Capítulo 17
Capitulo 17
-- ABAIXEM... ABAIXEM -- foi o que deu tempo de Eduarda berrar antes que o carro fosse alvejado por disparos de arma de fogo.
Os ocupantes do carro que vinham logo atrás assistiram horrorizadas a cena cinematográfica do carro de Eduarda capotando por diversas vezes até parar em um canteiro da Rodovia.
Pararam o carro e correram até o Pajero destruído. Sheila corria e ligava para os paramédicos. Tremia tanto que mal conseguia falar. Roberta foi quem tomou a frente e forçou a porta dianteira do lado de Claudia.
-- O que aconteceu? - A advogada estava abobada, assim como os demais ocupantes.
-- Um carro emparelhou com o de vocês e disparou vários tiros - Roberta também abriu a porta traseira para Rafaela sair.
-- Eddie? - Jorge sacudiu o namorado que resmungou um tudo bem.
-- Duda? - Claudia virou a garota que estava caída para o lado - Duda... Dudinha fala comigo amor... - a advogada desesperou-se ao ver que Eduarda tinha sangue pelo corpo inteiro - Não me assusta meu anjo - beijava o rosto da menina - Jorge ajuda pelo amor de Deus.
Jorge quando viu Eduarda naquele estado caiu de joelhos aos prantos. Ela deveria ter recebido uns três ou quatro tiros, não se conseguia saber devido à quantidade de sangue que ela perdia.
Os minutos que se seguiram foram de pânico. A ambulância demorava. Jorge andava pelo acostamento com as mãos na cabeça, gritando e chorando.
-- NÃO, MINHA IRMÃZINHA NÃO... EDDIE... - Eddie não tinha forças para consola-lo, pois chorava ajoelhado no chão. O bartender também sangrava, havia sido atingido no braço.
Claudia e as demais meninas estavam em choque e só choravam. Rafaela sentou próxima de Eduarda que tinha os olhos abertos, mas não falava nada. Passou a mão pelo seu rosto todo ensanguentado.
-- Não faz isso com a gente Dú - Rafaela tinha o rosto banhado pelas lagrimas - Não fecha os olhos - passava a mão ao redor daqueles olhos lindos que agora estavam cinza.
Eduarda em um último esforço puxou a mão de Rafaela e colocou em seu peito.
-- Escuta... -- falava arrastado.
-- Não fala... -- Rafaela implorava aos prantos.
-- Preciso... Os cãozinhos - apertava a mão de Rafaela com tanta força que chegava a machucar - Idosos... um surfista - saía muito sangue pela boca.
Rafaela pegou uma roupa qualquer que estava jogado no banco do carro e limpou seu rosto.
-- Rafa... - tossia muito - Ajuda.
-- Ajudo sim meu anjo - beijou sua testa.
A arquiteta não entendia o que tudo aquilo significava, mas mesmo assim prometeu. Pensaria mais tarde sobre isso.
Depois que falou essas coisas Eduarda sorriu e fechou os olhos como se não aguentasse mais mantê-los abertos.
Jorge no desespero abraçava a menina e a chamava.
-- DUDA NÃO VAI, NÃO VAI... IRMÃZINHA... QUEM VAI ME CHAMAR DE JORGETE? QUEM VAI CONTAR PIADA SEM GRAÇA? - todos choravam. Eduarda parecia sem vida nos braços do amigo.
A ambulância chegou e os paramédicos desceram correndo do veículo. Usaram o desfibrilador várias vezes na tentativa de reverter o quadro. Os amigos de Eduarda choravam mais ainda assistindo aquela cena. Estavam tão acostumados com ela sempre fazendo palhaçadas que aquilo tudo parecia mais uma brincadeira.
Caíram na real quando os paramédicos a colocaram na ambulância e saíram às pressas em direção ao hospital mais próximo.
Olharam um para o outro sem saber o que fazer. Jorge e Rafaela com a roupa toda suja com o sangue de Eduarda.
Jorge sentou na beira da Rodovia e chorou, chorou como uma criança. Rafaela e Claudia sentaram ao seu lado atônitas.
-- Quem avisa o Sr. Eduardo? - um olhou para o outro.
-- A secretária para assuntos aleatórios da Duda - Aline falou virando os olhos. -- Todos olharam para Roberta.
-- Secretária? Rafaela estava pasma.
