Capítulo 18
Os Anjos Vestem Branco -- Capítulo 18
Na Base do Samu...
Doutor Valdomiro entrou apressado na sala aonde Bruna e uma enfermeira estavam conversando animadamente sobre trabalho.
-- EMERGÊNCIA. VAMOS - berrou já correndo em direção a USA.
As sirenes e o giro flex foram ligados. Em instantes o condutor já colocava a ambulância na rua. Ele fazia umas manobras de zig-zag em meio ao congestionamento. Os motoristas jogavam os carros para o meio fio, subiam nas calçadas abriam passagem como podiam para que a USA pudesse prosseguir em meio ao trânsito pesado.
Dentro da ambulância, a equipe estava alheia a todo esse rastro de carros atravessados, deixado com a passagem do veículo de emergência. E, até mesmo a rota era desconhecida. Quando pararam em frente ao prédio e arrastaram a maca para fora, foi que Bruna percebeu aonde estavam.
Entraram no prédio empurrando a maca e foram direto para o elevador.
-- Quinto andar - Valdomiro fez um gesto para que Bruna apertasse o botão.
Ela apertou o botão vermelho e jogou-se contra a parede, apoiando-se na mesma. Suas pernas estavam bambas seu coração acelerou prevendo algo de ruim.
Quando a porta do elevador abriu, anunciando que haviam chegado ao quinto andar, todos correram. Bruna deu um passo para fora, suas pernas não obedeciam e, quando conseguiu dominar-se, andou vagarosamente, sentindo as pernas pesarem toneladas.
-- Apartamento 17. Vamos gente - Valdomiro abriu a porta e entraram no apartamento com uma maca flexível nas mãos.
Quando Bruna chegou a porta, viu seu pai caído no chão e Victória ao seu lado chorando. Nada precisava ser dito, ela já havia entendido tudo.
Seu mundo naquele momento caiu, ontem ele era lindo... Colorido... De repente tudo escureceu, tornou-se opaco. Uma lagrima rolou do seu olho.
Victória assim que viu Bruna, levantou surpresa.
-- Bruna? O que faz aqui? Porque está chorando? - estava atordoada, sem entender o que estava acontecendo - Fala Bruna - pegou no braço da garota.
-- Me larga - puxou o braço - Nunca mais encoste a sua mão em mim -- sacudiu um dedo próximo ao rosto da morena - Era esse o namorado que você falava? Um homem casado? Namorado - deu uma risada irônica - Um amante, isso sim. Você não o amava, porque estava com ele então? - seu cérebro parecia ter sido colocado para bater em um liquidificador, de tão bagunçado que estava, não conseguia raciocinar direito. Olhou para o pai ainda estirado no chão e de volta para a morena -- Se o meu pai morrer, a culpa será toda sua...
Victória, então entendeu a infeliz e desastrosa coincidência. Caiu no choro.
-- Pai... - ajoelhou-se ao lado de Nestor - Paizinho... - passava a mão pelo rosto do pai.
-- Deixa com a gente, Bruna -- Valdomiro e os demais profissionais da equipe, realizavam os procedimentos necessários.
-- Calma Bruna, vamos leva-lo para o Sontag - Valdomiro prendia Nestor na maca - Atenção: Um, dois, três -- saíram correndo, levando a maca e Nestor inconsciente para a viatura.
Bruna parou na porta e olhou primeiro para o apartamento, depois para Victória.
-- Pensei que tivesse encontrado meu amor, que tivesse encontrado a mulher da minha vida - chorava muito - Pena que meu pai te encontrou primeiro. Você morreu pra mim Victória e eu... morri para o mundo!
Bruna saiu correndo e Victória?
Victória revoltada consigo mesma, começou a quebrar tudo dentro do apartamento. Deu um grito de dor, jogou-se ao chão e se pôs a chorar desesperadamente.
No Hospital Helena Sontag...
Quando Priscila e Sabrina chegaram ao hospital, encontraram Bruna sentada em uma cadeira com as mãos entre as pernas, com o olhar perdido no nada, disperso e sem brilho.
-- Bruninha - Priscila sentou na cadeira ao lado - O que houve? Como está papai? - olhou para a roupa da irmã - O que você faz com esse macacão do Samu?
Bruna evitou o olhar da irmã, passou a mão pelos cabelos e levantou.
-- O papai teve um infarto, mas, segundo o doutor Felipe, ele está fora de perigo - suspirou fundo - Conversa com ele - virou as costas e saiu em direção à rua.
Bruna estava tão arrasada que não conseguia sequer falar.
-- Bruninha... Mana - Priscila chamava, mas a irmã sequer ouviu.
Confusa, a garota saiu caminhando pela areia fofa da praia. Não queria ver ninguém. Na verdade queria desaparecer, mas sabia que não conseguiria fugir sem que a perseguissem até encontrá-la.
Como que pode, em tão pouco tempo as coisas perderem a razão, o sentido.
