A sexta-feira chegou, Roberta estava animada para ir ao trabalho e ansiosa para que o dia passasse rápido para que ela pudesse ir ao aeroporto buscar um casal de amigos de Tocantins que ela havia conhecido no intercâmbio e que viriam visitá-la. Já fazia mais de um ano que eles não se viam e ela estava muito feliz em poder revê-los e principalmente, por saber do motivo da visita dos dois.

Os amigos, César e Arthur, viriam para conhecer uma criança que poderia se tornar filho deles. Quando César ligou para contar a novidade, ela pode perceber o quanto ele estava feliz, era a primeira vez que eles haviam sido chamados para conhecer uma criança e pelo entusiasmo e descrição dele, eles acreditavam que seria a última, pois se tornariam pais do menino “do sorriso mais lindo do mundo”, como César descreveu.

Como sexta era o dia de ir confortável ao trabalho, Roberta nem abriu a parte do closet onde ficavam os terninhos e escolheu uma calça jeans, uma regata e uma camisa colorida para colocar por cima, pois teriam uma mini festa em comemoração ao dia das crianças na empresa no período da tarde. Olhou no espelho, gostou do que estava vestindo e resolveu complementar, prendendo seu cabelo com uma trança e escolheu um par de brincos lindos. Enfim, estava pronta!

-       Olá Roberta! Quanto tempo que eu não te vejo.

-       Mateus, oi! Como assim quanto tempo, nós nos vimos segunda-feira. Respondeu já aborrecida para o rapaz a sua frente.

-       É que mais de um dia sem te ver já é muito tempo para mim e você hein, guardou na cabeça nosso último encontro...

-       Mateus, nós trabalhamos juntos, claro que eu me lembro da reunião da qual participamos. – Aiiiii que cara insuportável, como é que eu pude pensar em sair novamente com ele? Pensou consigo.

-       Pois é, mas também fazemos outras coisas juntos, não é mesmo? Estou com saudade, que tal a gente repetir a dose hoje a noite?!

-       Mateus, olha lá o que você fala no nosso ambiente de trabalho. Hoje tenho compromisso, pode deixar que quando eu quiser “repetir a dose” eu te ligo.

-       Calma Roberta, ninguém ouviu nada e também, eu não ligo se alguém souber que estamos juntos...

-       Aiii Mateus, juntos?! Nós não estamos, nem estivemos juntos! Respondeu Roberta, não deixando ele terminar de falar.

-       Porque você não quer.

-       Que seja! Olha Mateus, preciso ir aqui, tenho muita coisa para fazer antes do almoço.

-       Tá bom, vai lá linda...vou esperar você ligar.

O rapaz se aproximou, deu um beijo, um abraço, que para Roberta demorou tempo demais, e foi embora. Roberta ficou uns segundos parada e resolveu se dirigir para a cozinha, buscar um café.

-       Que abusado! Pensou alto.

-       Quem é abusado Robets?

-       Ai Camis, o Mateus! Acredita que ele veio falar comigo agora todo assanhado?!

-       Aff, que preguiça desse idiota. Sério Robets, me diz... ele é tão bom de cama assim para compensar o jeito esnobe dele?

-       Camila! Roberta fingiu revolta. Isso é pergunta que se faça?

-       Claaaaro que é e, não enrola, responde logo.

-       Beeem mais ou menos, viu! Falou fazendo cara de enfado.

-       Robets, então minha teoria bem que estava certa! Já vou ligar para o meu estagiário e marcar um encontro de casais, para você conhecer algum amigo dele... você está precisando dar, minha amiga, para não correr o risco de cair na carência e sair novamente com o idiota do Mateus.

-       Camis, será que você pode falar mais alto?! Acho que quem está no primeiro andar não conseguiu ouvir.

-       Claro que posso, Robets! Geeenteee, a Robets precisa d...

-       Sua ordinária, cala a boca!

-       Ahahaha, também te amo.

-       Besta!  Não esquece que temos que sair um pouco mais cedo hoje para buscar o Cé e o Tutu, viu?!

-       Pode deixar, hoje está tranquilo para mim e já avisei meu gato que só vou pegá-lo mais tarde.

-       Olha só, tá sério isso aí, hein?!

-       Sabe que ele é muito mais legal do que eu imaginei? Eu queria só sex*, confesso, mas gosto da companhia dele e por ora é isso, estou te ouvindo e deixando acontecer.

-       Nem vem querer me culpar pelas suas maluquices, Camila!

-       Você acha maluquice?

-       Não boba, estou brincando... se você está feliz e satisfeita, tem mais é que aproveitar.

-       Ownn Robets, vem cá me dá um abraço.

-       Só um? Que triste!

