Larissa

                Me despedir de Bella foi algo difícil, mesmo sabendo que nos veríamos na manhã seguinte. Mile e eu fomos em direção a casa, carregávamos nossas malas. Fomos recepcionadas por Suse.

- Minhas meninas, graças a Deus chegaram. Essa casa estava tão vazia sem vocês. – a mulher falou nos abraçando.

- Que história é essa Su, pensa que não recebemos as fotos da festinha que você deu aqui? – minha amiga falou só por implicância.

- Milena não seja má. Oi Suse, também estávamos com saudades.

- Vão tomar um banho que o jantar logo estará pronto.

              Segui para meu quarto, ainda estava me sentindo estranha por ter visto o local do acidente, mesmo depois de um ano e meio. Meu corpo estava dolorido pela posição que viajei. Antes que eu entrasse no quarto Mile me questionou:

- Você está bem Lari?

- Vou ficar, já superei isso uma vez. A dor de agora não será diferente.

- Tudo bem, qualquer coisa estou aqui do lado. – sorriu com carinho.

             Balancei a cabeça concordando com o que ela havia dito. Deixei minhas malas no chão do quarto, olhei a foto dos meus pais pendurada na parede, senti meus olhos umedecerem, segundos depois já não tinha controle sobre as lágrimas. Demorou alguns instantes até que eu me acalmasse, peguei o celular para mandar mensagem para Bella que não demorou a me responder.

             Tirei minha roupa e fui em direção ao banheiro, tomei um banho demorado, meu corpo pedia por isso. Estava secando meus cabelos quando Milena entrou no quarto.

- O que você acha que minha namorada vai pensar, ao saber que você entra no meu quarto sem bater e ainda me vê sem roupa. – falei com falso enfado.

- Provavelmente, ela deve saber que não sinto atração pela branquela da namorada dela. E que provavelmente sex* entre eu e você seria um incesto.

          Arremessei um travesseiro na folgada da minha amiga. Me vesti rápido e logo depois já estávamos jantando. Susane e Milena conversam sobre o fim de semana, eu apenas ouvia as duas tagarelando, volta e meia comentava algo. Já passava das dez quando Susane foi dormir.

          Milena e eu decidimos sentar na varanda e conversar mais um pouco.

- O que você acha que vai acontecer na empresa? – questionou.

- Não sei, queria mesmo era que a Ingrid não saísse.

- Acho pouco provável. Imagina a quantidade de urubus que vão querer o lugar dela agora.

- Pior que isso vai ser ter que escolher um dos bajuladores. Se ao menos ela indicasse alguém, de confiança sabe. Facilitaria minha vida.

- Verdade. – ficou em silencio por alguns segundos, parecia querer me contar algo. – Lari, lembra que eu disse que quero descobrir a verdade sobre o divórcio dos meus pais?

- Sim.

- Então, eu contratei um detetive. – por essa eu não esperava.

- Serio?

- Sim. Não é justo o que eles estão fazendo comigo. Eu vi nos olhos da minha mãe que algo está errado. – falou fitando a imensidão do céu.

- Mile, ela não quer que você sofra, é normal. Para falar a verdade eu também não quero.

- Larissa me diga o que você pensa disso tudo. Você é minha melhor amiga, por favor diga. – suspirei contando em seguida o que eu penso.

- Olha Mile, eu vi sua mãe magoada naquele jantar. Ela sempre foi louca por ele, sinceramente não sei se você vai gostar do que irá descobrir.

- Prefiro a verdade por mais difícil e dolorosa que ela seja. O detetive ficou de mandar o dossiê com tudo o que conseguir descobrir.

           Demos o assunto por encerrado, ficamos deitadas nas cadeiras em silencio. Até que do nada Milena começou a rir. Olhei-a sem entender o porquê da crise de riso.

- Lari, você lembra da noite do evento beneficente que uma loira deu em cima de você descaradamente?

- Meu Deus, como acha que eu ia esquecer algo assim. Sinceramente naquele dia pensei que você deveria tentar virar atriz. – acompanhei-a nas gargalhadas.

- Lembro de você ter ficado incomodada com os olhares dela para você.

           Foi mais ou menos assim: meu pai resolver fazer um jantar beneficente para um orfanato de Ouro Preto, fazia poucos meses que tinha começado a faculdade, claro que levei Milena junto para o tal jantar. Não escondi minha sexualidade dela, isso pareceu nos aproximar mais na verdade. Lembro de ela ter dito algo do tipo “ lésbica, isso é ótimo sobra mais homem para mim então”.

- Como era o nome dela mesmo? – me perguntou tentando recordar.