"Meu coração sangra, esvazia-se, não desse sangue vermelho.
Esse que corre em minhas veias
Sangra amor
Começo a sentir frio, meu corpo treme, estou com medo.
Meu corpo ainda está de pé, mas temo não estar viva.
Vegeto a procura do amor perdido
Não adianta
A navalha corta o músculo, vejo o brilho do alumínio
Dar lugar a um vermelho negro, agora é certo... ele pára
E eu também..."
Arturo Angelin
Pela manhã...
Thiago olhava ao redor. Deu alguns passos pela sala, catou uma coisinha aqui, outra alí. Estava difícil de achar algo inteiro.
-- Vic, vamos para o meu apartamento. Aqui não vai dar para você ficar.
-- Me deixa Thiago - estava deitada no sofá abraçada a uma almofada.
-- Mundo pequeno esse, meu Deus. Eu bem que achei aqueles olhos verdes bem familiar - o rapaz caminhava pelo apartamento com as mãos entrelaçadas na nuca - Como poderia imaginar que a filha do dono do maior hospital privado do país, trabalhava em um hospitalzinho público na Barra.
Victória continuava em silêncio.
-- Me corta o coração te ver assim mona - Thiago sentou no sofá e colocou a cabeça da gaúcha sobre as suas pernas.
-- Dói tanto Thiago - não conseguiu segurar o choro.
-- Não se entregue a dor meu amor, porque ela um dia vai passar.
-- Eu a amo tanto... Queria dizer isso para ela.
-- Ela sabe gaúcha. O problema aqui não é falta de amor. A Bruna apesar de moderninha é toda certinha, cheia das moralidades. Ela já criaria caso quando soubesse que o seu namorado era casado, imagina sendo esse cara o pai dela.
-- Thiago, liga para o Ric, tenta descobrir algo - levantou do colo do amigo e secou as lágrimas dos olhos com as mãos - Como ela está? O que está fazendo?
-- Vic - Thiago pegou na mão da amiga com carinho - Dá um tempo pra ela. A menina deve estar arrasada, tadinha.
Victória olhava com os olhos vermelhos.
-- Se você realmente a ama vai ter que reconquista-la. Vai ter que matar essa Victória aí, capacho de milionário, Barbie morena da Tijuca e ressurgir como uma Victória poderosa, forte, batalhadora. Do tipo: Aqui quem manda sou eu, loira - rodopiou pela sala.
Victória sorriu.
-- Talvez demore um pouco. Ela deve estar muito machucada - sentou novamente - Mas vale a pena.
-- Tudo bem. Você está certo, mas mesmo assim quero saber dela - fez bico - Quero saber de todos os passos dela, Thiago.
-- Isso não vai ser problema. O meu médico do amor parece um chiclete, me manda um WhatsApp de cinco em cinco minutos - sorriu feliz.
-- Que bom Thiago. Cuida bem dele. Você não imaginava o quanto dói perder o amor da sua vida? - abaixou a cabeça triste.
No Hospital Sontag...
-- Priscila, me poupe... - Débora estava indignada com a filha.
-- Mãe, como eu poderia imaginar que a Bruninha havia descoberto tudo.
-- Você conhece tão bem a sua irmã, como não percebeu? - estava nervosa - Eu não posso sair daqui agora. Alguém vai ter que ficar com o seu pai - sentou em sua cadeira - Apesar de eu achar que ele é um baita de um safado mentiroso.
-- Eu e a Sabrina vamos atrás dela. Acho que sei aonde ela pode estar - voltou da porta - Mãe, também acho a mesma coisa do papai - falou isso e saiu.
Sabrina esperava Priscila no estacionamento.
-- E aí Pri? - foi ao encontro da amiga. Estava preocupada.
-- Vamos até a Barra. Temos que encontrar a Bru urgente - entrou no carro apressada.
No quarto aonde Nestor estava internado.
Doutor Felipe, cardiologista, conversava com o amigo paciente.
-- Nestor, uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade - falou sério.
-- Não tive outra opção, meu amigo - ajeitou-se melhor na cama - Victória estava decidida a terminar comigo.
-- E você acha que essa sua ceninha vai trazer o que em troca? O amor, que acho que ela nunca sentiu, ou pena? Que acho que é, o que ela irá sentir.
-- Ela me ama, eu sei disso, eu sinto - arrancou alguns fios que o prendia aos aparelhos - E tem outra: Ela irá viver de que jeito? Sou eu quem banco a vida de mordomia dela.
-- Aí aí aí, mein gott - o cardiologista perdeu a paciência - E a Bruninha?
-- Pois é. Minha filhinha não merecia saber da verdade dessa forma. Receio não conseguir nem olhar para ela de vergonha.
-- Mas vai ter. A qualquer momento ela entrará por essa porta pedindo uma explicação. Esteja preparado - estava saindo mas, lembrou de algo - Uma coisa me intriga. O pessoal do Samu não desconfiou do seu teatro?