-- Eduarda tem tantos funcionários fantasmas que um a mais ou a menos não vai fazer diferença - Sheila comentou maldosa.
-- Vou fazer meu serviço então. Onde ficou o celular da Eduarda.
-- Procura lá no carro. Deve estar caído em algum lugar - Claudia levantou para ajudar Roberta a procurar.
-- Caramba olha como ficou a porta do carro - Aline passava a mão pela porta toda furada de bala.
-- Ela mandou a gente abaixar por isso só ela foi atingida - Claudia estava inconsolável.
-- Quem faria uma maldade dessas com a nossa menina né Eddie? - Jorge voltou a chorar.
-- Não faço ideia. Alguém mais está machucado?
Claudia tinha um corte na testa, Jorge uma possível luxação no cotovelo, Rafaela um corte na cabeça e Eddie sangrava no braço devido a uma bala ter passado de raspão.
-- Uma segunda ambulância chegou ao local para levar os demais ocupantes do carro para o hospital.
Em poucos minutos o lugar estava repleto de carros de polícia e curiosos.
Algumas horas depois no hospital...
Tanto Eduardo como os avós de Eduarda estavam desesperados. A menina era tudo pra eles, viviam para ela. Quando o médico apareceu na sala informando que tudo o que estava ao alcance deles havia sido feito e agora só restava esperar. Pela segunda vez o mundo havia desabado para aquela família. Eduarda estava em coma e seu estado era gravíssimo.
As horas se arrastavam, os médicos avaliavam a possibilidade de outra cirurgia. Uma das balas causou lesões no fígado e no diafragma, antes de ficar alojado no tórax, o primeiro procedimento cirúrgico não removeu a bala, que segundo os médicos não oferecia risco. O segundo tiro raspou seu peito logo abaixo do coração e penetrou profundamente em seu braço direito. O terceiro atingiu o abdômen e esse é o que causou maiores problemas, pois ocasionou uma perda enorme de sangue, sutura de baço e peritoneal.
-- Eles vão realizar mais uma cirurgia - Eduardo foi até o grupo de amigos que aguardavam por noticias - Essa vai ser mais demorada. Acho melhor vocês irem para casa descansar.
-- Eu não vou - Jorge estava bicudo.
-- Vocês dois vão ter que ir em casa trocar essas roupas - apontou para Jorge e Rafaela.
-- Eu não vou deixar ela aqui Eddie, nesse lugar horrível - Eddie consolava o namorado que chorava sem parar.
-- Ele tem razão Jorge. Depois nós voltamos. Vamos Rafa com a gente.
E com muito custo convenceram Jorge a ir para casa.
Dois dias depois...
-- Quando a gente vai poder ver ela? - Claudia estava ansiosa aguardando uma chance de entrar na UTI.
-- Não sei mona. Só Eduardo entrou e mesmo assim rapidamente.
-- Ele está tão desanimado. Parece ter perdido a esperança - Claudia sentou em uma das cadeiras da sala de espera.
-- Não tiro a razão dele. Eu mesmo a cada hora que passa fico mais angustiado. Tenho vontade de entrar lá a força e sacudi-la até ela acordar - Claudia riu do amigo ele estava sentido mais do que ninguém a falta de Eduarda. Eram inseparáveis e se amavam de uma maneira tão doce e verdadeira que chegava ao exagero.
A polícia investigava o caso, mas até o momento não haviam evoluído em nada.
O carro usado pelos bandidos no dia do ataque foi encontrado abandonado alguns quilômetros à frente.
Uma semana depois...
Rafaela estava em casa sentada no sofá ouvindo uma música leve e bebendo uma taça de vinho. Tentava relaxar um pouco tinham sido dias difíceis. Eduarda estava em coma a uma semana. Teve que driblar Kenedy todos esses dias para poder estar mais perto dos amigos. O namorado era interesseiro e via a preocupação da arquiteta pela saúde da garota como um investimento para o futuro. Por isso apoiou as suas idas quase que diárias ao hospital. Tudo estava passando em câmera lenta, ou melhor, praticamente parando.
