Capítulo 22
Os Anjos Vestem Branco -- Capítulo 22
Quarta-feira.
Bruna entrou no quarto de Priscila e pulou em cima da irmã.
--Mana, estou indo até a praia, não sei que horas volto - beijou o pescoço dela e subiu até a orelha, deixando a garota toda arrepiada - Mana não pode sentir tesão pela própria irmã - passou a mão nos pêlos do braço da irmã que estavam ouriçados.
-- Palhaça. Segundo o dicionário arrepiar é: Uma reação de medo, espanto e susto.
-- Segundo o meu dicionário é: Quando você sente um calafrio ou... Tesão - deu mais um beijo na orelha de Priscila - Mana você sabe qual é o cúmulo do Arrepio?
-- Não.
-- Ver um banguela mordendo gilete - caiu na gargalhada.
-- Há, Há, Há. Muito engraçada - foi sínica - Vai fazer o que na praia?
-- Estava com vontade de esquiar, mas o sol derreteu toda a neve, mana - brincou.
-- Você está bem hoje, né mana. Está até me irritando com suas piadinhas sem graça - levantou e foi para o banheiro.
-- Estou bem sim. Só vim até aqui para avisar que vou sair e também que comi todo o bolo prestígio que tinha na geladeira. Beijão mana - saiu rindo, era o preferido da irmã.
-- BRUNA - berrou de dentro do banheiro.
Bruna encontrou Débora sentada no sofá com o seu tablet na mão.
-- Bom dia mãe - Beijo o rosto de Débora - Aonde está o papai?
-- Está no escritório - falou com um sorriso estranho nos lábios.
-- Vou lá dar um beijo nele - virou-se para sair, mas a mãe completou:
-- Ele deve estar arrasado - riu debochada - Levou um fora fenomenal da morena bonitona.
A loira parou na hora.
-- Sério? -- ela não demonstrava nenhuma expressão, o mesmo rosto impassível das outras vezes..., mas por dentro estava vibrando de alegria. Até sentia-se mal por estar sentindo-se assim enquanto o pai sofria. Porém, já havia sofrido tanto e não morreu. Com certeza o pai também não morreria.
-- Então acho melhor deixa-lo sozinho - colocou as mãos nos bolsos da bermuda e encarou a mãe - E vocês como ficarão agora?
-- Da minha parte ficarei torcendo para ele decidir ir embora. Agora da parte dele não tenho a menor ideia.
-- Que situação desagradável - olhou para o chão preocupada - Conversa com ele mãe. Talvez vocês possam chegar a algum acordo amigável -- olhou no fundo dos olhos da mãe, levou a mão até o coração e deu dois tapinhas - Ele não está bem. Não quero perder meu pai, mãe.
Débora ficou sem reação. Os olhos verdes da filha estavam rasos d'água. Olhos verdes e reluzentes. Os mesmos olhos de seu pai. Aqueles olhos que sempre conseguiam tudo o queriam dela. Suspirou fundo e como enfeitiçada por aqueles olhos tristes. Concordou.
-- Tudo bem filha. Vou conversar com ele - prometeu.
-- Obrigada mãe - saiu mais tranquila.
Bruna sentia-se um pouco melhor naquela manhã. Fazia alguns dias que sequer tinha vontade de sair à rua. Para ser mais exata, desde o dia do flagra do pai com a sua morena. Naqueles dias o coração só pedia paz e só queria ficar quietinho em um cantinho do quarto.
Bruna ficou muito feliz em saber que Victória havia tomado a decisão de terminar com o pai. Aquele relacionamento não tinha futuro. Por diversas vezes a própria morena havia dito que não amava Nestor. Viver sem ter amor não é viver. Essa atitude faria bem tanto para Victória como para o pai.
Atravessou a avenida e alcançou a faixa de areia da praia do Leblon. A loira sentiu calor e comprou uma água de coco. Sentou-se em uma cadeira do quiosque e aproveitou para relaxar.
Bruna ficou olhando para o mar como se esperasse um conselho. Colocou a mão dentro do bolso e de lá, tirou uma foto.
-- Tenho tanta saudade de você Vic - falou olhando para a foto toda amassada --Queria poder contar para alguém o que estou sentindo. Seria mais fácil de suportar - passou a mão tentando alisar o papel fotográfico, mas não tinha mais jeito.
Sorriu chegando à conclusão que certas coisas nessa vida não têm conserto. Guardou a foto no bolso. Mas outras tem. Concluiu o pensamento sorrindo. Levantou e foi fazer uma caminhada pela praia.