As duas se abraçaram e ficaram mais um tempo na cozinha, tomando café e conversando, até que resolveram voltar ao trabalho e se encaminharam cada uma para sua respectiva sala. Roberta começou a trabalhar e nem viu o tempo passar, se deu conta de que horas eram quando um dos colegas bateu em sua sala a chamando para irem para a cobertura, onde seria a festa de dia das crianças.

A festa estava animada, os funcionários estavam empolgados com as músicas, alguns até ensaiaram uma coreografia para as músicas do Balão Mágico. A gerente do RH estava distribuindo brinquedos para fazer bolha de sabão, todos estavam se divertindo e levando com bom humor as brincadeiras.

Quando deu cinco horas, Roberta e Camila se despediram e se dirigiram ao aeroporto para encontrar o casal de amigos.

-       Camis, o vôo deles acabou de pousar, vamos até o portão de desembarque.

-       Vamos!

Não demorou muito para que os amigos saíssem pelo portão de desembarque.

-       Loiro gostoso! Camila gritou para Arthur.

-       Vidaaaaa! Respondeu o amigo, correndo para abraçá-la.

-       Robets, vira e anda, vamos fingir que não conhecemos estes dois. César disse, abraçando Roberta.

-       Ai Cé, se a gente fizer isso é perigoso esses dois correrem atrás da gente gritando.

-       Verdade! Que linda que você está, amore.

-       Verdade, vida! Você está deslumbrante. Foi a vez de Arthur abraçá-la e César fazer o mesmo com Camila.

-       Então gatos, me digam onde será a nossa balada hoje? Camila disse animada.

-       Camis, eles acabaram de desembarcar e você já quer levá-los para a balada?!

-       Adoooro! Respondeu Arthur animado.

-       Tem coisas que não mudam nunca, Robets. César falou rindo.

-       Verdade, Cé. Bom, antes de irmos para balada que tal irmos para casa para deixar as malas e papear?

-       Demorou! Responderam em uníssono.

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Eram 5h40 da manhã, quando Laís estranhamente despertou e não conseguiu mais dormir. Resolveu levantar e tomar seu banho, ela não entendia o motivo mas estava se sentindo ansiosa e já que não chegou a uma conclusão do que poderia estar causando isso, resolveu se distrair e  tentar esquecer. Foi à academia do prédio e correu por cerca de uma hora, era sempre assim, quando se sentia angustiada ou ansiosa, ela corria e, como mágica, sentia a angústia e a ansiedade irem embora a cada passada. Voltou para o seu apartamento, tomou banho e se arrumou para ir ao trabalho.

Como todas sextas-feiras, o clima no trabalho era descontraído, café da manhã com a equipe e nada de vestimenta formal, não bastasse isso, essa sexta-feira trazia o gosto especial de ser véspera de feriado prolongado, todos estavam animados e contavam para seus colegas os planos para o fim de semana prolongado.

-       E você senhorita Laís, o que fará no feriado? Perguntou, João, gerente de compliance.

-       Ah João, ainda não sei, provavelmente ficarei em casa hibernando.

-       Sem essa, Laís, ninguém merece ficar neste calor hibernando em casa. Vamos pra chácara da Marina com a gente?! Rachamos as despesas e fica tudo certo.

-       Isso mesmo, vamos conosco! Silvinha gritou do outro lado da mesa.

-       Ai gente, eu adoraria, mas não estou no clima e só de pensar em enfrentar o trânsito de ida e volta de feriado eu já me canso.

-       Poxa, Laís! Você está doente? Até onde eu sei você não era tão velha assim...

-       Ahahaha, obrigada João, pela parte que me toca e só pra constar, velha é a senhora sua namorada.

-       Eiiiii, me deixa fora dessa! Silvinha gritou novamente e os três riram.

-       Tem certeza que não quer mesmo ir?

-       Tenho sim, João... prometo que na próxima eu acompanho vocês, mas agora eu preciso mesmo é descansar e organizar as coisas em casa.

-       Fazer o que?! Mas da próxima vez você nem tente inventar desculpa.

-       Pode deixar, sem desculpas e vocês, divirtam-se por mim.

-       Isso você nem precisa pedir. João finalizou.

O restante da manhã foi tranquilo e quando olhou no relógio, Laís percebeu que já era hora de ir. Se despediu das poucas pessoas que ainda estavam na empresa e foi embora. Ao chegar em casa, percebeu que o amigo não estava, foi até a cozinha pegar água e encontrou um bilhete dele dizendo que havia decidido ir para a casa dos pais e, por isso, ficaria o fim de semana fora. Por um momento ela se arrependeu de não ter aceitado o convite dos colegas de trabalho, pois apesar de querer descansar, ela também não esperava passar o fim de semana totalmente só.

Repeliu o arrependimento, abriu uma garrafa de vinho e se permitiu ficar um tempo no sofá assistindo uma série. Estava concentrada quando seu celular tocou.