A empresa estava em funcionamento graças a ela, por que se dependesse de Eduardo fechava de vez. A boate, paixão de Eduarda, nem abria mais. Se não fosse por Roberta as coisas poderiam estar bem pior. A irmã havia tomado frente de tudo. Cancelou shows, pagou fornecedores, funcionários e resolveu assuntos que Eduarda havia deixado pendentes, Claudia, Eddie e Jorge só choravam, não tinha animo pra mais nada. Estava orgulhosa da irmã. Esse era outro assunto que deixou pra conversar com ela mais tarde. Em que momento a loira havia contratado a irmã?
Rafaela foi até o quarto pegou o notebook e o pedaço de papel aonde havia anotado as ultimas palavras que Eduarda falou naquele dia.
-- Cãozinhos, idosos e um surfista? - Rafaela não conseguia chegar a lugar nenhum. Pesquisou no Google e nada. Pegou a bolsa e saiu.
-- Oi mana. Pensei que não viesse hoje - Roberta foi ao encontro de Rafaela.
-- Precisava conversar com Jorge.
-- Eles foram tomar um café na cantina do hospital. Logo voltam. Você não quer entrar um pouco pra ver ela?
-- Posso?
-- Claro. Levo você até lá - levou a irmã até a porta da UTI e depois retornou a sala de espera.
Rafaela assim que viu Eduarda levou um susto. Eram tantos fios conectados ao corpo da garota e tantos aparelhos ligados que assustava.
Chegou próximo dela e beijou sua testa.
-- Eu sei que está me ouvindo e deve estar debochando por eu estar chorando - as lagrimas corriam pelo seu rosto molhando os cabelos loiros da menina - Mas eu precisava te falar uma coisa muito importante. Naquele dia que falei em te deixar a pé e sem bombinha, eu estava blefando. Nunca faria isso, apesar de achar que merecia - passava a mão com carinho pelo rosto pálido de Eduarda - Outra coisa, vê se me dá uma luz, não estou conseguindo decifrar esse enigma que você me deixou.
Nesse instante Rafaela se lembrou da tatuagem. Foi até o posto de enfermagem e chamou uma enfermeira.
-- Eu preciso que me ajude. Gostaria de ver a tatuagem que ela tem nas costas - a cara que a enfermeira fez quase matou Rafaela de vergonha - Não é o que esta pensando.
-- Não pensei nada - riu debochada, mas ajudou Rafaela virando um pouco Eduarda para que ela lesse o que estava escrito.
-- Obrigada - sorriu sem graça - Agora tenho que sair Dú - Dú... riu de si mesma, que coisa mais Jorge. Beijou o rosto da garota e saiu.
Os três mosqueteiro já haviam voltado da cantina e estavam conversando na sala de espera.
-- Minha deusa, que surpresa - Jorge percebeu que Rafaela havia chorado - Tudo bem?
-- Nunca pensei um dia ver Eduarda desse jeito. Apesar dela só pensar em me sacanear.
-- Esse é o jeito Eduarda de viver mona.
-- Jorge aonde ela costumava surfar?
-- No Arpoador. Ela tem muitos amigos por lá inclusive alguns já estiveram por aqui.
-- E aquela tatuagem de cachorrinho o que significa?
-- Quando você viu aquela tatuagem Rafa? - Jorge arregalou o olho.
-- Outra hora te conto, mas não fica imaginando besteiras ok? - beijou o amigo e foi para casa.
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Dois rapazes conversavam sentados em um banco de frente para o mar. Rafaela se aproximou deles receosa.
-- Bom dia - os dois olharam Rafaela de alto a baixo.
-- Bom dia gata - falaram juntos.
-- Algum de vocês por um acaso conhece Eduarda Jeser? - os dois caíram na gargalhada. Rafaela estava a ponto de tirar a sandália e cravar o salto na cabeça dos dois.
-- Caramba a loira tá pegando esse mulherão - um falou para o outro.
-- Aquela criança dá conta disso tudo - apontou para o corpo da arquiteta.
-- Só não vou cometer um crime porque você deve ter alguma informação que me interesse, aliás, torça para isso.
Os dois caíram na gargalhada novamente.
-- Quando ela sair do hospital vou pegar umas aulas com ela. Cara como ela consegue - secou as lagrimas do olho - Fala o que você quer morena.
-- Eduarda tem alguém em especial aqui no Arpoador?
-- Hí, não sei de nada. Já a vi com várias garotas, mas gata vou te dizer uma coisa: nenhuma delas chega aos teus pés.