Ás 15:00 em ponto no Lesbar...
-- Em ponto não. Em pontíssimo - Sabrina esticou o braço e mostrou o relógio para Thiago - Agora esses dois, definitivamente não servem para agentes secretos.
-- Você tem toda a razão, já passam 30 segundos das 15:00 - Thiago jogou-se na cadeira ao lado de Sabrina.
Ricardo e Victória chegam juntos no bar.
-- Meu Deus, estou uma pilha. Me perdi umas três vezes na vinda para cá - Ricardo puxou uma cadeira para Victória e sentou em outra ao lado de Thiago.
-- Tenta manter a calma Ric. O nervosismo é o primeiro passo para o erro e nós não podemos errar meu amigo. Cada vez que lembro que o Nestor está enganando a Bruninha, fico com uma gana ainda maior de desmascarar ele - Victoria Cerrou os punhos.
-- Victória, ele aceitou numa boa? Não desconfiou de nada?
-- Se desconfiou, não deixou transparecer.
-- Que horas ele vem te buscar?
-- Ás 15:40. Vou me encontrar com ele em frente ao Shopping Leblon.
-- Thiago, o motoboy que você contratou?
-- Vai estar lá no meu apartamento só aguardando o momento de entrar em cena.
-- Ok. Então vamos Ric. É hora de entrarmos em ação - Sabrina levantou-se - Boa sorte Vic e tome muito cuidado.
-- Boa sorte para vocês meus amigos - Victória também levantou - Vamos.
Bruna chegou em casa e foi direto procurar Priscila.
-- Mana - Priscila estava no escritório analisando alguns documentos.
-- Fala Bruninha - levantou a cabeça para prestar atenção na irmã.
-- Vou até a Barra conversar com a Victória - parou por uns instantes para ver a reação de Priscila.
-- Mana, pensa bem - levantou e foi até a irmã - Pensa o quanto você tem sofrido.
-- É por isso mesmo mana. Eu não suporto mais essa distância. Eu não suporto ficar sem falar com ela - uma lágrima caiu dos seus olhos.
-- E o papai Bruna? - Passou a mão pelo rosto da garota.
-- Eles não estão mais juntos. Mamãe contou que ela esteve lá no Sontag e terminou tudo com ele. Devolveu o apartamento, o carro e até as joias - sorriu orgulhosa da atitude da morena.
-- Atitude louvável a dela - deu um sorriso amarelo - Olha meu amor. Você sabe que eu desde o começo fui contra o seu namoro com ela. Imagina depois que descobrimos tudo.
-- Eu sei mana, e não te culpo por isso -- esfregou as mãos - É que nunca tomei uma decisão sem que você me apoiasse - falou tímida.
Priscila segurou o rosto da irmã com as duas mãos, e olhou nos seus olhos com carinho. Aqueles olhos verdes transbordados de amor. De esperança e perdão.
-- Está esperando o que então mana? Vai atrás da sua felicidade.
Bruna levantou o olhar e deu um sorriso. Não falou mais nada. Deu um beijo demorado no rosto da irmã e saiu correndo com destino ao paraíso da Barra.
Na Barra.
-- Tem certeza que quer ficar aqui? Não vou muito com a cara do seu amigo bicha.
-- Não fala assim do Thiago Nestor - Victória mostrou-se chateada - Vamos entrar. Não se preocupe, ele está trabalhando.
-- Nesse caso, tudo bem.
Assim que entraram no apartamento Victória largou o seu celular e a chaves sobre a mesa de centro, jogou a bolsa no sofá e foi até o pequeno bar.
-- Sente e fique à vontade, vou preparar algo para bebermos - Victória estava nervosa. Precisava agir rápido.
-- Como você pôde sair do apartamento que morava para vir morar nesse cubículo?
-- Estou feliz aqui Nestor. Vivo entre amigos - entregou um dos copos de bebida a ele e sentou ao seu lado no sofá.
-- Quem são esses amigos? A Bruninha por um acaso é uma dessas suas amizades?
Victória gelou.
-- Claro que não. De onde você tirou essa ideia?
-- Suposições meu amor. Somente isso - puxou a morena para junto dele - Fiquei surpreso com o seu chamado. Sabia que me chamaria, mas não tão cedo - deu uma risada debochada.
-- Porque você não tira esse paletó para ficar mais confortável - usou e abusou de seu poder de sedução.
-- Entendi, entendi - tirou o traje, colocou no encosto do sofá e olhou para a morena com desejo.
Victória levantou e estendeu a mão para ele.
