Capítulo 21
Os Anjos Vestem Branco -- Capítulo 21
Victória saiu do elevador no décimo andar. Agora faltava pouco, mais alguns passos pelo luxuoso corredor e estaria no seu destino. Aquele andar era reservado a diretoria, por isso era difícil de ver alguém transitando por alí. Tremia dos pés à cabeça, mas não desistiria. Agora que a merd* já estava feita, teria que ir até o fim.
A todo o instante olhava para trás. Sentia que a qualquer momento seria pega e expulsa do prédio como uma criminosa. Conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Quantas vezes, durante o plantão, Nestor a chamava inventando um motivo qualquer e trans*vam alí mesmo sobre a enorme poltrona disposta no canto da sala. Seu estomago embrulhou com essa lembrança. Sorriu diante de uma plaquinha de identificação cor ouro, muito linda fixada na porta de uma das salas, escrito: Dra. Bruna Sontag. Definitivamente não combinava com a simplicidade de sua loirinha.
Deu mais alguns passos e parou diante da porta, antes de abri-la. Colocou a mão na maçaneta e começou a abrir lentamente.
-- VICTÓRIA!
Ouviu uma voz de homem chamar seu nome de forma bem agressiva.
-- Borges? - ficou nervosa e olhou para ver se tinha mais alguém em volta.
-- Não entre nessa sala se não foi convidada -- ele aconselhou se aproximando com passos lentos e cautelosos.
Victória percebeu que a intenção dele era de detê-la mesmo que fosse a força. Não pensou duas vezes, abriu a porta e jogou-se para dentro.
Nestor estava sentado em sua cadeira conversando com doutor Felipe. Ao ver Victória levantou-se rapidamente e caminhou ao seu encontro.
-- Victória. Que surpresa! - tentou pegar na mão da morena, mas ela fugiu do contato.
Borges entrou logo atrás com os olhos arregalados.
-- Tentei avisar doutor, mas o senhor não atendia ao celular.
Nestor olhou ao redor a procura do aparelho e não o avistou.
-- Está Tudo bem Borges. Pode ir agora.
-- Como vai Victória? - doutor Felipe beijou o rosto da morena e virou-se para Nestor entregando-lhe uma pasta - Esses são os resultados dos seus últimos exames. Guarde com você.
-- Claro Felipe - Nestor pegou a pasta e colocou na gaveta.
Depois que doutor Felipe saiu, Nestor encostou a porta e virou-se para Victória sorrindo.
-- Estou feliz por lhe ver, mas preferia que fosse em outro local - estava nervoso.
-- Não se preocupe serei direta e rápida - estendeu para ele a bolsa grande de cor amarela que trazia consigo.
-- O que é isso? - ele pegou a bolsa e olhou fixamente nos olhos dela.
-- Vim devolver todas as joias que você me presenteou nesses dois anos. As roupas ficaram no apartamento. Faça o que quiser com elas. Sugiro que doe a alguma instituição de caridade. A chave do apartamento e do carro estão aqui - jogou o molho de chaves sobre a mesa.
-- Você não pode estar falando sério - pegou no pulso da mulher usando de força excessiva que a fez gem*r.
-- Nunca falei tão sério em minha vida Nestor - puxou o braço -- Aceite a realidade, meu Deus! Entenda que não quero mais, passou, acabou.
-- Me diga o que posso fazer para você desistir dessa ideia?
-- Eu não te amo...
-- Se deixa de amar de um dia para o outro?
-- Não acontece de um dia para o outro. Na verdade um pouquinho a cada dia - Victória simplesmente estava cansada daquela conversa. Quantas vezes ainda teria que explicar? Passou as mãos pelo rosto e continuou, buscando manter a paciência - Quando você casou com Débora, você a amava?
-- Claro - respondeu sem entender aonde ela queria chegar.
-- E quando foi que deixou de ama-la? -- o encarou sem expressão, sem nenhum tipo de sentimento.
-- Sei lá... Alguns anos atrás... Não sei... - suspirou -- Acho que na verdade nunca a amei -- confessou -- Escuta Vic, não quero falar sobre a Débora.
--Não estamos falando sobre a Débora. Estamos falando sobre nós -- analisou o rosto de Nestor e continuou -- Quando o amor é verdadeiro ele não acaba nunca...Ou se ama para sempre ou nunca se amou...-- virou-se para sair.