         Lembrava muito bem o nome da mulher Samantha Borges, uma mulher de uma beleza única, ruiva de corpo atlético. Olhos de um verde esmeralda, sem dúvidas uma mulher de se ficar babando.

- Samantha, ou Sam como ela me disse para chama-la.

- Ainda não consigo entender porque você não ficou com ela, a mulher era um espetáculo.

- Como sabe que nunca fiquei com ela?

- Serio?  Dessa não sabia.

        Não ficaria com ela em um evento organizado pelo meu pai, ela era administradora de uma multinacional. Quando a ruiva entrou no lugar todos os olhares se voltaram para ela. Usava um vestido preto, com uma fenda na perna esquerda, que ia até metade de sua coxa. Com um decote avantajado, as costas nuas deixavam à mostra uma linda fênix.

- Então Larissa quando você ficou com ela?

- Não fiquei Milena. Juro que se você não tivesse entrado no banheiro eu teria ficado.

       A mulher havia passado a noite inteira com olhares de cobiça em minha direção, claro que eu não era indiferente a eles. Em certo momento fui até o banheiro, quando sai da cabine lá estava a ruiva me esperando. A mulher me olhou dos pés à cabeça. Não havíamos sido apresentadas ainda, passamos boa parte da noite nas trocas de olhares.

- Eu invadi o banheiro, quando vi ela quase beijando você, eu não pensei duas vezes, sabia que você não queria. Aquela mulher era uma loba e você o coelhinho indefeso.

- Você chegou tipo, “O que diabos está acontecendo aqui?”, juro que por um instante quis matar você, mas depois percebi que não seria certo deixar aquilo acontecer.

- A cara que ela fez quando eu te chamei de amor foi impagável.

      Caímos na risada de novo, essa sem dúvidas foi uma situação muito “Milena de ser.” Já passava da meia noite quando fomos dormir. Na verdade, essa foi uma tarefa difícil, meu corpo sentia falta do de Bella, o sono parecia não chegar. Só consegui pegar dormir já de madrugada.

      Acordei por volta das sete da manhã, queria mesmo era nem ter que sair da cama, hoje seria um dia daqueles. Sorri ao lembrar que veria Bella, isso tornaria meu dia bem melhor. Mandei uma mensagem para ela e logo depois segui para o banho.

       Trinta minutos depois já estava tomando café com Milena, não conferi se Bella havia me respondido, peguei o celular e foi impossível controlar minha cara de boba.

- Ai minha glicose, essa hora da manhã e você e Isabella já estão na melação? Assim não dá. – Milena provocou.

- Milena se você quiser carona é bom ficar caladinha. – fulminei-a com o olhar.

         Ela apenas sorriu, logo depois seguimos para a empresa. Parei o carro em minha vaga vi que Benjamim também já estava ali, porém o carro de Bella não estava estacionado ali. Milena seguiu para sua sala, eu fui em direção ao escritório de Benjamim.

- Bom dia dona Larissa. – a secretária falou.

- Bom dia, você poderia me anunciar ao Benjamim? – perguntei me sentando em uma das poltronas ali.

- Claro, só um momento. - segundos depois já adentrava a sala do homem.

- Bom dia, vejo que está nervoso. – caminhava de um lado a outro da sala.

- Nervoso? Eu estou quase tento um treco, isso sim. – atirou-se em sua cadeira.

- Relaxe, vai dá tudo certo. Só vim aqui para dizer que o helicóptero está a sua disposição, se desejar ir agora, fique à vontade.  Já disse a Maísa que vai ter que passar o dia na construção?

- Sim, ela acreditou. Apesar de estar desconfiada, acredita que ela me perguntou se eu a trai?

- Acredito, mas vai dá tudo certo. Milena e eu vamos tomar conta lá da construção, qualquer coisa daremos uma enrolada nela, o que importa é que ela não está desconfiando de nada.

- É sim, mais uma vez muito obrigada por tudo. – falou me estendendo a mão.

          Me levantei da cadeira, caminhei até onde ele estava e lhe dei um abraço. Mal conhecia ele, mais já tinha um carinho e uma admiração imensa.

- Agora por favor se acalme e vá visitar seus futuros sogros.

           Me sorriu, saímos juntos de sua sala. Ele seguiu para o terraço e eu para minha sala. Mal cheguei e minha secretária já foi me avisando.

- Larissa, Dona Ingrid já ligou duas vezes, pediu que assim que chegasse fosse até a sala dela.

- Tudo bem, liga para ela e diz que daqui a meia hora irei encontrá-la.

          Entrei em minha sala, meu celular tocou era Milena.

