NOTA: Eu travei várias batalhas internas para decidir se ia aumentar o número de capítulos ou não, e eu tinha decidido manter os quatro capítulos. Mas eu acabei por entrar muito fundo no psicológico dos personagens, coisa que não é bem o propósito de um conto (e achei que ia ficar muito raso de eu não fizesse isso!). Por isso, estou mudando a categoria e aumentando o número de capítulos. Mas vai ser um romance curto, disso eu tenho certeza. Desculpem a confusão e aproveitem a estória! :D

 “Ah, esse sentimento de satisfação...”

Ver aquela vadia sendo humilhada daquele jeito, por mim, do jeito que esperei por tanto tempo, me deixava com um sentimento profundo e intenso, que eu não sabia o que era, mas que me deixava muito, muito bem...

– O que... Você tá... Dizendo...? – Fernanda me olhava atordoada, ainda sob o efeito que tinha deixado nela.

Há muito tempo eu tinha percebido esse poder que eu causava nas pessoas, e fui trabalhando isso até usar da maneira que eu quisesse. Eu sorri, lembrando do motivo de eu estar aqui.

– Você não lembra não é? – comecei – Claro que você não lembra. Ela era uma entre várias que você humilhou e despedaçou por causa desse seu ego idiota.

Ela ficou ainda mais confusa, mas a raiva começou a aparecer no seu rosto. Mas eu era mais forte, e ainda mantinha ela presa na parede, com os rostos bem pertos.

– Por causa de sua necessidade de se sentir amada e adorada por todos, você não percebe quando um amor e adoração genuíno aparece na sua vida. – continuei – E o destrói. Assim como a vida dessa pessoa.

– De... De que merd* você tá falando? – gritou ela, e em seguida aquela raiva guardada em mim explodiu como um vulcão e eu lhe dei um soco bem forte no rosto.

“Ah, ela não disse isso...!”

– Ela não é nenhuma merd*! – gritei, quase perdendo o controle – Ela era minha amiga! E você acabou com ela, vadia!

Fernanda estava no chão, completamente sem ação, enquanto eu gritava todos os tipos de ofensas possíveis. Ela estava de cabeça baixa, seu orgulho extremamente ferido. Mas ela não demonstrou reação.

“Por que ela não está reagindo?!”

Aquilo me deixou ainda com mais raiva, e para eu não perder meu autocontrole, saí de lá em seguida, já satisfeita com o sabor da vitória.

“Mas será que isso é satisfação mesmo...?”

No caminho para casa, eu estava extremamente angustiada. Não entendi o porquê. “Afinal, não consegui a tão esperada vingança?”.  Minha intuição me dizia para não seguir a rota da minha casa, mas sim...

Como se forças ocultas me guiassem, eu desviei o caminho para a casa da minha melhor amiga.

Mal estacionei em frente a casa dela e já fui correndo para a entrada.

– Olá, tia Letícia. A Mel está? – disse, quando a mãe dela abriu a porta. Ela sorriu fracamente e falou que a garota estava em seu quarto, como sempre. Eu agradeci e entrei, decidida a contar a ela a minha vitória. A nossa vitória.

Bati a porta do quarto, mas ninguém respondeu. Chamei pelo seu nome, mas nada de resposta. Angustiada, eu abri a porta com força e a  primeira coisa que vi foi sua cadeira de rodas ao lado da cama. Sempre que eu via isso, sentia uma dor horrível no peito. Era como se eu vivesse aquele momento todas as vezes. Tentando reprimir essa sensação, a encontrei deitada na cama, com seus headphones na cabeça, dormindo. Parecia ter chorado muito até pegar no sono.

– Mel... – eu a chamei, sem ter realmente o que dizer. Eu já sabia o motivo de ela estar daquele jeito. Ela estava assim já faz algum tempo. E tudo por causa daquela vadia.