-- Então você nunca me amou de verdade... Era tudo mentira Vic?
-- Eu pensava que te amava. Às vezes os sentimentos se confundem e o que pensamos que era amor... Com certeza não é amor - abriu a porta.
Nestor colocou a mão no peito.
-- Não estou me sentindo bem - falou com expressão de dor - Chame o doutor Felipe.
Victória titubeou, pensou, e olhando para Nestor, sentiu pena.
-- Quando passar pela recepção peço para alguém chamar o doutor Felipe para você -- sacudiu a cabeça de um lado pro outro - Adeus Nestor. Seja feliz.
A morena finalmente saiu da sala, fechou a porta atrás de si e encostou-se nela. Respirou fundo e sorriu aliviada como se estivesse fechado em definitivo a porta do seu passado.
Na Barra, Bruna continuava a sua angustiante vigília. Sentava na moto, levantava e dava uma volta ao redor dela, sentava novamente. Estava de saco cheio. Cansada de esperar, colocou o capacete. Quando estava ligando a moto, viu um veículo estacionar à frente do prédio. Era Ricardo. O rapaz saiu do carro assoviando, travou as portas, colocou as mãos nos bolsos e entrou todo faceiro.
Minutos depois foi a vez se Sabrina chegar. Bruna desceu da moto e ameaçou correr até ela. Parou sem saber o que falaria, afinal de contas estava alí escondida.
Aquela traidora estava debandando para o lado deles. Provavelmente estava passando informações dela para Victória. Pensou.
Irritada voltou para a moto e a ligou. Já estava saindo quando avistou um taxi parar próximo de onde estava. Disfarçou, deu a volta e escondeu-se depressa atrás de uma árvore.
Bruna sorriu encantada e admirada. Era ela. Tão poderosa, linda e maravilhosa naquele lindo vestido azul. Pode perceber que o motorista não parava de olhar para ela. Sentiu vontade de ir até lá e dar uns belos golpes de MMA no safado.
Victória pagou a corrida e deu uma olhadinha ao redor. Bruna encolheu-se toda para não ser vista. Depois disso a morena entrou rapidamente no prédio sem olhar para trás.
A loira ficou ali parada sentindo-se sozinha, triste, desolada. Olhava para a portaria, como se a morena a qualquer momento pudesse voltar correndo e pular em seu pescoço a enchendo de beijos como sempre fazia.
Finalmente aceitou a realidade cruel e indigesta e foi embora para o Leblon.
No apartamento de Thiago.
-- Sabrina. Que surpresa - Victória estranhou a presença da amiga de Bruna.
-- Precisava conversar com Ric, mas já que estão presentes... Quem sabe poderão dar alguma ideia - Sabrina estava sem saber o que fazer.
-- Fala aí Sabrina - Ricardo sentou no sofá de frente para a garota.
-- Olhem só que louco - curvou o corpo para frente - A doutora Débora está desconfiada que a doença cardíaca do doutor Nestor não passa de uma farsa para enganar a Bruna.
-- Gente, que horror - Thiago estava horrorizado - Isso é nojento.
-- Mas isso é fácil de se verificar - Ricardo teve o mesmo pensamento que Sabrina teve anteriormente.
-- Se você está pensando em analisar os exames, pode ir mudando o plano. Também pensei em fazer isso e dona Débora também.
-- Porque não? - Ric estava curioso.
-- Sumiram do sistema e você sabe como o Sontag é rigoroso com relação a liberação de exames do arquivo.
-- Claro, são documentos sigilosos que dizem respeito tão somente aos pacientes.
Victória sentou ao lado de Sabrina no sofá.
-- Que safado! Eu havia desconfiado, mas essa ideia me parecia tão baixa, tão inescrupulosa que descartei - pensou por um tempo -- Como eu posso ter me enganado tanto com uma pessoa que parecia tão boa e honesta?
-- Não foi só você Vic. Eu também achei essa história inacreditável quando a Pri e a mãe dela me contaram.
-- Calma aí pessoal. Não vamos julgar sem provas. Tudo o que temos até agora são suposições, desconfianças baseadas em que? - Ricardo levantou e deu uma voltinha pela sala - Precisamos de algo concreto.
-- O doutor Felipe conhece Nestor há 20 e poucos anos, imagina se ele não encobriria as mutretas do amigo - Victória levantou em um pulo, como se lembrasse de algo importante - Péraí, péraí - bateu três palminhas - A pouco estive no Sontag para conversar com o Nestor...