-- Venha comigo - pediu e ele obedeceu - Vamos conversar lá no quarto.
-- Essa é a minha morena - entrou no quarto e sentou na cama - Vem logo Vic. Vamos recuperar o atrasado - puxou ela pela mão.
-- Espere um momento - afastou-se para longe - Vou ligar o som e buscar mais bebidas.
-- Tudo bem, mas vê se não demora. Estou louco para ter você em meus braços - tirou os sapatos e deitou na cama.
Victória saiu rápida do quarto. Encostou a porta e correu até aonde estava o paletó de Nestor. Revirou os bolsos, até que encontrou o crachá.
-- Já estou indo - falou da sala.
Abriu a porta sem fazer barulho e olhou para fora. O motoboy estava aguardando no corredor encostado na parede, sabe-se lá há quanto tempo. Coitado. Victória entregou o crachá na mão dele e entrou.
Preparou as bebidas e voltou para o quarto.
-- Porque tanta demora? - Perguntou irritado.
-- Estava pensando - precisava enrolar o máximo possível.
-- Meu Deus Victória. Eu aqui louco para trans*r com você e você pensando sei lá no que - sentou demonstrando toda a sua impaciência.
-- Estava pensando em nós dois. Em como perdemos tempo - falou olhando para o copo em sua mão.
-- Você está brincando comigo Victória?
No estacionamento do Hospital Sontag, Ricardo e Sabrina estavam desesperados.
-- Como ele está demorando -- Sabrina andava de um lado para outro - Será que aconteceu algo? Será que ele desconfiou? Ou quem sabe ele não levou o crachá no bolso, como de costume.
-- Acho difícil. Até no centro cirúrgico ele leva aquele crachá - cruzou os braços apertados.
-- O jeito é esperarmos o motoboy - Sabrina sentou no capô do carro.
-- Sabrina, para ganharmos tempo, faremos o seguinte: Fica aqui esperando o rapaz enquanto eu vou providenciar o seu crachá de visitante. Quando ele chegar, pega a encomenda e vai rápido até a recepção. Estarei te esperando.
-- Beleza Ric. Vai lá então.
Sabrina esfregava as mãos nervosa. Estava preocupada com Victória. Com certeza o coroa iria tentar trans*r com ela. Conhecia pouco da morena, mas tinha certeza que ela iria negar até o fim. E esse era o grande perigo. Qual seria a reação do doutor diante de uma recusa dessa?
O ruído de uma moto se aproximando a fez desviar de tais pensamentos.
-- Finalmente - pulou do capô e foi ao encontro do motoboy - Percebeu algo de errado no apartamento?
-- Aparentemente tudo tranquilo - o rapaz entregou o crachá para Sabrina - Vou indo então.
-- Valeu cara. Bom trabalho - fez um gesto de tchau e caminhou em direção a entrada do Sontag.
Na Barra Victória continuava enrolando Nestor.
-- Eu não sou nenhum idiota Victória. Desembucha - levantou e foi até a janela.
-- Está certo. Vou falar a verdade - queria ganhar tempo, mas não sabia o que falar - Eu resolvi te convidar para vir até aqui hoje, com a intensão, de tentar novamente.
Nestor se aproximou e abraçou Victória pela cintura.
-- Que boa notícia - beijou o seu pescoço.
-- Mas... - a morena desvencilhou-se dos braços do médico e correu para a sala.
-- Mas o que mulher? - Foi atrás dela e ficou parado a sua frente.
-- Definitivamente não consigo mais Nestor - ele estava a centímetros dela.
-- Você realmente não tem noção do perigo sua...
Victória foi salva pelo celular de Nestor.
-- Vamos terminar essa conversa já, já - falou para Victória e saiu em direção ao quarto - Fala Borges...
No Sontag, Sabrina e Ricardo andavam a passos longos pela recepção.
-- Droga, esse elevador nunca está aqui quando precisamos - Ricardo tremia.
-- Calma Ric, tudo vai dar certo. MAS QUE MERDA DE ELEVADOR!
Algumas pessoas que passavam naquele momento olharam assustados para ela.
-- Que ótimo. Acho que até o doutor Nestor te ouviu agora - Ricardo revirou os olhos - Isso é porque não queremos chamar a atenção.
-- Chegou. Vamos logo - empurrou o rapaz para dentro do elevador - Parece um velho resmungão. Qual o andar?
-- O décimo.
Sabrina apertou o botão e apoiou-se na parede do elevador. Lá dentro o silêncio estabeleceu. O único barulho a ser ouvido era da respiração dos dois.