Não vou me esquecer do tempo em que Melissa não parava de falar de uma tal de Fernanda, uma garota incrível que conhecera e por quem estava apaixonada. Eu ficava feliz só de ver minha amiga amando daquele jeito, e realmente estava apoiando aquilo. Mas quando aquela vadia simplesmente jogou minha amiga fora para ficar com outra, aquilo foi o fim dos sonhos e o início de um pesadelo.

Quando soube que a garota que tanto amava a estava traindo, Mel simplesmente se perdeu em sua mente. Ela já era bastante sensível por natureza... Motivo do porque eu sempre estava do lado dela. Mas eu confiei demais nesse amor tão frágil. Como se fosse o destino, tudo aconteceu no momento em que eu não estava na cidade. Eu não pude evitar. Ela, confusa e imersa em seus próprios pensamentos, não tomou os devidos cuidados e... Foi atropelada por um caminhão.

Os médicos disseram que foi um milagre ela não ter sofrido nenhuma sequela grave na cabeça. Que o fato de ela ter que amputar as duas pernas não foi quase nada perto do que poderia ter acontecido...

Eu tive ódio. Ódio dos médicos, ódio do motorista, ódio de todos... E principalmente ódio daquela vadia.

Eu me senti traída pela minha própria confiança. Principalmente porque...

De repente, ouvi Melissa falando enquanto dormia. Não conseguia decifrar o nome, então cheguei mais perto. Seus longos cabelos loiros estavam todos embaraçados. Ela parecia estar em um sono profundo.

– J-ju... – sussurrou. Eu cheguei ainda mais perto. – J-juliana...

Eu tomei um susto. “Ela estava falando o nome de uma outra garota?”

– J-ju... – sussurrou novamente, e dessa vez como uma espécie de... Gemido.

Parei onde estava. Eu nunca tinha visto a Melissa fazer uma cara como aquela. Quem quer que fosse essa Juliana, minha amiga parecia ter um sonho muito, muito prazeroso com ela.

De repente, Melissa acordou. Ficou alguns segundos entre o sonho e a realidade, e no momento em que percebeu que estava na última, imediatamente ficou depressiva.

– Era um sonho então... – disse, triste.

– Parecia um sonho bem intenso, não? – brinquei. Ela finalmente percebeu que eu estava ali e corou violentamente.

– L-lara! – gaguejou, nervosa. Eu comecei a rir da cara dela, coisa que somente eu tinha a autorização de fazer. Porque eu era a sua melhor amiga, afinal.

– Quem é Juliana? Ela parece ser boa no que faz, hein. – continuei brincando, e ela jogou um travesseiro em mim.

– N-ninguém. – ela se escondeu debaixo das cobertas e eu ri internamente da sua fofura. Ficamos naquela situação até ela se acalmar.

– Mel? – a chamei, quando se passaram vários minutos.

– Depois... – começou – Depois eu te falo... Quando eu tiver a certeza...

Fiquei séria. Sabia do que ela estava falando.

– Tudo bem. – disse e concluímos o assunto. Passados mais alguns minutos em silêncio, ela foi a primeira a falar.

– Então, veio aqui por...? – disse, saindo das cobertas.

– Ora, não posso visitar minha amiga quando eu quiser? – resmunguei, e ela apenas riu. Ela sabia que tinha algo mais. Ela sentia.

Ela sabia.

– Eu finalmente fiz aquela vadia pagar pelo que fez. – falei as palavras que tanto esperei para dizer. Mas ela não ficou feliz. Pelo contrário. Nunca vi a Melissa tão séria.

– E você está feliz com isso? – foi apenas o que disse. Nada de lições de moral. Nada de sentimentalismo. Ela foi firme em sua sentença.

E foi essa firmeza que me fez sentir extremamente mal. Porque eu odiava quando ela sabia os meus exatos sentimentos. Odiava quando ela sabia muito mais do que eu o que eu realmente estava sentindo.

Ela sabia que eu não estava nada feliz com aquilo.

Fim do capítulo