-- Você nunca ouviu dizer que o dinheiro compra tudo? - sorriu debochado.
-- Já, mas também ouvi dizer que ele não compra a paz e nem o amor de uma mulher.
Na Barra da Tijuca.
Sabrina e Priscila conversavam com o porteiro do prédio aonde Victória morava.
-- A dona Victória saiu com o seu Thiago a mais ou menos uma hora. Ela estava com uma mala, parecia que ia viajar.
As duas se olharam surpresas.
-- Estranho Pri. - coçou a cabeça pensativa -- Vamos ligar para o Thiago - pegou o celular do bolso e ligou.
Depois de alguns minutos estavam entrando no apartamento do rapaz.
-- Podem entrar e acho melhor sentarem, pois a conversa vai ser longa - apontou para o pequeno sofá.
-- A Bruna não está com vocês? - Priscila deu uma olhada pelo apartamento procurando a irmã.
Victória entrou na sala.
-- Aonde está a Bruna? - perguntou assustada.
-- Não sei. Pensei que você soubesse - Priscila ficou preocupada - Ela sumiu desde a madrugada. Não atende o celular, estou começando a ficar desesperada.
-- Calma Priscila - Sabrina abraçou a amiga - Vic, a Bruna, na noite passada saiu atender uma ocorrência com o Samu e acabou descobrindo que o pai tem uma amante.
-- Eu sei... - hesitou - Precisamos conversar - sobre o que fazer, optou por dizer a verdade, contar tudo e pedir perdão...
No Sontag...
-- O que faremos agora Nestor?
-- Calma Débora. Porque tanta pressa? Não vê a hora de sentar em minha cadeira, não é mesmo?
-- Digamos que tenho planos bem interessantes se caso assumir a presidência.
-- O que te faz pensar que a Bruninha irá ficar do seu lado?
-- Eu tenho uma forte aliada. Eu tenho a Priscila. A Bruna escuta mais a irmã do que nós dois juntos.
-- Veremos então - deu de ombros.
-- Seu prestigio caiu muito diante do que aconteceu ontem, meu querido Nestor. Inclusive nossa filha sumiu e sequer ligou para perguntar se você está vivo ou não.
-- E você está aí, nessa tranquilidade. Deveria estar procurando por ela.
-- Priscila e a Sabrina a estão procurando. Reze para que nada de mal aconteça com a minha filha, porque se não, além de eu tirar a presidência, tirarei também a sua vida - caminhou até a porta - Vou para casa, pelo que vejo já está muito bem. Até melhor do que eu.
Na Barra da Tijuca...
-- Quando a sua mãe descobriu, o clima no hospital ficou insustentável - falou olhando para Priscila, mas ela não a olhava.
-- O Ric e a Adriana não trabalhavam ainda no hospital nessa época? - Sabrina era quem fazia as perguntas.
-- Não. Eles devem ter entrado algum tempo depois.
-- Caracas. Tadinha da minha amiguinha - Sabrina levantou e colocou as mãos nos bolsos da calça - Preciso encontrar minha loirinha.
-- Por favor, Sabrina, ela deve estar arrasada - Victória levantou e foi até Sabrina.
Priscila que até aquele momento estava quieta, revoltou-se e foi até Victória.
-- Arrasada? Você acha que arrasou com a vida da minha irmã? Você a destruiu. Ela te ama como louca - partiu para cima da morena, mas foi contida por Sabrina - Como você se sentiria se descobrisse que a mulher que você ama, trans* com o seu pai?
Victória chorava. Sentia-se a pessoa mais suja do mundo.
-- Vamos Priscila - Sabrina a puxava em direção a porta - Temos que procurar a Bruna.
-- Minha vontade era de te dar a maior surra, mas não vale a pena.
-- Vem Priscila - Sabrina saiu arrastando a garota porta afora.
Victória foi para o quarto e jogou-se na cama. Thiago continuou sentado em silêncio no sofá.
Sabrina e Priscila estavam dentro do carro sem saber por onde começar.
-- Bravinha você hem? - Sabrina batucava com as pontas dos dedos no volante do carro.
-- Você não viu nada. Deixa acontecer alguma coisa de grave com a Bruna para ela ver - jogou a bolsa com força no banco de trás - E toca logo para o Leblon.
-- Credo, que agressividade - ligou o carro e partiram em direção à zona sul.
Fim do capítulo
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LavinneBella
Em: 10/10/2015
Nossa,que pai heim...credo
torcendo aqui por Sabrina e Priscila,desenvolve ai autora :)
ansiosa pelo próximo.
Resposta do autor:
Ok Lavinne, amanhã tem mais. Bjã querida.
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Srta Petrova
Em: 10/10/2015
Nossa coitadinha de Bruninha.....meu Deus agora que a ansiedade me matara mesmo.
Muito bom o capítulo.....alias amo a história toda.
Resposta do autor:
Obrigada Siflima. Um FDS dez para você. Muita luz. Bjã.
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