-- O que você fez? - Thiago perguntou assustado - Eu não acredito que você esteve lá Vic.
-- Precisa ir Thiago. Precisava devolver a chave do apartamento e do carro. Sem contar nas joias valiosas que ele havia me presenteado ao longo desses dois anos. Não sou do tipo que termina relacionamentos através de whatsapp ou por telefonema. Tem que ser assim, ao vivo e a cores, teti-a-teti. Mas bah tchê - bufou - Posso continuar?
-- Pode. Mas que chinoca brava - Thiago sentou emburrado - Só fiquei preocupado.
-- Continua Vic - Sabrina pediu ansiosa.
-- Então. Quando entrei na sala, o doutor Felipe estava conversando com o Nestor. Antes de sair ele entregou uma pasta que continha os resultados dos últimos exames realizados.
-- Que dez. Pensei que eles tinham eliminado as provas. Então ainda temos uma chance - Sabrina comemorou.
-- Há tá e como iremos colocar as mãos nesses exames? - Ricardo sentou no braço do sofá em que Thiago estava.
-- É verdade. Ele guardou dentro da gaveta de sua mesa - Victória fez uma expressão desanimada.
-- A gente vai ter que entrar lá e roubar essa pasta - Sabrina falou toda cheia de si.
-- Fácil assim? Ouvindo você falar até parece que é o James Bond - Ricardo debochou.
-- Boa ideia. Eu sou o James Bond e você é o Ethan Hunt de Missão Impossível. O nome vai ser: Operação Safena.
-- Sabrina, eu não sou a Bruninha - Ricardo cruzou os braços - Só ela mesmo que aceita participar dos seus planos mirabolantes. Tô fora.
-- Poxa Ric, contava com a sua ajuda - falou decepcionada.
-- Se fosse possível entraria com você Sabrina - Victória estava triste por não poder ajudar.
-- Você já nos deu uma grande ajuda Vic. Agora ao menos sabemos por onde começar.
-- É isso mesmo Vic, começamos pela sala do Nestor e terminamos na cadeia.
-- Ai Ric, que melodrama. Você poderia ao menos tentar meu amor. Alguém tem que ser a cabeça pensante nessa operação - Thiago passou a mão pelos cabelos do jovem médico.
-- Você acha? -- ele perguntou sorrindo, todo derretido com aquelas palavras de Thiago.
-- Claro - olhou para Sabrina que lhe deu um sorriso maligno.
Ricardo pigarreou e finalmente disse:
-- Precisaremos de um plano e que Deus nos proteja - fez o sinal da cruz.
No Leblon...
Bruna entrou na cozinha e sentou em um balcão próximo de onde Marga cozinhava. Pegou uma banana e descascou.
-- Marga conversa comigo? - perguntou com voz de menina mimada.
-- Agora não posso Bruninha. Estou preparando a janta - continuou a mexer nas panelas.
-- Se você não conversar comigo eu vou me suicidar - a mulher nem olhou -- Marga olha para mim - enfiou a banana inteira na boca.
-- Meu Deus!!! Menina - a pobre mulher quase morreu de susto --Tá bom eu converso - foi até o fogão, desligou os botões e sentou em uma cadeira.
-- Marga. Quando eu era criança, uma amiguinha fez aniversário e convidou todas as crianças do bairro para a festa. Menos eu - contou triste - Chorei tanto Marga - Planejei tantas maldades. Pensei até em enviar brigadeiros com purgantes de presentes para ela. Com isso causaria uma grande dor de barriga naquelas crianças remelentas e com isso; Adeus festa. Mas, acabei não enviando...
-- Ainda bem que pensou bem e não fez isso - levantou e voltou para o fogão.
-- Bem, na verdade não consegui o purgante - falou pesarosa.
-- Que horror Bruninha - voltou a concentrar-se na janta.
-- Hoje eu senti a mesma coisa Marga. Fui tomada pelo mesmo sentimento.
-- Não te convidaram para uma festa meu amor? - Marga virou-se para encara-la.
-- Não - abaixou a cabeça e brincou com as próprias mãos - Queria tanto estar lá com eles - pulou do balcão e saiu da cozinha.
Na Barra.
-- Sei não Sabrina. Não gostei da participação de Victória nesse plano.