-       Pronto.

-       Olá gata, é a Ana. Tudo bem?

-       Oi Ana, eu sei que é você, afinal, quem mais me chamaria assim?! Tudo bem e com você?

-       Muito melhor agora!

-       Ahaha, ai Ana, desembucha, a que devo a honra da sua ligação?

-       Viu só, já acha uma honra eu ter ligado, logo logo estará em apaixonadinha por mim... Calma! Tô brincando. Eu liguei pra te lembrar, caso tenha esquecido, da comemoração do meu aniversário logo mais na Aster...

-       Nossa, Ana! Hoje é seu aniversário?! Meus parabéns! Desculpa não ter lembrado de imediato. Disse constrangida.

-       Tranquilo, gata, só você me recompensar com muitos beijos hoje a noite e tá tudo certo.

-       Ahahaha, nem nos seus sonhos.

-       Poxa, nem como presente de aniversário?

-       Muito menos!

-       Tá bom, tá bom... enfim, mas eu posso confirmar sua presença, certo? A maior parte das meninas do time estarão lá.

-       Ai Ana, tô tão cansada... não sei se serei uma boa companhia para vocês hoje.

-       Poxa, Lá... quando te convidei você disse que iria, é meu aniversário, gostaria tanto de poder comemorar com você.

-       Eu sei, Ana. Você tem razão, eu vou sim... vou tomar um banho pra relaxar e mandar o cansaço embora e encontro com vocês mais tarde.

-       Agora sim vi vantagem, já te convenci a ir, agora só falta te convencer do quanto é bom me beijar.

-       Ana, você não tem jeito.

-       Só pra descontrair... então fechou, hoje às 23h na Aster.

-       Combinado, estarei lá.

-       Não esquece dos meus beijos, quer dizer do meu presente.

-       Pode deixar, Ana... não esquecerei, até mais tarde, beijo. Laís riu e desligou o telefone.

Olhou para o relógio e percebeu que já eram 21h, foi direto para o banho, depois de terminar, escolheu um vestido preto e curto com mangas ¾ e decote nas costas que ia dos ombros até a sua cintura, fez uma maquiagem marcante, com olhos pretos e batom vermelho, nos pés colocou um sapato de salto dourado, arrumou seu cabelo de forma que seus ondulados naturais ficassem mais evidenciados, olhou-se no espelho e gostou do que viu. Pegou suas chaves e se dirigiu a Aster, a balada GLS mais famosa de São Paulo.

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 Roberta estava se sentindo um pouco deslocada, era a quarta vez que uma mulher chegava nela e Camila tinha que salvá-la dizendo que era sua namorada e engrossava a voz se fazendo de ofendida por estarem chavecando “a sua mulher” como ela insistia em dizer, só pra ver Roberta mais constrangida do que já estava.

-       Camila, não tem a menor necessidade de você me agarrar e ficar falando essas coisas da gente.

-       Olha, Tutu! Que ingrata essa nossa amiga, eu aqui ajudando ela se livrar das barangas que querem bulina-la e é assim que ela me paga. Tudo bem, vou deixa-la se livrar sozinha da próxima engraçadinha.

-       Pois é vida, muita ingratidão para uma só pessoa. Arthur concordou fazendo drama.

-       Não, Camis! Pode continuar, tá ótimo assim. Roberta respondeu desesperada e os amigos riram.

-       Robets, não entra na pilha destes dois, sabe que drama é com eles mesmo. Quando alguém chegar em você é só deixar claro que não está interessada e ponto, no mais curta a música, esse ambiente fantástico e se joga!

Foi o que ela resolveu fazer, aos poucos foi se soltando, bebendo, curtindo a música, aproveitando a companhia dos amigos e até aprendeu a se esquivar das cantadas que recebia. Após dispensar uma moça a qual ela não viu problema em aceitar o convite para dançar, resolveu ir até o bar e pegar outra cerveja, atravessou metade do caminho quando avistou um rosto conhecido em uma mesa só de mulheres, sorrindo de uma forma tão linda que ela não conseguia parar de observar. Só quando a moça virou o rosto e seus olhos se encontraram é que ela, após encarar a moça por uns instantes desviou o olhar e continuou seu caminho em direção ao bar.

Em seu pensamento, Roberta não conseguia parar de refletir em como o destino parecia estar brincando com ela, afinal como era possível encontrar alguém que até então era uma desconhecida em tantas vezes em tão pouco tempo?! Pra ela era inacreditável que a poucos metros, Laís se encontrava tão descontraída e tão linda. Meu Deus, o que são aquelas pernas e aquele sorriso?! Pensou enquanto tomava um gole de sua cerveja, inerte e tomando fôlego para voltar onde seus amigos estavam.

Fim do capítulo