-- Está ouvindo esse barulho Sabrina? Sou eu tremendo.
-- Bicha covarde.
-- Sapatona louca.
-- Bambi...
Abriu a porta. Décimo andar. Saíram rápido e deram de cara com uma zeladora.
Ricardo olhou para Sabrina e falou calmamente:
-- Todo esse andar é reservado para os diretores - apontava para as plaquinhas nas portas - Essa sala aqui é a do doutor Salgado.
-- Coitado desse médico, nunca vai poder atender hipertensos.
KKKKKK, riram muito. A mulher continuava alí esfregando o chão.
-- E essa aqui quem é? -- apontou para a plaquinha com o nome da Bruna - Deve ser uma baita de uma fresca. Letrinhas douradinhas.
-- Essa é a herdeira dos Sontag - Ricardo fez referência curvando-se para frente.
-- Deve ser uma patricinha chata, isso sim.
A mulher empurrou os dois, fez uma careta feia para eles, passou um paninho na plaquinha e saiu empurrando o carrinho em direção ao elevador.
-- Puxa saco - Sabrina esperou ela se afastar. Foi até o final do corredor e conferiu se estava tudo certo - Tranquilo Ric podemos entrar.
Ricardo pegou o crachá do bolso e passou no dispositivo da porta.
-- Beleza, está aberta...
Quando se preparavam para entrar, a porta do elevador se abre e doutor Felipe sai dele.
-- Droga. Já era - Sabrina lamentou-se.
-- Desejam algo? - Perguntou lá de longe.
-- Es-tou- mos-tran-do... - Ricardo gaguejava tanto que levaria um dia para falar uma frase.
-- Esse andar é restrito aos diretores - falou grosso - Acho melhor encerrarem a visita por aqui - cruzou os braços e encarou Ricardo.
Na Barra da Tijuca.
-- Interessante - Nestor colocou a mão no queixo como se parasse para pensar -- Borges estava me contando que você e seus amigos estavam reunidos em um bar no Leblon. É isso mesmo?
-- É isso mesmo. O Thiago trabalha lá - sorriu tentando mostrar tranquilidade - Cheguei mais cedo e resolvi tomar um drink. Algum problema nisso?
-- Não. Claro que não - aproximou-se da morena com um sorriso maligno nos lábios.
Victória tentou afastar-se, mas foi impedida por Nestor que segurou em seu braço com certa violência.
-- Você me chamou até aqui para me fazer de bobo?
-- Já expliquei. Queria tentar mais uma vez - tentou puxar o braço.
-- Então vamos tentar - ele deu uma risada e empurrou Victória com força no sofá.
A morena olhou para ele assustada. Nestor nunca havia a tratado assim com tamanha agressividade.
-- EU SINTO NOJO DE VOCÊ - Victória berrou - EU AMO A BRUNA.
Instantaneamente, a sua expressão transformou-se totalmente. O seu rosto estava transtornado de raiva, os seus olhos estavam vermelhos. E como um animal enfurecido, partiu para cima de Victória.
Enquanto isso no Sontag.
-- Doutora Débora essas planilhas estão prontas, só falta a sua assinatura.
-- Passa para cá que assino tudo e você já encaminha para o financeiro - a médica pegou os documentos e começou a analisar um a um.
No corredor.
-- Sabrina, o doutor Felipe já participou de mais cirurgias que o Fred de jogos no Fluminense - Ricardo estava a meia hora elogiando o cardiologista.
-- Ricardo, só faltou você falar que eu uso cueca de bolinhas e durmo com uma ceroula com a cara do Ursinho Puff - o médico estava irritado.
-- Serio doutor? Que dez - Sabrina bateu palminhas - Que fofo.
-- Agora vamos descer. Lá embaixo tem coisas mais interessantes para a doutora Sabrina conhecer - virou e começou a caminhar em direção ao elevador.
Na Barra.
-- Sua vagabunda. Fique longe da minha filha - jogava Victória de um lado para outro, desferiu alguns tapas com toda a força pelo seu corpo.
-- Me larga. Eu vou gritar - ameaçava ofegante.
-- Você vai gritar sim - jogou a morena sobre o sofá - Mas de prazer - com agressividade puxou a blusa dela até rasgar.
Victória se debatia, mas não conseguia se livrar de Nestor. E como por milagre a campainha tocou. Fazendo com que o homem pulasse de cima dela com rapidez e ódio.
-- Se você abrir a boca, te mato - e saiu em direção a porta.
Fim do capítulo
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