoje.

- Do jeito que ela é não duvido mesmo. Bom vou indo, até amanhã Isa.

- Até amanhã Ben.

             Assim que ele saiu fui para o quarto, esperei que Larissa me ligasse ou mandasse alguma mensagem, porém, acabei dormindo rapidamente. Meu corpo precisava de descanso.

Fim do capítulo