-- Será necessário Thiago. Eu quero ajudar. Se Nestor está mesmo enganando a Bruna ele merece ser desmascarado e eu faço questão de estar na primeira fila assistindo a sua queda.
-- Você tem certeza disso Victória? - Sabrina não queria piorar ainda mais a situação da morena.
-- Absoluta. Pode ficar tranquila Sabrina. Estou feliz em ajudar.
-- Esse plano de vocês me parece muito arriscado. Tome muito cuidado Riquinho - Thiago juntou as mãos em prece.
-- Tomaremos, meu amor. Então estamos combinados - Ricardo levantou - Nos encontramos quarta-feira as 15:00 no Lesbar.
-- Vamos conferir os nossos relógios - Sabrina sugeriu.
-- Eu nem uso relógio - Thiago fez bico.
-- Meu Deus Sabrina... - Ricardo levantou os olhos como se alcançasse o céu.
No Leblon.
Priscila entrou na cozinha esbanjando felicidade.
-- Que cheirinho maravilhoso Marga - abriu uma panela, fechou os olhos e aspirou forte.
-- É estrogonofe de camarão. Fiz especialmente para a Bruninha. Tadinha. Ela está tão deprimida.
-- Agora fiquei magoada Marga. Poxa, só a Bruna ganha comidinha especial.
-- Hoje ela merece. Fizeram uma festa e não convidaram ela. A menina está arrasada.
-- Aonde foi essa festa?
-- Aqui no prédio. Veio gente de toda a cidade.
-- Só pode ter sido aquela piranha da Néia do sexto andar. Vou quebrar a cara dela - saiu em direção a porta.
Assim que Priscila saiu Sabrina chegou.
-- Marga aonde está todo mundo?
-- Bruna está lá no quarto chorando e a Priscila foi tomar satisfação com a piranha da Néia do sexto andar.
-- Caramba e eu perdendo tudo isso. Vou lá ajudar a Pri - virou para Marga e comentou exibida - Eu luto MMA, sou o bicho - saiu apressada.
-- O que é isso MMA? - a empregada perguntou pra si mesma.
Mais tarde...
-- Não precisava chegar daquele jeito Sabrina, você parecia o Kung Fu Panda.
-- A gente tem que chegar assim: Impondo respeito. Tá ligada?
-- Tô ligada e quase presa também, sua louca - deu um tapa no braço de Sabrina.
Chegaram na cozinha e encontraram Bruna comendo o seu estrogonofe de camarão.
-- Olha só que lindo. A gente brigando com a vizinha por causa dela e ela aqui devorando um prato de estrogonofe - Sabrina sentou e puxou um prato vazio para perto - Que bom que você não perdeu a fome bebê.
Bruna deu de ombros e continuou a comer.
-- Que vergonha que passei mana. Fui tirar satisfação com a Néia por ela não ter te convidado para a festa de aniversário dela e ganhamos o maior corridão.
-- A Néia faz aniversário em agosto e eu não faço questão nenhuma de ir.
-- Que festa foi essa que não te convidaram? Fala que a Brina vai lá dar umas porr*das nessa pessoa - Sabrina beijou a cabeça da loirinha.
-- Não vou contar mais nada para você Sabrina. O que me garante que você não vai sair contando os meus segredos por aí?
-- Credo Bru, tá me estranhando?
-- Não duvido de mais nada. Sabe aquela história?
Três amigas estavam conversando sobre intimidades. Resolvem contar cada uma o seu segredo mais cabeludo.
A primeira diz: Sou adúltera!
A segunda diz: Sou sapatona!
E a terceira morrendo de rir diz: Sou fofoqueira Kkkkkk.
Risos. Menos de Sabrina, que só mostrou a língua.
-- Agora falando sério mana. Você volta quando a trabalhar no hospital da Barra?
-- Semana que vem - levantou - Tomara que até lá o meu animo tenha voltado - foi até a porta e de lá se despediu -- Vou dormir. Boa noite - e subiu para o quarto.
-- Estou achando a Bruna tão estranha Pri.
-- Também estou achando. Fico pensando Brina, se realmente estivermos certas com relação ao papai, a Bruna vai sofrer ainda mais.
-- Com certeza, mas, mesmo assim precisamos descobrir a verdade e desmascarar ele.
Sabrina tinha razão. A verdade pode às vezes machucar e por mais que seja cruel, é melhor que ela seja dita.
Fim do capítulo
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