-- Não estou atrás dos casos da Eduarda. Quero saber se ela tem algum amigo, homem ou mulher em especial.
-- Quando vem aqui o primeiro lugar que ela chega é lá no Point do Perebinha - apontou para um barzinho legal do outro lado da rua.
-- Obrigada. Graças a essas importantes informações você não apanhará de mim - sorriu.
-- Ei. Não conta pra loirinha que a gente implicou com a namorada dela, se não ela vai vir aqui e bater em nós - caíram na gargalhada de novo.
Tudo tipinho Duda. Rafaela pensou.
O barzinho era bem aconchegando, muitas mesinhas, a decoração como não poderia deixar de ser era toda sobre surf e os frequentadores a maioria loiros falsos cabeludos e depilados. Sentou em uma mesa e aguardou ser atendida.
-- Olá, o que deseja? - uma moça muito bonita veio anotar o pedido.
-- Um suco de tutti-frutti, por favor.
A moça anotou o pedido e saiu. Rafaela aproveitou para observar tudo ao seu redor. Alguém chamou pelo tal Perebinha e um rapaz de pelo menos uns trinta e oito anos com uma criança no colo e mais duas correndo atrás foi ao encontro dele. Conversaram por alguns minutos e depois Perebinha retornou ao balcão. A moça retornou com o suco.
-- Escuta eu precisava conversar com o Perebinha - a moça olhou assustada.
-- Ele é meu esposo. Por favor, moça se é algo a respeito do pagamento eu te imploro que espere só mais um pouquinho - falou tudo de uma só vez.
-- Não, não. Eu vim falar sobre a Eduarda.
-- A Duda? Aconteceu algo com ela? - a moça empalideceu.
-- Nada de novo. Ela continua em coma.
-- Graças a Deus está viva. Ela é o nosso anjo sabia? Vou chamar o meu esposo.
A moça levantou e foi até o marido. Falou algo para ele e apontou para onde estava Rafaela. Perebinha deu a criança para a esposa e foi falar com ela.
-- Com licença - sentou - Em que posso ajudar - o rapaz parecia abatido.
-- Meu nome é Rafaela. Posso estar enganada em ter vindo lhe procurar, mas precisava tentar.
Rafaela contou sobre o pedido de Eduarda e a promessa que fez. Perebinha prestou atenção em tudo o que a arquiteta contou e chorou em saber que a menina mesmo em um momento tão delicado havia se lembrado do amigo.
-- Não sei por que não me surpreendo com isso - continuava chorando - Dudinha é um doce, eu e minha família devemos muito a ela. Estou sofrendo demais com tudo isso. Não estou preocupado com o que irá acontecer comigo se ela vier a morrer e sim porque não quero perder a minha aluna preferida - chorava muito, levantou e foi buscar algo para beber.
-- Me diga o que ela queria. Por favor, fale a verdade, não me esconda, eu tenho que fazer exatamente o que ela iria fazer se não houvesse acontecido o ataque.
-- Estou para ser despejado desse local, telefonei para Eduarda um dia antes da tragédia. Ela disse que voltaria no dia seguinte e resolveria tudo para mim. Não me entenda mal, por favor, não sou um aproveitador. Amo aquela menina, ela é madrinha de todos os meus filhos e eles também a amam muito. Conheço-a desde os dez anos de idade... -- chorou tanto que a mulher veio consola-lo.
-- Não vim até aqui para te julgar Perebinha. Vim aqui cumprir a minha promessa e realizar o desejo dela. Qual é o valor da hipoteca?
Perebinha buscou os papeis do banco e mostrou para ela. O valor era realmente altíssimo, mas quem seria ela para discutir sobre isso.
-- Me dê um minutinho - pegou o celular e ligou para Claudia - Preciso que você providencie um valor bem alto da conta da Eduarda - passou o valor para Claudia - Daqui a pouco te explico tudo. Beijo - encerrou a ligação.
-- Perebinha vou levar esses papeis e passar para a advogada da Eduarda ela vai resolver tudo para você - levantou e abraçou o homem - Daqui alguns dias a Dú vai vir aqui, tenho fé nisso, ai você agradece a ela pessoalmente - foi embora e deixou o surfista chorando.
Rafaela estava feliz, primeiro por ter ajudado aquela família, segundo por haver cumprido uma das promessas que fez a loirinha.
Fim do capítulo
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