– Como a Kátia demora, oh God! – reclamei, enquanto olhava meu Facebook sem atenção. Meus pensamentos estavam centrados na única coisa que eu perseguia obsessivamente desde aquela manhã.

“Aquela vadia...”

Abri um sorriso, pensando na sensação que eu vou ter quando ela baixar a cabeça para mim. Aquilo me deu um ânimo devastador, como se um fogo percorresse meu corpo... Uma imagem daquela garota de cabeça baixa, nos meus pés, na posição mais humilhante apareceu nos meus pensamentos, me fazendo sorrir ainda mais.

“Ah... Mal posso esperar...”

– Nanda! – a voz da Kátia me assustou, lembrando que eu estava sentada em um banco de praça e me acordando para a realidade. – Nanda!

– Fala logo! – gritei, impaciente. Kátia parou, me olhando séria. Como se pensasse no que queria dizer. Nessas horas eu preferia que ela dissesse o que realmente estava sentindo, e não...

– Nanda... – falou em um tom sério, mas logo sorriu. “Então não vai ser dessa vez, né.” – Deu tudo certo!

Foi só escutar aquilo e aquele fogo voltou em mim. Então ela realmente aceitou? Pensei que ela fosse demorar mas... Eu comecei a rir, talvez ela não fosse tão dona-de-si como eu pensava.

– Bom trabalho, Kátia. – disse, sorrindo sinceramente.

Minha amiga devolveu o sorriso, aquele que me acalmava de maneira incrível. Muitos pensavam que ela só me seguia, que eu me aproveitava dela.

“Bem, eu posso até me aproveitar dela, mas...”

Levantei do banco e a abracei. Se tinha alguém que eu podia contar de verdade, era ela. Kátia devolveu o abraço, e imediatamente me senti em casa.

– Agora é hora de continuarmos o nosso plano! – comecei, animada. Kátia riu com toda a minha energia, e concordou. Caminhamos até a nossa casa, em um dos bairros mais nobres da cidade.

Passamos a noite toda planejando a festa. Kátia mostrando os lados positivos e negativos, e eu tomando as decisões. O assunto “Lara” era importante, mas não de longe o principal. Pois era a minha festa, e ela não ia interferir nisso.

No outros dias, as coisas permaneceram iguais no colégio. Tédio nas aulas, as pessoas me adorando como sempre, eu sendo linda... A não ser pelo pequeno detalhe de eu não conseguir parar de olhar para aquela vadia. E isso estava me irritando de uma maneira incontrolável.

Tentei não pensar muito no assunto, e a semana passou bem rápido. Finalmente, o dia da festa chegou, e estava incrível, claro.

Eu estava linda como sempre, a mais linda. Óbvio. Kátia estava bem elegante, até demais, mas tudo bem, afinal essa é a minha festa. Todos estavam se divertindo, e eu já estava satisfeita. Bem, quase. Faltava o prato principal.

– Olha, Nanda. – Kátia me cutucou, apontando para a entrada. Olhei para o local já sorrindo com o sucesso do meu plano, quando eu a vi.

Perdi totalmente o fôlego, e aquele sentimento estranho começou a tomar controle de mim. Ela estava... Linda. Completamente linda. Ela veio andando até mim e eu não conseguia parar de olhar aquele corpo tão...

– Lara! – cumprimentou Kátia, percebendo que eu estava quase em transe – Você veio mesmo. Estamos tão felizes!

Minha amiga a abraçou, mas o olhar da Lara ainda permanecia fixo em mim. Eu não consegui falar uma palavra.

– Pois é. – disse, sorrindo – Acabei vindo, afinal quem iria resistir a um pedido da rainha, não é mesmo?  

O tom de voz dela foi tão sarcástico que meu orgulho me fez acordar.

– Rainha? – comecei, mas Lara já tinha ido embora.

“Como assim... Como assim ela ia me ignorar?!”