- Lari, o material chega hoje na construção, não é? – perguntou.

- Sim, já ia te ligar, preciso que você vá verificar isso. Benjamim foi para a casa dos pais de Maísa e eu já fui intimada para a conversa com Ingrid. –suspirei.

- Tudo bem, só vou precisar do carro. Deixa a chave com sua secretária que pego daqui a pouco com ela.

          Me recostei na cadeira, desejei ver Bella nem que fosse por um segundo apenas. Não poderia fugir da conversa com Ingrid resolvi então encarar os fatos. Nem precisei ser anunciada a secretaria disse que ela já estava à minha espera.

- Olá Larissa, sentisse.

- Bom dia Ingrid. – sentei-me em sua frente.

- Essa não vai ser uma conversa fácil, não foi fácil quando a tive com seu pai. Bom, não irei ficar tomando seu tempo. Você sabe que antes do acidente eu estava decidida a deixar a meu cargo aqui na empresa?

- Sei sim.

- Pois bem, devido ao que aconteceu resolvi esperar até que você pudesse se tomar conta de tudo. A alguns anos já havia prometido a Giovana que deixaria de trabalhar. Creio que esse dia chegou.

- Eu entendo Ingrid, não nego que é uma perca irreparável não só para a empresa, mas para mim também. Meu pai sempre confiou cegamente em você, assim como eu confio.

- Fico feliz por saber que sou reconhecida pelo que fiz. Não pretendo ficar aqui mais que dois meses, ajudarei na escolha de alguém de minha confiança caso você não queira ocupar meu lugar.

- Não fui feita para ficar atrás de uma mesa, nós bem sabemos disso. – sorrimos com cumplicidade.

- Imaginei, tenho alguns nomes em mente para o cargo. Alguns até são meus amigos de longas datas. Ajudarei no que for preciso antes de sair.

- Obrigada Ingrid. Agradeço tudo o que você fez enquanto eu não estava em condições de tomar conta de nada.

- Você não tem o que me agradecer. Sempre tive grande admiração pelo seu pai, agora tenho por você. Bom acho que isso era tudo, darei alguns telefonemas e me informarei sobre os possíveis candidatos.

- Ótimo. Pode me manter informada, escolheremos juntas. Diga a Giovana que ela tem uma mulher maravilhosa.

- Claro, darei seu recado.

         Sai de sua sala, fiquei mais tranquila ao saber que ela me ajudaria na escolha de seu sucessor ou sucessora. Fui para minha sala, olhei alguns e-mails, analisei alguns projetos em andamento. Estava me sentindo sufocada ali, decidi então me juntar a Milena na construção. Já era quase 10 da manhã, Bella ainda não havia dado sinal de vida.

        Ao chegar no estacionamento me lembrei que não estava com o carro, peguei meu celular para chamar um taxi, logo apareceu a foto de Bella sorrindo.

- Já estava pensando que havia esquecido de mim. – falei dramática.

- Impossível meu amor, passei a manhã inteira resolvendo a rescisão do contrato de Maísa, logo que cheguei na empresa ela já estava aí.

- Eu entendo, como foi?

- Tudo certo, no começo o dono da agencia ficou meio furioso por estarmos tomando a funcionaria dele. O pagamento da quebra deve ser feito até 72 horas, o valor ficou em seis mil reais.

- Ótimo, quero Maísa como minha funcionaria ainda hoje se possível.

- Tudo bem meu amor, já estamos voltando para a empresa. Farei o contrato assim que chegarmos. Preciso desligar agora.

- Ok minha linda, beijos.

          O taxi chegou rápido, minutos depois já estava na construção, os caminhões com os materiais estavam sendo descarregados, olhei Milena que já estava com outra roupa, usava até tênis para ficar mais confortável, a partir de amanhã também teria que trazer outra roupa. Acenei para Milena que caminhou em minha direção.

- Agora você até parece Engenheira de verdade. – provoquei-a.

- Ei, eu sou engenheira, posso não está com o certificado em mãos ainda, mas já sou uma. – me mostrou a língua.

- Tudo certo com os produtos?

- Sim, tudo ok. Falei com um dos motoristas responsáveis, ele me disse que semana que vem outra remessa será entregue.

- Ótimo, teremos que correr contra o tempo, ainda quero entregar esse prédio no tempo determinado.

         Passamos o resto da manhã acompanhando os trabalhos, o dia estava sendo produtivo. Torcia para que continuasse assim até se encerrar o prazo, saímos para almoçar já eram duas da tarde. Como de costume comemos no restaurante que Benjamim havia nos levado. 

Fim do capítulo