Kátia segurou meu braço, dizendo para eu me acalmar primeiro e pensar no plano. Eu concordei, mas não achava que ia me acalmar tão cedo. Minha amiga tentava conversar comigo, mas logo percebeu que eu não estava muito interessada em ouvir ela dizer como a namorada dela era impulsiva, que queria uma decisão logo, blá blá blá. O tempo todo eu só conseguia olhar para aquela idiota e em como ela dançava...

– Nanda? – Kátia falou comigo, mas eu não conseguia prestar atenção. A figura da Lara invadia meus pensamentos e eu já não sabia mais o que estava sentindo. Isso me irritava tanto que eu tive que me segurar para não ir lá falar com ela. Aquela vadia me ignorava, e isso era imperdoável. Tentei me concentrar na festa, em como eu vou fazer ela olhar para mim.

“É isso que eu quero então? Que ela olhe para mim? Só para mim?”

Fiquei vermelha imediatamente, assim que eu entendi o que estava acontecendo.

“Não... Não podia ser...”

Sacudi a cabeça.

“Melhor tirar isso da minha mente.”

Saí da conversa sem nem olhar para a Kátia, e fui até o banheiro. Assim que eu entrei, as garotas que estavam em frente ao espelho quase tiveram um ataque, e se afastaram depressa para que eu ficasse com todo o espelho à minha disposição. Mal olhei para elas. Fiquei focada em minha imagem, em como eu era linda.

“É só nisso que eu tenho que pensar...”

As garotas foram embora, até que o banheiro ficou deserto.

“Então por que eu me sinto assim...?”

Nesse momento, uma garota entrou e ficou atrás de mim, encarando pelo espelho. Engoli em seco.

Lara me encarava, sorrindo.

– Estranho te ver assim. Machucou a pata? – disse, com desdém. Eu estreitei os olhos, com ódio.

– Você... – sussurrei, quase tomada pela raiva. Estava me segurando para manter a dignidade, e confesso que estava tentando com todas as minhas forças.

“Não posso perder!”

Me virei e sorri como sempre, de maneira orgulhosa. Por um momento eu vi ela perdendo a confiança, mas logo recuperou a pose. Foram vários segundos de uma tensão crescente, em que a conversa era regida pelos nossos olhares. Aquele sentimento ainda me queimava por dentro, mas eu não ia fraquejar. Jamais.

– O que você quer? – quebrei o silêncio, com minha voz que beirava à arrogância. – Ainda não percebeu que não importa o que você faça, quem manda aqui ainda sou eu?

Ao escutar isso, Lara começou a rir. Aquilo me irritou ainda mais, e eu realmente estava quase no meu limite.

“Como ela ousa?!”

– O que eu quero? – perguntou Lara, sorrindo. – O que eu quero não é esse seu reino, ou qualquer outro nome idiota que você dê pra se iludir que manda em alguma coisa.

Aquele tom de voz, juntamente com aquelas palavras, foi o que faltava para meu orgulho aguentar.

– Escuta aqui... – me virei para voar no pescoço dessa vadia, quando ela pegou pelo colarinho da minha farda e me imprensou na parede.

“Mas o quê...?”

Mal tive tempo de processar tudo, quando senti seus lábios. Aquele fogo voltou ainda mais poderoso, eu perdi a noção do que estava acontecendo, o controle dos meus movimentos... Seu corpo colado no meu me deixava ainda mais louca, me entregando ao pior dos meus instintos.

Sem qualquer autocontrole, respondi àquele beijo com a mesma intensidade, puxando ela para mim, autorizando minhas mãos passarem livremente em seu corpo. Não me reconhecia mais, eu só pensava em estar ali com ela, em a sentir, em deixar que ela fizesse tudo daquele jeito que estava me deixando tão...!

“Será que isso é...?”

Eu já estava pronta para me entregar quando eu a senti parar, o que me deixou completamente confusa. Do mesmo modo que me atacou, Lara se separou, me deixando colada na parede, ofegante. Seu rosto a centímetros do meu, não era aquele rosto sexy que eu vi pela primeira vez. Pelo contrário, era... Assustador.

– Esperei o tempo todo para te ver assim, queen bee. – disse, como um sorriso quase psicopata. – De dominadora a dominada. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Fim do capítulo